Poesia sobre Silêncio
"Quando conhecemos realmente um ao outro, até o silêncio diz o que as palavras não foram capazes de nos dizer."
Lenilson Xavier (lexgrafia 20/06/2017)
SONETO PERDIDO
Eis-me aqui no silêncio do cerrado
Longe de mim mesmo, na dúvida
Extraviado na incerteza da partida
Sem amparo, com o olhar calado
A solidão me assiste, tão doída
Pouco me ouve, pouco civilizado
Tão tumultuado, vazio, nublado
São rostos sem nenhuma torcida
Dá-me clareza de que não existo
Numa transparência de ser misto
No amor e dor no mesmo coração
Como um roteiro no imprevisto
Sem saber como se livrar disto
Velo por aqui sentado no chão...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
Suave música ao fundo
Só a quietude destoa
Baixas vozes melódicas
Aguçam estranhas manias
De empurrar o mundo.
Vento cantando
Sopra feito solidão
Voz única e violão
O mundo se move
Nesta canção.
Canto teus encantos
Repetindo o intérprete
Canto-te em mim
Na minha voz falsete.
Foi-se a meia noite,
A vida, a esta hora,
É o próprio silêncio
Que a gente cala.
SILÊNCIO DAS MADRUGADAS (soneto)
Ainda muita expressão não me avieste
As achatei nas lástimas e tão guardadas
Ações que pelo vento foram dispersadas
E na imensidão do cerrado se fez agreste
Tenho em mim sílabas em vão esperadas
Se devaneio é porque o sonho me veste
E frases trêmulas vão pelo espaço celeste
Enredando o destino com outras paradas
Foi quando o fado me fez centro oeste
Na busca das tão molestadas bofetadas
Das chagas, que a dor ornou com cipreste
Assim, eu, ainda tenho palavras caladas
Nas angústias do coração... tão cafajeste!
Que insistem no silêncio das madrugadas
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
Eu vou me calar
Vou ficar em silêncio
Me trancar no quarto
E esperar o mundo girar
Eu vou fechar os olhos e dormir
Também vou tentar esquecer que eu preciso acordar
Me encolhi diante da raiva
Me esqueci o que me aliviava
Eu sou um erro...
Um ser desprezível...
Um zero a esquerda...
Não tenho valor algum...
To valendo menos que nota de 3.
Ah o que vai ser depois das 6?
Eu já nem sei que horas são..
Perdi os sentidos, a calma e a razão...
Eu olho para o espelho
E não vejo mais nada
Nem o meu reflexo
Não sirvo pra nada, eu não tenho mais nexo
To transparente feito o vidro...
A visão translúcida só permite enxergar
O que não faz parte de mim...
Eu vou me calar...
Suportar o silêncio em dor...
Até chegar o meu fim!
Sei lá
Sei que pesa
Também dói
Machuca
Fere bem profundo
A alma reclama
Seu cérebro
Apita
Sinal verde
Tenta passar
Permanece intacto
Sem sucesso
Numa lama
Tão malcheirosa
Se transforma
VENTO-LOBO
Vento-lobo,
Uiva o frio em todo o dorso
Na matilha, caceis o fogo
Fez do silêncio
Fagulhas à carne
Derreter o grito
D'algum inverno tolo
estou indo
pois o silêncio
também pode ser
nota plena
numa música
desafinada
que já não toca
mais nada
e não nos cabe
mais escutar .
hoje
não mais carência
não mais dormência
não mais ausência
não mais tua insana
indiferença.
hoje
não mais solidão
não mais ilusão
não mais tua canção.
LEMBRANÇAS DE UMA PAIXÃO
Breve foram os momentos
Vividos intensos.
Todas as formas de amor,
Escondidas no silêncio.
Em seu forte abraço me perdia.
Todo seu carinho e proteção,
Guardados hoje apenas na memória,
Levarei comigo até o fim dos meus dias,
Gravados em minha alma e meu coração.
E quando a escuridão da noite
Trouxer a recordação de todo este afago,
Sentindo seu cheiro ainda impregnado,
Nesta cama em que um dia nos abrigou.
