Poesias sobre palavras
SOBRE O SER HUMANO
Demétrio Sena - Magé
Tenho a pretensão de achar que sou um conhecedor do ser humano. Posso estar enganado, mas acho que achar me faz bem. É providencial; me blinda contra muitos espantos, frustrações, expectativas e até rancores. Se não é crime ou ato nojento, vil, profundamente anti-etico, tudo no ser humano é compreensível; perfeitamente passível de relevar a curto, médio e longo prazos.
Foi assim que mantive amizades preciosas com pessoas que aprontaram feio comigo, até mais de uma vez. Pessoas essas, que pouco tempo depois me surpreenderiam com gestos lindos e demonstrações naturais seguidas, de honestidade; sensibilidade; bom caráter. Compensaram em larga escala o meu convívio com elas, de formas enriquecedoras não para meu bolso nem meu ego, mas para o meu senso de humanidade.
Relevei mentiras. Injustiças. Arroubos agressivos... distorções, calotes financeiros, intrigas, palavras e compromissos não cumpridos e outras falhas de quem a minha intuição fez preservar. Não tornar inimigo. Não condenar como criminoso nem vilão em alguma escala. Simplesmente olhar como ser humano igual a mim, que também tenho minha carteira de erros. Muitos erros. Alguns graves.
TUDO É SOBRE O SER HUMANO
Demétrio Sena - Magé
Toda reflexão escrita (e publicada) é sobre você e eu, de alguma forma, porque tudo é sobre o ser humano. Até quando se usa o recurso do abstrato, do sobrenatural, da generalização e da licença poética. Já li muitos textos que mexeram comigo, me deixaram incomodado e só a custo me convenci de que não que foram escritos especialmente para mim, porque lá não estavam meu nome, o endereço, um segredo meu, uma vivência única ou específica nem qualquer descrição pessoal minha, mesmo quando os autores eram do meu rol de convivência.
Somos flagrados por um texto e outro, porque somos humanos, temos feridas onde cabem certos dedos e, sendo assim, ninguém precisa nos retratar para chamar à reflexão, ao sentimento e ao repensamento sobre nós próprios, talvez movidos por alguma coincidência de cunho generalizado. A menos que sejam declaradamente sobre, ou nominais, literaturas não atiram em alvos singulares... e muitas vezes falam dos próprios autores, ainda que o façam na terceira pessoa. Eu mesmo, falo de muitas mazelas minhas e depois percebo que o fiz como se apontasse o dedo na direção de outros.
Quem escreve e publica textos cuja fonte principal de inspiração é o ser humano com as suas virtudes e mazelas, vive na linha tênue entre surpreender pelo encanto e magoar pessoas que ele nem imagina. Algumas próximas, que reagem como se autuadas em flagrante... outras distantes, que se perguntam como certos textos as encontraram; como quem escreveu as adivinhou. Constato no espelho de minha trajetória, que ser um "escrevedor" às vezes é uma dádiva; outras vezes um incômodo; muitas outras um infortúnio.
SOBRE OS OUTROS
Demétrio Sena - Magé
Venho trocando meu carinho por educação. Carregamentos de amizade por alguma simpatia. Meu afeto por boa vontade. Isso me causa esvaziamento, é prejuízo profundo e demanda grandes esforços de quem ocupo dessas abordagens. Tenho que aprender a desonerar os outros.... a livrar as pessoas de mim.
ESSES "VELHOS"
Demétrio Sena - Magé
Às vezes penso em alertar os mais jovens sobre a grande soberba que marcou minha juventude, para que seus anos tardios não tenham buracos iguais aos meus... tantas perdas irrecuperáveis... tanta sensação de que tudo podia ter sido diferente.
Mas o meu desejo ainda é soberbo e mostra que não aprendi tanto quanto penso. Cada um tem seu tempo, sua história, seu processo de maturidade... sua forma de absorver aprendizados. Também tive "mais velhos" que tentaram me alertar sobre minha soberba, tão em vão quanto hoje tento fazer, da mesma forma, em vão.
Esses "mais velhos"... pobres "mais velhos" como eu... ah, se eles soubessem o que não podem fazer, como pensam que podem (com licença, Gil), por "esses moços... pobres moços" e suas releituras das nossas trajetórias!
