Poesia Completa e Prosa
A gente sabe que para não ficar doente é preciso ser
Consciente da responsabilidade até com a seletividade
Do lixo pra sanidade e sustentabilidade básica material,
Mas só por um acaso já paraste pra pensar e ver como
Andas lidando com estas coisas no teu mundo espiritual?
Guria da Poesia Gaúcha
Por que será que ainda existe tanta gente
Com a mente doente, meio demente, que
Se acha no direito de criticar e julgar como
Se sua vida fosse um exemplo, como se todo
Tempo só tivesse acertado e sido equilibrado,
Sem jamais ter se equivocado, aliás, acho que
Este tipo de gente deve pensar que está acima
De Nosso Senhor, pois até Ele fez algo errado e
Com amor perdoado, total, desumano e insano
Seria querer perfeito e sem defeito o sujeito que
Ainda está neste plano pra aprendizado humano!
Guria da Poesia Gaúcha
FELINA
Fitaste tão fundo que me derrubaste,
Com o teu olhar de brilho derradeiro,
Aos poucos, fui caindo ao chão e,
Só então, te enxergando por inteiro.
Vi na queda o teu imbatível orgulho,
Morto cavalo de batalhas,
Em que galopaste,
Sem freios
Olhei longe e avistei bem perto,
Os mortos e feridos que sangraste,
Pra singrares mais forte, com sorte
Em outros reinos.
Só do chão percebi
A dimensão das tuas afiadas garras
E o poder dos teus maléficos
E intrínsecos desejos
De querer despojar de mim,
Muito mais do que a vida e a alegria,
Pois querias arrancar, dar um fim,
Aos meus amigos, amor e energia.
Se tu queres mesmo acabar comigo,
Vem logo, anda, me arrebata inteira,
Lambe tudo, escarne, descola ossos e pele,
Se é que isto te faz faceira.
E saibas que se peço mesmo que avances,
É porque sei que não tens a mínima chance,
Podes vir, te apressa, depressa, tô bem calma,
Pois jamais tu terás acesso à minha alma!
Guria da Poesia Gaúcha
SIM
Meu bem, sou bem assim, sim: tim- tim por tim –tim, de verdade, para lá de verdadeira, espevitada, moleca, serelepe, traquina, fagueira, festeira, faceira, beijoqueira, brejeira, matraqueira, escrivinhadeira, super amorosa, orgulhosa, indecente de tão inocente, cheia de poesia, de energia e alegria, comprometida, desmedida, enfim, do começo ao fim: tri-afim de mim, uma gaúcha de primeira, bem brasileira, tão intensa quanto inteira!
Guria da Poesia Gaúcha
DESCONHECIDO
Marquei um encontro secreto.
Ele é alto e baixo,
Loiro e moreno,
Gordo e magro.
Tem tudo o que eu nego,
Mas quero,
Que eu quero,
Mas nego.
É culto e ignorante,
É mudo e tão falante,
Não acredita em nada,
Tem fé até em conto de fada.
Fala alto, sussurrado,
É eufórico, depressivo,
Prepotente e humilde,
Objetivo e evasivo.
Hoje à noite, ali no espelho,
Vou encontrar-me comigo,
E desnudar, olho a olho,
Este grande desconhecido!
Guria da Poesia Gaúcha
Homem mesmo é o que sabe fazer feliz como sempre
Se quis, pois assume, não some, se resolve, envolve,
Faz surpresa e deseja mais que química de pele, cama
E mesa, afinal tem certeza de que quer e merece uma
Linda mulher, e desde o começo pela nobreza do berço,
Com solicitude nas atitudes até ao olhar se vê que será
Ímpar como par, pois vai virando presente, na melhor e
Maior parte de gente na gente, afinal ninguém igual a ele
Te sente, ama, cuida, pressente, compreende e pretende!
Guria da Poesia Gaúcha
Se o meu amigo é leal comigo,
Se é meu abrigo contra inimigo,
Se é ombro que afasta escombro,
Se sabe meus segredos e medos,
Se com ele eu viro pleno e sereno,
Se olhinhos piscam como luzinhas,
Se mais que legal, se faz essencial,
Se tem cheiro de criança na infância,
Se seu jeito é de trejeito na lembrança,
Se me compreende e me surpreende,
Se espero sempre como belo presente,
Se vira o sinônimo de tudo o que há de
Melhor, maior, sagrado e de abençoado,
Se é o anjo disfarçado de dia e à noite a
Estrela guia que me ilumina tão legal com
Sua luz especial, então concluo que todo o
Dia meu amigo é bem igual à festa de Natal!
