Poesia de Reflexão

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O importante é amar
sem rédeas e sem censura,
mesmo que a sociedade
às vezes seja tão dura;
amar é sentir coragem!
Sem fingir, sem camuflagem,
sem medo de ser julgado,
pois quem julga um amor
Não é juiz, não sinhô,
É no fundo um mal-amado.

Bráulio Bessa
Poesia com rapadura. Fortaleza: Cene, 2017.

Nota: Trecho do poema Uma carrada de amor.

...Mais

Toda vez que você
Diz à sua filha
Que você grita com ela
Porque a ama
Você a ensina a confundir
Raiva com bondade
O que parece uma boa ideia
Até que ela cresce
E passa a confiar em homens
que as machucam
Porque eles se parecem
Demais com você.

Rupi Kaur
Outros jeitos de usar a boca. São Paulo: Planeta, 2017.

Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?

Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?

Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?

Hoje eu acordei e olhei para o céu.
O dia estava diferente, o céu estava iluminado como se houvesse uma grande festa.
E então um anjo sussurrou em meu ouvido ...era a comemoração da sua vida.
Todos celebravam lembrando suas superações, conquistas e vitorias, se orgulhavam pelo ser humano que você se tornou.
Em meio a esta energia contagiante, em silencio eu fiz uma oração, agradecendo a Deus por você fazer parte de minha existência e pedindo que você seja muito feliz, que seu caminho seja repleto de pessoas dignas de sua amizade, companheirismo e de seu amor.
Parabens!

Às vezes...

Às vezes é preciso ser feliz, mesmo sabendo que existe perigo.
Às vezes é preciso ter coragem para enfrentar o perigo.
É preciso viver e poder dizer que tudo valeu a pena.

REFLEXÕES DE UM ADEUS

Agora, sentado,
ouvindo apenas o ruído do silêncio,
parado,
eu penso em nós.
Vem vindo do fundo, gritante,
alarmante,
a ansiedade do tempo passado
preenchendo do nada
o vazio de dois mundos.
Somos duas pontas de flexas,
disparadas do infinito,
que não se encontrarão.
Um grito de alarme
cresce na garganta
e espanta
no vôo, a felicidade
que em vão tenta o pouso
em minha alma angustiada.
Somos dois que
marcham ao longo,
sem cruzamentos,
nem encontros.
Tontos,
procuramos nos dar as mãos
através o nevoeiro do tempo.
Ilusão temerária de sermos um,
quando seremos, eternamente
dois.
Pois,
não percebes?
Teu mundo é formado
de outras cores.
Consulto o silêncio,
tal fora o relógio da vida,
e vejo nos ponteiros
que não se tocam
nossa própria tentativa
do ser uno.
Nessa ilusão míope não vemos
que passamos
um pelo outro,
sem nos tocarmos,
como os ponteiros
que marcam a vida,
perdida.

A ilusão da liberdade

INSÔNIA
Sozinho, reflito no frio silencioso
de meu quarto sem luzes.
Busco encontrar meu tempo
e, sem sono, me perco
a buscar o tempo passado,
mas, é o tempo que me encontra
entre os lençóis, perdido!

REFLEXÕES
Um dia, acreditei no livre-arbítrio
da natureza humana.
Pobre Joseph Nuttin, estava errado!
Somos seres sem vontade própria,
sem condições de guiar nossas vidas.
De alguma forma nascemos assim,
marcados para seguir um caminho
que não é o nosso, nos foi imposto.
Por que acontecem os fatos da vida,
fomos nós mesmos que os criamos?

ILUSÕES
A estrada nos foi adrede traçada
e não nos permite maiores desvios.
Apenas, como seres autômatos,
seguimos o roteiro do papel vivido.
Por que um não foi mais forte que o sim?
Por que apenas uma palavra mudou
tudo que pensamos verdadeiro?
Seguimos sem vida a viver a vida
em um papel que não escrevemos.
Não escolhemos onde e quando nascer,
não saberemos onde e quando morrer.

AUTOR DA VIDA

Vai, deixa de tristeza e deixa o sonho te levantar,
acredite que é possível ainda hoje uma virada,
acredite que tudo foi apenas um engano,
mantenha a rota do seu barco da vida,
não desista novamente,
as pedras são apenas restos que a chuva trouxe…

Amar, viver, sonhar, acreditar, lutar e até o chorar,
são fases que compõem o grande quadro chamado vida,
onde a tela é a sua história,
as tintas são as pessoas que passam por ela,
mas, o pintor, o responsável pela obra é sempre você.

Haja o que houver, aconteça o que acontecer,
o pincel que mistura as cores,
que dá forma ao que vai surgir na tela,
que cria e apaga situações e imagens,
ainda está na sua mão.
É você quem pode criar agora, uma estrada florida,
ou o caminho escuro das incertezas e dúvidas.

