Poesia de Guimarães Rosa

Cerca de 127 poesia de Guimarães Rosa

“metafísica”:⁠ “É um cego, com olhos vendados, num quarto escuro, procurando um gato
preto... que não está lá.”

Guimarães Rosa
Tutameia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.
Inserida por marco_aurelio_martins

Uma breve argumentação

Vai desistir da vida ?
Deixa eu lhe falar:
Seu coração não desistiu de bater.
Seus rins não desistiram de filtrar.

Seus olhos não desistiram de enchergar.
Seus ouvidos não desistiram de escutar.

Suas pernas não desistiram de andar.
Deus não desistiu de te amar.

Se sua fama, é por meio de "Likes"
E seus elogios é por meio de "Comentarios"

Sua vida é um eterno paradoxo.

A vida também é para ser lida. Não literalmente, mas em seu supra-senso. E a gente, por enquanto, só a lê por tortas linhas.

Guimarães Rosa
Tutameia. In: João Guimarães Rosa: ficção completa, volume 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
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A vida da gente vai em erros, como um relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Vida devia de ser como sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Liberdade – aposto – ainda é só alegria de um pobre caminhozinho, no dentro do ferro de grandes prisões.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Para o prazer e para ser feliz, é que é preciso a gente saber tudo, formar alma, na consciência; para penar, não se carece.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Os fatos passados obedecem à gente; os em vir, também. Só o poder do presente é que é furiável? Não. Esse obedece igual – e é o que é.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Jamais, aqui, hão de me ensinar o nunca. E eu queria voltar a um terno recanto perdido, universo: amorável. Se sorri, era o mundo todo coincidindo com a minha atualidade.

Guimarães Rosa
Estas histórias. In: João Guimarães Rosa: ficção completa, volume 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
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Nada em rigor tem começo e coisa alguma tem fim, já que tudo se passa em ponto numa bola; e o espaço é o avesso de um silêncio onde o mundo dá suas voltas.

Guimarães Rosa
Estas estórias. João Guimarães Rosa: ficção completa, volume 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
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A estrada do amor, a gente já está mesmo nela, desde que não pergunte por direção nem destino. E a casa do amor – em cuja porta não se chama e não se espera – fica um pouco mais adiante.

Guimarães Rosa
Sagarana. In: João Guimarães Rosa: ficção completa, volume 1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
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Inserida por marco_aurelio_martins

⁠Mecê sabe o que é que onça pensa? Sabe não? Eh, então mecê aprende: onça pensa só uma coisa — é que tá tudo bonito, bom, bonito, bom, sem esbarrar. Pensa só isso, o tempo todo, comprido, sempre a mesma coisa só, e vai pensando assim, enquanto que tá andando, tá comendo, tá dormindo, tá fazendo o que fizer... Quando algua coisa ruim acontece, então de repente ela ringe, urra, fica com raiva, mas que não pensa nada: nessa horinha mesma ela esbarra de pensar. Daí, só quando tudo tornou a ficar quieto outra vez é que ela torna a pensar igual, feito em antes...

Inserida por essespedro

O mal está apenas guardando lugar para o bem. O mundo supura é só a olhos impuros. Deus está fazendo coisas fabulosas. Para onde nos atrai o azul? — calei-me. Estava-se na teoria da alma.

Guimarães Rosa
Tutameia (terceiras estórias). In: João Guimarães Rosa: ficção completa, volume 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
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Inserida por gisele_moura

Sou só um sertanejo, nessas altas ideias navego mal. Sou muito pobre coitado. Inveja minha pura é de uns conforme o senhor, com toda leitura e suma doutoração.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Inserida por pensador

A gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Inserida por pensador

Quem-sabe, a gente criatura ainda é tão ruim, tão, que Deus só pode às vezes manobrar com os homens é mandando por intermédio do diá?

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Inserida por pensador

O espírito da gente é cavalo que escolhe estrada: quando ruma para tristeza e morte, vai não vendo o que é bonito e bom.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Inserida por pensador

Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Inserida por pensador

E sei que em cada virada de campo, e debaixo de sombra de cada árvore, está dia e noite um diabo, que não dá movimento, tomando conta.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Inserida por pensador

Para pensar longe, sou cão mestre – o senhor solte em minha frente uma ideia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém!

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Inserida por pensador