Poesias Fáceis de Decorar de Mário Quintana

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Vivemos conjugando o tempo passado (saudade, para os românticos) e o tempo futuro (esperança, para os idealistas). Uma gangorra, como vês, cheia de altos e baixos – uma gangorra emocional. Isto acaba fundindo a cuca de poetas e sábios e maluquecendo de vez o Homo sapiens. Mais felizes os animais, que, na sua gramática imediata, apenas lhes sobra um tempo: o presente do indicativo. E que nem dá tempo para suspiros...

Mario Quintana
Gramática da felicidade. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
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Não tentes tirar uma ideia da cabeça de outrem porque, examinando bem, verás que em geral não se trata de ideias, mas de convicções. São inextirpáveis. E a causa única de todas as guerras – políticas ou religiosas, paroquianas ou internacionais.

Mario Quintana
Diagnóstico errado. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
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Delícia de fechar os olhos, por um instante e assim ficar, sozinho, fabricando escuro... sabendo que existe a luz!

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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Todo esse apego do homem ao cachorro é porque o cachorro considera o seu dono o primeiro homem do mundo...

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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Se a tua vida não puder ser uma tragédia grega – por amor de Deus! – não a faças um tango argentino...

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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A única coisa que nos diferencia de peixes num aquário é que temos consciência dos limites de nosso mundo…

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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Os chinelos são um par de gêmeos obedientes, sempre juntinhos ao pé da cama, pacientemente à espera do papai, que às vezes custa tanto a chegar.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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Meu Deus, por que será que nos sentimos tão culposos diante desse olhar interrogativo que nos lançam, às vezes, os cães? Mas culposos de quê?

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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Talvez a poesia não passe de um gênero de crônica, apenas: uma espécie de crônica da eternidade.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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As lagartas não podem acreditar na lenda das borboletas – tão antiga entre o seu rastejante e esforçado povo... mas sua felicidade consiste em relembrar, às vezes, o absurdo e maravilha desse velho sonho: o de se transformarem, um dia, em borboletas.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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É preciso escrever um poema várias vezes para que dê a impressão de que foi escrito pela primeira vez.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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Não se devia permitir nos relógios de parede esses ponteiros que marcam os segundos: eles nos envelhecem muito mais que o ponteiro das horas.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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E chegará um tempo em que os militares inventarão um projétil tão perfeito, mas tão perfeito mesmo, que dará volta ao mundo e os pegará por trás.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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Os sonhos têm luz própria, uma luz que não vem de nenhum sol, de nenhuma lua, de nenhum foco. Está em toda parte. Na próxima vez que sonhares, procura ver se o teu vulto projeta alguma sombra. E se a tua imagem se reflete nalgum espelho. Tolice minha! Nos salões do sonho nunca há espelhos...

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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O dia passa, a vida continua. E os que pensam que a vida muda com o gosto devem pensar também que o corpo se transforma com as modas.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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Às vezes, nos dias calmos, apenas se nota uma leve ondulação na relva: são os cavalos do vento que estão pastando.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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Livro bom, mesmo, é aquele de que às vezes interrompemos a leitura para seguir – até onde? – uma entrelinha... Leitura interrompida? Não. Esta é a verdadeira leitura continuada.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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Um dos motivos que me fazem acreditar em nossa origem extraterrestre é que o homem é o único animal que aprecia olhar os incêndios.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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Os extrovertidos são julgados normais. Quanto aos introvertidos, chegam a submetê-los a tratamento. Mas para curá-los de quê? De não poderem ser chatos, como os outros?

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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Não sou desses que um dia pensam uma coisa e no outro dia pensam outra coisa muito diferente. Eu penso as duas coisas ao mesmo tempo. Duas ou mais. Não tenho culpa de ser ecumênico.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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