Poesia Curta
Sem telescópio
ainda giram ao seu redor
muitas estrelas raras, lindas
não espere o cair da noite
para se dar conta de quais
brilham mais, mesmo que de dia
CANINO
o capitalismo
sempre arreganha os dentes
seja pra sorrir
ou devorar
um cão selvagem
é sempre um cão selvagem
inclusive quando
calmo ele está
DOS DOIS
para Carlos de Queiroz Telles
de amor mesmo, nada sei.
mas amo além do que posso.
ao sair de mim, te achei.
deixei de ser meu: eu sou nosso.
AMOR BACANTE
a noite divide o dia em retalhos,
cada resto de luz some num abraço.
na cama, também me desfaço:
são teus todos os meus pedaços.
BLINDADOS
para Ruy Proença
Quem se lembra ainda daqueles tempos idos
em que havia poucos muros, grades e redes?
As paredes até podiam ter ouvidos,
mas os ouvidos não tinham tantas paredes.
AMOR LÍQUIDO
para Zygmunt Bauman
Tanto e-mail, post, depoimento,
entram e saem juras de amor,
amizade eterna e sentimentos.
Para mim resta o questionamento:
fundamentalismo emocional
ou emoções sem fundamento?
DESCONSTRUIÇÃO
Quando os pais e os avós
vão aos poucos morrendo
é como um prédio antigo
perdendo os pavimentos.
Mas não é ele que cai:
sou eu
desmoronando
por dentro.
NEM FREUD EXPLICA
Em matéria de doideira,
eu não perco pra ninguém.
Depois que fui ao psicólogo,
meu psicólogo precisou procurar
um psicólogo também.
MOTO-CONTÍNUO
para Heráclito de Éfeso
A vida às vezes faz
às vezes não faz sentido.
Serão mesmo desiguais
as águas de um rio?
Muita expectativa
Acarreta frustrações
No mundo das emoções
Esta forma negativa
Atrapalha e desmotiva
Inúmeras convivências
Então tenha paciência
Vá devagar com as pessoas
Não se estresse á toa
Pra não perder sua decência.
A lágrima te ensina
O valor de um sorriso
Aonde o tempo é preciso
Ao alcance da retina
Mas um dia ele termina
Ligeiro igual trovão
E o efeito da tua ação
É o que faz você colher
Felicidade ou sofrer
Para o seu coração.
Erros servem de lição
Para trilhar o caminho
A idade é um cursinho
Que te dá graduação
Sendo esse o galardão
Através de muita dor
Você se torna o pintor
Que pinta a aquarela
Da sua vida mais bela
Com as cores do amor.
Despiu toda uma história
foi absorvida por inteira
fez-se de amor
o destino proverá novas vestes
e frutos
para recomeçar tudo outra vez
é setembro
haverá primavera...
Raízes de concreto
um azul de inundar areias
de expor um mar de sombras
de dizer que legal
é verão
e muitos verão, o que os homens fizeram
por ganância, inteligência ou estupidez...
"Nada mais somos;
Que inquilinos da vida;
Esta nossa senhoria a quem ousamos;
Percorrer caminhos sem saída..."
A lua borda em suave luz
sobre as paisagens e quintais,
à uma reflexão nos conduz
- que esta noite seja de paz
"Sorver da dor,
o sabor do aprendizado,
sem fazer disso um lenitivo,
tampouco um predicado,
exceto,
seu destino,
seu legado."