Poesias que Falam de Amor do Seculo Xix
A Cotovia
Minha alma se assemelha à cotovia
Que canta prenunciando a esperança
Em tal efeito se derrama em primazia
Do saber ser um Ser cheio de bonança.
De boas novas, anunciadora para todos
Quem tem ouvidos afinados para ouvi-la.
Entretanto está só e em doces modos
Reparte primavera sem sequer usufruí-la
Prossegue seu voo solitário "despareada"
Seu canto inebriante, no entanto, entoa
Derramando sua alegria tão preparada
Pro banquete festivo da vida que povoa
Pradarias repletas de seivas que florescem
Debaixo dos seus olhos. E neles não refletem
Outro servil e companheiro, pois fenecem
Seus amores todos, que nunca se repetem.
Pobre cotovia que cantando implora
Um ser semelhante pra lhe acompanhar.
Irá morrer só a qualquer hora
Sem jamais ter tido um par.
A Loba da Estepe
Sabem aquela loba solitária da estepe
Que uiva para a lua em agonia?
Fugiu-lhe o companheiro e recrudesce
A dor. Eis no chão, já morta, sua cria.
Está sozinha na noite densa e tenebrosa.
O vento sopra seu lamento à freguesia.
Que não se importa com aquela desditosa
Por não serem pares, lhes negam companhia.
A loba, leitores, sou eu.
A noite, é a vida, longa e sombria.
O companheiro era meu sonho
Que me abandonou no meio às tempestades
Daí, fiquei vazia.
A esperança jaz morta, era tudo que eu tinha.
Minha irmã, minha mãe, minha filha,
Era a cria.
Sorriso
Se tem uma coisa que me arrebata
Capta
Toda a minha essência
É o sorriso.
Se não queres que eu me apaixone por ti
Jamais sorrias
Pra mim.
DESVALIDAS MENINAS DE CHIBOK
Infelizes
Mulheres de Chibok
Que caíram nas mãos do grupo Boko Haram e
Foram
Extorquidas da sua liberdade
De escolha.
Musas de Borno,
Destituídas do direito de ir e vir.
E sonhar com o olhar que cativa e chama
Pra ser feliz
Meninas nigerianas expostas
Como pedaços de carne e viram
Depósitos
De espermas de seus senhores.
Moças que serão transformadas em servis meretrizes
Talvez esposas, mas sem a chama da conquista.
Perdem o desejo e vão caminhar com o coração carregado
De mágoas. Nunca mais o noivo
Esperado e sonhando nas noites molhadas
De sereno.
Vão se tornar nas mãos de algozes vis
Garotas de programas.
Anagramas mal decifrados.
Esfarelados
Seus ideais de mães.
Extremadas.
Despojadas das vestes e ventres
Belos que ansiavam ser
Devorados por querer em cios afoitos.
Desejosas de serem possuídas e possuir
Não celebrarão nunca mais.
O sabor do existir.
No belo formato de princesas.
Extinto
O fogo que se ascende somente no jogo
Das levezas
Jorradas nas fontes de ternuras
E branduras de úteros e ou almas femininas.
E nunca mais serão as mesmas alegres meninas
Triste sina
Agora, apenas serão
Pobres e desvalidas meninas.
Pássaro Migratório
Meu coração é um pássaro migratório
Que quebrou as asas e o bando o abandonou
No meio de um denso e sombrio pantanal
Cá debaixo olhando o festival
De revoadas, chora a solidão num ofertório
Das penas traiçoeiras que castrou
Seu voo. Sua busca de um lugar revigorante
Pro acasalamento de corpos e de almas
Já não basta.
Chorar. A dor é tão pungente
Que se alastra
E ele, se enrodilha e de repente.
Prostrado se despede da vida.
E agradece a tristeza tal qual cobra
Que o devora vivo e o socorre
Do tédio de ser só
A aguda agonia despedaça e o dobra
Ai, ai, e é com prazer que ele expira e enfim, morre.
Puro Instinto
INSTINTO?
SIM, INSTINTO!
PURO INSTINTO?
ACHO QUE SIM.
FOI SOMENTE POR INSTINTO
QUE PAREI EM VOCÊ?
NÃO, INSTINTO NADA
MINTO.
FAREJEI TEU CHEIRO
ATRAVÉS DE MILHARES DE VIDAS...