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SOBRE LÁ
Demétrio Sena - Magé
"Lá" é um horizonte. Nunca chegamos ao horizonte, por mais que pareçamos ter "chegado lá". O horizonte está sempre além... no horizonte. Sendo assim, qualquer pessoa pode voltar de onde ainda não chegou... e se não teve humildade no trajeto já percorrido, vai se deparar com aquelas pessoas às quais diminuiu, apartou e que, talvez, estejam mais fortes, agora... mais estruturadas e com mais bagagem do que as "lebres" que as ultrapassaram e fizeram chacota, expressamente ou em silêncio. A sorte quase certa, é que essas pessoas mais... longânimas, são menos... rancorosas.
Em todas as artes, letras, ofícios e, na vida cotidiana, muitas cadeiras dançam... muitas posições se alternam... a realidade mostra que nem tudo é questão de mérito; algo pode ser fenômeno reversível. Algumas vezes a vida corrige suas injustiças, por força do Ministério Público do universo. Há muitos talentos injustiçados e muitas fraudes do destino a nosso favor, mesmo que nós, pessoalmente, não tenhamos agido com fraude ou má fé... porém, se fomos frios e soberbos, um eventual recuo na trajetória pode ser bem desconcertante, ainda que, sem rancores à volta.
O "lá" e o "cá" têm uma parceria permanente. Toda ida pode ser definitiva. Como também pode não ser. Precisamos estar naturalmente preparados para que uma eventual queda não se agrave como consequência da nossa eventual construção conturbada, egoísta, excessivamente vaidosa ou questionável, a depender dos produtos e/ou dos seres humanos que fomos, nas construções... corporativas ou pessoais.
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PECADO
Demétrio Sena - Magé
Sou pra quem o pecado é sobre os outros;
é pecado se alguém ao meu redor
sentir dor, sofrer dano e tiver medo,
for castrado e tangido por meus atos...
Ou também oprimir, não der saída,
tiver peso de algema e de aguilhão,
um arpão que não deixe alguém voar
com a vida sem rédea e sentinela...
O pecado evolui, se torna crime,
se meu ato é tirano, impõe assombros,
põe escombros nas costas doutro alguém...
Destilar preconceito e julgamento;
ser eterno instrumento inquisitório;
há um grave pecado em quem é santo...
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SOBRE RISCO SOCIAL
Demétrio Sena - Magé
Bom mesmo, é ser alguém respeitado em situações improváveis. Ou ser levado a sério em contextos que ninguém seria. Merecer, como não seria concebível no cotidiano, bons olhares e admirações sinceras. Ter a confiança de quem normalmente não confiaria, pelas livres exposições desse alguém; de quem ele é, sem qualquer camuflagem.
Secularmente, um ser humano precisa de muitos vernizes. Camadas incontáveis de massa corrida, casca ou lona sobre corpo e alma, para ter o respeito, a confiança e os espíritos desarmados em derredor. É algo inexplicável, quando alguém acerta em cheio ao escolher quando e onde mostrar sua versão mais deslavada, crua e desnuda.
Depois é leve o seguir. Tendo sido feliz em, talvez, um mundo particular, habitado por gente que sabe ver além e mais profundo, sem a canga de tantos dogmas. Gente que aposta no caráter, sem pé atrás, ainda que o casco à frente não ajude, por ausência de rótulo. Às vezes é preciso arriscar, para saber que determinadas pessoas existem.
Evidentemente, no meio do caminho tem as mesmas almas previsíveis... assombradas pelas próprias sombras.
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IMPROVISOS DE VIVER
Demétrio Sena - Magé
Não acordo pensando sobre o dia
ser de quem ou de que, no calendário;
sobre horário e critério pro que faço
entre meus improvisos de viver...
E não quero vigias de lembranças
ou que meçam daí meu sentimento,
ponham lanças na minha consciência
nem me façam seguir a multidão...
Quando acordo não sei que dia é;
sei apenas que acordo novamente
minha mente, meus olhos curiosos...
Quero a vida nos vãos e pormenores
de alegrias e dores ou surpresas
que não fico surpreso quando vêm...
