Poesia Mulher

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A mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!

Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida?
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que boia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.

Te amei
como nunca amei nessa vida
e do final desse amor restou uma mulher tão fria
que nem por ti mesmo
conseguiria sentir
o amor que senti um dia

*PEIXES*
(de 20 de fevereiro a 20 de março)

Mulher de Peixe... peixe é
Em águas paradas não dá pé
Porque desliza como a enguia
Sempre que entra numa fria.
Na superfície é sinhazinha
E festiva como a sardinha
Mas quando fisga um namorado
Ele está frito, escabechado.
É uma mulher tão envolvente
Que na questão do Paraíso
Há quem suspeite seriamente
Que ela era a mulher e a serpente.
Seu Id: aparentar juízo
Seu Ego: a omissão, o orgulho
Sua pedra astral: a ametista
Seu bem: nunca ser bagulho
Sua cor: o amarelo brilhante
Seu fim: dar sempre na vista.

Desconhecido
MORAES, V. de. A Mulher e o Signo. Rio de Janeiro: Rocco. 1980

*TOURO*
(de 21 de abril a 20 de maio)

O que é que brilha sem
Ser ouro? - A mulher de touro!
É a companheira perfeita
Quando levanta ou quando deita.
Mas é mulher exclusivista
Se não tem tudo faz a pista.
Depois que dona de casa...
E a noite ainda manda brasa.
Sua virtude: a paciência
Seu dia bom: a sexta-feira
Sua cor propícia: o verde
As flores dos seus pendores:
Rosa, flor de macieira.

Desconhecido
MORAES, V. de. A Mulher e o Signo. Rio de Janeiro: Rocco. 1980

CÂNCER
(de 21 de junho a 21 de julho)

Você nunca avance
Em uma mulher de câncer.
Seu planeta é a lua
E a lua, é sabido,
Só vive na sua.
É muito apegada
E quando pegada
Pega da pesada.
É a mulher que ama
Com muito saber
No tocante à cama
Não sei lhe dizer...

Vinicius de Moraes
MORAES, V. de. A Mulher e o Signo. Rio de Janeiro: Rocco. 1980

TODA MULHER TEM UM POUCO

"(...) Eu quis que ele não soubesse meu nome, depois quis ter o dele logo depois do meu. Eu quis que ninguém soubesse de tamanha traição. Depois quis gritar na janela como o proibido era sopro no meu coração.
Eu quis sentir o poder de abalar com a vida dele. Depois quis que ele voltasse direitinho pra casa e esquecesse que existe a fraqueza.
(...) Como eu preciso ser amada meu Deus, pra parar de dar de bandeja o meu sorriso por aí.
(...) Maluca? Nas raras vezes que sou séria, me sinto tão maluca, que devo ser sempre maluca.
(...) Quem em cada pouco põe tudo que é merece ser feliz. E muito."

Me nego a viver em um mundo ordinário como uma mulher ordinária.
A estabelecer relações ordinárias. Necessito o êxtase. Não me adaptarei ao mundo. Me adapto a mim mesma.

Anaïs Nin

Nota: Diário de Anaïs Nin, 23 de março, 1933

Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher
Sou minha mãe e minha filha, minha irmã, minha menina
Mas sou minha, só minha e não de quem quiser.

Renato Russo
1ª de Julho

*GÊMEOS*
(de 21 de maio a 20 de junho)

A mulher de gêmeos
Não sabe o que quer
Mas tirante isso
É uma boa mulher.
A mulher de gêmeos
Não sabe o que diz
Mas tirante isso
Faz o homem feliz.
A mulher de gêmeos
Não sabe o que faz
Mas por isso mesmo
É boa demais...

Desconhecido
MORAES, V. de. A Mulher e o Signo. Rio de Janeiro: Rocco. 1980

Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz
E atrás dessa mulher mil homens sempre tão gentis...

*ESCORPIÃO*
(de 23 de outubro a 21 de novembro)

Mulher de escorpião
Comigo não!
É Abelha Mestra
É a Viúva Negra
Só vai de vedete
Nunca de extra.
Cria o chamado conflito
de personalidades.
É mãe tirana
Mulher tirana
Irmã tirana
Filha tirana
Neta tirana
tirana tirana.
Agora, de cama diz
que é boa paca.

Desconhecido
MORAES, V. de. A Mulher e o Signo. Rio de Janeiro: Rocco. 1980

Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina... E vice-versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar...
Não me dou pela metade, não sou tua meio amiga, nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de riso fácil... e choro também!

Thaísa Lima
Encontros e desencontros de uma adolescente. São Paulo: Biblioteca 24 horas, 2008.

Nota: Trecho adaptado do livro "Encontros e desencontros de uma adolescente". Costuma ser erroneamente atribuído a Tati Bernardi e Clarice Lispector.

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A mulher e a patroa

Há homens que têm patroa. Ela sempre está em casa quando ele chega do trabalho. O jantar é rapidamente servido à mesa. Ela recebe um apertão na bochecha. A patroa pode ser jovem e bonita, mas tem uma atitude subserviente, o que lhe confere um certo ar robusto, como se fosse uma senhora de muitos anos atrás.