MEU CORAÇÃO
Olhar com os olhos do coração é permitir que o meu coração seja personificado, ele tem mãos que apertam, tem olhos que acalentam, firmes, mas que acalentam. Existem corações que abraçam a gente com o os olhos. Sentimos seu calor. Certa vez pediu-se para trocar um coração novo por um velho. Ao que tinha o coração novo se gloriava de tê-lo sem marcas, lisinho, vermelho viçoso. O outro coração, com marcas profundas, cicatrizes bem aparentes e que este perdeu até a forma de "coração". Mas qual o melhor? O mais belo coração? O lisinho e viçoso não pode ser este, porque não viveu o bastante, não carrega marcas da vida que o fez fortalecer, ressurgir, que o fez coração de novo. Marcas de um amor que não veio. Marcas de um amor que se foi e que não volta mais. Marcas de um pedaço que foi levado e que ainda sangra. Marcas de um coração que insiste em bater porque dá o prazer e satisfação de trabalhar que embora o amor lhe tenha sido tirado, ele ainda ama seu dono, o dono que sofreu junto com ele, que massageou o peito onde ele vive e que disse muitas palavras de consolo e acalentadora para o acalmar. Esse coração que ainda persiste é o mais belo, por sua lealdade, uma generosidade que poucos vinheram conhecer e que outros não terão essa chance. Um coração que tenta demonstrar um amor desmedido, mas que suas marcas não o permitem, porque dói sofrer e ele não aceita mais entristecer seu dono e não quer que ele leve suas mãos para massagear seu amado peito. Acredito nele, cheio de marcas e cicatrizes que o torna um leal vencedor.
Antonio Marcos De Souza
HOMEM
Autora: Ednaide Gomes de Paiva
Um ser, um livro de poucas folhas, mas de muitas edições... Aos poucos sua singularidade se revela, de forma um tanto obscura, no entanto com uma intensidade espantosa. E como toda história carrega vários contextos, o Homem, o livro de várias edições é rico, seus argumentos são absolutos quando o assunto é seu antônimo, o Belo. A beleza que encanta seus olhos nem sempre é a mesma que o preenche, mas aquela que soma a dele é a essencial.
Esse ser, esse Homem, apresenta-se em palavras, surge como um mistério e fica como uma tatuagem, esse ser, esse homem parecia está em extinção, o mundo “moderno” engole, confunde, aprisiona sua verdadeira personalidade, é necessário um tempo, uma oportunidade para deixá-lo se mostrar verdadeiramente. Antes, visto como um caçador, aquele que busca o que almeja o caçador de sonhos, o caçador de desejos, o caçador do “belo”. Hoje, é pego de surpresa, não percebe a fortaleza de sua presa, aos poucos o que devorou, deglutiu, tornar-se-á parte e unicamente dele, não haverá caça nem caçador, mas o amor... Amanhã, como é incerto, o silêncio é a melhor resposta.
Inocências Feridas
O meu olhar,
A minha voz
O meu grito mudo de dor.
O meu eu aflito
A minha inquietude
A minha prece
Vão hoje para as crianças.
Que padecem
Por conta do maltrato,
Dos adultos perversos.
Crianças vítimas das guerras
Das pestes
Da fome
Da exclusão social que extermina seus sonhos
Suas cirandas.
Suas esperanças
Filhas de uma sociedade egoísta
Que nem as migalhas da sua mesa é capaz de repartir.
Dos governos soberbos e tiranos
Desumanos
Que se autodenominam salvadores
Enquanto roubam e mentem,
E se enriquecem
Enquanto apodrecem
Nas ruas e nos lixões
Crianças indefesas.
Que salivam atrás de uma vitrine
E expelem vermes
Enquanto se espremem
Em cubículos ínfimos
Do tamanho das consciências dos governantes.
Nas favelas.
Expostas às dores
Maiores que suas almas.
Enormemente maiores que a nossa bondade.
Miligrama de verso V
Eu te fiz uma proposta:
O de sermos um romântico par na longa caminhada.
Refutaste sem nenhum pudor de me ferir.
Fizeste bem
Se seguíssemos meu ritmo
Ficarias entediado com o meu vagaroso e singelo caminhar.
Se seguíssemos o teu
Eu ficaria infeliz por não conseguir te alcançar.
Miligrama de verso IV
“Quando derramas sobre mim o teu olhar de Sol,
neste momento,
só neste momento
eu ouço o som do coração do Universo
e experencio a eternidade.”
Miligrama de verso III
Passado?
É perdido.
Passo para trás.
Prefiro o
Presente lúdico que me
Presenteia com os sabores do agora.
Miligrama de verso II
Alcandoradas esperanças!
Viajo pelo Universo nos teus rastros
À procura das bem-aventuranças.
