Poesia Completa e Prosa

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A beleza está nos olhos de quem enxerga com a alma.
Cada nova idade é um acréscimo de experiências, amadurecimento, novos valores e conceitos.
A cada segundo, envelhecemos um pouco,
a cada sorriso ou gargalhada, nossas rugas, aos poucos são marcadas.
Um dia a juventude, na flor da idade,
desabrocha, perfuma lugares e deslumbra olhares.
As pétalas, a cada troca de estação, se desfaz, murcha e cede lugar para a nova temporada, para novas folhagens.
Por isso, regue-as com sabedoria e otimismo.
A alma é como flores que perfumam e alegram o jardim da caminhada chamada vida.

Primavera (Walmir Rocha Palma)

Um rouxinol acorda os outros passarinhos
Como um maestro, ele conduz o seu coral
Pintor de todas as manhãs, o sol morninho
Seduz as flores com seu beijo matinal

Olho que vê tamanho encanto da janela
Não sei se meu ou se o de Deus está em mim
Estou setembro, vinte e um, é primavera!
Meu coração amanheceu feito jardim

Num alegreto inusitado, as borboletas
Vão espalhando grãos de pólen a granel
A terra fértil, mãe feliz, e tudo aceita
Há comunhão nesta estação, entre ela e o céu

Fascínio assim, de flores, já não há quem pinte
Só mesmo o traço inconfundível de Monet
Ou o delírio extasiado de Stravinsky
Para com sons a primavera conceber

Mas que mulher exuberante, a primavera
Ela é a prima mais querida do verão
E embora o outono morra de paixões por ela
É o inverno que ela traz no coração

Obs.: Este poema foi musicado por Rosa Passos.

Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Da calma e do silêncio


Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas.

Quando meu olhar
se perder no nada,
por favor,
não me despertem,
quero reter,
no adentro da íris,
a menor sombra,
do ínfimo movimento.

Quando meus pés
abrandarem na marcha,
por favor,
não me forcem.
Caminhar para quê?
Deixem-me quedar,
deixem-me quieta,
na aparente inércia.
Nem todo viandante
anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio
da poesia penetra.

E se a saudade fosse bem-vinda será que entraria sem bater?
De qualquer forma eu mentira se eu dissesse que não vai doer e que logo vai passar.
É porque o tempo da dor é o passado, é a despedida sem aceno, é o telefone sem recado, é o ainda que não passa.
E ainda que não tenha mais nada encontra um espaço só para deixar aquele sorriso guardado.
Fazendo do peito um lugar pequeno deixando um coração enorme apertado.
Mas vivo e qual o motivo?
Só para a tristeza entender que já não tem onde ficar pois já me tirou o chão.
Então foi na memória que eu encontrei para morar.
Às vezes o que resta é viver de lembrança só para não morrer de saudade.
E mesmo que a vida me leve tudo pois eu levo em mim o que eu não esqueço.
Eu levo o teu sorriso guardado só para sorrir quando me lembrar de você.
E assim toda perda é um recomeço para quem não perde a esperança e mesmo que seja na lembrança encontra uma razão para viver.
Eu levo em mim o que não esqueço só para viver sem medo de te perder.

Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro –
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente.
Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo,
Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila.
Rostos e escuridão nos separam toda hora.

Sozinha
em meu
quarto
lendo poemas
de amor...
Ao som da
chuva
Fecho os
meus olhos
e penso em
você
com ardor...
Sinto um
arrepio...
E imagino,
o leve toque
das suas
mãos,
fazendo-me acreditar,
que mesmo
distantes,
estamos
juntos...
Em um só
corpo & coração.
Tatiane Oliveira-10.01.2013*

Homofobia

Não se tem direito de escolha
Podem lhe machucar com palavras,
Podem lhe esmurrar,
Podem lhe dar um tiro,
Podem dizer que foi em nome de Deus.
Você não tem o direito de escolha
Podem lhe isolar,
Podem fazer a sua caveira,
Podem lhe encarar,
Podem lhe reprimir,
Podem lhe oprimir,
Podem chamar a polícia,
Podem lhe expulsar
(Como se aqui não fosse o seu lugar)
Na casa do Pai eterno,
Você sequer pode entrar,
Não pode comprar a aliança,
Não pode firmar no papel,
Não pode orar,
Não pode chorar,
Já lhe excomungaram.
A sociedade mal quer saber
Quem seja os dois ou as duas,
Lhe excluem de tudo e de todos,
Não se tem o direito de escolha.
Quem amar?
Quem beijar?
Com quem se casar?
Não pode escolher.
Não há escolha, o coração
Que manda,
A vontade que fala,
O impulso que une,
As almas se atraem,
(Não escolhe sexo)
E o preconceito?
O preconceito tem
De ser quebrado
E se converter
Em amor,
Amor ao próximo,
Respeito...

