Poeta
As vezes sou clássico, outras vezes sou acústico, tem dias que sou rock há momentos que sou axé e mesmo sendo essa metamorfose ambulante, jamais deixarei de ser música.
O Vale do Jequitinhonha não é miséria, é vida, sobretudo vida. Nem que seja de um mandacaru ou de uma piteira sobre uma pedra. Podemos até questionar as suas formas, mas nunca as suas raízes.
POESIAS E LIVROS
"Em minha terra,
Não leio livros.
Eu leio as pessoas.
São contos, casos, poesias,
Histórias ou mentiras.
Verdades ou fantasias.
Mas são, sobretudo,
Viagens humanas".
Vivo
"Já vivi o suficiente para amar.
Já amei o suficiente para viver.
Vivo procurando a solidão
Nos meus caminhos
E a poesia em tudo que faço,
Mas vivo intensamente cada passo".
SUA PELE
"Na sua pele,
Memória há
De um amor de cão,
Incondicional.
O cheiro, quando aproxima,
Castiga.
Quando afasta,
Habita".
Sua teia
"Viver não é fácil,
Sobreviver ainda que doa.
Quero amar e trabalhar na sua teia.
Que me permita o seu olhar
Que me fascina,
Que me incendeia".
Eterno
"Prefiro o amor eterno de um dia
À eternidade da face morna.
Difícil é viver o eterno
Dia após dia.
Já lhe disse, meu amor,
Já amo o suficiente para passarmos um dia,
Todo o dia.
A eternidade é, de tudo que existe,
O mais provável,
Embora não palpável".
CLIC
"Projetei seus seios Em paisagens nuas.
Projetei a vida
Em paisagens mortas.
Projetei-me
Em mortas paisagens nuas".
POR INTEIRO
"Que a saudade seja constante
Fortificando ainda mais meus desejos sedentos.
Começar tudo de novo neste instante
Pela inquietude que abriga nossos momentos.
Aquecer-te para expulsar teus medos
E abrigar-me por inteiro em teus anseios,
Sem temer diante do que somos
Encontrar a certeza e a força de um beijo".
POUCO IMPORTA
"Não importa a estrada
Se já não tens o caminho de volta.
Não me importa a palavra
Se uma letra, em ti, não se nota.
Não me importa uma rosa
Se uma pétala perdeu o perfume
Ao sentir-te formosa.
Não me importa a angústia
Se a dor estancou
Ao ver-te rústica.
O que tua tristeza me importa?
Fizeste-a levemente
E, em minha mente, fechaste uma porta.
O que me importa teu sonho
Se até dos meus pesadelos
Já não tenho medo?"
"Que até os sonhos duvidem do prazer,
Da tristeza nos tornem imunes,
Lágrimas, só se forem de perfume.
A paz, a calma, a felicidade, querida,
Farei do brilho dos teus olhos
A fonte de luz de minha vida".
Não adiante o sofrimento pensando na possibilidade de existência dos momentos tristes, ao invés disso, aproveite ao máximo os instantes felizes para que os primeiros sequer venham a existir.
GESTO
"Vá, meu espírito,
e traga para mim
o perfume de um gesto.
Vá, meu gesto,
e traga para mim
o sabor de um sorriso.
Vá, meu sorriso,
e traga para mim
o beijo que nunca tive".
A mudança se faz presente e até necessária, entretanto mudar por completo a ponto de perder sua característica mais célebre e marcante, é algo que chega a beirar o ridículo. Sempre existe algo que deve se perpetuar no tempo e espaço.
Quando alguém vive uma situação inadequada e mesmo assim, seja por prazer, seja por conformidade, dá continuidade àquele comportamento repulsivo, não há argumentos corretos que possam justificar tal conduta, por que a razão não habita onde existem comportamentos torpes.