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MINI-TRATADO SOBRE A INVEJA
Demétrio Sena - Magé
Pode não ser inveja, e sim, uma sóbria e silenciosa admiração sem interesse; por isso mesmo, sem excesso de aproximação e procura. Ou pode não ser inveja nem admiração, mas um tanto faz: a pessoa não dá bola para o que você tem ou quem você é... por isso não estende um tapete vermelho aos seus pés. Você precisa conviver com a ideia de que alguém (ou ninguém) tem inveja de você. A inveja de quem consegue não ter inveja pode corroer suas vísceras. Isso tem cura. Procure ajuda profissional.
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Respeite autorias. É lei
ARTILHEIRA
Demétrio Sena - Magé
Sobre a tua desculpa sempre pus a minha;
me sentia culpado se não desculpasse;
dei o passe perfeito a cada jogo teu,
para dares o chute que arbitrasses dar...
Foram tantos e tantos os gols que fizeste;
fui um débil goleiro que nem se mexia,
porque via em teus olhos uma perda eterna,
se num salto perfeito eu detivesse a bola...
De repente um descuido me fez espalmar
o teu chute perfeito como sempre foi;
meu olhar foi ligeiro e providencial...
Eu queria não ter acertado em teu dolo;
te manter artilheira sem nenhuma pausa;
preservar este colo de ninar teus truques...
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Respeite autorias. É lei
Se por acaso quiseres saber sobre minha pessoa, procure conversar comigo mesma para depôs tirar conclusões de quem realmente sou. Porque só me olhando poderá tirar conclusões precipitadas; pois nem sempre a embalagem representa
o conteúdo do frasco.🤝
Nas controvérsias dos versos
Vejo-me aqui versejando
Poetizando, versando
Sobre juízos imersos
São sonhos incontroversos
Que visam te cativar
Poetar, rimar, versar
Estimulando o que enseja
Porquanto o que se verseja
Almeja amor e amar.
Ao invés de lutar por um mundo melhor para todos.
Lutamos para impor nossas bandeiras sobre as demais.
Falta sensibilidade e humanismo nos programas televisivos brasileiros.
Exibem pautas sobre calamidades e momentos de alegrias sequencialmente no mesmo bloco.
Memes sobre 52 milhões surrupiado da população viralizando nas redes socias e as panelas contra a corrupção guardadas nos armários.
Quem te viu, quem te vê!
Sempre é bem vindo as pautas televisivas sobre racismo, machismo, violência contra mulher, homofobia...
Entretanto, acho muito superficiais, demonstram muita mais preocupação com audiência do que com aumento de consciência na população.
Qual conhecimento nos interessa mais?
O conhecimento sobre a vida dos outros ou o conhecimento que nos faz crescer?
As queixas humanas são intermináveis.
Em breve, pode surgir a pergunta sobre por que o "bom dia" foi dirigido primeiro a todos e não a todas ou a todes.
Desabafo sobre o capitalismo.
Nesse sistema, o principal lema é: Aumentar a lucratividade com a continuidade dos problemas.
Num passe de mágica, fatos, eventos, campanhas, celebridades, músicas... Aparecem e saem de cena numa velocidade espantosa. Tudo vira matéria-prima para o mercado publicitário, alimentando as pautas de jornais, revistas e mídias em geral, sem que haja preocupação com o objeto em si.
Nada é feito para consertar, tudo é feito para trocar.
Nada é feito para curar, tudo é feito para medicar.
Nada é para durar, tudo é feito para lucrar.
Nada é feito para combater, tudo é feito para permanecer.
Para o capitalismo, tanto faz a solidez ou liquidez dos tempos.
Sempre será sua vez.
No sistema capitalista, pobreza, fome, doenças, violência, desigualdades, inseguranças, injustiças, impunidades, preconceitos, intolerâncias e outros males da sociedade devem continuar para o sistema lucrar.
Essa é a lógica do capitalismo ultra selvagem, que cada vez mais se apoia no egoísmo, materialismo, consumismo, imperialismo, racismo e individualismo dos seres humanos.
O capitalismo está para o homem assim como o homem está para o capitalismo.
O conhecimento evolui pela acumulação e expansão dos saberes legados pelos antepassados, sobre os quais novas descobertas e insights são construídos.
Por isso, é importante respeitar toda a sabedoria vinda do passado."