Guria da Poesia Gaúcha
SILÊNCIO É...
O ruído do sossego,
O presente ausente,
O recurso da recusa,
O graúdo viés miúdo,
O futuro do passado,
O imaturo divergente,
O indiferente diferente,
O discurso do segredo,
A coragem do covarde,
O mudo mundo do surdo,
A muda do medo em flor,
O humor do ódio no amor!
Guria da Poesia Gaúcha
NÃO DEVIAS
Ao mexer em alguns livros antigos na biblioteca,
Revi mais do que as traças que ali moravam, já
Que achei meus textos, ainda totalmente presos
E sonâmbulos ao nosso contexto, pois traziam a
Insônia, sem parcimônia, na história da memória
Triste do fim que existe em mim, do que vi depois
Que de nós dois partiste e sequer a dor repartiste.
E te confesso que ao reler senti doer, corroer, já
Que em mim segue triste o nosso fim, pois virou
Saudade o que foi de verdade e lembrança sem
Chance de herança sequer na esperança de tudo
O que vivenciamos e covardemente renunciamos,
Quando nossa união virou separação e corremos
Perigo, quando frontalmente nós viramos inimigos.
Eu sei que vais dizer que valeu, que durou o que
Tinha que durar, mas desculpe-me, pois não quis
E nem por merecer fiz, até porque até hoje quero
Entender por que na minha vida chegaste, se não
Era pra afetivo, efetivo ficar, por que terna paixão
Promoveste com tão belo e eterno ritual, se sabias
Que um dia terminaria, por que começaste afinal?
Juro que ainda não compreendo e saibas que me
Alimento das feridas que vou lambendo e que só
Assim, só, vou sobrevivendo, mas não querendo
Jamais, de forma alguma entender e aceitar que
Topaste igualmente nos prejudicar, já que ao me
Separar de ti quem mais amava perdi e perdeste
Quem mais te amaria e que muito mais pretendia!
Guria da Poesia Gaúcha
Ando assim, devagar e urgentemente,
Sofisticadamente muito mais simples,
Ferozmente mansa, vagarosamente ágil,
Finitamente infinita, fortemente frágil, e
Insuportavelmente bem propensa a ser
Muito mais intensa, e verdadeiramente,
Intensamente, ando pra lá de indecente!
Guria da Poesia Gaúcha
SIM
Meu bem, eu sou bem assim, sim: tim- tim por tim –tim, de verdade, pra lá de verdadeira, espevitada, serelepe, moleca, traquina, fagueira, festeira, faceira, feiticeira, brejeira, matraqueira, escrivinhadeira, comprometida, atrevida, quase indecente de tão inocente, ambiciosa, amorosa, orgulhosa, gaúcha de primeira, enfim, do início ao fim brasileira tão intensa quanto inteira!
Guria da Poesia Gaúcha
A gente sabe que para não ficar doente é preciso ser
consciente, ter responsabilidade até mesmo com a seletividade do lixo material , mas em algum momento tu já paraste pra pensar, e sem pesar, aproveitar pra te desapegar, dispensar e desprezar o lixo espiritual que teimas em acumular e que pode a tua alma prejudicar?
Guria da Poesia Gaúcha
ELEGANTE
É manter a cortesia, seja
Noite, ou seja dia, é fazer
Gentileza onde quer que
Tu estejas, é ter singeleza,
É desenvolver a delicadeza,
É só falar quando solicitado,
É mais do que calar, escutar,
É liberdade sem libertinagem,
É comentar só após ponderar,
É juízo sem ganho ou prejuízo,
É vontade de praticar bondade,
É ter ímpar habilidade como par,
É ser tolerante e não arrogante, é
Atitude de solicitude, é jamais ser
Rude, é quem se compensa porque
Pensa, é pedir perdão de coração, é
Exercitar o lugar do outro ao falar e é
Respeitar gente, seja igual ou diferente!
Guria da Poesia Gaúcha
Vivia no Frio Grande do Sul, no Forno Alegre, a
Prendada prenda, que noite- e- dia fazia poesia
E que tecia o amor feito um cobertor, enquanto
O tempo alinhavava um momento para costurar
Seu sentimento no pensamento dum romântico
Bordador pra seu guardado e aguardado amor!
Guria da Poesia Gaúcha
BEM ASSIM, SIM!