Valter Bitencourt Júnior
Aprendiz: Poesias, frases, haicais e sonetos, 2021.

Quem ama sofre como criança
Pelo sentimento não correspondido,
Tenta recuperar-se da trama
Falha, triste ser abatido...

Quem ama não escolheu amar
É logo pego de surpresa:
— Oh, amor cruel!
Sentimento de incertezas.

E o que penso desta sensação?
— Verdadeira armadilha do diabo!
Acomete os fracos corações
Que acreditam ser amados.

FUNÇÃO DA ARTE E DO ARTISTA

A importância do escritor está, sobretudo, na função que ele exerce de tornar a experiência expressável. Porque a linguagem é o único recurso que o ser humano tem para isso. E tudo o que não é verbalizado nos domina. São aqueles estados obscuros que existem dentro de você e você não sabe o que são, aquele lusco-fusco, aquela coisa meio fantasmagórica. Quando você se expressa, tudo se ilumina e cai sob o teu domínio. Então, uma sociedade que não tem um número suficiente de poetas, romancistas, dramaturgos não é capaz de verbalizar a sua experiência verdadeira. Resultado: cria-se um abismo entre a experiência vivida e a fala. A experiência vivida torna-se obscura, opressiva e incompreensível; e a fala só repete estereótipos. Quando você não sabe o que está acontecendo, você fala do que não está acontecendo. Isso é um estado totalmente esquizofrênico e gravíssimo.

A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.

⁠Carta Aberta a Vincent van Gogh

Eu não sei como se escreve uma carta de amor, todas as que já escrevi foram direto para o lixo, seja quando jogadas pelo remetente, seja quando recusadas pelo destinatário, mas essa carta eu sei como se escreve, porque esta não é uma carta de amor, é uma carta de angústias, e estas cartas eu conheço bem. Eu não vou te pedir que me envie materiais para minhas pinturas, nem vou dizer que em Arles a vida tem mais cor, eu vou me redimir, vou me redimir por ter o peito quase tão dolorido quanto o seu, mas não poder fazer nada para impedir aquela bala, que dói também em mim, porque o tempo é cruel e eu não posso atrasar o relógio em um século ou mais. Mas também vou te agradecer, te agradecer por fazer através de sua arte, o que ninguém ao meu lado poderia fazer por mim. Você não é como eles, e nem poderia ser, porque no mundo são poucos aqueles cujo o coração sabe fazer mais do que apenas bater.
Sempre sua.

Me deixou

Ultimamente
Você tem se afastado de mim
Tem deixado de lado tudo o que temos
Ou tudo o que tivemos
Como se fosse chiclete sem gosto
No começo era incrível
Falávamos sobre tudo
Compartilhávamos segredos
Marcamos de nos ver
Marcamos de nunca deixar um ao outro
Marcamos
É estranho
Você vir e me levar nas nuvens
E depois ir embora e deixar uma depressão
Hoje essa marca tão profunda
Fica dentro do meu coração

Carta Ao Cosmos -

Sonhei com a gente.

No sonho,
habitávamos a mesma galáxia,
o mesmo sistema solar,
numa mesma época.

A imagem foi descendo
e percebi que estávamos no
mesmo planeta.

A imagem continuou avançando e,
surpreendentemente,
vi que dividíamos o mesmo continente,
o mesmo país,
a mesma região,
o mesmo estado, a mesma cidade.

Por ventura,
o mesmo bairro,
a mesma rua, a mesma casa.

Porta adentro,
estávamos ali:
juntos,
dividindo o mesmo quarto,
a mesma cama, o mesmo sonho.

