Poesia
desejo um mundo em que
seja fácil
ser só
em que os porteiros
não deem bom-dia
boa-tarde
não me olhem
boa-noite
um mundo em que
a farmácia
seja um de cada vez
sem os toques
dos corredores
sem o deseja a revista
apoiar as crianças
o câncer
moedinhas aqui
já tem cadastro
fidelidade senhora
sem tempo para
sorrir sem
graça
não
obrigada
desejo um mundo vazio
de amenidades
feito de explosões
terremotos
tufos de cabelo
terra nos olhos
um mundo
desmesurado
todo mato
algumas cabras
latas vazias
um mundo sem frutas
sem matérias
reportagens
sobre colesterol
glicose
taquicardia
desejo um mundo
sem filosofia
animalesco
cheio de pelos
as garras afiadas
visão noturna
instinto
de fuga
desejo um mundo
do qual eu possa
fugir
há um dia em que a mulher
pergunta a si mesma
pergunta para outra
mulher
e as perguntas pairam
flutuam
sobre a cabeça
as perguntas incomodam
e vazam como excremento
de aves de árvores de céu
nesse dia a mulher procura
a resposta
por que de que adianta
se há mãos que fazem dançar
as cordas
e os pequenos membros
do corpo vivem em sacolejo
o ventre morre em liminares
gestações que formam mãos
de homens
e a partir do ventre
as mãos nutridas pela mulher
saem na direção do mundo
de tudo que é externo
de tudo que é global
antropológico
fágico
e social
e a mulher nesse dia pergunta
para outra mulher
para o espelho
de que isso tudo
adianta
O time joga, a bola rola sem parar, o coração em transe, espera a rede balançar .
Só que calma há que se ter, esporte é sempre emoção, vamos ficar na torcida, sem estressar o coração.
Seu João, um chapéu laranja e sua bicicleta
Hoje conheci Seu João, perseverante pescador!
Munido de sua bicicleta, anzol e carretel improvisado,
Anda de um lado a outro da praia esperando seu fisgado!
Não consigo ver o seu rosto muito bem,
Aprendi o seu nome por ter sido gritado por outro alguém.
Também não enxergo o seu sorriso, apenas sua paciência.
E a cada peixe que ele pega, eu solto um riso. E ele? Mantém a decência.
Chapéu laranja, sol a pino... Carrega consigo uma esperança, que espero vê-lo sorrindo.
Não parece se importar muito com a paisagem ou já não mais a admira,
Os olhos sempre fitos no mar, não pode errar a mira!
E assim o dia passa, puxa anzol, lança anzol e vez ou outra guarda a caça.
Queria pescar com Seu João e talvez escutar a sua alma...
Mas o que ganhei hoje, foi para admirar a sua calma.
E lá vai ele com sua bicicleta novamente:
Uma caixa de isopor, um chapéu laranja e a sua pesca que me deixou contente.
Cantando na Babilônia
Esse mundo tá podre, ouve? É sobre...
Tudo o que houve, aproximou-se,
De tudo que somos. Cego, ouve.
Escute o som e há quem te louve.
E quente é pouco!
Nesse mundo oco,
Miragem sem oásis, tá me deixando louco!
Imagens nos olhares dos zumbis de grito rouco! Louco é pouco!
Tô me sentindo morto, vivendo nesse corpo, esperando pelo sopro, da vida que me deu.
O mundo não me deu, o mundo nem me quer,
Brinquei de bem-me-quer e nem quem me quer sou eu!
Olha o quanto julgo, olha o quanto eu jogo,
As palavras viram jugo, quando não suporto!
E eu não te suporto, se não me suporto.
E você nem se importa, com o que eu me importo.
Te importa o quanto importa, não quanto eu importo,
Por isso nem me importo com a droga do seu porto e nem me olha torto, esse olhar de peixe morto, quer molhar a minha mão pra que eu assine seu aborto?
Arrancar meu coração enquanto sacrifica um porco? Assaltar minha emoção como foi lá no barroco? "Pazzo"!
Sem pacto,
Ímpar que tô,
pro impacto...
A Grande Babilônia caiu!
