Poesia Completa e Prosa
Noites, estranhas noites, doces noites!
A grande rua, lampiões distantes,
Cães latindo bem longe, muito longe.
O andar de um vulto tardo, raramente.
Noites, estranhas noites, doces noites!
Vozes falando, velhas vozes conhecidas.
A grande casa; o tanque em que uma cobra,
Enrolada na bica, um dia apareceu.
A jaqueira de doces frutos, moles, grandes.
As grades do jardim. Os canteiros, as flores.
A felicidade inconsciente, a inconsciência feliz.
Tudo passou. Estão mudas as vozes para sempre.
A casa é outra já, são outros os canteiros e as flores
Só eu sou o mesmo, ainda: não mudei!
Encontraremos o amor depois que um de nós abandonar
os brinquedos.
Encontraremos o amor depois que nos tivermos despedido
E caminharmos separados pelos caminhos.
Então ele passará por nós,
E terá a figura de um velho trôpego,
Ou mesmo de um cão abandonado,
O amor é uma iluminação, e está em nós, contido em nós,
E são sinais indiferentes e próximos que os acordam do
seu sono subitamente.
Elegia
As árvores em flor, todas curvadas,
Enfeitarão o chão que vais pisar.
E a passarada cantará contente
Bem lindos cantos só em teu louvor.
A natureza se fará toda carinho
Para te receber, meu grande amor.
Virás de tarde, numa tarde linda –
Tarde aromal de primavera santa.
Virás na hora em que o sino ao longe
Anuncia tristonho o fim do dia.
Eu estarei saudoso à tua espera
E me perguntarás, pasma, sorrindo:
Como eu pude adivinhar quando chegavas,
Se era surpresa, se de nada me avisaste?
Ah, meu amor! Foi o vento que trouxe o teu perfume
E foi esta inquietação, esta mansa alegria
Que tomou meu solitário coração...
breve e seco
toda a minha história imaginada
descendo como um longo tapa sobre o rosto
do esquecimento
(mas eu acordo agora)
como posso eu querer guardar nos bolsos
todo grito não gritado
toda queda interrompida pela ausência de gravidade
nos momentos cruciais
mesmo gargalhando como uma hiena e dançando como os beatles
ainda estou imersa
e sinto o pulo breve e seco do meu peito
que de saturno não pode ser visto
mas aqui parece que vai me matar
toda a história imaginária rolando escada abaixo e
ninguém vai ouvir estamos todos ocupados
com a voz pegajosa da escuridão
mas é claro que eu acordo agora
quando essa galáxia implodir
eu vou lembrar que resistimos
eu vou lembrar que estivemos
onde pudemos estar
e das palavras que arremessamos
como um jogo de pingue-pongue
nem sempre eu alcanço a bola
mas faço questão de buscá-la no chão e jogar de volta
para que você a receba e o jogo persista e as horas passem
mesmo pressentindo as implosões futuras
mesmo quando o fim escala o muro e entra
a cada toque da raquete ainda espero
uma imensa millennium falcon a nos buscar –
ela não chega
mas a bola ricocheteia rente à rede em uma jogada
tão linda
meus braços elásticos a resgatar a bola da queda
e a gente ri e esquece
de ver o mundo acabar
Foi quase um poema,
quase foi um suicídio,
era quase um eu te amo,
quase era um amor.
Hoje é saudade,
é hoje solidão,
foi uma grande decepção,
uma decepção já se foi.
Amanhã serão lembranças,
será amanhã esperança,
o ontem eu já esqueci,
ela também me esqueceu ontem.
Era quase uma poesia,
quase foi uma história de amor,
foi quase um amor,
talvez eu seja quase poeta ou
um poeta do quase.
COVID (soneto)
Madrugada. Silêncio. A agonia
A treva no aflito recolhimento
A ânsia dum outro momento
Sacode a quietude da poesia
Deveras outro sentimento
Numa contaminação do dia
E então outro tempo teria
Nova era, novo nascimento
A voz de Deus Pai grita
E a das almas responde
Nesta labareda infinita
No peito o medo esconde
Num ruído saído da escrita
Dispersos, filhos de Eva... pra onde?
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Maio, 2020- Cerrado goiano
(...)
Vamos aproveitar
Segundos, minutos, horas, o fim, o começo
Como estivéssemos vivenciando
O gosto do último gole
De um prazeroso vinho
E passar a sentir a essência
De um grande perfume
Vou mostrá-lo que a vida
Não precisa ser tão longa
Para ser tão amada
Mas ela é curta
Para se ter
Inimigos.
Da poesia "Coração de pedra", essa poesia se encontra no livro "Toque de Acalanto: Poesias, Valter Bitencourt Júnior, 2017, Clube de Autores/Amazon, pág. 09, ISBN: 9781549710971.
Ah quem não se perde na mulher que dança
Nada é mais lindo que a mulher que dança
Nada pode ser mais lindo que a mulher que dança
Ela flutua com sólida precisão, mas flutua,
ela é rarefeita, bem feita, perfeita
Ela tem imã no pé,
que não a deixa encostar
no chão
E entre cruza e descruza de pernas,
ela mistura cisão com fusão
Ela mexe com a cintura, e também com meu
Coração, que pula pula pula e sai pela boca
Eu vejo a mulher que dança, e penso em nada,
porque me perco naquela visão
Ela é só sensualidade,
embalada numa canção
Eu amo a mulher que dança,
Eu quero a mulher que dança
O corpo da mulher que dança
ahh é pura emoção,
ele é todo desenhado a mão
Ah se eu pego a mulher que dança,
é cama dança e paixão
É carnaval no meu coração
É sorriso até morrer,
é dança sem dança no chão
“Notas de saudade”
Chorar eu choro
E quando a chuva cai
Acho que é você chorando daí também.
Dentro da gente
Tem gente
Que já não está mais aqui.
Tem saudade que só pode ser curada
Na prece
Tem lembrança que faz a gente despertar lágrima.
Tem conselho que a gente queria
Só mais uma vez escutar.
Tem coisas que a gente queria
Só para aquela feição confessar
Tem gente que vai,
Mas fica no coração.
Muzambinho
terra de gente que vive sorrindo
cidade tão pequena
mas com almas tão serenas.
Lugar de gente de bem
quem conhece,vai além
gente simples,de coração nobre
cidade do carnaval,
festa em alto astral
Me diz?!
Quem nunca foi rezar lá na matriz,
ou visitar o chafariz
Quem não sente saudades daquele delicioso doce de leite
temos também o instituto,
um bom lugar para se "colher bons frutos"
É muzambinho ....
para muitos, é lembrança,
de uma doce infância...
Muzambinhense:
Tem o charme do olá, a leveza do caminhar e aquele jeitinho airoso de brilhar.
Faz do dia, intensa melodia. Tem história comprida pra contar e doce “baum” pra compartilhar.
Vencido pela idade, dura saudade.
Quando na rua, ganha alma pura...
Segue sereno ao caminhar,
Pois sabe que a cada esquina, um novo riso irá encontrar.
Lira do herói renegado
"Não se faz educação com ódio, desprezo ou subjugando os sujeitos envolvidos no processo. O ato educativo, todo ele, é constituído de amor, amor puro e cristalino. E a usurpação, apesar de ser prática usual e recorrente das ações reducionistas de governos e governantes, não pode e não deve constituir em si um impeditivo para que os atores alunos, professores e educadores protagonizem na cena o espetáculo da educação. Os professores são heróis, os vilões são outros. E eles são tão bons no que fazem que você se sentirá motivado a pensar-se maior e ou melhor do que eles, após passar por eles. A educação vai te alçar a patamares tão elevados que talvez você se perca pelo caminho e ou se esqueça de suas raízes. A educação vai te dar asas e libertar a sua mente, o arrebatamento será tremendo, depois você estará por conta própria e, talvez, lá na frente, será necessário olhar para trás, olhar para o lado, para o alto ou para baixo, você decidirá em que direção seguir e por qual caminho se aventurar e com a autonomia de quem lê, escreve, conta e interpreta o mundo. A educação vai salvar você, mas você ainda não sabe disso".
Guerra invisível
"Foi declarada guerra mundial ao indizível, ao imponderável, ao terrível coronavírus.
Estamos em guerra contra um inimigo invisível, que segue invencível do lado de lá do front.
E de nada adianta o nosso poderio bélico, econômico, político, diplomático...
Se estamos em guerra contra um inimigo tão insensível, que cada vez mais forte, segue a nos espreitar nas ruas e esquinas.
Imprevisível vírus que acomete o mundo e impiedoso assalta os nossos corpos impondo o pavor e o medo a todos sem distinção.
De nada adianta nossa arrogância, prepotência alguma ou soberba.
A guerra é global. Precisamos nos unir e reagiar, agora é a hora de lavarmos as mãos.
Estamos perdendo essa guerra nas ruas, nos mercados, nos bares, nos restaurantes, nas fábricas...
E tudo isso por causa da nossa inconsequência e teimosia.
Precisamos nos abrigar em casa, longe das pessoas que amamos.
Precisamos adotar técnicas elaboradas de autopreservação e depreender de todos os cuidados de higiene por mais primários que pareçam.
Nada de apertos de mãos e abraços calorosos ou beijos e caricias aos domingos em fins de tarde.
As nossas bombas atômicas e mísseis intercontinentais não adiantam de nada agora contra inimigo tão poderoso, que zomba de nossa cara e voa abaixo do radar, fora de nosso alcance.
Continuamos em guerra e a procura da cura para o mal que nos assola. Não chore! Não chora.
