Poesia de Trabalho e Familia

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Os médicos estão fazendo a autópsia
Dos desiludidos que se mataram
Que grande coração eles possuiam
Viscéras imensas, tripas sentimentais
E um estômago cheio de poesia.

Carlos Drummond de Andrade
ANDRADE, C. D. Brejo das Almas, 1934

Nota: trecho do poema "Necrológio dos Desiludidos do Amor" livro "Brejo das Almas"

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Partir!
Nunca voltarei,
Nunca voltarei porque nunca se volta.
O lugar a que se volta é sempre outro,
A gare a que se volta é outra.
Já não está a mesma gente, nem a mesma luz, nem a mesma filosofia.

Álvaro de Campos
PESSOA, F. Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática. 1944 (imp. 1993). p. 307

Nota: Trecho do poema "Là-bas, Je Ne Sais Où..." de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa

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Pelo o que me diz respeito
Eu sou feita de dúvidas
O que é torto, o que é direito
Diante da vida
O que é tido como certo, duvido
E não minto pra mim
Vou montada no meu medo
E mesmo que eu caia
Sou cobaia de mim mesma
No amor e na raiva
Vira e mexe me complico
Reciclo, tô farta, tô forte, tô viva
E só morro no fim
E pra quem anda nos trilhos cuidado com o trem
Eu por mim já descarrilho
E não atendo a ninguém
Só me rendo pelo brilho de quem vai fundo
E mergulha com tudo
Pra dentro de si
Lá do alto do telhado pula quem quiser
Só o gato que é gaiato
Cai de pé...

Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflete o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste.

Fernando Pessoa
Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Lisboa: Ática. 1979. 98p.

A solidão mostra o original, a beleza ousada e surpreendente, a poesia. Mas a solidão também mostra o avesso, o desproporcionado, o absurdo e o ilícito.

Thomas Mann
A Morte em Veneza

Se a poesia não surgir tão naturalmente como as folhas de uma árvore, é melhor que não surja mesmo.

John Keats
KEATS, J. Selected Letters of John Keats. Massachusetts: Harvard University Press, 2009.

Nota: Trecho de "Carta a John Taylor" (27/02/1818)

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A esperança é a poesia da dor, é a promessa eternamente suspensa diante dos olhos que choram e do coração que padece.

A poesia é o transbordamento espontâneo de sentimentos intensos: tem a sua origem na emoção recordada num estado de tranquilidade.

A poesia não é um modo de libertar a emoção, mas uma fuga da emoção; não é uma expressão da própria personalidade, mas uma fuga da personalidade.

Um dos méritos da poesia que muita gente não percebe é que ela diz mais que a prosa e em menos palavras que a prosa.

São necessários anos de leitura atenta e inteligente para se apreciar a prosa e a poesia que fizeram a glória das nossas civilizações. A cultura não se improvisa.

Em poesia, trata-se, antes de mais nada, de fazer música com a própria dor, a qual diretamente não importa.

A palavra quando é criação desnuda. A primeira virtude da poesia tanto para o poeta como para o leitor é a revelação do ser. A consciência das palavras leva à consciência de si: a conhecer-se e a reconhecer-se.

Ninguém ignora que a poesia é uma solidão espantosa, uma maldição de nascença, uma doença da alma.

Entre o pensamento e a poesia há um parentesco porque ambos usam o serviço da linguagem e progridem com ela. Contudo, entre os dois persiste ao mesmo tempo um abismo profundo, pois moram em cumes separados.

A poesia não está nem nos pensamentos, nem nas coisas, nem nas palavras; ela não é nem filosofia, nem descrição, nem eloquência: ela é inflexão.

A poesia não nasce das regras, a não ser em parte mínima e insignificante; mas as regras derivam das poesias; e, no entanto, são tantos os géneros e as espécies de verdadeiras regras, quanto são os géneros e as espécies de verdadeiros poetas.

Sempre se admitiu que a poesia participava do divino porque eleva e arma o espírito submetendo a aparência das coisas aos desejos da alma, enquanto a razão constrange e submete o espírito à natureza das coisas.

Francis Bacon
BACON, F., The Advancement of Learning, 1605

Se a música tem um número maior de amantes do que a poesia, ou a arquitetura, ou a escultura, tal não deve ao fato de ser mais espiritual, como se costuma dizer, mas sim devido ao fato contrário: é mais sensual.

Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo.