Poesia Completa e Prosa
SIM
Meu bem, sou bem assim, sim:
Tim- tim por tim- tim, de verdade,
Para lá de verdadeira, espevitada,
Serelepe, moleca, traquina, faceira,
Festeira, fagueira, brejeira, matraqueira,
Escrivinhadeira, indecente de tão inocente,
Amorosa, ambiciosa, tinhosa, comprometida,
Aguerrida, vaidosa, feiticeira, gaúcha sim, filé
De primeira, enfim, do começo ao fim brasileira,
Sempre plena e serena, tão intensa quanto inteira!
Guria da Poesia Gaúcha
MEDÍOCRE
Que vil verdade é esta
Que tua vaidade criou
E que poder de errado
Valor ora te comprou e
Tomou conta de ti, guri
E por que preferes, queres,
Feres, diferes e somente
Digeres o que gera a fama
E ostenta uma boa grana?
Achas mesmo isto bacana?
E por que te alimentas com
O materialismo e te sustentas
Com este doente consumismo?
Enfim, por que tu te concentras
E centras em tantas idiotices e
Nos convites destes teus parcos
Limites e ainda, por que o centro
Do teu umbigo é teu melhor amigo?
Olha, pensa, pega agora tua carteira
De identidade para tentar reconhecer
E ver de perto, autenticada a cara da
Covarde futilidade que se apossou do
Teu nome por pura ganância, arrogância
Da tua genuína ignorância, por louca valia
E pouca serventia, por ridícula, medíocre,
Rasa, temporal, pseudo e irreal soberania!
Guria da Gaúcha Poesia
Pedaços de Mim,
Página 55
1999
QUEM FOI
Quem foi que ousou furtar
O teu sorriso, te fez perder
Abrigo, roubou amigos e te
Colocou em tamanho perigo?
Quem foi que te iniciou nesta
Festa tão funesta, sumiu e não
Assumiu que não saiu desta?
Quem ofuscou o teu olhar que
Era tão genuíno com falso brilho?
Quem foi que atormentou com tão
Errôneo açoite tuas noites, quem
Envenenou de vez os teus dias e
Rasgou tuas saudáveis fantasias?
Quem foi que te fez negar a tua
Realidade, mascarou a verdade
E te fez viver com tanta falsidade?
Quem foi que acordou tua insônia
E te receitou calmantes de forma
Tão perversa quanto perseverante?
Quem foi, anda, me diz quem foi,
Que criou este mundo de lágrimas,
Que arrasou tua alma com mágoas,
Afogou teu corpo quase morto e te
Prendeu com a liberta dependência
Desta tua tão crescente decadência?
Quem foi que estragou a tua cabeça
E te exigiu terapia, incessantemente,
Todos os dias até o fim dos teus dias?
Quem foi esta majestade vil, decadente,
Que de insubstituível é totalmente inútil,
Que de fundamental não serve pra nada
E que de prioritária é a última das coisas?
Tu sabes bem quem foi e como foi porque
Existe apenas uma coisa que é a coisa, só
Uma droga que até no nome é uma droga,
Que há tanto te droga, troca, aporta, torta
Suporta e não vê a hora de te ver morta!
Guria da Gaúcha Poesia
Só hoje eu percebi que a escuridão que aos
Poucos tomou conta do meu coração, que a
Sofreguidão da louca solidão que vivi, que a
Minha sofrência na essência, veio de ti, guri,
Da tua ingratidão, do teu egoísmo, do centro
Do teu umbigo, à margem dos meus motivos
Tão sem sentido ao pé do teu ouvido, que me
Fez adoecer e desta depressão quase morrer!
Guria da Gaúcha Poesia
Metamorfoseando-se
Quando a noite cai faço da lua minha companheira
Brinco com as estrelas
E durmo embalada pelo som do mar
meus sonhos são feitos de aurora boreal
metamorfoseia
Minha alma de tal forma
Que por uma fração de segundo Me sinto imortal, no momento único que somos uno.