Talvez devêssemos lançar uma contraofensiva biológica ou um ataque químico... Ou quem sabe uma vacina criada a partir da inversão do vírus, ou alguma espécie de antídoto que reverta o feitiço contra o feiticeiro... Um cavalo de troia com longa e esvoaçante crina negra, imbatível, imprevisível e sorrateiro feito a peste grega.
Estamos em guerra... Por isso, se abrigue e aguarde a poeira abaixar.
O tempo é senhor de tudo e em breve cuidará de por cada coisa em seu lugar.
Preserve-se e sobreviva, fique em casa e cuide de si mesmo e de sua família.
Estamos em guerra contra um inimigo invisível que apesar de aparentemente invencível, não tarda a quedar".
A Folha
Aquela folha amarelada e já castigada por pragas não veio trazida pelo vento, foi o meu cão quem trouxe. Na face da folha já moribunda os buracos feitos pelas lagartas e a marca de ferrugem gravada em sua pele devido à ação do tempo. Sinal da vida se esvaindo por entre os dedos e da morte se aproximando e se fazendo perceber. Em minhas mãos a percepção da dor e do lamento na alma, por entender a importância daquela simples folha e às inúmeras fotossínteses a que ela se prestou ao longo de toda a sua vida. É mais uma estação que se encerra e mais uma folha que cai e ao sabor do vento é levada. Nos olhos do meu cão o pedido de socorro: Salve-a, por favor!
Um pedaço do silêncio que dorme no chão da cozinha
Que a garganta arranhe pela manhã
e os azulejos brancos da cozinha sangrem todos os dias,
que os beijos explodam na boca incontáveis,
inconfundíveis, incalculáveis...
E que a dor não seja maior do que as gargalhadas
que ironizam tamanho sofrimento.
Que os beijos explodam da boca, incontroláveis
e feito os vulcões pirem o cabeção!
E que depois murchem sem dó nem piedade,
feito a imagem esmaecendo às três da madrugada,
após o clique no controle da TV que te controlava
e que agora te liberta de tamanha prisão.
Que o refrão infame...
- pedaço do silêncio que dorme no chão da cozinha -
inflame em chamas de lava ardente
e dissolva feito um passe de mágica,
as rochas marrons e duras,
que são pedras em nosso caminho.
Que quem escreveu (ou leu) essa asneira não morra só!
Nem viva só, nem só lamente por toda a sua miserável vida.
E que possa ser também resiliente,
tenha força pra seguir em frente
e mesmo sem prognóstico positivo possa encontrar uma saída,
que possa ver (entender) que toda essa gente só, não é obra do acaso.
Seis tiros, uma pistola e esse sol careta dos trópicos
Olhou para o céu como se tentasse ver o que enxerga a alma
seus olhos marejados e oprimidos pelo sal do suor que escorria da testa
fazia festa ao fitar o sol, piscava o sol em sua face rôta
beliscando a testa e os seus olhos mochos.
Aos trinta e poucos já sem sal e sem graça, parou de olhar para o céu
armou a pistola, engatilhou-a e como se não temesse mal algum
apertou seguidas vezes o gatilho (seis vezes ao todo)
mas foi um único disparo que lhe tirou o sossego da vida inteira.
E até hoje ele se arrepende de ter errado aquele tiro.
Sentir é Amar
Sentir o petricor logo quando a chuva começar.
Sentir a chuva e o som que ela faz acalmar.
Sentir as aves nos céus pela manhã e tardezinha cantar.
E o Sol castigante
Sentir a energia que ele nos dá.
Sentir os ventos no rosto.
Sentir a brisa do mar.
Sentir os grilos que cantam à noite, ao brilho do luar.
Sentir o orvalho nas folhas que molham os dedos ao tocar.
Sentir um Deus poderoso que seu Amor através de tudo nos dá.
Sentir tudo isso me faz ainda mais Amar.
sabe, todos os dias que passamos, o confuso salta do que não existe e desafia a inteligência, nós bebemos, comemos, abraçamos nos emocionamos, mas a confusão esta ali embaralhando tudo, debaixo do nosso nariz...
tenho a imagem de um barco em um mar revolto e infinito de novidades, olho em volta e ninguém se perdeu;
mas ainda há uma nuvem que ofusca, e mesmo com dificuldades vemos que todos vêem uma pontinha de esperança, e ao longe, terra firme para os pés cansados...
ELE ama os curiosos, como um pai que vê no filho , a vontade de ser igual a si ...
obrigado por eu ter a maior lição da vida onde nada é impossível.
Das minhas pedras
Algumas pedras me machucaram,
Outras pedras me atrasaram,
Algumas pedras me desviaram,
Outras pedras até me derrubaram.
Com as minhas pedras eu não fiz poesia como Drummond e nem construi castelos como Quintana.
Com as minhas pedras eu APRENDI A ESCALAR.
Das minhas pedras...Ah, das minhas pedras eu me fiz.