Poesia Envelhecer
JUVENTUDE (soneto)
Lembras-te, poesia, quando, era só alegria
Ao fim do dia, o pôr do sol mais que luzidio
Era arrepio na alma, e a satisfação persistia
E em teus versos canto de juventude no cio
Tudo era ingênuo, melodioso e de fantasia
Felizes, ambos, íamos trovando o desafio
Fio a fio, nas venturas com a boa teimosia
Ecoando em nós o inato recato de ter brio
Tudo era longo, e o agora mais duradouro
O azul do céu num infinito da imaginação
E o amanhã no amanhã, um novo tesouro
E em nosso olhar, aquela tão mágica visão
De que tudo é possível no sonhar vindouro
E o mundo seguia mundo sem preocupação
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
31/03/2020, 14’27” - Cerrado goiano
SEXAGENÁRIO
Velhice. Um novo horizonte num outro amanhecer
Lúrida, o vigor sem luz, roto e frágil; o pensamento
No ontem, a tremer, e o olhar revoando pelo vento
Cambaleando na encosta do tempo, e ali a descer...
Passa. Passando. Sucessivo, um novo sentimento
Que sombreia a fronte, o eu e o querer nesse ter
Sentir, ser, afinal, ainda no roteiro do poder viver
Amparando os passos, desamparados, sofrimento
E neste encanecido silêncio, a cada passo a ilusão
Volta, evocando o sentido do velho terno coração
Deixando a saudade solta pela lenta madrugada
E cochila o olhar: e o olhar alucinado, tão calado
Cabeceia nos segundos empoeirados do cerrado
Incomodado, tal um leão em uma furna apertada
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
26/06/2020, 09’33” – Triângulo Mineiro
Olavobilaquiano
ESPERA
Ah! quem dera que as lembranças de outrora
Inda aromatizasse! Ah! e que assim pudera
O tempo de ontem fosse o tempo de agora
E não só este imaginar: - a outra primavera
Já não se tem mais uma extasiada aurora
No vetusto ser, tudo é igual, sem quimera
Onde a imaginação era de hora em hora
Agora, silêncio. Ah! como díspar quisera:
Debruçado nos sonhos, e o sonho recendia
O desconhecido, cheio de poesia intensa
No brotar do alvorecer duma nova hera
Ah! quem me dera que isto, fosse um dia
Uma razão, e não devaneios d’alma densa
De saudades, que poeta suspira e espera...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28/08/2020, 15’18” – Triângulo Mineiro
CERTIFICADO
A velhice é um treco, dor e cansaço
O dia é um balanço, no vai e vem
o que resta, o mínimo que se tem
Se faço, com a dificuldade abraço
Devagar e no compasso, tudo bem
Se vou além? ... pergunte ao passo
Pois, da vagarosidade sou refém
No próprio eu não tenho espaço
Tudo me cansa, comove, maça
Se rio, o choro faz igualmente
E o tempo parece uma ameaça
Já, a própria inércia é ausente
Quase sempre sou sem graça
O reflexo não reconhece a gente!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06/09/2020, 15’15” – Triângulo Mineiro
SONETO DA SAUDADE
Saudade – o olhar do outrora andando
e o pranto, uma lágrima na lembrança
deslizando. Saudade! os dias de criança
cantigas de ninar e de roda: cantando!
Noites, até às 10 horas, na vizinhança
a meninada, na diversão, em bando
na chuvada, muito mais que amando
saudade ingênua de dias de pujança
Saudade – asa da dor no sentimento
Recordações vans do tempo ao vento
Ai! dantes no pensamento em guerra
Saudade – “o que fica do que não ficou”
a velha mocidade, que hoje já passou...
O apito da “Mogiana” da minha terra!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
09/09/2020, 10’07” – Triângulo Mineiro
VELHO ....
O tempo, e com ele a trôpega velhice
Vai se indo como a vida vai mandando
Gritando, calando, caindo, levantando
Hora austera, e também de sandice
É lenta, silenciosa e cheia de chatice
Ou não, cada qual com o seu mando
Se ainda for viável estar no comando
É o ápice do homem na sua meninice
E no espelho, o cabelo branco, a ruga
Pesando na idade, amadurado fruto
É a juventude numa derradeira fuga
A rua mesma, o sonho outro, apatia
Tudo é frágil em um cuidado bruto
Na chance de velho, madura poesia! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
25/01/2021, 14’11” – Triângulo Mineiro
PASSANDO ...
Sulca-me as frontes já rugas encanecidas
Olhar embaçado eu vejo o velho cerrado
Torto, “pedregado”, arbusto tão delgado
No tempo vou em velocidades incontidas
Cabelos brancos, vá, não seja tão abusado
O meu espanto, quanto as tuas investidas
Tão fugaz, minhas queixas enfraquecidas:
Lamentos, surpresa, pavor, sem resultado
Tive antipatia, tive inocência, e repulsa
Com a estranheza furiosa da mudança:
No espelho a figura avelhantada pulsa
E, atendo ao inevitável, já, só lembrança
Passou, vai passando, e a história incursa
Ao passado, a temporada de ser criança...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Abril de 2021, 12’45” - Araguari, MG
ENVELHECENDO
Frauda o sono na madrugada. Sem apreço
Tropeço em tropeço, corpo e vigor, se vão
É pulsação na emoção, é a conta, é o preço
À dimensão do tempo, do tempo à dimensão
Um espesso sentimento: agrado e padeço
Ao chão, cada suspiro de uma sensação
Vida, palpitação, de arremesso e arrefeço
E, bem sei que curto ou longo nos levarão
A cada verso, reverso do fim e do começo
O início, o término, no meio, se misturarão
Do berço ao regresso, diverso, eu confesso!