Sim, meu bem, sou bem assim, sim: tim- tim
por tim –tim, de verdade, pra lá de verdadeira,
espevitada, serelepe, moleca, traquina, festeira,
fagueira, faceira, feiticeira, beijoqueira, brejeira,
atrevida, criativa, aguerrida, afetiva, comprometida,
até meio sacerdotisa, com fé de pé, perfeccionista,
ousada, do tipo gente que não cala, fala o que sente,
indecente de tão inocente, escrivinhadeira, matraqueira,
intensa, amorosa, mimosa, ambiciosa, vaidosa, manhosa,
caprichosa, orgulhosa, gaúcha sim, filé de primeira, enfim,
do início ao fim, brasileira, tão plena e serena quanto inteira!
Maria Angélica Guichard,
A Gaúcha Guria da Poesia!
ILUDIDA
Ilusão é achar que família é assim:
Um por todos, todos por um,
Sempre, sempre que preciso
For, por qualquer objetivo
E por objetivo nenhum!
Mas, foi pura ilusão eu querer
Valorizar o sangue, honrar a raça
E orgulhar-me de não ser anônima.
Ah! Como eu quisera ser mais uma
Em uma família de muitos do que ser
Menos uma em uma família de poucos,
Como quisera que fôssemos loucos,
Loucos, bem loucos uns pelos outros!
Mas não adianta eu querer ou fazer,
Já que o teu coração diferente, segue
Indiferente do que te pensei como parente,
Mesmo tendo saído de um mesmo ventre!
Foi triste sim, confesso achar que por teres
O mesmo sangue tivesses alguma coisa
A ver comigo, que pudesses pelo menos,
Por um dia alimentar a minha alma ou até
Menos do que isto, afinal, nestes últimos
Tempos até uma hora contigo reivindiquei,
Mas este mendigado momento não ganhei!
Não, não foi ilusão quando usei a palavra
Mano e não percebi a tua mão estendida,
Quando eu gritei a palavra irmão e nem
Sequer por ti me soube ouvida! Ah! Que
Triste ilusão eu imaginar que poderia
Contar contigo pra pensar em voz alta,
Quebrar os galhos que plantaste comigo
E até o peito estufar ao me orgulhar ao te
Apresentar como o meu melhor irmão e o
Maior amigo, já que somos mesmo irmãos,
Filhos de mesma mãe e mesmo pai, sim!
Enfim, da mesma família e isto até nos mil
Documentos do cartório é pra lá de notório,
Mas mano, ilusão ou não, tu és meu irmão
Nesta vida e quero te dizer que mesmo que
Não conte mais contigo, eu sigo de coração
Aberto pra te ouvir, apoiar e perdoar como
Sempre e pra sempre, meu irmão querido!
Guria da Poesia Gaúcha
DECIDIDAMENTE
Hoje, eu decidi ser eu, sem receios,
Sem medo do julgamento de terceiros,
Decidi ser gente antes do que profissional,
Ser mais leal e legal comigo, amigos e até
Com o inimigo que a vida me deu de castigo,
Total, como todo sujeito quero rever defeitos,
Então espero e quero, mesmo que sem jeito,
Escancarar o peito, rasgar a alma com calma
Pra inocentar as minhas culpas e quem sabe
Assim, enfim, minimizar as minhas desculpas.
Quero confessar medos, sem segredos de
Meio termos, de pudores e falsos valores.
Ah! Hoje decidi também que vou chorar,
Dar um basta às lágrimas trancadas e até
Ousar ao gritar a palavra travada pela mágoa.
Quero dar um basta às fofocas que ouvi, e
Só pra te avisar, guri, hoje inclusive decidi
Que quero te amar, que vou pular o muro da
Vergonha, ultrapassar a ponte do preconceito e
Te descobrir inteiro, sem todos aqueles rodeios,
Despido mesmo de tudo que é ruim neste mundo,
Porque decididamente, finalmente, literalmente
Hoje decidi que a hora é agora, que vou acabar
Com o ensaio e estrear como mulher, mulher
Que se sabe, se assume como é, te ama e quer!
Guria da Gaúcha Poesia
Lavando a Alma,
Página 29
1989
IMPOTENTE
Hoje se apossou na minha entranha uma estranha
Sensação de marasmo, de marasmo sem limite,
De prostração infinita, de verdadeira apatia.
De parada geral mesmo, de aguda paralisia.
