Poesia Completa e Prosa

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⁠Anseio

Sabe o que eu anseio agora?
Encontrar alguém
Que não me diga nada
Não me pergunte nada também
Alguém que me ofereça colo
Para eu verter todo o desencanto.
Sabe o que eu mais desejo agora?
Esconder-me de mim no interior
Do meu universo particular
Para se eu quiser chorar
Chorar até me cansar
Ou quem sabe eu possa
Simplesmente divagar.


Umbelina Marçal Gadêlha

⁠Alma terna flutuante

Abnegadamente eu mergulhei
plena de convicções,
às profundezas da minha alma
para mostrar as minhas cristalinas emoções.
Eu me rendi candidamente, despi o âmago,
o mais profundo do meu ser, e revelei
a minha alma original de forma integral.
Intrepidamente fui mais além e desnudei-me
do meu intelecto e mostrei avesso do avesso.
E após despir meu adverso, foram-se os mistérios.
Desfez-se o encanto e não me consenti verter
nenhum pranto para o meu próprio espanto.

Umbelina Marçal Gadêlha

⁠⁠Luz de Sol Poente —

Ultimamente,
eu tenho saído de casa para andar.
Chega aquele horário — aquele próximo
ao de fim de tarde — e eu sinto uma necessidade de sair e ir até
o outro lado da cidade para
caminhar — sozinho — sob a
branda luz de sol poente.

Caminho olhando o horizonte
alaranjado (se assim está);
Olhando as pessoas que cruzo
e me passam, sentindo o
vento virgem e comum
de cada instante.

Às vezes,
apresso-me — dou alguns
piques — para poder voltar
antes do escurecer
total.

A volta leva-me até o pico mais alto da cidade, de onde se vê tudo ou quase
tudo: as avenidas e ruas;
As casas, comércios e igrejas;
Os postes e suas luzes;
O vai e vem dos carros, dos animais
e das pessoas minúsculas;
Menos o coração de
um homem.

Depois retorno,
descendo pelo lado oposto
ao que subi, cruzando a rua
onde mora um sonho.
E ainda que eu passe, é nessa rua
que o meu coração fica.

⁠Aeronaves
Somos aeronaves.
Estamos voando.
Com nossas idéias até o céu.
O terreno tem seus limites.
Mas o céu não.
Nossos sonhos podem subir até alturas.
Podemos elevar voos gigantes ao infinito.
Podemos nos sentir livres com asas.
Também podemos nos sentir limitados em terra.
É necessário ter sabedoria no controle.
Para levantar voos e pousar bem.
Não estamos voando sozinhos.
Sempre há uma tripulação em nossa aeronave.
E outras aeronaves no espaço aéreo.
Que voam livremente e precisam saber pousar.

⁠Soneto à maneira de Camões

Esperança e desespero de alimento
Me servem neste dia em que te espero
E já não sei se quero ou se não quero
Tão longe de razões é meu tormento.

Mas como usar amor de entendimento?
Daquilo que te peço desespero
Ainda que mo dês - pois o que eu quero
Ninguém o dá senão por um momento.

Mas como és belo, amor, de não durares,
De ser tão breve e fundo o teu engano,
E de eu te possuir sem tu te dares.

Amor perfeito dado a um ser humano:
Também morre o florir de mil pomares
E se quebram as ondas no oceano.

⁠Ciclo sem fim (versão 2)
Vem primavera,
Mostre suas pétalas,
Como sonhos,
Deixe-os voar,
Folhas coloridas que nascem,
Como lagartas que secam,
Dando seu lugar,
Como esperança,
Tem sempre que regar,
Deixe-os voar,
É o ciclo sem fim,
Novas vidas em novas pétalas,
Novas ideias em novas formas,
Acontece a todas hora,
Nada se repete,
Tudo se completa,
É o ciclo sem fim.

Tem gente que só faz conta
e a contar não canta...
Tão pouco, se encanta.
Vive do dia a perder os créditos
e no seu findar,
a lamentar seus débitos.
Pobre alma que apenas
recorda as sementes sufocadas
em seus dias gris.
Não estar a viver
o seu grande presente,
este momento
que é o agora,
que foi embora
e sequer viu...⁠

⁠Vampiros

Somos vampiros sedentos
Uma sede irracional
Uma sede imoral
Sede que esgota a alma
Sede que seca a vida
Sede que destrói tudo
Quando saciados, não sentimos sede, até que, rapidamente, sentimos sede de sede
Então, seguimos vampirizando
Sugando tudo até que não reste uma gota
De atenção
De admiração
De respeito
De tudo que queremos do outro
E com isso nos revelamos, vampiros, viciados.

⁠Talvez o que mais doa em mim
Não seja o sentimento ruim me consumindo
Mas a recusa que tenho em senti-lo
Não aceito estar passando mal por você, ou por outros
Não quero me sentir idiota, burra ou tola
Renuncio todo pensamento negativo que possam ter sobre mim
E por isso, me acabo em desgaste
Pois driblo das emoções que me fazem ser eu mesma
Eu sou o que sou
E isto é o que sinto
Ter defeitos/falhas é importante, também
Passar mal não é problema
Fingir que não estou doente, é que aumenta essa dor aguda dentro do peito
Sou uma casa, um canteiro, um castelo
Sou feita por tudo que absorvi, aprendi a ser assim e sou bela pelo mesmo motivo, entro no ritmo que acho certo, meus móveis mudam de cor toda hora, meus quartos são sagrados, pois são segredos, desmorono quando tiram partes de mim Entendi que não existe só o bonito e não existe só feio
Até sendo prosaico, o bom e o belo é superestimado
Prefiro ser assim
Do jeito que estou a ser Agora

