Poesia
Bem vinda sejas,
nunvem cortina
de céu nublado, por ti,
no papel pautado
há prenúncio de linhas e entrelinhas,
paradoxal regozijo da poesia.
Há se não fosse em silencio,
de nada falaria.
-Quando falo, "pouco digo".
Mas quando calo, um universo inteiro me fala d'aquilo que no meu pouco digo,
De nada falaria.
Dizem que nada se cria mas tudo se imita... Como combater tamanha covardia cometida por pessoas corruptas e covardes que visão apenas lucro e fama?
Lavo minhas mãos e imploro a volta de Jesus Cristo.
Pena de morte e prisão perpetua no Brasil
Vejo que nós, negras meninas
Temos olhos de estrelas,
Que por vezes se permitem constelar
O problema é que desde sempre nos tiraram a nobreza
Duvidaram das nossas ciências,
E quem antes atendia pelo pronome alteza
Hoje, pra sobreviver, lhe sobra o cargo de empregada da casa
É preciso lembrar da nossa raiz
semente negra de força matriz que brota em riste!
Mãos calejadas, corpos marcados sim
Mas de quem ainda resiste.
" Quando o cara fazia algo de errado
o primeiro xingamento era:
seu cachorro!!
hoje o pet está mais amado que nunca
e eu não sei como começam as desavenças...
Gentes estranhas com seus olhos cheios doutros mundos
quiseram cantar teus encantos
para elas só de mistérios profundos,
de delírios e feitiçarias...
Teus encantos profundos de Africa.
Mas não puderam.
Em seus formais e rendilhados cantos,
ausentes de emoção e sinceridade,
quedas-te longínqua, inatingível,
virgem de contactos mais fundos.
E te mascararam de esfinge de ébano, amante sensual,
jarra etrusca, exotismo tropical,
demência, atracção, crueldade,
animalidade, magia...
e não sabemos quantas outras palavras vistosas e vazias.
Em seus formais cantos rendilhados
foste tudo, negra...
menos tu.
E ainda bem.
Ainda bem que nos deixaram a nós,
do mesmo sangue, mesmos nervos, carne, alma,
sofrimento,
a glória única e sentida de te cantar
com emoção verdadeira e radical,
a glória comovida de te cantar, toda amassada,
moldada, vazada nesta sílaba imensa e luminosa: MÃE
A minha dor
Dói
a mesmíssima angústia
nas almas dos nossos corpos
perto e à distância.
E o preto que gritou
é a dor que se não vendeu
nem na hora do sol perdido
nos muros da cadeia.
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniço.
Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines,
viemos do outro lado da cidade
com nossos olhos espantados,
nossas almas trançadas,
nossos corpos submissos e escancarados.
De mãos ávidas e vazias,
de ancas bamboleantes lâmpadas vermelhas se acendendo,
de corações amarrados de repulsa,
descemos atraídas pelas luzes da cidade,
acenando convites aliciantes
como sinais luminosos na noite.
Viemos ...
Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimba,
do sem sabor do caril de amendoim quotidiano,
do doer espáduas todo o dia vergadas
sobre sedas que outras exibirão,
dos vestidos desbotados de chita,
da certeza terrível do dia de amanhã
retrato fiel do que passou,
sem uma pincelada verde forte
falando de esperança.
Aforismo
Havia uma formiga
compartilhando comigo o isolamento
e comendo juntos.
Estávamos iguais
com duas diferenças:
Não era interrogada
e por descuido podiam pisá-la.
Mas aos dois intencionalmente
podiam pôr-nos de rastos
mas não podiam
ajoelhar-nos.
Súplica
Tirem-nos tudo,
mas deixem-nos a música!
Tirem-nos a terra em que nascemos,
onde crescemos
e onde descobrimos pela primeira vez
que o mundo é assim:
um labirinto de xadrez…
Tirem-nos a luz do sol que nos aquece,
a tua lírica de xingombela
nas noites mulatas
da selva moçambicana
(essa lua que nos semeou no coração
a poesia que encontramos na vida)
tirem-nos a palhota ̶ humilde cubata
onde vivemos e amamos,
tirem-nos a machamba que nos dá o pão,
tirem-nos o calor de lume
(que nos é quase tudo)
̶ mas não nos tirem a música!
Lição
Ensinaram-lhe na missão,
Quando era pequenino:
“Somos todos filhos de Deus; cada Homem
é irmão doutro Homem!”
Disseram-lhe isto na missão,
quando era pequenino.
Naturalmente,
ele não ficou sempre menino:
cresceu, aprendeu a contar e a ler
e começou a conhecer
melhor essa mulher vendida
̶ que é a vida
de todos os desgraçados.
E então, uma vez, inocentemente,
olhou para um Homem e disse “Irmão…”
Mas o Homem pálido fulminou-o duramente
com seus olhos cheios de ódio
e respondeu-lhe: “Negro”.
Palavras.
Se palavras ferem mais que um trago, e ações mais que um gole, continuarei a tragar e a beber, e assim, ferirei somente a eu mesmo...
Quero o teu sorriso, o teu olhar, quero todos os teus beijos, quero teu coração
quero a alegria que me contagia, quero a sabedoria de te entender e te fazer sonhar, quero meus braços te procurando, quero o amor nos encontrando, quero tudo e um pouco mais, quero andar de mãos dadas, acordar ao teu lado, sentir teu cheiro, quero te amar, de corpo inteiro, quero o desejo que ninguém jamais viveu, quero teu colo, somente meu, quero virgulas e ainda que um ponto final pareça querer existir, vou insistir e se o que quero for demais, saiba que é o coração quem diz, que tudo que quero é ser e te fazer feliz...”
Tempo
Tempo de dar as costas
De renovar as fórmulas
De novas apostas
De esquecer
De aquecer
De envelhecer
De somar
De equalizar
Desafio retomar
Palavras ao vento,
banho de chuva
e sorrisos ao léu
abraço apertado,
amor verdadeiro,
com gostinho de céu
QUADRAGÉSIMO HEXÁSTICO
revela teu caráter ético
transmigrando do único “si”
e revela o “si” coletivo
verbo da ossatura do ser
que te fará sujeito númeno
nos campos trigais da existência
"" Amanheça, mas não se apresse em entardecer
vá devagar, conjugando sempre o verbo amar
e quando anoitecer, relaxe...
Amanhã será outro dia...""
Cicatrizes Saradas
Hoje posso não mais te amar
Acho que um dia te amei
Mais agora tenha a certeza
Que em breve te esquecerei.
Hoje eu já percebo
Que nenhum esforço valeu
E o que fiz no passado
Pouco a pouco se perdeu.
Hoje eu já consigo
Fingir que não mais conheço
Agora minha história
Terá um novo recomeço.
A partir de agora
Sem você vou caminhar
E então te mostrarei
Que consigo assim brilhar.
Hoje meu grande amor
Não passou de ilusão
Hoje minhas grandes dores
Curadas e saradas ficarão.
As feridas cessarão
Cicatrizes gerarão
Acho que um dia te amei
Mais em breve te esquecerei.