Poesia De Tecla
Te fiz um poeminha, meu grande amor
Vem, senta, vou mostrar minha alma
Ela já não é mais campo florido
As flores todas murcharam
Também não corre mais aquele rio cristalino
No qual banhávamos sem pressa
Que fizeste com as cores que circulavam o céu ao qual chamávamos arco-íris
do qual me fazia laços de fitas?
Traz um pouco pelo menos do azul do mar
Do mesmo mar que assistia nossas juras eternas
Olha, as estrelas que me destes
Também sentem sua falta
E... e eu não sou mais aquela menina
Agora sou mulher feita
Vem, senta aqui, mostra-me um pouco da tua alma também
Quem sabe elas se reconhecem no prelúdio dos
acordes de nossos sonhos
Te fiz umas bem traçadas linhas
Vem, vem ver nosso poeminha!
Poesia de Tecla
SIM!
Meu bem, sou bem assim,sim: tim-tim por
tim–tim, de verdade, pra lá de verdadeira,
espevitada, serelepe, moleca, traquina,
fagueira, festeira, faceira, feiticeira,
beijoqueira, brejeira, atrevida, afetiva,
comprometida, escrivinhadeira,
matraqueira, indecente de tão
inocente, amorosa, ambiciosa,
vaidosa, orgulhosa, gaúcha sim,
do tipo filé, uma mulher de primeira,
enfim, do início ao fim, bem
brasileira, sempre tão intensa
quanto inteira!
Guria da Poesia Gaúcha
Hoje vivemos em um conto de fadas mais real...
Onde os monstros são mais reais do que na
Imaginação de quando eu era criança,
Estão no menino que nunca tivera inocência,
Roubada ainda no ventre da sua mãe,
No jovem que barganha a própria vida por um
frívolo prazer,
Na mãe que chora por não saciar a fome do
filho que chora,
Dos filhos, abandonados pelos pais, abandonados
Pelo mundo, que já não sabem mais chorar...
Mãe Justina
Saudade da sua palavra amiga
Quando aflita estavas tinha
Sempre uma explicação pra vida!
E pedindo pra confiar em Deus
Que no momento certo a vida
Tomaria o rumo certo
E tudo se resolveria
Hoje não se encontra mais aqui...
E estou só nessa multidão
Vivendo por viver e lamentando
Sua ausência onde tudo era flores
Quando aqui comigo estavas
Daonde estás ilumina meu caminho
Mostra-me a direção a seguir
Pois em meus pensamentos
Vivas sempre estarás...
Ainda não sei bem, mas acho que foi praga, vingança,
A tola tolerância e a perseverança que o amor dele me
Deixou como herança, estas ditas, tidas, mantidas e tão
Malditas esperanças, de que, mais dia, menos dia, ele
Resolve, volta, me toca, avança, me envolve e alcança!
Guria da Poesia Gaúcha
UM VIVA A VIDA VIVA!
Será que somos tão apegados ao passado,
Por que dá muito mais trabalho construir o
Presente do que culpar o que está ausente?
Ou seria por que a nostalgia é bem madura e
Mais segura do que o dia que amanhece em
Cima do muro do futuro que não se conhece?
Ou ainda por que não temos noção e dimensão
Do que realmente acontece, de que o presente
É um presente que aparece, e que parece que
Chora quando vai embora a vitalidade e validade
De suas sempre tão poucas, loucas e rotas horas?
Seja o que for, é hora de vivê-lo com amor, então
Não nega e nem joga fora a entrega, te apega, te
Entrega e pega o presente tão único e último que
A vida te dá agora e que em 24 horas vai embora!