Há homens que têm mulher. Uma mulher que está em casa na hora que pode, às vezes chega antes dele, às vezes depois. Sua casa não é sua jaula nem seu fogão é industrial. A mulher beija seu marido na boca quando o encontra no fim do dia e recebe dele o melhor dos abraços. A mulher pode ser robusta e até meio feia, mas sua independência lhe confere um ar de garota, regente de si mesma.

Há homens que têm patroa, e mesmo que ela tenha tido apenas um filho, ou um casal, parece que gerou uma ninhada, tanto as crianças a solicitam e ela lhes é devota. A patroa é uma santa, muito boa esposa e muito boa mãe, tão boa que é assim que o marido a chama quando não a chama de patroa: mãezinha.

Há homens que têm mulher. Minha mulher, Suzana. Minha mulher, Cristina. Minha mulher, Tereza. Mulheres que têm nome, que só são chamadas de mãe pelos filhos, que não arrastam os pés pela casa nem confiscam o salário do marido, porque elas têm o dela. Não mandam nos caras, não obedecem os caras: convivem com eles.

Há homens que têm patroa. Vou ligar pra patroa. Vou perguntar pra patroa. Vou buscar a patroa. É carinho, dizem. Às vezes, é deboche. Quase sempre é muito cafona.

Há homens que têm mulher. Vou ligar para minha mulher. Vou perguntar para minha mulher. Vou buscar minha mulher. Não há subordinação consentida ou disfarçada. Não há patrões nem empregados. Há algo sexy no ar.

Há homens que têm patroa.
Há homens que têm mulher.
E há mulheres que escolhem o que querem ser.

Martha Medeiros
Crônica "A mulher e a patroa", 1999.

Nota: Texto originalmente publicado na coluna de Martha Medeiros, no website Almas Gêmeas, a 29 de novembro de 1999.

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Vazio

A noite é como um olhar longo e claro de mulher.
Sinto-me só.
Em todas as coisas que me rodeiam
Há um desconhecimento completo da minha infelicidade.
A noite alta me espia pela janela
E eu, desamparado de tudo, desamparado de mim próprio
Olho as coisas em torno
Com um desconhecimento completo das coisas que me rodeiam.
Vago em mim mesmo, sozinho, perdido
Tudo é deserto, minha alma é vazia
E tem o silêncio grave dos templos abandonados.
Eu espio a noite pela janela
Ela tem a quietação maravilhosa do êxtase.
Mas os gatos embaixo me acordam gritando luxúrias
E eu penso que amanhã...
Mas a gata vê na rua um gato preto e grande
E foge do gato cinzento.
Eu espio a noite maravilhosa
Estranha como um olhar de carne.
Vejo na grade o gato cinzento olhando os amores da gata e do gato preto
Perco-me por momentos em antigas aventuras
E volto à alma vazia e silenciosa que não acorda mais
Nem à noite clara e longa como um olhar de mulher
Nem aos gritos luxuriosos dos gatos se amando na rua.

Rio de Janeiro, 1933

Vinicius de Moraes

Nota: Poema constante da seção de poesia do site oficial de Vinicius de Moraes.

Mãe, presente de Deus

Para completar o homem, Deus a fez mulher...
Mas para participar do milagre da vida, Deus fez a mãe.

Para liderar uma casa, Deus fez a mulher...
Mas para edificar um lar, Deus fez a mãe.

Para estudar, trabalhar e competir, Deus fez a mulher...
Mas para guiar a criança, Deus fez a mãe.

Para os desafios da sociedade, Deus fez a mulher...
Mas para o amor e carinho, Deus fez a mãe.

Para fazer aquele trabalho, Deus fez a mulher...
Mas para embalar o berço e construir um caráter, Deus fez a mãe.

Para ser princesa, Deus fez a mulher...
Mas para ser rainha, Deus fez a mãe.

Você é o mais lindo presente de Deus para mim.
Eu quero ser uma dádiva de Deus pra você.

Te amo, mãe!

Toda mulher é como uma rosa
Rainha de todas as flores
Mas a mulher que também é mãe
É rainha entre rainhas
Rainha de todas as rosas.

Era uma vez
uma mulher que
via um futuro grandioso
para cada homem
que a tocava.
Um dia
ela se tocou

Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave

Vinicius de Moraes
Antologia poética

Nota: Trecho do texto "Receita de Mulher"

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*LIBRA*
(de 23 de setembro a 22 de (outubro)

A mulher de libra
Não tem muita fibra
Mas vibra.
Quer ver uma libriana contente?
Dê-lhe um presente.
Quando o marido a trai
A mulher de libra
balanças, mas não cai.
Se você a paparica
Ela fica.
Com librium ou sem librium
Salve, venusina
Que guarda o equilíbrio
Na corda mais fina.

Desconhecido
MORAES, V. de. A Mulher e o Signo. Rio de Janeiro: Rocco. 1980

TODO O AMOR

A maior covardia de um homem
É despertar o amor de uma mulher
Sem ter a intenção de amá-la

Nenhum homem vale as lágrimas de uma mulher
Nenhum homem é merecedor de fechar um sorriso feminino
O homem que despreza o coração de uma mulher doce e pura
É, sem dúvida, um tolo
E sequer é merecedor do sentimento de desprezo

Mas o maior erro de uma mulher
É acreditar que encontrará em um homem
O Amor que apenas dentro dela está

Quando um homem ama uma mulher
É apenas ele o agraciado
Por que a mulher já é em si todo o Amor
Toda a Beleza
E toda a Graça...