Poesias de Robert Louis Stevenson
A QUE VEM DE LONGE
A minha amada veio de leve
A minha amada veio de longe
A minha amada veio em silêncio
Ninguém se iluda.
A minha amada veio da treva
Surgiu da noite qual dura estrela
Sempre que penso no seu martírio
Morro de espanto.
A minha amada veio impassível
Os pés luzindo de luz macia
Os alvos braços em cruz abertos
Alta e solene.
Ao ver-me posto, triste e vazio
Num passo rápido a mim chegou-se
E com singelo, doce ademane
Roçou-me os lábios.
Deixei-me preso ao seu rosto grave
Preso ao seu riso no entanto ausente
Inconsciente de que chorava
Sem dar-me conta.
Depois senti-lhe o tímido tato
Dos lentos dedos tocar-me o peito
E as unhas longas se me cravarem
Profundamente.
Aprisionado num só meneio
Ela cobriu-me de seus cabelos
E os duros lábios no meu pescoço
Pôs-se a sugar-me.
Muitas auroras transpareceram
Do meu crescente ficar exangue
Enquanto a amada suga-me o sangue
Que é a luz da vida.
Canção final
Oh! se te amei, e quanto!
Mas não foi tanto assim.
Até os deuses claudicam
em nugas de aritmética.
Meço o passado com régua
de exagerar as distâncias.
Tudo tão triste, e o mais triste
é não ter tristeza alguma.
É não venerar os códigos
de acasalar e sofrer.
É viver tempo de sobra
sem que me sobre miragem.
Agora vou-me. Ou me vão?
Ou é vão ir ou não ir?
Oh! se te amei, e quanto,
quer dizer, nem tanto assim.
Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperanças,
Segundo a velha literatura das sensações.
Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
Hei de seguir eternamente a estrada
Que há tanto tempo venho já seguindo
Sem me importar com a noite que vem vindo
Como uma pavorosa alma penada.
Sem fé na redenção, sem crença em nada
Fugitivo que a dor vem perseguindo
Busco eu também a paz onde, sorrindo
Será também minha alma uma alvorada.
Onde é ela? Talvez nem mesmo exista…
Ninguém sabe onde fica… Certo, dista
Muitas e muitas léguas de caminho…
Não importa. O que importa é ir em fora
Pela ilusão de procurar a aurora
Sofrendo a dor de caminhar sozinho.
[...]
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
[...]
[Lisbon Revisited (1923)]
Destruição
Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem:
Um se beija no outro, reflectido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.
Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.
Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.
E eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.
A grandeza das ações humanas é proporcional à inspiração que as produz. Feliz é aquele que traz dentro de si um Deus, um ideal de beleza a que obedece: ideal de arte, ideal de ciência, ideal de pátria, ideal de virtudes evangélicas. São essas as fontes vivas dos grandes pensamentos e das grandes ações. Todas elas refletem a luz do infinito.
Em nome da ciência eu proclamo a Jesus Cristo como Filho de Deus. Meu senso científico, que valoriza muito a relação entre causa e efeito, compromete-me a aceitá-lo como fato. Minha necessidade de adorar encontra nEle a mais plena satisfação.
“É só no silêncio que o amor toma consciência de sua essência miraculosa, de sua liberdade e de sua potência de intimidade. As palavras ditas destroem sua penugem e sua graça sempre nascente. Quem duvidaria que, no Paraíso, os espíritos desfrutam de si mesmos comunicando-se com Deus e com os outros espíritos no fervor de um perfeito silêncio?”
"Há pessoas que esperam a vida inteira um futuro em que poderão, enfim, começar a viver: ora, esse futuro não ocorrerá jamais. Seu pensamento sempre se adianta ao que não existe, mas é impotente diante do que existe. [...] Para elas, no entanto, a morte sempre sobrevém no período de espera; elas só têm atrás de si, então, uma existência vazia. É que, como esperavam para viver, só esperavam para morrer. Entre o sofrimento que um momento do tempo nos proporciona e a felicidade que outro momento nos promete, existe uma diferença de grau que não raro é ilusória. Mas entre o presente do ser e o nada da espera há o infinito".
"É sinal de força não levar em nenhuma conta a opinião nem a maneira como se possa ser julgado e permanecer só com Deus numa incessante comunicação. É importante nunca travar relação com os outros homens senão por meio de Deus e nunca com Deus por meio dos outros homens."
Se a profissão nem sempre está de acordo com a vocação, não raro isso é efeito de uma escolha ruim, mais que de um destino ruim. É por vezes um teste que o destino nos impõe, a fim de nos obrigar a descobrir e exercer algumas de nossas potências ocultas. [...] Não se deve, porém, criar uma oposição entre nosso trabalho e nossa tarefa de homem: é preciso fundi-los.
Sejam quais foram os resultados, com êxito ou não, o importante é que no final cada um possa dizer: fiz o que pude.
A busca da perfeição não é nada se não for inseparável da necessidade de difundir todo o bem que se possui.
O célebre preceito que recomenda conhecer-se a si mesmo só é de aplicação tão difícil porque, para conhecer-se, é preciso primeiro fazer-se. E as duas operações coincidem. Por isso, nossos atos aparecem sempre, aos nossos olhos, diferentes do que acreditávamos ser. O que pensamos de nós mesmos é também um véu que nos esconde de nós mesmos.
"A vocação aparece no momento que o indivíduo reconhece que não pode ser para si mesmo seu próprio fim, que ele pode ser apenas o mensageiro, o instrumento e o agente de uma obra para a qual coopera e na qual o destino do universo inteiro está interessado"
Tudo o que eu quero dizer para os jovens é que vocês não serão ninguém na vida a menos que aprendam a se comprometer com um objetivo. Você tem que procurar no mais fundo de si mesmo se está disposto a fazer sacrifícios.
Eu cheguei tão longe e me recusei a desistir porque, minha vida inteira, eu sempre terminei a corrida.
Nosso eu não é um ser formado, mas um ser que se forma a todo instante. Não é uma realidade já feita sobre a qual nossa sinceridade deveria se pautar, que seria seu modelo e que nossas palavras e obras poderiam exprimir com maior ou menor exatidão ou fidelidade. Assim, pôde-se dizer que não há uma verdade sobre o eu, do mesmo modo que há uma verdade sobre um objeto.