Poemas de Clarice Lispector
Nunca tinha me entendido muito bem. Depois que conheci Clarice (Lispector) descobri que jamais me entenderia. No entanto, me cobro menos. Agora me entorno no desconhecido de mim como ela o fazia.
Sou tantas outras quanto quero na Clarice Lispector. Hoje estou Joana, amanhã, talvez, Macabéa. Um dia pensei ser Glória.
No lugar de 'ecce homo', aqui é 'ecce muliere'... sim, 'eis a mulher'... Clarice Lispector é o que é...
Um dia Clarice Lispector escreveu assim: "Que minha solidão me sirva de companhia." Eu sinceramente espero que esse pensamento tenha dado certo para ela, pois para mim a solidão me levou a porta da loucura e decidi que não quero mais, então já chega. É hora de voltar ao jogo e novamente voltar a viver.
Quando Clarice Lispector disse que amava a Cruz que dolorosamente carregava porque isso era o mínimo que ela poderia fazer da vida, eu entendi que que não dá pra mudar os males da nossa história então careceria de saborear o fel com uma dose de gin!
Meu amor,
preciso me afogar
em poesia e vinho tinto
Pode ser daqueles baratos
que se toma no botequim da esquina
e se ouve no ponto de ônibus
o que não posso
é continuar aqui
enquanto lá fora
o sol toca em você, e nele
e nas folhas das árvores
e tudo ganha mais brilho e cor
Meu bem, preciso me afogar
no suave das palavras de Jobim
no lirismo de um copo de vinho quente,sim
Quente, pois de frio, bastam as minhas tardes
sobre esse ar superficial, onde as companhias não se falam ou sorriem
Não sei se rio, ou choro
queria eu, ser rio e correr
sempre em direção a algo maior
Veja bem, meu caro amigo
não estou a reclamar de não estar em um bar
Estou apenas com saudades de transcender os limites de mim.
O motivo pelo qual muitas pessoas vivem se lamuriando a vida inteira é porque acreditam que o seu passado foi melhor do que, realmente foi.
O agora pior do que ontem, enquanto o amanhã será sempre melhor do que o hoje não foi. Então, acabam sem ser quem seriam, se tivessem o que queriam, e amassem quem deveria.
Ainda tenho muito o que pensar,
ainda tenho muito o que ser,
então se eu te deixo ser
deixa-me ser também !
Tem dia que estou pra "Caio Fernando", tem dia que estou pra "Fernando Pessoa"...
O importante é isso, ter motivações para todos os dias e não é por uma guerra de textos que quero rasgar meus versos, sou livre, nasci assim, solta, soltinha para trafegar e se der pra rimar eu rimo, se não, deleto, simples como não SER OBRIGADA A GOSTAR DE TUDO que saem escrevendo por aí.
Por favor, poupem minha literatura!
Esperança é como um sopro de vida,
Que nos inspira a seguir em frente,
E nos dá a força necessária,
Para enfrentar qualquer desafio que a vida nos apresente.
Clarice Lispector, em sua sabedoria,
Nos falou da importância da esperança,
Que é como uma chama que não se apaga,
E que nos mantém firmes em nossa jornada.
Pois mesmo nos momentos mais difíceis,
A esperança nos guia como um farol,
Iluminando o caminho adiante,
E nos dando a certeza de que podemos alcançar o sol.
E assim, a cada novo dia,
Vamos cultivando essa semente de amor,
Que nos enche de alegria e harmonia,
E nos leva a um amanhã ainda melhor.
Que a esperança nos inspire sempre,
A buscar o melhor em cada situação,
E que a luz que ela nos traz,
Nos leve a uma vida cheia de realização.