Já que você é o autor, o pintor dessa tela chamada vida,
comece pintando um sorriso,
que é o sinal que representa a esperança, a renovação,
símbolo dos que não desistem nunca de ser feliz,
e ser feliz exige criatividade, esforço e dedicação.
Se tudo deu errado até aqui, passe tinta branca em toda a tela e recomece,
hoje é o dia perfeito para uma nova pintura…

Tarde, noite de natal

A tristeza branca
A derramar,
De novo, os tons
(tão bons…),
Tristes e brancos,
Irmanados,
Irmanando,
Num pôr de sóis
Sagrados e únicos,
Os contornos perdidos
Que brotam do povo
Esperançado….
Crédulo,sob um arco-iris
De bondade branca
E triste.
Tudo é calmaria
Nessa tarde de sol
Que desce atrás
Do mar de dezembro.
Ilusão fugáz,
De amor,
De paz,
Comprimida em doze
Meses de ânseios
E dúvidas;
Em eternos veios
De dores reprimidas.
Aqui, sentado,
Parado e alheio,
Com esse sol
A me chamar pro mar…
Não consigo me afastar
Dos sons
Que me alcançam
No fundo da alma,
A alma triste
Desse natal que chegou,
Trazendo um mundo
Que busca outros mundos
Sem conhercer-se a si próprio.
No ventre dilatado
De uma criança qualquer
Está o espanto
Do século dividido.
No pranto da mãe
Que chora mais um anjo
Está o amargo
Das injustiças.
E o mundo busca
Outros mundos,
Sem volver um só
Olhar de piedade.
Que engenhosidade!
A lua a seus pés
Sob a árvore enfeitada
De estrelas;
Que são as gotas
Rolando das faces
Feias e cruas
Que sem compreendê-las
Não aplaudem,
Não riem,
Na mesmice de seus dias
Iguais.
Hoje, é natal,
é paz,
é bondade,
é dádiva,
Mas, em sua tristeza
Ignorante,
Como poderão
Participar
De nossa alegria,
De nossa vitória?
Debaixo de todas as águas
Salgadas
Desse mar,
Fica o fim de uma história
Enterrada e esquecida, e
é natal!

Fim de festa

Louca confusão!
É o final da festa.
Pontas de cigarro
pelo chão,
marcam a realidade
do gosto amargo
pelo sarro,
que ficou na boca,
do cigarro.
Um vazio imenso
ao ambiente empresta,
a presença do arrependimento.

Foram risos,
foi música,
foi farsa.
Busca infeliz de um nada,
estampada, agora,
nos olhos cansados,
descrentes e perdidos.
Copos derramados,
paredes marcadas,
por mãos suadas.

Tudo já é passado.
Alegria-mulher que invadiu,
motivadora, minha solidão.
E nada ficou,
nada de profundo,
de definitivo.
Nada que valesse a pena,
apenas um passo
a mais,
na busca do ego
do eu interior,
que não conhecemos.

Século da cibernética,
das máquinas infernais,
computadores,
robôs,
órgãos artificiais.
Homem-mecânico
do século vinte.
Tudo foi pesado,
balanceado,
meticulosamente dosado!
Para que?
Para nada!

Se teu coração vai mal,
nada de anormal,
terás um novo,
a pulsar vigoroso,
injetando sangue
em teus tecidos.
Genial!
E teu sistema nervoso,
teu cérebro,
tua consciência,
tua vivência
anterior?

Século da genética,
da potência energética.
Situação patética,
o vazio da alma,
no vazio da sala,
que me embala
em mil pensamentos,
em arrependimentos,
que são angustias.

Nunca é tarde

O depois é o agora.
O sempre, o depois.
O sucesso é o presente que se investe no futuro.
Nunca é tarde pra quem faz do agora, o depois.
O nunca já se foi, num começo que chegou.
O futuro vem depois, numa vida de futuro.
Um presente num instante, de esperança que se vive.
Vale antes, o depois.

Planeta terra, onde quem berra se ferra.
O céu clama por paz, e o solo fede a guerra.
Seres distantes, sim, cada vez mais distantes, construindo muros onde deveriam haver pontes.

Seja sempre inquieto
e vez por outra paciente.
Parece meio contraditório,
soa meio diferente,
às vezes pisar no freio
também é andar pra frente.

Bráulio Bessa
Poesia que transforma. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.

Nota: Trecho do poema Sonhar.

...Mais

É preciso mudar

Caminhe por outra rua
Mude os móveis de lugar
Use aquela roupa velha
Na pressa, pode esperar.
Corte, pinte seu cabelo
Sem seguir nenhum modelo
Pois é preciso mudar.

Pinte a parede da sala
Sem medo de se sujar
Devore a lasanha, a coxinha
Sem culpa por engordar.
Frequente novos lugares
E respire novos ares
Pois é preciso mudar.

Escreva uma carta à mão
E esqueça o celular
Visite alguém que faz tempo
Que não vem lhe visitar.
Fale mais, digite menos
Construa em novos terrenos
Pois é preciso mudar.

