Poesia sobre a Seca no Nordeste
A ida.
A seca está possuída
já não me deixa plantar
abre no peito uma ferida
que nem o tempo vai curar.
e a dor que é mais doída
é ter que trocar de vida
pra viver em outro lugar.
A volta.
Na seca ninguém investe
sem planta e sem animais
parti de rumo ao sudeste
onde eu trabalhei demais
hoje voltei pro nordeste
e não tem seca da peste
que me tire dos meus pais.
Espera!
Todo ano a mesma fera
que faz a terra padecer
no lugar que a seca impera
não tem nada pra nascer
já chegou a primavera
e o nordestino ainda espera
o mês da chuva acontecer.
Dura vida do sertanejo.
A seca é um tormento
que assola a região
quem caminha no relento
não merece humilhação
quem não tem conhecimento
não entende o sofrimento
de quem vive no sertão.
Minha volta!
A seca me fez correr
me abrigar pelo sudeste
eu só tenho a agradecer
o trabalho que me deste
se a chuva não aparecer
nem que seja pra morrer
mas eu volto pro nordeste.
Fé.
A seca que arrebenta
não apaga meu desejo
o trabalho me sustenta
sem precisar de sobejo
a esperança nos alimenta
e Jesus é quem orienta
a família do sertanejo.
Fé, esperança e trabalho.
A seca que arrebenta
não resseca meu desejo
o trabalho me sustenta
sem precisar de sobejo
a esperança me alimenta
e Jesus é quem orienta
a família do sertanejo.
Culpada seca!
A seca é um desatino
como foi pra Santo Onofre
tem gente do dedo fino
bulindo no nosso cofre
gastando sem ter destino
enquanto o povo nordestino
entre tantos também sofre.
Fuga da seca!
A seca a tanto tempo me maltrata
a cada dia a esperança morre mais
e a dor que matou meus ancestrais
se eu ficar nessa terra ela me mata
não sei porque a vida é tão ingrata
e amordaça a esperança desse jeito
se procuro outro lugar pra ter direito
sinto no peito o valor do nordestino
é a espada atravessada no destino
e a faca na mão do preconceito.
Chuva na bica!
A seca aqui é traiçoeira
no sertão tem mais calor
falta água na torneira
ligada só sai vapor
a chuva quando ela queira
caia em cima da biqueira
e abasteça meu tambor.
Sou nordestino.
Sou nordestino meu caro
aqui assino meu nome
conheço a seca e a fome
razão do meu desamparo
é fera que tanto encaro
com tantas que não aceito
mas sem mudar o conceito
vou lhe falar a verdade
eu lamento a desigualdade
e ignoro esse preconceito.
Saga.
A seca braba e atrevida
tange o nordestino a sorte
a honra quando é ferida
a alma é quem sente o corte
muitas vezes a dor da vida
fere mais que a dor da morte.
Tempo bom!
O tempo que estava ruim
hoje mudou de posição
a seca chegando ao fim
traz o verde da estação
e que Deus permita enfim
que a chuva prossiga assim
abençoando o meu sertão.
Lastro da seca.
Quando a seca ameaça
estragar minha plantação
deixa o gado na carcaça
e o rachado lastra o chão
não é coisa que se faça
rogo a Deus por sua graça
que proteja o meu sertão.
Ida!
A seca fere e maltrata
a vida do sertanejo
em cada rosto que vejo
existe um nó que desata
mas pouco a pouco se mata
a semente pura da flor
na transição do destino
se foi mais um nordestino
na longa estrada da dor.
Terra seca!
A seca é permanente
a chuva não aparece
esse povo não merece
viver assim tão dependente
quanta família carente
esperando um só trovão
como é seco o meu sertão
tão ferido nesta guerra
mas rachado que essa terra
só mesmo meu coração.
Cuscuz da Graça!
A seca ainda mete medo
no sertão de pouca luz
esse aqui é nosso enredo
só com a graça de Jesus
mesmo nesse alvoredo
permite de manhã cedo
ter um prato de cuscuz.
SEMENTE.
A seca tudo devora
não adianta plantar
nehuma planta vigora
assim não posso ficar
mainha estou indo embora
o coração que hoje chora
espera um dia voltar.
SOPRO!
Aqui a seca avassala
no raiar do azul celeste
o cheiro da terra exala
o perfume que me deste
mesmo se a vida apunhala
quanto mais o povo fala
mais eu amo meu nordeste.
SABER!
A seca ainda contamina
fez tanta gente partir
a verba virou propina
e não vieram investir
o que pouca gente imagina
é que a mizéria nordestina
jamais deixou de existir.