Poesia Completa e Prosa
O corpo nu
Ofendem-se com a corporeidade.
A carne, temerária, é algo a ser evitado.
O nu não me reflete o sofrimento humano,
a transparência do meu coração.
O nu, dizem, denota a exacerbação do desejo.
E desejar é perigoso,
faz do corpo ocupações de afeto:
alguém que abraça
e que beija.
A religião se esqueceu do corpo,
preocupada que estava com a saúde d’alma.
Protegida em suas indumentárias.
Olvidam-se que a primeira circunstância para amar
o corpo materializa.
Mas num mundo de corporeidades alienadas
o nu é subversão.
Cubra-te, pois, ó Cristo, a carne crua.
LOMBEIRA (soneto)
Tardes do cerrado goiano, lombeira
Tão ressequidas, de tão árida vida
Tardes com a sua lentidão parida
De melancolia à sombra da lobeira
Horas benditas, de demora dormida
Que nas horas se faz hora terceira
Tardes de silêncio, tarde feiticeira
Languidez na languidez desmedida
Olhos serrados, sonho sem fronteira
Tarde muda, do tempo, hora vencida
Na imensidão bem além da porteira
E nesta doce pureza a tarde caída
Que poisa hora serena, por inteira
As tardes, tecendo hora perdida...
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano
Você!!
Que nada faz pelo teu semelhante
Teu egoísmo é a chaga da humanidade.
Na terra, tu reencarnaste
E tudo de ti, na terra vai ficar.
O orgulho, a ganância e a vaidade
Vai para o mesmo endereço..
Ninguém pode se livrar.
Lembre-se!!
A caridade é amor,
é a luz do teu espírito
Quando tu desencarnar.
Admiro uma boa mentira. Admiro um bom mentiroso.
Falar a verdade é fácil demais. Não requer criatividade, esforço ou arte.
A verdade é só o que ela é, não vai além.
Uma boa mentira é aquela que funciona. O bom mentiroso é aquele que assume o risco de ser desmascarado, sem com isso repassar a sua culpa a ninguém.
O bom mentiroso é um cara corajoso.
Mente e pronto. Deu certo ? Ganhou. Deu errado perdeu. Sem covardia, sem falsas emoções.
O que eu não suporto mesmo, são os covardes em geral.
Porque não é preciso precisar nada.
Trocar o foco pelo dinamismo, as convicções pelo fluxo de idéias e contradições possíveis. Deixar de ser pedra e fazer parte de um edifício. Não ser, apenas poder, estar, transformar, amar, errar. Arrepender-se, levantar-se e surpreender-se com cada passo dado em direção ao que não existe
ADVENTO
Vem as aulas
bolsas e malas
com suas salas.
Os professores...
Com seus ensinos
e seus clamores
seguindo esquemas
com suas flores
feitas de pinos
cheias de tremas
em suas novenas.
Quantos tramas!
Para os menino...
Inocentes que amam
todos seus traumas
manipulando o destino
homologando hinos
em seus desatinos.
E o aprendiz?!
Alguém quis
alguém não quis...
O quadro preto...
não consta racismo
e a velha lousa
com todas palavras...
feita de giz,
ali estão frágeis
mas todos felizes.
Vem novo ano
feito de planos
embrulhado a panos
estão as travas,
travando falas!
Já repetidas
em outros anos.
Alguém se cala
alguém se arrasta
dentro dos sonhos
outros resvalam
nos desenganos
que em forma de flecha...
Tropica pra baixo
ou voa pra riba
flechando fulano.
Fulano aprende, ola
sicrano para roubar
as vezes partidas
em seus calhamaços
as vezes janeiro
com miado de março.