Do encantado tesouro dos teus braços
Somos partes de um todo
Senão por que a sede e a fome
Devoradores das minhas entranhas?
Causas estranhas
Que não me deixam inerciar
Vivo a trovejar
Para o infinito o meu grito
Que ressoa pelos séculos.
Pois meu amor por ti é milenar.
EU SONHADOR
Olho pelo retrovisor da minha alma
E revisito com estranha calma
Meus momentos saboreados
Quando ainda, eu cheirava
A tinta fresca da vida.
Tinha, então, apurado o senso da alegria
E meus dias transbordavam de ternura
Entornava meus sons de amor por onde percorria
Da própria aventura
De ser gente.
Minhas noites eram carregadas de magia
Postada à porta uma imagem luzidia
Talvez fosse meu Anjo,
E me servia.
De espelho ali na minha frente.
Indecifrável e inteligente.
Que me guardava de mim mesma.
Onde está agora aquele ser
Quando mais dele preciso?
Por onde anda, por que não está mais comigo?
Não volta mesmo que eu implore de joelhos
Morreu?
Creio que não, apenas desistiu dos risos.
E perambula por ai tonto à espera.
De um final senão feliz, ao menos
De um sofrer menor.
Quem era?
Era o meu outro Eu, o sonhador.
O preço de um sorriso
Dizem que um sorriso não custa nada.
Custa sim, e, bastante.
Quanto custa, então?
O meu vale:
Algumas dolorosas horas na cadeira da minha dentista
E uma considerável quantia subtraída da minha conta bancária.
Miligrama de Verso I
Dentro do Universo, nossa galáxia.
Dentro da nossa galáxia, a terra
Dentro da terra, Eu
Dentro de mim, o deserto
Dentro do deserto, um oásis
Dentro do oásis, uma fortaleza...
Teus braços.
Perda Dolorosa
Retalhos das minhas lembranças estão por todo canto
Num desespero da alma que tenta ajuntar os poucos
Momentos de lucidez
Revisito minhas lembranças pra ver se te encontro
Ao menos nelas ou talvez
Resgate um gesto teu não acenado.
Por medo da minha impetuosidade.
Tinha de ter sido menos intensa
Com maior zelo da minha fala
E não ter extravasado o meu amor
Que liquidifica todo o esplendor
Da descoberta
Ah! Oferecida em demasia
Não podia
Ter entornado o meu coração nos meus recados
De amor pra ti.
Por ter sido sincera, tornei-me leviana.
Por ser afoita assassinei a esperança
E fiz lances tresloucados, ousados
E no fim
Perdi.
COISAS DA LUA
Chego à janela e fito a Lua
Então ela me pede pra ser sua namorada;
Eu respondo
— Não pode ser. Talvez eu namore o Sol.
Por que ele é masculino, você é feminina e sou mulher.
Ela retruca indignada e meio sem jeito.
— Xô preconceito!
Gerúndios de outono
Vou estar tentando escrever a minha lenda
De prenda nada. Preciso preservar a minha
fé
Vou estar redesenhando o meu destino.
Desatino. Não sou nem mesmo desenhista.
Vou estar reconstruindo a minha estrela.
Sem brilho que se apaga dia após dia.
Vou estar bebendo meu último cálice derivativo
Do sacrifício que eu escolhi para padecer.
Vou estar soltando todos os bichos presos
Dentro do meu ser pequeno e intempestivo.
Vou estar decifrando meu enigma.
De não ser nem de longe o que sonhei.
Vou estar navegando entre as almas
Sonâmbulas que giram em torno de si mesmas.
Vou estar aqui neste lugar
Gerundiando e cometendo neologismo
No meu tempo de outono
Pra ver se acaba o meu abismo.
E no infinitivo possa a minha primavera retornar.
Letargia
Laço apertado. Nó gigante. Amarrou a minha
Vontade de partir.
Buscar o quê?
Estática. Fico fitando nada.
Uma estranheza de não saber o que deixei passar
Sem pegar. Requisitar e nomear de meu.
E o vento chega enredando que é tarde.
Que nada volta pro lugar
Tudo é dinâmico.
Só a minha languidez é eterna
Meu estado de hibernação
Não desemboca
Pra nenhum acordar de esperança.
Se estou sem riso e sem siso
Também estão enxutos os meus olhos.
De lágrimas inexistentes que não rolam mais
Em face desfigurada e envelhecida
A viuvez de amores
Visitou-me e se instalou definitiva.
Na minha alma, no meu querer, na minha vida.
Só sei e sinto muito
Que a letargia me engoliu
Total. Inteira.