Sinto-me tonta. Tento abrir os olhos.
Mal consigo ver pequenos pontos cintilantes
Que faíscam ao redor da minha cabeça.
Que horas são? Onde estou? Quem sou?
Tento inutilmente pensar.
Minha mente flutua, meu pensamento mergulha.
Falta-me a razão, a lógica, a coerência.
O que será isto?
Será depressão, acaso doença?
Será a loucura, a famosa demência?
Que confusão é esta que me meti até então?
Estou enlouquecendo, só pode ser.
Como explicar as divagações, contradições
E utopias que ora habitam o meu ser?
Por que me sinto assim, parada, completamente
Catatônica, estagnada, se de dúvidas estou
Enraizada e de inquietude totalmente tomada?
Estou tonta. Sinto-me frágil, insegura.
Devagar, até andando, mas quase parando.
Impotente, cambaleante, quase caindo.
Sonolenta, amortecida. Quero gritar, não consigo.
Sequer faíscas enxergo. Sequer as perguntas me indagam.
Sequer as respostas respondem. Suspiro. Um único!
Seria á o último? Será que a vida ainda me resiste?
Sei lá, mas que é louco, é louco, pois não estou triste
Nem um pouco e até sinto-me melhor, meio contente,
Vejo poucas coisas na minha frente e uma luz diferente.
Há pessoas falando, chorando, um padre já confortando,
Flores e luzes velando! Velando, eu disse isto?
Meu Deus, será que velam eu? Sei lá, só sei que daqui
Eu já posso ver! E até mesmo começo a entender!
Tudo o que me afligia, o marasmo que sentia,
Era eu mesma acabando, era a morte do meu
Ser humano neste plano chegando, era a vida
Em um outro plano começando e me preparando!
Guria da Poesia Gaúcha
Lavando a Alma,
Página 43
1989
LAVANDO A ALMA
Pronto. É chegada a hora.
A hora de deixar cair a máscara.
A hora de tirar o blush pra que o branco
e o vermelho das emoções transpareçam.
A hora de tirar o rímel que endurece os
cílios e fantasia o olhar.
De tirar a sombra dos olhos e descobrir
a tua luz interior.
É chegada a hora de retirar o pó de
arroz e alimentar o espírito.
De remover a base e de sustentar
os verdadeiros alicerces.
É hora de limpar o batom e de beijar
profundamente as coisas boas da vida.
De tirar o hidratante do rosto e de
umidificar a alma com calma.
De retirar o creme do pescoço que
engoliu mais que rugas, sapos.
De limpar profundamente a pele
das entorses da pseudosimpatia.
É chegada a hora de ajoelhar-se
na beira de um rio e ali o rosto lavar,
Deixar ir correnteza afora a máscara
do preconceito, do ódio e do desamor.
É chegada a hora de despir-se de vez
dos arquétipos sociais e de vez acabar
com as entrelinhas, sutilezas, reticências
e a maledicência das meias-palavras.
É chegada a hora de lavar a alma, de
virar a mesa e de mostrar tudo a todos.
Enfim, a hora de botar a boca no mundo
e literalmente, sem palavras, descobrir-se
melhor, maior e bem mais bonita pra vida,
assim: de cara limpa e consequentemente,
com a alma linda, levada, lavada e elevada!
MAIS UM FILHO
Não, não andei só com uma pessoa
pra poder gerar-te
E eu não me abstive da tua concepção
por um único dia.
Tentei sempre o equilíbrio, o ritmo adequado,
a palavra certa.
Busquei sempre o melhor que sentia em mim
para criar-te.
Confessei-te todas as minhas verdades, vontades,
medos, segredos, pudores, valores, ansiedades e vitórias.
Fiz-te com amor para que pudesses passar isso
para os outros.
Não te senti pequeno nem mesmo em projeto.
Não te sinto grande nem mesmo criado.
Não te vi adotado ou abandonado, pois te abriguei,
não briguei e te alimentei com as minhas mais
íntimas e tímidas entranhas.
Estás no ponto, pronto!
Pronto para o mundo.
Vai e faz o teu papel.
Conquista o teu espaço.
Luta pela tua verdade.
Eu, como sempre, vou estar do teu lado.
Torcendo, vibrando muito porque sempre
Apostei e acreditei em ti como um bom guri.
Que Deus te abençoe, meu filho.
Que as pessoas te gostem, meu livro!
Guria da Gaúcha Poesia
Lavando a Alma
Página 48,
1989