Transformarei nossa história
Em uma linda canção,
Expressada em versos e notas
A cada acorde do meu violão.
Eternizarei nesta linda melodia,
Todas as lembranças desta paixão.
O QUE
O que fiz ao silêncio para silenciar assim
me deixar silenciado no vácuo da solidão
tocar sem que eu possa ouvir o teu clarim
ruidar, abafando a presença no coração...
O que fiz eu a solidão pra tê-la no silêncio
quando lá fora até o vento se calou, enfim,
onde está a vida, que aqui respira pênsil
e emudece o cerrado num tom carmim...
O que é este silêncio, que se cala tênsil?
É "o que", em uma indagação sem fim...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
Em meus olhos fúnebre
Não vejo minha tristeza
Meu sorriso já não é mais o mesmo
Aqui já houve um coração.
O amor também é uma tentativa.
Tentativa de superar os erros, visando os acertos. Tentativa de solidão preenchida, quando a ausência é inevitável. Tentativa de entender as palavras proferidas pelo silêncio retórico de um olhar. O amor se afasta das certezas e sem garantias do sempre estar, endossa o eternizar. Porque o amor está no vazio da razão e se alimenta de emoção, dando caos aos sentidos, provocando motivos, inspirando-se em brisa suave do amar.
Uso as vestes do silêncio! Que tem furta cor.
Onde eu sou ou não notada!
Não importa!
A sensibilidade é uma concha de sons.
Onde o timbre é leve.
Onde sons agudos me racham e causam dor.
Sons sem proveito e desnecessários!
Dentro de um contexto que só cabe o positivismo.
Por muito tempo o silêncio me irritou, não
conseguia entendê-lo, mas agora ele me entende e agora eu sou o silêncio
O silêncio era o fim para mim mais agora
o meu silêncio me diz muito mais do que
minhas palavras...
Reconstruindo de novo um novo que ainda não conheço.
Afinando em silêncios os meus outros de mim...
Recolhendo retalhos, estilhaços, cacos e sobras...
O meu melhor momento ...
É quando em Silêncio
me afasto dos barulhos do mundo .
Sinto Deus pousando dentro de mim.
No pé da página...
(Nilo Ribeiro)
Estas palavras não busquei,
mas elas me soaram emblemáticas,
em um pé de página as encontrei,
elas se tornaram mágicas
espelho - qual o significado...???
não apenas reflete a imagem,
ele pode significar o outro lado,
depende da sua abordagem
amor - não é só um sentimento,
ele está dentro da gente,
confunde nosso pensamento,
funde o corpo e a mente
poesia - não é somente um texto,
ela tem muito mais valor,
é usada como pretexto,
com ela se fala de amor
silêncio - não é só calar,
é também muito refletir,
é a palavra não falar,
mas fazer a vontade existir
nada - será o contrário de tudo...???
o nada pode não ser apenas uma lacuna,
o nada pode servir de escudo
para quem o importuna
Deus - uma entidade,
um ser magnífico,
Ele é a oportunidade,
Ele alivia seu sacrifício
são palavras simples,
com outros significados,
elas não são as mesmices,
para um poeta apaixonado
o espelho é o meu amor,
e dele faço poesia,
o silêncio é a minha dor,
se eu não me declaro todo dia
nada deixarei para depois,
peço a Deus que abençoe nós dois...
Grito silencioso
Ela pediu um drinque no velho bar
Como se fosse remédio para a dor
Fugindo de si mesma, angustiada
Tentando sentir um pouco de calor
Laís não é mais uma garota de 15
E foi iludida de novo por um rapaz
Rodeada de várias amigas falsas
De sobreviver ela quer ser capaz
Os comprimidos estarão à espera
Todos conhecidos de longa data
Em sua infernal e infeliz trajetória
Com a cabeça sem reflexão exata
Por favor, guarde já esse estilete
Você ainda irá descobrir a alegria
Nada de se precipitar em desvario
Sei que lhe fará bem mais um dia.