Linear
Estou perdida
Não sei quem eu realmente sou
Tenho muitas faces
Muitos eus
Mas acho que descobri
Acho que sou tudo isso mesmo
E todas as coisas
Eu sou mesmo essa dualidade oposta de personalidades
Eu sou o frio e também sou o calor
Sou o fogo e também a água
Sou a neve, o granizo
E também sou a brisa, o raio de sol
Que entra pela janela e acalma
Sempre pensei que tinha que ser uma só
Mas não me lembrei que dentro de uma só podem caber várias e todas
E ainda sim ser única
Posso flutuar em vários estados
Posso ter várias sombras
Eu sou isso tudo e mais um pouco
E isso é o que me torna eu, enfim
Eu sou um emaranhado de descobertas, sonhos, segredos,
Recados não dados, palavras ditas
Mensagens caladas
Discursos ouvidos
Gritos sufocados
Corações partidos
Porque sou amor
E sou amor de vários tipos
Sou isso aí, o improviso
Um verso que não era pra ser
Mas foi
E acabou se tornando
A parte de mim mais verdadeira e genuína
Eu sou o meu estado atual, as minhas fases, a minha essência que fica
Os meus humores e estados de espírito
Eu sou tudo isso
E há de quem diga de mim
Que sou duas caras
Dupla personalidade
Eu não sou a mesma o tempo todo
Meu ser não é linear
É por isso que veem uma, duas, até três de mim ou mais
Não tenho um destino fixo
Meu destino é voar
Eu não fico, não fixo
Meu destino é parar, conhecer um pouco, e depois seguir, continuar,
Sendo quem eu sou
Por mais que eu não seja o mesmo ser sempre, um ser linear.
Intensa
Clarice, quem foi que disse
que nasceste pra solidão?
Embora o vazio existisse,
havia em ti, turbilhão!
Dona de um espírito inquieto,
de névoa e melancolia,
brotavam de seu cérebro, frenético
versos de pura ousadia.
Seus poemas eram tristezas
transbordando seu sentimento;
neles havia beleza,
nunca contentamento.
Era composta por urgências;
tinha pressa de viver!
Tristezas e alegrias intensas
ninguém a conseguia entender.
De seus princípios convicta,
muito à frente do seu tempo!
Uma mulher decidida,
que recusava fragmentos!
(Poesia publicada no livro "100 anos de Clarice" - pág.45
(Editora: Selo Editorial Independente- 2020)
Olhar de menino
O ônibus prossegue pela rodovia. O sol castiga a terra. O sol e com o que vem junto: a sede.
Sorriso alargado, o menino se sente em uma aventura, um adulto! A mãe contava moedas como se contasse pérolas. E durante uma parada foi surpreendida pela pergunta:
- Mãe, me dá um sorvete? Parecia incondicional... mas ela foi tolerante, e o menino sentiu um refrigério, um manancial em seu interior árido.
O menino era tão simples e inocente que não enxergava as dificuldades vividas por ele e sua mãe. Talvez seja melhor assim.
Enxergava a vida com um olhar traquina. O filho olha para futuro a mãe olha para o presente.
- Mãe, cadê o seu sorvete? Com um semblante sereno ela respondeu:
- Assim que puder eu compro, meu filho. Porém o vendedor lhe disse:
- Não minha senhora. Eu faço questão de oferecer por conta da casa.
Caindo em si, o rapaz entendeu que moedas não compram momentos felizes.
Vida de professor
Portões abertos. Vozes ecoavam pelas salas de aula. A algazarra tomava conta da molecada.
O aluno pensava alto, sonhava ser médico. Esgotado, o professor estava para explodir... Como se explodir resolvesse a situação.
Com garganta rôca, o professor pediu silêncio para explicar a matéria.
- Essa é a fórmula para calcular essa questão. Alguém não entendeu? Perguntou com dor.
Levantando a mão, disse o aluno:
- Eu, professor!
Seria talvez um momento conveniente para explodir, ou birrar, ou ser adulto e professor.
Tocou o sinal, era para ser mais um dia comum de sua rotina, acompanhada de remédios. Quando não, veio uma surpresa na sala dos professores: era o seu aluno carregado de dúvidas.