Das flores quero a poesia
em cada pétala e perfume
da brisa quero a melodia
em sussurros ou queixumes
Das pedras quero a areia
que conta a estrada a história
e sempre, sempre lastreia
toda a sua trajetória
Do mar quero ser marola
em placidez e plenitude
em cada movimento que evola
suavidade e cantos de solitude
Desse poema sem jeito
sem contagem de métrica
vem a certeza que espreito
a vida é mesmo poética
Então da vida só quero
as linhas traçadas em emoção
versos que as vezes nem espero
mas que nascem no coração
Acho que o sentido de tudo está muito além das dores. Quando você para de sofrer por consequência de buscar desesperadamente algo, e à partir daí acaba enxergando com mais maturidade o outro lado dourado da mesma moeda.
" A QUEDA DO PRÍNCIPE MAMBICE"
Num país longínquo, onde a população era composta por mais de duzentas pessoas com o mesmo finalidade de tornarem espelhos da sociedade, os edifícios daquele país eram contáveis, os homens viviam no palácio de lado esquerdo e as mulheres viviam no palácio do lado directo e na província que fazia fronteira com a comunidade viviam os senhores de sangue azul conhecidos com formadores, os pedagogos que lançavam sementes de metodologias de ensino e conduziam os formandos do país de príncipe Mambice.
O tempo como de hábito é o amigo mais cruel de todos os tempos. A cada segundo que o ponteiro de relógio marcava, o tempo sempre corria vertiginosamente como a corrente elétrica num condutor eléctrico e príncipe Mambice era o melhor governante já visto pela sua majestade rainha Celestina Toalha, elogios caiam sobre o príncipe como chuva torrencial com granizos e ele mesmo andando se sentia voando mais que um míssil de longa alcance projectado na correria do Norte.
Durante o seu mandato, o príncipe era mais amigo do seu ministro de guias e efectivos, o Cláudio Matsinhe, o homem que carimbava passaportes para os cidadãos poderem sair do país para irem passar fins de semanas e férias nos países dos seus pais.
O príncipe era casado e pai mas a sua mulher morava noutro país tão distante, talvez foi devido a distância que os separava o que fez com que o príncipe se apaixonasse por duas mulheres, a Inácia e Celeste que compartilhavam o mesmo quarto, conhecido como camarata, no palácio do lado directo conhecido como dormitório feminino.
Às leis daquele país i tão severas que até condenavam à quem às fez!. Num dos artigos da constituição daquele país era expressamente proibido lutar dentro do reino e muito menos bater alguém e caso isso aconteça todos seria deportados do país sem direito de pedido de desculpas.
O príncipe comovido e vencido por ciúmes falou para uma das suas namoradas chamada Inácia:
-Vamos bater papo lá fora do país onde vendem mandioca e vamos aproveitar contar os carros que vêm de ambas direções, Cruzamento de Tete-Chimoio, Chimoio-Cruzamento de Tete. A namorada sem saber qual era a intenção do príncipe, e chegados lá o príncipe começa a fazer chibongozozo, malhando e agia por impulso e mergulhado no mar de nervos de sem fronteiras começou a espancar a sua namorada e as pessoas que passavam pelo caminho atreveram-se em a acudir a briga e apaziguar os nervos do príncipe que estavam a transbordar como a panela de quiabo na lareira tradicional.
A informação alastrou-se em todo o país e na edição do jornal Massoko, era a notícia mais destacada. A informação foi pousar até nos ouvidos da sua majestade rainha Celestina Toalha, o príncipe foi solicitado juntamente com o seu pai para o gabinete real onde foi julgado e ao lado estava o primeiro-ministro daquele país o dr. Pedro, carinhosamente chamado de Tio Pé e ficando com fogo nas mãos por um tempo, chegaram até à conclusão e solução que era de retirar o príncipe do trono e finalmente foi substituído pelo ministro Jossefa Montana, que velava pelo palácio do lado esquerdo conhecido como dormitório masculino. Assim foi a queda do príncipe Mambice.
Baseado em factos reais vividos no IFP-CHIBATA, 2019
Xadreque Pedro Janasse.