Poesias de Torquato Neto
Cógito
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.
"Quando eu recito ou quando eu escrevo uma palavra, um mundo poluído explode comigo e logo os estilhaços desse corpo arrebentado, retalhado em lascas de corte e fogo e morte (como napalm), espalham imprevisíveis significados ao redor de mim. [...] uma palavra é mais que uma palavra, além de uma cilada. Agora não se fala nada e tudo é transparente em cada forma; qualquer palavra é um gesto e em sua orla os pássaros de sempre cantam apenas uma espécie de caos no interior tenebroso da semântica. [...] Escrevo, leio, rasgo, toco fogo e vou ao cinema."
Torquato Neto, in Os últimos dias de paupéria
O trem
Para Torquato Neto
às três da madrugada
penso que o trem se esqueceu
de mim
mão gelada
louca disparada
– seria esse o meu fim?
Um poeta
desfolha a bandeira
e eu me sinto melhor colrido
pego um jato viajo arrebento
como roteiro do sexto sentido
foz do morro,
pilão de concreto
tropicália,
bananas ao vento.
GO BACK
Você me chama
Eu quero ir pro cinema
você reclama
meu coração não contenta
você me ama
mas de repente a madrugada mudou
e certamente
aquele trem já passou
e se passou
passou daqui pra melhor,
foi!
Só quero saber
do que pode dar certo
não tenho tempo a perder
você me pede
quer ir pro cinema
agora é tarde
se nenhuma espécie
de pedido
eu escutar agora
agora é tarde
tempo perdido
mas se você não mora, não morou
é porque não tem ouvido
que agora é tarde
- eu tenho dito -
o nosso amor michou
(que pena) o nosso amor, amor
e eu não estou a fim de ver cinema
(que pena)
.......
Toda a rua tem seu curso
Tem seu leito de água clara
Por onde passa a memória
Lembrando histórias de um tempo
que não acaba.
Toda rua tem seu curso
Tem seu leito de agua clara
Por onde passa a memória
Lembrando histórias de um tempo
Que não acaba.
CAJUÍNA EM TERESINA
A cajuína ameniza
humanamente o calor,
é néctar que vitaliza
os doces laços de amor.
Teresina, realeza,
vila nova do Poti,
velho monge, outra beleza,
das terras do Piauí.
Caminham de braços dados
e compartilham essa flor,
são colibris dos cerrados
na face desse esplendor.
Desvelo da natureza
que faz sorrir e criar
uma ode à sutileza
que habita este meu lugar!
Cajuína em Teresina…
delícia deste meu chão,
mais o sol que descortina
as belezas do sertão!
A poesia faz elo
entre anjos tortos e os sãos,
Torquato Neto e Castelo,
nas palmas das nossas mãos!
✍PedrO M.