Poesia Completa e Prosa
rabisco de vidro.
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"O árduo juntador de cacos já se viu no risonho gargalhar do guri das trevas. Poupa o amparo e joga seu testemunho à flor; dorminhoco reflexo e um céu azul-marinho. Sarou a ferida e sangrou as desavenças, éramos borboletas vagando sem amor, vamos para o sul de paraquedas. Aquarela em slow motion e ela não deixa de chorar.".
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Ricardo Vitti
tropeça e bate.
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"Barrenta e de um aspecto ascoso e fétido. Sim! Minhas lágrimas já não causam estrondos por onde quer que desembarque. Fogem descompromissadas com a vergonha de juntar o pó da estrada e ninguém ou alguém nada dizer, nem mesmo uma palavrinha, mas fica em mim o orgulho que se apaga no esgoto.".
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Ricardo Vitti
juntou e se esparramou.
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"Denegriu a imagem do pobretão falsificado e o personagem já não é solitário naquelas ruas de imundície. Foi visto se contorcer em um coice. Tanto humilhou e. Caiu! Nas palavras sujas se estendeu, e, agora se engana em pensar em tapear. O jazigo o viu com seus tropeços e, deu de cara com a lua.".
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Ricardo Vitti
vizinhos distantes.
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"Relaxado com o relato do ocorrido daquela tarde perniciosa que no arrebol não viu o lençol. Fez despedida e não saiu da minha frente; e como uma corrente se apegou ao vestido dela que passava apressada. Atrasada para o encontro da despedida. Chorei sem pressa de parar, e, então, vi ela se declarar para o viajante desatento em um opaco rastro de dor, e eu me declarei por pensar que oque sentia por ela era amor.".
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Ricardo Vitti
par de pesares.
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"Solicito tua vinda antes de eu partir e, insistentemente fico nisso! O palor das campinas já ferveu meus neurônios de tanto esperar o dia. Sim! Que passe sem nada ver ou desfazer do olhar de um jovem perdido do tempo. Já estou embasbacado em tanta figura de linguagem de medida párea. Pareça o mesmo e pereça ao pé-de-ouvido, estou pasmo e sem solução ao quanto me falta fraquejar em um riso.".
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Ricardo Vitti
fajuto fujão.
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"O pedido de liberdade sobre o cárcere. Vai caótico o cão sarnento sangrar no arame farpado. Tira essa tua coceira de estar sem coleira e agorinha escrevo, sim, figuradamente os meus problemas. Sim! São grades para escalar e entender as nuvens; sabendo que choram somente para saborear o solo que as minhas muitas lágrimas atiçam.".
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Ricardo Vitti
respingo de chuva.
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"Feitiço de porta essa liberdade não vir me visitar. Já atropelou meu interagir com o portão. Sim! Denegriu minha imagem no porta-retratos. Cuspiu e defecou minha dura existência, e, nem no passa-ou-repassa deu comigo para disfarçar o nosso triste diálogo na rua onde todos eram todo ouvido.".
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Ricardo Vitti
que o fim me carregue.
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"Instiga o intrigante verso surrupiado do pensamento. Faltas ditas, e o instinto é um atuar intuitivo e o mesmo que roubou a flor dos dedos, e, como uma fera alarmada denunciou as farpas jogadas. Pensa! Romperam os laços afetivos e na contramão só se vê abismos. Se encontram naquele diálogo, esperneiam, e saem em um descompasso obturado dos lábios que desfiguram o espaço pasmo.".
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Ricardo Vitti
retrato mal falado.
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"Roupagem nova e não se oculta à fala conterrânea dos fabulosos discursos matinais. Sempre foi a mesma coisa até que o eternamente o separe das mesmas gírias famintas. Passa-se fome e se condena nas mesmas feridas que o deram, e por mais o condenam. Flores no jardim e são os abismos que dispersam os bons dos maus. A vida continua, mas o pensamento final é que nos julga.".
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Ricardo Vitti
Toda visita por direito,
por esquerdo arreda os pés,
vestiu-se de riso.
Achou-me bobo,
me perdi buscando nadar,
teus sonhos profundos, [...]
NÃO! As lembranças nem mesmo ilustram o belo.
O entusiasmo foi jogado,
e a esquina o perdeu,
encontro só às frestas que trazem;
luz para casa,
é ali que tudo morreu.
roupa velha e remendada.
- Fala que eu te ouço! - Prossiga! Então,
se mantiveram calados dando cara ao vento e o assunto morreu.
Saíram medindo os passarinhos e o plano de fuga.
"Foi sem medida que aceitaram o meu silêncio,
e no meu fúnebre pensamento fizeram morada;
rasgaram o meu dedo,
agora eu busco escrever.".
O crepúsculo envolveu minha mente;
meu envolto, meus afazeres,
comprimiu-me derredor,
fez das rimas o definhar.
[...]; definiu-me,
como objeto sem objetivo.
E além, as poucas constelações,
abafadas com o frio,
com frases impensadas.
Jogadas na beira da estrada,
horário nobre das trovoadas,
galopes dá o coração,
larguei-me ao pó sem pressa de ser socorrido.
Deixei-me ser roubado,
corri dentro de mim mesmo,
chorei, mas, [...]
foi só um arranhão,
um rasgo na pele era o esperado,
tamanha queda.
Não quero voltar naquele lugar obscuro,
o tempo não caminha por lá.
Quero encontrar o paraíso,
escape pesadelo, não,
eu não vou atrapalhar tua ida,
a dor mastiga e cospe,
ela vasculha o íntimo e, nos faz em pedaços.
noite esculachada.