Guria da Poesia Gaúcha
Toda flor é uma obra de arte
Tem a beleza desde a mais singela até a mais elaborada
E tem a vivacidade que em nenhuma obra pode faltar
Depois, uma flor é sempre única
Tomemos uma flor de Narciso como exemplo
É o mais acabado modelo de obra de arte contemporânea – como o urinol de Duchamp durante tanto tempo nos representou
Uma flor de narciso tem tudo o que uma verdadeira obra de arte deve ter:
É bela em si; viva por si; tem estilo próprio e simplesmente
Ela É
Para alguns a flor do narciso poderá evocar sentimentos de fragilidade
Para outros pensamentos ou a sensação de inutilidade
Num terceiro poderá evocar o destino
E será preciso reconhecer que um narciso solitário é muito diferente de outro num ramalhete
Ou de outro compondo junto com rosas um bouquet sofisticado
Assim também um narciso num vaso é muito diferente de outro num jardim ou de outro numa lagoa agreste
Mas todos os narcisos, em suas simples existências, são obras de arte
Infelizmente incapazes de reconhecer a arte nas outras flores, sequer em outros narcisos
Porque um Narciso verdadeiro não tem olhos para reconhecer existências alheias, sequer entre os seus próprios semelhantes
A arte no mundo de hoje parece sofrer dessa espécie de cegueira narcísica
De só ter olhos para ver dentro si mesma – não a arte, propriamente, mas homens que nos representam a arte de hoje
Em parte movida por impossibilidades internas como a subjetividade dos artistas
Em outra por interesses objetivos e bastante comerciais
Mas, quem lucra?
Se uma das funções da arte é justamente nos arrancar dos lugares comuns
E nos fazer maravilhar e nos horrorizar com a vida e a morte comuns de nós todos
A função da arte não é confirmar o que já sabemos
Mas nos chocar contra o novo
Sempre contra o novo e o inesperado – que pode ser bem velho
Num encontro com o que está fora e que de repente acolhemos como pertencente a nós próprios
Que mais de repente ainda percebemos sempre esteve conosco
Esse tempo todo, dentro de nós
Essa é a revelação de uma obra de arte:
Ver subitamente as nossas entranhas ali expostas
No meio de uma calçada, subindo pelas paredes, nas cores das tintas, nas agudezas dos ângulos
Ou seguindo a fluidez da água, a altivez de uma montanha, num vão de céu, numa flor…
Uma obra de arte pode ser algo chocante como uma flor
E nos perturbar ao ponto de correr entre o sensível e o conceitual
Sem nos deixar saber onde se localiza o meio termo
Entre o feio e o belo
O que está vivo ou morto
O que vem de mim e o que vem de você
Onde é que começa e onde é que acaba
Se é que acaba…
Toda arte é revolucionária – se não for, não é arte
Namora com o perigo, com a loucura, com a contravenção
Se uma flor não tem a capacidade de lhe fazer incomodado
Esqueça a flor e procure um museu
O que importa no final é que saíamos engrandecidos da experiência
Com a sensação inebriante de um encontro
De que existe vida e inteligência fora de nós
Não somos a flor do narciso afinal…
Se você se sente cômodo (ou não) em ir a museus e examinar as mesmas obras em nada mais desafiadoras, cheirando a passado e revisitando os artistas conhecidos
Experimente fazer um passeio pela rua
Apenas experimente sentir o incômodo de ver o presente conturbado, sem nenhuma curadoria ou roteiro previsto…
Hoje acordei sem saber se sou a solidária guria
da solitária poesia ou se a poesia é que é solidária
à solitária guria, já que por todo canto com calma a
minha alma clama, flui, influi, decanta, ama, reclama, declama e num recanto como chama me inflama e
me chama pra lhe fazer companhia, e quiçá, sabe-se
lá, assim, trazer o nascer do encanto a mais um dia!
Guria da Poesia Gaúcha
Hoje acordei sem saber se sou a solidária guria da solitária poesia ou se a poesia é que é solidária à solitária guria, já que por todo canto com calma a
minha alma clama, flui, influi, decanta, ama, reclama,
Declama e num recanto como chama me inflama e chama pra lhe fazer companhia, e quiçá, sabe-se lá, pela poesia trazer o nascer do encanto a mais um dia!