Aprenda uma nova língua
Talvez volte a estudar
Tome mais banhos de chuva
Deixe a vida lhe banhar.
Pule muros e barreiras
Crie novas brincadeiras
Pois é preciso mudar.

Há mudança até na dor
Basta a gente observar
Deixar a casa dos pais
Mesmo querendo ficar.
Ver amigos indo embora
Sentir a dor de quem chora
Sofrer também é mudar.

Perder aquele emprego
Não ter grana pra gastar
Estudar pra um concurso
E mesmo assim, não passar.
Ser largado, ser traído
Se sentir meio perdido
Sofrer também é mudar.

O vento que às vezes leva
É o mesmo vento que traz
Leva o velho e traz o novo
Se renova, se refaz.
Transforma agito em sossego
Desconforto em aconchego
Faz a guerra virar paz.

A vida, o mundo e o tempo
Nos mudam desde criança
Modificam nossos sonhos
Renovam nossa esperança.
E a mudança mais feroz
Fazendo tudo de nós
Um dia virar lembrança.

O tempo é um piloto louco
Que gosta de acelerar
Não vê placas nem sinais
E sempre vai avançar.
Modificando o sentido
Faz “viver” virar “vivido”
Basta um segundo passar.

Pra mudar basta existir
Ninguém pode controlar
Pois tudo que é vivo muda
Viver é se transformar.
Viver é evoluir
E ao deixar de existir
Até morrer é mudar.

Bráulio Bessa
Poesia que transforma. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.

Imagino
O sofrimento
O ecoar da dor
As lágrimas
O olhar rogando por misericórdia

Imagino
Se tudo tivesse sido diferente
Sem dor
Sem lágrimas

Imagino
Se a igualdade social predominasse
O preconceito fosse extinto
E o respeito usado

Por todos
Que sofreram
Por todos
Que sofrem

Imagino
Um mundo melhor
E a todos
Que não puderam usar a sua voz
A todos não podem usar a sua voz

Ecoou e ecoa em lágrimas
A dor
Em marcas
Ecoa a luta por liberdade

Ecoa também
Na história
Pessoas
Negros
Seres humanos

Julgados por sua cor
Sem direito
A nada
A não ser
O choro

Liberam em lágrimas
O desejo por liberdade
A vontade de sair de casa
Tendo a certeza
De que irá voltar

Liberam em lágrimas o medo
De ser machucado
De ser julgado
O medo de nunca
Nunca
Conseguir a tão sonhada
Liberdade

"As pessoas estão cada vez mais depressivas, e menos felizes, o mundo está se acabando em cortes e corda,
Estão se deixando levar por pessoas que não valem nada,
de mim já não sei o que falar, só digo sorria hoje o quanto puder, amanhã já não sei o que falar."

não precisava que você dissesse que gostaria de ficar.
mas queria saber da sua boca
se eu era o suficiente
pra fazer
seu peito deitar no meu.

HOMENAGEM AO CADAVER DESCONHECIDO
VOCÊ

De todos os caminhos que a vida nos deu
No pior deles voce viveu
E não creio que de fato
Voce o escolheu...

Roupas surradas, os pés quase sempre no chão
Não tinhas identidade
E sem ter um caminho certo
Perambulavas pela cidade...

Sua pele de frio ardia
Seu estomago de fome doia
Mas seu coração insistia e batia
E sem rumo e sem destino, voce sofria...e vivia...

Sofrestes amarguras, fôras enxotado, humilhado
Em seu rosto o olhar cansado
Já sem esperanças...desanimado
Pois fôra por poucos ajudado...

Como suportavas viver seu dia a dia?
Se quando entardecia...sem ter moradia
Entre jornais e papelões...voce adormecia...

Tiveste um dia familia? Éras um ser humano
Mas da maneira que viveu, ate disso se esqueceu
Sofrias...possuias sentimentos
Afinal...éras composto como eu...

Porque afinal vivêstes assim?
Seria destino, carma ou fraqueza?
Hoje já não mais importa...és "peça" de um laboratorio
Em baldes ou sobre a mesa...

És admiravel pela nobreza
Seja quem tivestes sido
Vivêstes na pobreza e sem ter sido sua escolha
Hoje és cortado como folha...

A toda sociedade
Que não conseguiu te enchergar
Que por muitas vezes chegou a te desrespeitar
E é a essa mesma sociedade que hoje voce vem ajudar

À voce desconhecido
Só temos que agradecer
Pois a ciência não teria êxito
Caso não existisse "VOCÊ"...

Sinto seus movimentos, conheço seus pensamentos, estou contigo desde o nascer e eu vou vê-lo ao apodrecer.
O que eu sou?
Uma reflexão.

a representatividade
é vital
sem ela a borboleta
rodeada por um grupo de mariposas
incapaz de ver a si mesma
vai continuar tentando ser mariposa