Às más línguas, o engano, à má sorte, tudo é vespeiro e o canteiro é para rogar pragas. Corre-corre no portão; alucinação, a rua o cobre de pisadas, tropeços, saracoteias. Ó ébrio, tu falas como nada tivesse acontecido, teceu a roupa e desbotou o botão da rosa ao relembrar as pétalas perdidas, "amor perfeito, esse meu que te escreveu!".
Ricardo Vitti
finge o fingidor.
É na balbúrdia que os impregnados arredaram os pés; calça jeans desbotada, fagulhas do passado que faziam fumaça. O desassossegado não tem trava na língua, é uma coruja mosqueando no ninho, alastram-se suas palavrinhas ordinárias, pisa cacos e alardeia em sua cantoria pela tarde nebulosa, acanha-se no vestido da noite e dá pileques.
Ricardo Vitti
sobre ela o nome.
A fotografia embaçou e sem porta-retratos em mãos descansou, de chinelo de dedos juntou os pés à raiz das constelações. O luar delineava o seu rosto dando brilho aos seus olhos. São pétalas os seus dedos juntando cada parte daquela noite triste, e por uma ocasião singela; bela escuridão. Juntou uma pequena parte infinita naquela imagem, e, sonhou.
Ricardo Vitti
Nos Detalhes
Nos detalhes, o amor acontece
Nos detalhes, o amor se estabelece
Nos detalhes, o amor permanece
Nos detalhes, o amor enfraquece
Nos detalhes, o amor está escrito
Nos detalhes, o amor é infinito
Nos detalhes, o amor comete um delito
Nos detalhes, o amor vive aflito
Nos detalhes, o amor fica triste
Nos detalhes, o amor resiste
Nos detalhes, o amor persiste
Nos detalhes, o amor desiste
Nos detalhes, o amor lamenta
Nos detalhes, o amor novamente tenta
Nos detalhes, o amor se assenta
Nos detalhes, o amor se reinventa
Nos detalhes, o amor grita
Nos detalhes, o amor se reedita
Nos detalhes, o amor faz visita
Nos detalhes, o amor é um laço de fita
Nas Asas do Gonzagão
Pernambuco não poderia imaginar
Que a partir do dia da Santa Luzia
Januário José e Ana Batista
Atrairiam olhares para Exu, em melodia
Foi quando o pequeno Luiz nasceu
E com o seu dom alegre e festeiro
Depois da farda militar, seguiu o seu destino
E lá foi ele para o Rio de Janeiro
De Gonzaga à Gonzagão
Com artistas famosos fez parceria
Repertório "Danado de Bom"
Exu já não era mais monotonia
O moço simples conheceu a Europa
A sua vida e talento invadiram a literatura
E todos souberam da ardência da seca
E da vida nordestina que era pura bravura
Descobriram que não há luar como no sertão
Que no relógio marcando seis, o sertanejo ajoelhado
Suplica, à virgem, força para resistir ao peso da cruz
E que para todo mundo tem um "psiu" angustiado
Nos seus versos, o amor perdido dói mais
Quando para os braços do xodó não se poder voltar
Ôxi, que amargo de jiló tem a saudade
Adeus Januário. Deus ilumine o seu regressar
O sonho da água farta para a sede, gado e plantação
No sertão, vem na esperança com a flor de mandacaru
Banana, maxixe, batata, mandioca e buchada
É Fartura e benção na feira de Caruaru
Que difícil resumir a importância do Gonzagão
Deste brasileiro amado, que virou o rei do baião
Valor inestimável
Nada como o sossego diário
A paz da mente no travesseiro
O vida num verdadeiro cenário
O Tempo, com qualidade, sendo um bom companheiro
A saudade visitando as lembranças
Recordações nos proporcionando sorrisos
Pular, cantar, dançar como as crianças
Ter nos amigos, diversos abrigos
Lamentar não ter conquistado um coração
Mas o encontro ser gratidão no fundo da alma
Amanhecer com a certeza do dia em construção
Ser capaz, na tensão, manter a tão difícil calma
Entender que, na vida, nem tudo se encaixa
Dissabores também fazem parte
A autoestima muitas vezes fica em baixa
Mas a esperança não é item de descarte
Quando o sonho ainda pulsa vibrante
Por mais que, nos nossos momentos frágeis, ele decline
É porque foi atribuído à alguém especialmente gigante
Produza-se. Arregasse as mangas.
Faça acontecer. Seja vitrine
Tudo pode ser surpreendente e valioso
Quando o prazer de viver é a base de tudo
Se há fé, cada dia é milagroso
Quanto ao resultado, é aprendizado fecundo
Uma dica pra quem até aqui nada entendeu
Nem sempre o que queremos é o melhor para nós
O nascimento a bonança não nos prometeu
Vai devagar, para não ser o seu próprio algoz
Construa com carinho cada momento da sua história
Mas atente para quem é seu coadjuvante
Nem todos à volta são afins à sua vitória
Observe se derrotas são a tua realidade constante
Mas se tens ao lado um fiel parceiro
Alinhado à tua valiosa missão
Tens o privilégio de partilhar teu roteiro
E constatar o poder de uma sagrada união
Nada como a vida no sossego diário
Nada como uma noite relaxante
Do sono tranquilo ser o proprietário
Do arrependimento manter-se distante
Deixe a vida decorrer na certeza
Que não estamos sós nessa jornada
Quanto mais verdade e menos esperteza
Mais iluminado será o palco da tua chegada
Intimidade
Intimidade não é somente
Roubar os beijos grossos
Da mulher que passa e – sem fôlego –
Perder a noção do perigo!
Intimidade não é somente
Maldizer os deuses que saíram de férias,
Levando consigo o adeus
A imortalidade e a graça!
O íntimo pode se revelar
Na distância (real ou aparente)
Entre as almas, os sapos – pois tudo que
Respira se entende sempre!