Poesia
Apenas um deles
Se me tomarem por sombra
De uma porta entreaberta...
Meus olhos espreitam as velas
Do morto sendo velado.
De todos, menos culpado,
Pois já não creio na espera
Além do corpo enterrado.
Se me tomarem por sábio
Que do saber observa...
Do pasto, a mesma erva
Que alimenta o gado;
O verme no chão molhado
Que se oculta na terra,
Na cova do sepultado.
Se me tomarem por cama
De um bêbado adormecido...
Na esperança do esquecido
De jamais ser encontrado.
Como um braço amputado,
Sou o membro invisível
Que deseja ser lembrado.
Se me tomarem por único,
Serei apenas um deles.
O LOUCO
Louco que louco
Que sabedes das suas demências
Talvez não seja louco
Ou talvez seja
Mas o louco que louco
Que se presume sapiente
Tende mesmo a ser louco
Puro demente!
FINGE
Fascínio libertino
De querenças e prazeres
Amasso e lambança
Tons desatinados de amores
Que amor que loucura
Que desejo que frescura
Finge,
Toques profundos e ardentes
Em mantos e prantos de prazeres.
BANCOS e JARDINS
(D'sorroco)
Verdes de Vida
Cruas
Bisbilhotando jovenildade
Aspirando ares da urbe
Passam por min
Amors de toda a parte
Encantam-me e me enamoram
Nestes bancos solitarios sem fim
Amor, o todo do tudo.
(Victor Bhering Drummond)
Isso é o que o amor faz;
Te faz conhecer o claro e o escuro,
A luz e a sombra;
O dia é a noite.
O amor é barroco.
Pequenos fragmentos de luz;
As flores de abril, o florescer da primavera.
O desejo que ninguém viu.
Estrada de prazer,
A folha que cai, a chuva que vem.
O beijo de paz, a fragrância de um dia que já clareou.
Consegue transformar o ribeirão na imensidão do mar
É um lindo lar sempre a acordar.
É divino. Ele é o todo.
E te faz conhecer o tudo
Porque ele é a mais pura liberdade.
(Victor Bhering Drummond)
Na distância angular
O porte, o corte
O frio, o rio
A diretriz
Os desejos estrelados
No ponto xis alua
Mil pensamentos
Mil fragmentos
Inclua
Nossa medianiz
Nas crateras internas
O sonho de ser feliz
Querer eu sempre quis
Sob todos os prismas
O olhar colateral
A busca da felicidade
É atemporal....
Ainda quero.
" Dimitri não sabia de nada
e eu nem sabia quem era o Dimitri
muito menos que ele não sabia de nada...
Fiz por mim.
Vi que tinha gente olhando,
Parei, olhei a volta,
Vi gente interessada.
Coloquei mais milho na fogueira,
Pois tinha gente de olho na palha assada.
Incomunicável
Feitas as almas ermitãs
Desassociadas e vãs
Numa sociedade alternativa
Mais um fator associativo
Nada muda nessa operação
Onde está o amor...
De quem é mesmo esse coração?
Digo que amo-me
Para não dizer-te
Amo-te então...
Perco o sentido do tempo,
Tempo este moribundo.
Com a felicidade já me contento,
Todo o resto é ruído do fundo.
Com muita audição,
De quem este sentido tem.
Já senti o coração,
Entrou a dez saiu a cem.
O ser humano aprendeu a voar,
sem rede e livres como as gaivotas percorrendo o céu azul dos sonhos;
aprendeu a nadar sem limites como os golfinhos, mergulhando nos oceanos da ambição; mas esqueceu de aprender o essencial desta vida, amar uns aos outros como irmãos.
A éssa altura da caminhada,
com a visão experimentada.
O coração salta,
e treme as pálpebras.
Mas a postura confeccionada,
ao longo da estrada,
Continua intacta.
RESPOSTA
(prm-122.025)
Às vezes me pego pensando...
Em que sou eu...
Ou o que sou eu...
E não encontro resposta...
Para esta pergunta tão fácil.
Às vezes me pego refletindo...
No porque estou aqui...
Neste mundo tão insano...
Ou se o insano seria eu.
Às vezes me indago...
Do porquê das coisas...
E porque...
Da intensidade...
Deste imenso amor...
Que eu sinto por ti...
Mas ai sim...
Eu consigo encontrar respostas...
E já sei dizer quem sou eu...
Ou o que estou fazendo aqui...
Sou uma pessoa...
Que veio ao mundo...
Neste mundo insano...
Que me deixou...
Mais insano que ele mesmo...
Em busca...
De um amor especial...
E depois de longa busca...
Eu encontrei a pessoa...
Que jamais poderia imaginar...
Que existisse...
Ou que eu pudesse...
Com toda esta intensidade...
Te amar.
Cadeira de balanço
Num canto da varanda
em meio a vasos e pilastras
a cadeira de balanço mágica
onde vovó tirava a sesta
Momento único do dia
onde tarefas diminuíam
um luxo ali ficar um pouco
cochilando em venturas mil
Velha cadeira de balanço
em seu molejo natural,
impressão de que a vida era só aquilo,
um espreitar o céu e sonhar
viajando entre nuvens
ouvindo passarinhos na tarde
que dengosa seguia
ah...vovó que saudade imensa
desse tempo onde tudo era apenas
despreocupação e magia !
Meus versos são seus
Guarda-os em teu peito frio
Pra quando seu coração estiver vazio
Se lembrar que nosso amor existiu
O TEMPO EM GANCHOS
Não sei se o tempo vai me levar para algum lugar, mas tenho a certeza de que ele deixa marcas conforme o caminhar...Na areia de Ganchos, se encontro um vasto tempo para se viver...quem sabe minha alma voe até lá..
Desequilíbrio
Tem dias que sou mais corpo,
tem dias que sou mais alma,
às vezes sou sufoco,
às vezes só calma.
Calma - diz o corpo.
Grita - diz a alma.
Num corpo quase morto,
morrendo por sufoco
prestes a gritar feito louco
o que a alma quer falar...
O grito é sempre contido por trás de um sorriso que a alma dá para disfarçar,
mas no corpo o olhar teima em mostrar esse sufoco, que anda escondido à beira do precipício tentando se equilibrar.
Sentir
O que não consigo falar,
está escrito,
escrito em meu olhar,
onde o silêncio insiste,
insiste em gritar.
Só ouve quem sabe escutar;
escutar o som de enxergar;
enxergar o que não se vê.
Só enxerga quem sabe ler;
ler o que há no invisível do ser.
E quem é que sabe ser?
- Somente quem sabe sentir.
Sentir é o ler, é o ver e ouvir da alma.