Em suma,
se o sonho era nosso,
a vida,
a poesia
e o Universo inteiro
também eram.

o corpo humano é formado por 7 octilhões de átomos
são 27 zeros à esquerda
e as matérias mais abundantes do nosso corpo são
o carbono, oxigênio, o nitrogênio, hidrogênio e o fósforo
e apesar de não se tocarem, todos eles combinam entre si
e precisam um do outro
mas isso ainda não me interessa
porque agora eu quero que você entenda a estrutura de um átomo: ele é formado por prótons, nêutrons e elétrons
cargas positivas, neutras e negativas
então, se somos formados pela totalidade dos átomos,
nós carregamos em nosso ser original as partes positivas e negativas do universo, certo?

baby, o que eu quero te dizer é que
nós somos feitos de erros e acertos
e que um automaticamente não anula o outro
porque assim como os átomos
nós precisamos do nosso lado negativo
nós precisamos da nossa escuridão e das nossas sombras
porque não somos feitos só das partes iluminadas
não somos feitos só do bom
não somos feitos só da luz
nós somos a combinação perfeita e infinita de nós mesmos
(mesmo que tenhamos errado)

por isso nunca se esqueça de pegar seus defeitos no colo
e dizer que os ama também
porque eles são importantes para o que hoje você é

e você é incrível

⁠LEÃO

veio da savana reluzente como ouro, resiliente como a fênix; é leoa de coração valente. é morrer de amor e ressuscitar no próprio fogo da paixão. é ter alma ampliada revestida na própria imensidão persistindo sem medo no querer. quando nada vai bem, ninguém precisa saber: seu rugido é mais alto que a própria confusão. ela que aflora alegria, respira carisma e ousadia, veste a juba do ego para desfilar. é ter o prazer de experimentar a vida com luminosidade, ser atração principal e liderar com naturalidade. e apesar da vaidade, seu coração é excesso de eletricidade. personificação do amor romântico, se nada for recíproco, basta um sopro para apagar sua chama. sempre animada e entusiástica, sua amizade é suprassumo que inspira otimismo onde toca, marcando sua presença de forma determinada e poderosa. é ser hipérbole e viver à frente do próprio tempo e espaço. é ser sol e ter a expressão de majestade por possuir o coração mais nobre.

O Quanto Eu Amo Você
.
⁠Amo-te no silêncio da noite e no barulho do dia.
Amo-te no calor do sol e no encanto da lua.
Amo-te no sorriso da chegada e na saudade da partida.
Amo-te nas letras da poesia e no som da melodia.

Amo-te no chão árido da terra e na beleza dos jardins.
Amo-te na firmeza da raiz e na delicadeza da flor.
Amo-te na dor da ausência e na alegria da presença.
Amo-te na paz dos amantes e na paixão que agita.
Amo-te na busca do querer e no encontro do ter.
Amo-te como uma oração e no prazer do sentir.
Amo-te no medo que sufoca e na coragem guardada.
Amo-te na ousadia de nada dizer e, ainda assim,
Poder revelar o quanto eu amo você.

Amazônia

As aves não mais voam
Os peixes não mais nadam
Os pássaros não mais cantam
As pessoas não mais se amam.

Tudo isso por culpa do homem e a sua maldade
Tudo por culpa do homem e a sua falta de caridade.

As nossas matas desmatadas
As nossas florestas devastadas
Nossos animais em extinção
Nosso medo da poluição.

A Amazônia é nossa devemos protegê-la
A Amazônia é nossa devemos amá-la.
Viva o verde, viva a Amazônia,
Viva os índios, viva a alegria.

Seja simples como a chuva.
Dance com a emoção,
Faça teu corpo expressar.
Ame á toda maneira,
Regue sua sensibilidade.
Deleite em serenidade.
Não remoa feridas,
Nem viva a reprisar.
Veja em cada erro, novas chances.
Para um acerto tentativas.
Seja brisa calma, pessoa solar.
Tudo o que é simples, tende á sofisticar.

Dois grandes destinos

Ontem, dois grandes destinos
Dois sonhos divinos
Dois alegres ideais
Hoje, dois olhos tristonhos
Duas mortalhas de sonhos
Desilusões, nada mais

Ontem nos nossos passeios
Havia música e enleios
Perfumes, flores e canção
Hoje pela nossa estrada
Resta uma sombra enlutada
Folhas secas, solidão

Ontem a lua furtiva
Testemunha festiva
Nós dois conversando a sós
Hoje, triste e pezarosa
Se escondeu, fugiu de nós

Ontem nossas mãos unidas
Apertavam nossas vidas
Na febre do nosso amor
Hoje distantes e vazias
Apertam nas noites frias
Um nome, um verso e uma flor

Ontem, dois grandes destinos
Dois sonhos divinos
Dois alegres ideais
Hoje, dois olhos tristonhos
Duas mortalhas de sonhos
Desilusões, nada mais