Antonio Montes
...Mas num mundo de guerras e tristezas, será que ainda existe amor? Será ainda possível uma troca perfeita de olhares, corações palpitantes, fôlego que se perder, o suar de corpos, serenatas a luz da lua, toques delicados, beijos ardentes e molhados, abraço de proteção, será que é possível essa e tantas outras coisas num mundo mergulhado em arrogância e podridão?
http://franklinsousa.com.br/em-nome-do-amor/
...Ao voltar para casa, Pai e Avô inconsolados cantavam o hino Brasileiro, como se prestassem as últimas condolências ao soldado guerreiro que morreu em defesa do seu país, antes de entrarem em casa sentiram ambos uma estranha brisa vindo do oeste e compreenderam que era o soldado que soprara ao encontro deles para dizer que descansou…"
http://franklinsousa.com.br/soldado-ferido/
SOFRÊNCIA
Depois de você
A vida passou a saber
Como é vasta a imensidão
Da noite com solidão
Que horas são?
Que importância tem
Se minha saudade vai além...
Sem você, também,
Me perdi nos por quês
A angústia ficou à mercê
Depois de ter você
Felicidade é querer em vão
Pela rua migalha a emoção
Sem você!
Tudo é sofrência
Num coração de aparência!
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
ULTIMA MÃE
Prepare-te... Oh minha rainha
que eu estou indo pra ficar
deixarei saudades aqui
e com tudo lá, eu vou chegar
eu, não sei de onde vim
mas para os teus braços...
Sim, sim! Eu vou voltar.
Estou apto de minhas vontades
oh!’ terra bela majestosa
me leva com rimas e prosa
rainha fera bondosa
saiba, que vou sem intimidade
gananciosa mãe... Gulosa.
Eu vou, mas... Pelo teu querer
me adentrar nesse teu leito
tu!’ queres todos após morrer
nessa insaciável fome de você
com defeito, ou sem defeito.
Recebe tudo que te pertence
sem distinção de cor ou raça
religião, nação, credo ou ser
tanto faz, crer ou não crer
se chega o tempo... Você traça.
Antonio Montes
AGRURA
Tanta fumaça!
Nesse quadrado de lembrança...
enquanto a ausência se faz alvo
A saudade chicoteia o presente.
As lagrimas por certo...
Tentam em vão um aclive reto
e, em deslavo dos pensamentos,
o umedecer do incrível deserto.
E, essa flecha de pontiaguda lembrança
mira em tudo que esta longe
transferindo e ferindo tudo que esta perto.
Nesse ínterim...
O oásis é apenas, miragem de sentimentos
e os sonhos vagam por...
trote desgovernado de ferraduras
e por pedregulhos íngreme de pesadelos.
Por mais uma vez, o encharco do ser
é a única maneira de alvorecer
para logo, despencar no esquecido
e ver a cabeça doer sob o amanhecer.
Antonio Montes
ALVORECE DE NOVO NO CERRADO
Alvorece de novo o alvorecer no cerrado
Em cada manhã nasce um novo amanhecer
Num novo dia, outra vez de novo, a haver
De um renovo do velho pro novo, airado
E nesse amanhecer de um novo romper
Quero ser o novo, e do velho desanuviado
Dos gestos gastos deixá-los no passado
Desabrochando o ser prum novo querer
Assim, nesta festa do novo engrinaldado
Deste cada novo amanhecer... o reviver
Em botão, florescendo, amor engalanado
Então, quero crer, no novo, ao amanhecer
Metamorfoseando a vida no novo denodado
Onde amanhece o novo a nos surpreender
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano
Quem nos ama quer sempre nos ver sorrindo, nossas lágrimas servem apenas para ampliar nossa dor.
"" Aqueles que se foram e nos amavam, jamais gostariam de deixar em nós alguma dor, suas almas tentam nos dizer, mas infelizmente somos pequenos demais para sentir tanto amor, por isso choramos...
"" Qual o segredo do amor
esse que quando aflora
manda embora a razão
irmanado com a paixão
causa rebelião no coração
qual é a sua
ao olhar pela janela a rua
com tanta emoção
como é possível ser tanto
quando quanto
mais se tem mais quer
qual é esse mistério
que nem mesmo um império
pode conter
resta crer que além de ser
o amor também é...
DISSOLUTO
Como balão, flutuou pelo ar
espatifou-se no chão,
e assim, que debruçou-se
sobre o leito da mãe natureza...