- Minha vulgaridade, me liberta

⁠Beleza Natural

Cada um tem sua beleza própria
Cada um tem seu próprio estilo
Cada um se expressa como se sente
Todos nós somos perfeitos mesmo sendo estranhos para outros
Não nascemos para ser iguais
Uns nascem com a beleza externa
Outros têm beleza interior
E outros têm seu brilho próprio
Não necessitam de outros para brilhar

A beleza natural é a mais pura
A beleza natural é a mais rara
A beleza natural é a mais bela
A beleza natural é a mais sincera
Não se esconde atrás de máscaras
Não se deixa levar por padrões
Não se preocupa com julgamentos
Não se limita por medos

A beleza natural é a que vem de dentro
A beleza natural é a que transborda
A beleza natural é a que contagia
A beleza natural é a que ilumina
Seja você mesmo e mostre a sua
Seja você mesmo e valorize a sua
Seja você mesmo e celebre a sua
Seja você mesmo e espalhe a sua

Resistência

Ouvi do meu pai que a minha avó benzia
e o meu avô dançava
o bambelô na praia, e batia palmas
com as mãos encovadas
ao coco improvisado,
ritmando as paixões
na alma da gente.
Ouvi do meu pai que o meu avô cantava
as noites de lua, e contava histórias
de alegrar a gente e as três Marias.

Meu avô contava:
a nossa África será sempre uma menina.
Meu pai dizia:
ô lapa de caboclo é esse Brasil, menino!
E coro entoava:
_ dançamos a dor
tecemos o encanto
de índios e negros
da nossa gente

Na aldeia tudo é arte
Tudo também se reparte
É cultura festejar
Pinta o corpo de urucum
Veste com palha tucum
Em tudo vale alegrar..

Damos bom dia ao sol
Como flor de girassol
Tudo vive em harmonia
Na debulha de feijão
O cuidado com o grão
Que se tem a cada dia..

Tudo com habilidade
Firme na ancestralidade
Ou na dança do toré,
O vento é nosso irmão
Lá não há separação
Entre o homem e o igarapé..

Na aldeia tudo cresce
A cultura permanece
Tudo é lindo como um grão
Grão de arroz, de trigo, aveia
Milho, café na aldeia
Grandes roças de feijão..

Joga bola a criançada
Tudo em roda e animada
E contar quando crescer
Ser contador de história
Ter presente na memória
O canto ao anoitecer..

Soneto

Pergunto aqui se sou louca
Quem quer saberá dizer
Pergunto mais, se sou sã
E ainda mais, se sou eu

Que uso o viés pra amar
E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida

Pergunto aqui meus senhores
quem é a loura donzela
que se chama Ana Cristina

E que se diz ser alguém
É um fenômeno mor
Ou é um lapso sutil?

Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda.

ela come tangerina
com centenas de dedos
meditativos
empenhados na função
de descascar, separar um gomo
do outro
mas não mastiga, empurra
com a língua até a pele
descosturar
feito tecido ou papel
e romper
em suco

depois caminha pelos quartos
acaricia os cabelos das bonecas
muda a posição dos objetos
desliza dedos pelas paredes

até que cada canto da casa
cheire como os dias de verão

⁠E quem diria que na era digital iria surgir uma pandemia.
No mundo onde tudo se compra enfrentando um invisível que afronta.
Na velocidade da comunicação a invasão da lentidão dos dias.
Dos que apreciavam o desapego hoje sentem falta de uma companhia.
Das tantas certezas tecnológicas e das tantas incertezas científicas.
E na busca por uma resposta enfrentamos os nossos dias.
Esquecendo que o momento é o agora e que a resposta ainda é a mais antiga: é somente através do amor que salvamos as nossas vidas.

As vezes, o futuro bate a porta.
E nós nós perguntamos: o que que eu fiz para merecer isso?
Então, você se dá conta de que nada é como o esperado.
Por que cada coisa, possuí sua essência e nós não podemos mudar a natureza das coisas.
O Ciclo de um Rio pode ser mudado, mas o rio, não deixa de ser o que é por isso.

⁠Existência
O paradoxo da vida
Emergiu a minha existência
Puro antítese da sorte
Um misto de lucidez e demência
Parar, pensar e agir sensitivamente...suave
Como os flocos da neve
Que flutuam pelo ar,
E repousam mansamente na relva
Que solitária está.
Eis que na minha existência
Houvera de cingir- te a tua
Resplandente como sol
Oculta como a lua
Lua, oh lua !
Guarda-te todos os seus mistérios.
Pedir-te-ei a tua alma
O teu coração!
E adentrarei na tua mente.
Aí; Todos os seus segredos
Serão desvendados.

⁠Mediocridade ( parte 1)
J6nemg

Assim será o novo dia
Assim será o novo mundo
Um mundo que a luz irradia
Outrora é imundo.
Mundo daqueles que muito se falam
Promete, mente,e omite
É o mundo sublime, que jaz;
Não existe.
São blasfêmias oralmente expelidas
Que na equidade insiste!

A empatia mórbida, a fria hipocrisia;
O quiste(...)

⁠Mediocridade( parte 2)


Esse é o novo dia
Esse é o novo mundo 🌎
Deleitar-se com o fruto tênue da morte,
Regozijai-vos com euforia
O êxtase da alegria.
Futuro...futuro
Futuro obscuro
És a lápide dos ímpios,
Que na imensidão
Dos vales tendem a
Sumir de vista.
Jaz a terra, as vitórias,
Os tesouros e a abundância
Tens agora o perdão
Por tudo que fizestes:
O seu tão sonhado mundo;
Para ti não existe mais!!!