Poeta
Contemporizo-me num estreito espaço de sôfregas e sofríveis lembranças.
Enleio-me numa mistura torturante de saudades.
Vento soprando a tez desenhada com sinais de irrecuperável tempo.
Aceno o modo da penúria que faz brotar acidez face abaixo.
No retórico retoque não há maneira exata.
A inexatidão é fato.
Absorvo os meus ais para absolver o meu sussurro.
Inexorável confidência que me impõe sentir a alma ausente e perdida dentro do seu mundo.
Deixa o mundo girar.
O porto de partida sempre é o porto da chegada.
Sempre ando mirando o horizonte!
Não singrarei meu barco com o peso de agora,
não levarei culpa e nem culparei...
fui o que pude, mas a essência não fora capaz de suprir
a beleza do frasco que é o alvo pretendido!
Deixei o que pude e com o exalar do cheiro... o vento expandiu-me e volátil e sem imagem não signifiquei!
Enfim... enfim.
Fim.
Ninguém está obrigado a se obrigar!
Fazemos o que queremos receber,
mas nem sempre recebemos o que fizemos!
Abordei com muito jeito o meu coração para falar sobre o amor.
Não foi possível manter o diálogo.
Ele estava cheio das falas vazias que lhe foram oferecidas como dedicação e,
por isso, não crê, agora, em nada além do que vê.
Não vou dizer sobre o que sinto.
Faço a ilógica tentativa de usar o silêncio para silenciar o meu grito.
Não consigo calar os meus gestos.
Quero não querer o que eu quero neste querer absurdo de continuar querendo não querer o que me alimenta.
Não presumo resgatar nada.
Tempo não se recupera e, tampouco, sentimentos sentidos.
Vivemos o que podemos viver.
Vivi a minha entrega
e o que me resta é viver o agora.
Não ouso tentar não ser.
Quero pouco ou até nada.
Vou seguindo sem avisos.
Precisando de muito pouco ou quase nada...que é o meu tudo.
Aceno com um suspiro a falta sentida dos seus olhos.
Abraço a saudade envolvendo-a com uma declaração de amor.
Ela não acredita e não credita esperança na fala desta hora.
Noite vazia.
Luxúria de solidão.
Se não puder fechar a porta... Deixe-a como sempre esteve.
Faltou-me coragem para sair quando as minhas asas tinham apenas as suas próprias penas.
Muitas vezes dizemos o que não queremos e deixamos as nossas vontades silenciadas pela suposição de sermos entendidos.
Lamentavelmente esperamos muito mais da pessoa amada do que ela pode nos dar.
Não há mistério no jeito de entender os fatos.
Eles são.
A verdade prepondera no gesto e, principalmente, na falta dele.
Vi a penumbra do vulto da saudade.
Ela não saiu... Também não chegou.
Metade de qualquer coisa é o inteiro da incompletude.
Sinto sentir esta dor, mas ela revigora o momento avisando-me que é a minha inteira companhia.