Saiu escorregando da poça d'água
e molhado... Com cara de cachorro,
como se tivesse caído do caminhão...
Foi até o barranco da margem da estrada
e ali se sentou remoendo, como bode
baforando bafos de fogo invisível
como se fosse um dragão.
Antonio Montes
PLÁCITO
Tu se lembra, de quando nos conhecemos?!
Tantas juras! Tantas promessas!
Éramos tão felizes!
Você me prometeu, tantas coisas...
Me prometeu estrelas
e eu brilhei com seu cintilar
Me prometeu a lua
e eu, deslumbrei com sua prata,
você me prometeu o arco-íres
e eu, me perdi na tonalidade de sua cor.
Fizeste promessas,
juras de verdades
enquanto eu me saciava de felicidade.
Tantas juras bacanas!
Que pena...
Que pena terem sido todas de: porcelanas
hoje quebradas, eu vejo apenas,
lagrimas desses olhos de promessas,
E esses olhos meus, que antes eram antenas,
e faziam procissão pelas suas promessas
hoje opacos...
Choram por todas as noites de solidão
e por todos os sonhos,
desse abandonado coração.
Antonio Montes
CORTINA
Olhos, olhares
quantos olhos que me olham!
Que me ipungna,
que me mira,
e que me admira,
me faz sorrir, e me castiga.
Olhares de lagrimas,
que lava a alma
ou que deslava o ser.
Olhares do mundo
ou de você
olhares que tem que ver...
Só para crer.
Olhares d'aquele ser inocente,
tristes, cheio de fome
causados pelas ganâncias do home
olhares que só de ver...
Nos consome.
Antonio Montes
INUMAÇÃO
Em dia de funeral...
As lagrimas e as lembranças
vêem de graça
não cobram nada pelo choro,
ou desespero inconsolado da perca
... E ainda trarão, tristeza fúnebre
para pincelar o momento
afastar e felicidade
e perpetua-se sob o tempo.
Para acomodar-se com esse sepulcro
desse bocado, todo torto,
e a repugnação desse sucumbir
essas catacumbas e d'essas esculturas
gélidas sobre os rostos talhados pela tristeza...
Aparece esse ser... Açougueiro do além,
com sua lâmpada escura
sedento por esse liquido rubro de sangue,
ceifando planos e as esperanças humanas.
Em dia de funeral...
Vem esse evento macabro
essa marcha fúnebre
essa cidade de catacumbas frias
o sepultar desse bocado torto
a perpetua-se sobre as costas do morto.
Antonio Montes
A FILA
Lá vai a fila...
No rosto esta a tristeza
no peito a esperança
o plano carrega o futuro
burlando a confiança.
Os olhares d'essa fila
carregam lá suas duvidas...
Nas aglomeradas e procissões
a vida quase perdida
e os corações já sem vida.
Lá vai a fila...
As lagrimas até secaram
de tanto choro sem ouvir
os filhos abandonados
os frutos secos minguado
e água longe daqui.
É fila para saúde
que a doença aglomerou
e das ganâncias dos homens
a onde a fome esbanjou
é fila pra vidas futuras
na secura do amor.
Lá vai a fila...
Para passagens das alturas
já estão vendendo ingresso
para uma vida segura
toda cheia de confesso...
A salvação esta a venda
na fila do grande progresso.
Já tem fila para a fé
pagando o além do além
se pagar mais, salva a mulher
filhos avos nora e um bem
se não pagar vai para baixo
padecer pelo fiasco
e nunca mais será alguém.
Antonio Montes
Tecia em pensamentos um rendado luzidio como as estrelas do céu
enrubescia a pálida face emblemática e vazia
suspirando por amores idos, por amores tidos, por amores falidos
Dizia-se superior a mágica instituição do criador
Amargava a dor, da euforia ao desamor
Chorava calada, escrevia mais nada
e calada, calou para o universo dos versos
preterindo-os apática e esquiva,
por sua eterna insensatez