Surpreso com o que viu, o aluno disse:
- Professor, seus remédios resolveram seus problemas até agora? Se não porque persiste em se desgastar?
Com essa pergunta, o professor percebeu que não podia viver para trabalhar, mas trabalhar para viver.
Querida C.L,
Venho aqui através de minhas escritas digitais, te oferecer a minha pergunta: posso te entender mais?
Você está sendo a única autora a me colocar no escuro e recomeçar desde o começo, no instante-já. Não peça para me entender, sendo que nem eu consegui me entender ainda... Acho que achei a resposta agora. Você ainda continua sendo misteriosa, incógnita, ao mesmo tempo explícita nos seus sentimentos (eu acho). Você provavelmente não vá ler, mas eu gostaria demasiadamente que você soubesse, tu continuas viva em mim, e sempre vai ser "It".
Eu estava seguro e maduro.
Havia acabado de construir o meu muro.
Me escondi, na sombra, no escuro.
Pois dá muito trabalho limpar o entulho.
Aí você apareceu assim, tão de repente.
E eu, que fazia um esforço para não ver gente.
Fui puxado para fora e fiquei contigo frente a frente.
Senti o teu calor, teu ânimo, sua alegria.
Deu vontade de correr, como de hábito eu fazia.
E você, sem fazer nada, fez eu querer sua companhia.
Eu estou surpreso e não sei o que fazer, pensar ou dizer.
Esse mundo onde as palavras faltam e o fôlego tremula.
É medicação para a alma, que nunca tomei nem li a bula.
E o pior é que eu, antes tão comunicativo, fico tímido quando você aparece.
A expectativa de encontrar amanhã, a cada noite cresce.
Meus lábios querem os seus e a sua alma já te contou.
Nessa linguagem silenciosa que o amor é doutor.
Esse seu silêncio que parece que não quer ou que não me entendeu.
Me deixa apreensivo e lembrando das vezes, que o meu coração já doeu.
O que eu faço agora, me diga como você entrou?
Pois esse coração que antes era valente, flechado por você se acovardou...
Nesse dia especial, minha singela homenagem a todos aqueles que tentam expressar sentimentos, ideias, arte e conhecimento com palavras. Que dão a cara à tapa, sem medo de errar, de ousar, de serem ridicularizados, esnobados ou ignorados. Autores, compositores, editores, produtores, tradutores, todos artistas, todos escritores!
Parafraseio parodiando minha prima avó Clarice Lispector e a famosa frase de Samuel Bekcett, esculpida no braço do meu tenista favorito:
"Escreva, como eu escrevi. Mergulhe na escrita, como eu mergulhei. Preocupe-se em entender. Escrever facilita qualquer entendimento"
"Ever written! Ever failed! No matter. Write again! Fail Again! Write better!
Havia um mal-estar no vagão. Como se fizesse calor demais. A moça inquieta. Os homens em alerta. Meu Deus, pensou a moça, o que é que eles querem de mim? Não tinha resposta. E ainda por cima era virgem. Por que, mas por que pensara na própria virgindade? (...)
Então os dois homens começaram a falar um com o outro. No começo Cidinha não entendeu palavra. Parecia brincadeira. Falavam depressa demais. E a linguagem pareceu-lhe vagamente familiar. Que língua era aquela?
De repente percebeu: eles falavam com perfeição a língua do "p". (...)
Cidinha fingiu não entender: entender seria perigoso para ela. (...) Queriam dizer que iam currá-la no túnel… O que fazer? (...) Me socorre, Virgem Maria! me socorre! me socorre! (...)
Se resistisse podiam matá-la. Era assim então. (...)
Tirou um cigarro da bolsa para fumar e acalmar-se. Não adiantou. Quando seria o próximo túnel? Tinha que pensar depressa, depressa, depressa.
Então pensou: se eu me fingir de prostituta, eles desistem, não gostam de vagabunda.