Guria da Poesia Gaúcha
Se meu amigo é leal comigo,
Se é abrigo legal e essencial,
Se ele me surpreende sempre,
Se ele é o meu melhor presente,
Se olhinhos faíscam tipo luzinhas,
Se ele parece com tudo que há de
Maior, mais sagrado e abençoado,
Se lembra anjo disfarçado de dia e
À noite estrela guia, se me levanta
Do chão tipo ressurreição e se com
Ele parece que eu estou sempre em
Festa boa à beça, pra lá de especial,
Pelo nascimento e renascimento dos
Bons pensamentos e belos sentimentos,
Então meu amigo é mais que um momento
Especial, o meu amigo é todo o tempo Natal!
Guria da Poesia Gaúcha
Parecia tão bonito quanto infinito quando eu estava
apaixonada, e agora que junto do nosso amor ficou
só o amargor desta dor, eu te pergunto: como é que
tudo de melhor, maior e mais doce no mundo pode ir
embora em uma hora como se fosse nada, como é que
algo sagrado e comungado num altar abençoado pode
ser mudado, desagregado, ficar abandonado e ser até
amaldiçoado, como é que existe um fim tão triste assim
tanto para ti quanto pra mim, e como em nós, agora, já
sós, só deixa transtornada a queixa e a marca aziaga da
mágoa transformada em lágrima salgada, minha amada?
Guria da Poesia Gaúcha
NEIMAR, QUERIDO!
Saiba, amigo que o destino vem
Sem aviso, de improviso, então
Aproveita o imprevisto e esquece
O que te esmorece e não te merece,
Vê se não esquenta, pelo menos tenta
Por nós, total somos mais que uma voz,
Somos uma brasileira nação que te ama
De montão, de coração, somos a massa
Que te ergue a taça pela tua arte, graça,
Talento, dedicação e raça, somos o povão
Que agora está junto em oração para a tua
Pronta recuperação, enquanto tu te guardas,
Resguardas e fortalece, a gente te aguarda,
Te engrandece e reza para todos os santos
Pra que voltes logo pra o campo, sempre tão
Amplo quanto santo, então, manda embora o
Desencanto do pranto, pois a hora agora é de
Saber do encanto que é poderes em semanas,
Voltar a jogar bacana, total, o único fato neste
Ato que queremos reverenciar e lembrar é que
Em qualquer lugar do planeta, por todo canto és
Um encanto pelo talento, magia, ousadia e alegria,
Pela harmonia, pois tu és dez da cabeça aos pés!
Guria da Poesia Gaúcha
Hoje acordei sem saber se sou a solidária
Guria da solitária poesia ou se a poesia é
Que é solidária à solitária guria, já que em
Todos cantos flui, influi, decanta, reclama,
Clama, declama e num recanto me chama
Para fazer companhia ou quiçá pra trazer o
Nascer do prazer, o encanto de mais um dia
Em harmonia, magia e sintonia com a poesia!
Guria da Poesia Gaúcha
Homem mesmo é aquele que te deixa contente, que se
Resolve, te envolve, faz surpresa, vai bem além da cama
E mesa com nobreza, pela delicadeza da gentileza até ao
Te olhar como ímpar par, afinal devolve tua melhor parte
De gente quando igual te pressente, entende e pretende!
Guria da Poesia Gaúcha
As flores são expressões de beleza, são explosões de
desejos e profusões dos beijos, cheinhos dos amores
dos beija-flores, são gestações das estações parindo e
espargindo gerações em evoluções de cores e odores
colhidos e acolhidos pela generosa natureza e nobreza
da tão cheirosa, formosa e maravilhosa mãe-natureza!
Guria da Poesia Gaúcha