Se tive insatisfação, também, mais gratidão
Tristeza ou não, apenas um outro endereço
Envelhecendo, a oblação dos que sorte são!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
2021, setembro, 12, 04’27” – Araguari, MG
Canção Musicada Pra Velhice
Dizes-te tempo, entretanto
Em ti andejando, cada dia
Mais e tais, mais um canto
Mais algo, e mais ousadia
E a cada novo ano, passa
Indo a carcaça abarrotada
Aparência baça, com graça
Peleja, e generosa morada
Cada passo, renovo, brilho
A vida num prélio deveras
A juventude um trocadilho
E o desejo das primaveras
Sigo da vida a doce poesia
Se ventura eu fosse poeta
Dele apanharia mais magia
Velho, mas de alma repleta
Cada fio do cabelo já prata
E a saudade no peito forte
No olhar luz, a sina pacata
E, que o coração se importe
Porém, antes, porém, sorte
Caro tempo, aqui me esforço
É bem que se vai pra morte
Mas, que seja sem remorso...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
13/09/2021, 15’40” – Araguari, MG
ESPELHO
Estive vendo a minha própria figura
Desenhada no espelho, com certeza
Envelheci, com inquieta tal destreza
Que nem reparei, ah! afanosa leitura:
De um olhar nublado e sem a inteireza
A imagem franzida de exausta doçura
Semblante encanecido, sem aventura
E aquele sorriso sem a juvenil clareza
Tudo numa velocidade, sem perceber
O tempo, se foi, vai correndo, por ser
O dono da fase, e o dono do destino
Ah! Fado sem a piedade e a bondade
Ó anseio de crescer, louca insanidade
Do querer furibundo de um menino...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
31 de maio, 2022, 20’05” – Araguari, MG
O que mata é envelhecer percebendo que teve uma vida de cautelas, baseadas em suposições frágeis que, se concretizadas, não passam de meros pedregulhos que caíram no seu caminho justamente por você ficar parado.
Quando eu envelhecer eu quero ser como minha avó, ter seu jeito cuidadoso e carinhoso, ser querida por todas, mas acima de tudo ter um amor como o dela, me encanto só de lembrar como ela foi feliz com meu avô, mas o tempo passa, com ele também vem a morte.
Você aprenderá, à medida que envelhecer, que as regras são feitas para serem quebradas. Seja ousado o suficiente para viver a vida conforme seus instintos, e nunca, nunca se desculpe por isso. Siga seu coração, se recuse a se conformar, pegue a estrada menos percorrida em vez do caminho batido. Ria diante da adversidade, e pule antes de olhar. Dance como se todos estivessem assistindo. Marche conforme seu ritmo e se recuse teimosamente a seguir padrões.
Não há nada mais tecnológico do que envelhecer. Conforme a tecnologia avança, somos mais longevos. Respeite nossos longevos usuários, assim poderá acompanhar a tecnologia.
De alguma maneira todo homem, para envelhecer com dignidade e respeito, necessita se manter útil e não abrir mão de certa dose de poder.
Dentre as coisas mais difíceis no envelhecer, sem dúvida, a inutilidade é a pior delas. Consequentemente, a segunda coisa mais difícil é esconder que você não está bem. Alguns se apiedarao de você se vier a descobrir que você está doente, mas logo te darão as costas porque ninguém investe no que não tem futuro. Outros ao descobrirem teus problemas, entenderão que isso é fraqueza ou um drama que se faz em busca de alguma vantagem, e logo se afastarao e sequer se lembrarão que você existe. Por isso, é muito angustiante ficar fingindo para que ninguém saiba da tua precoce inutilidade.
Quando a gente é criança, somos tão ingênuos a ponto de pensar que envelhecer é uma coisa legal. Fazemos algumas festinhas com brigadeiros, quebramos alguns brinquedos. Os anos passam, papéis se invertem e a única coisa que passamos a quebrar é a cara.
(...) Francamente, envelhecer não é tornar-se um sábio! Envelhecer é, sobretudo, perder as referências de uma longa existência! É agonizar, murchar e se metamorfosear lentamente num... nada! (...)
Amar alguém é querer estar sempre perto é compartilhar momentos é desejar envelhecer juntos e viver na eternidade...
O mais alto tributo ao envelhecer da idade é o esquecimento de passagens alegres e engraçadas.Seja ele por não mais re lembrarmos dos fatos com os personagens que se foram a nossa frente, ou pelos locais hoje tão modificados que parecem nunca terem existidos verdadeiramente um dia.Afinal quando ocorre os esquecimentos gradativamente por doenças e cansaço mental, percebemos que no fundo não faz tanta diferença.