Quem sabe nos encontremos de novo
vítimas do acaso
Nessas ruas sem saída
dessa cidade que dormia
Labirinto de pedras e asfalto
Cobertos por tetos frágeis mas nada transparentes
Amanhã ou mês que vem
Procuramos um novo dia
Procuramos uma saída
Sol na palma da mão
E o violão,
desenvolvendo mais uma canção
Juntos só nós e as estrelas
Nós e o universo
tão sozinhos mas tão cheios de mistério
Luzes de calor
Luzes do céu
Nossas asas nos distanciam do aranha-céu
Pessoas nos sugam
E as cidades com suas grades,
ajudam
Fugir daqui é sensação de vento
Vento forte rompendo o cimento
Os estilhaços acenderam a chama que vem do centro
Nos perdemos naquele labirinto
nas ruas desalinhadas
Nos prendemos com cinto,
com ideias amarradas
Nos perdemos nas calçadas,
nos sinais, nos tijolos
Estamos construindo barreiras pelos solos
Nos perdemos no som,
nas faixas e na multidão
Nos perdemos em mais um vagão,
vagamos sem destino sem olhar pro coração
Nos perdemos em portas
Portas que não abrem
Nos perdemos no preto e no cinza,
esquecendo do verde e do azul da brisa
Óculos escuros mesmo sendo de dia,
escondemos o que o coração não via
A roupa de grife nos cobria,
jogando fora nossa carta de alforria
Marchem soldados,
temos cabeças de papel
Nossos olhos foram cobertos,
tampados por um véu
Ninguém parou pra ver o céu
Estamos muito ocupados cumprindo nosso papel
Marchem soldados,
temos o peito de aço
Coração controlado que não lembra do abraço
Corpo linchado
Soldado pau-mandado,
Foi mandado pra vala
sem nem ser notado
Recomece seu caminho
Seu amor se foi com o vento
Deixou escorregar na escuridão
Escapar na imensidão
Morrer no pensamento
Nas lágrimas se afogou
Seu desespero parou
O peso aliviou
Na chuva se molhou
Garota erga sua cabeça
Sorria de leve
Sua vida celebre
Seu caminho recomece
Seu jardim refloreça
Nessa terra celeste
Amigo
Amigo de momento
A muito tempo
Em silêncio
Em partida
À distância
Desde a infância
Amigo, só se tiver relevância
" Estamos presos
a alguma coisa
que nos falta.
Por isso,
mesmo tendo tudo,
nada nos basta."
Rodrigues de Senna, in trecho
do poema Falta.
Alguém moveu as pedras do jardim você não vê?
gosto de rir por dento
de você
enquanto as sombras passeiam
pela casa
de manhã coamos
um café
“tão bom”
o que você diz sempre
faz rodar de novo
a colherinha
“os nossos melhores silêncios”
isso me arrepia
– agora mais do que antes –
eu gostava muito do seu sorriso
você dos meus brigadeiros
é tão perigoso falar do que desata? dizer a própria
morte traz de volta espécies de receio de contágio ao
tentar escrevê-la compactuo com ela? convoco-a?
Obstinado
Bukowski disse que se não vem de dentro nao adianta
Se não explodir do meio peito em forma de caos
Vc não é o que acha que deve ser
Se as palavras não te atormentarem e o sentimentos fizeram sentido
Não é pra você
Se a noite não lhe parecer dialética e o dia não lhe for didático
Algo no cosmos deu errado e as diretrizes do tempo te guiaram erronêamente
Se a sua mente continuar sã enquanto enquanto a ideia dá saltos em direção ao futuro
Se tudo isso de início nao parecer obscuro e se o medo não tentar
De todas as formas te frustar
Você não está onde deve estar.
Pedra de quatro trevos
Feliz quatro messes de rolos e Paralamas.
De poesias ao amanhecer,
Ou dos boa noites com rosas encantadas,
Das flores do dia jamais se imaginou que foste virar um jardim de 4 trevos,
Da sorte do azar,
Minha coragem se transbordou e te encontrou,
Das tulipas arrastadas pela escuridão a folia de nossos corações fugiu das hortênsias, foi em busca da salva,
Orquídeas que hospedaram nossas almas loucas.
VONTADE E SINCERIDADE
Com a vontade tudo fica mais fácil, seja a SINCERIDADE de falar tudo que pensa, ou a delicadeza de sentir outro ser.
com a vontade se cultiva, o amor.
Cria-se uma conexão imensa.
Um espaço onde se permite apenas sentir os corpos e a conexão dos sentimentos.
Cores (Parte 1)
A chama da minha intensidade incendiou toda frieza
Tudo está ótimo, por enquanto. Em tudo vejo beleza.
Vejo tudo ocorrer, mas não sei se é realidade ou ilusão...
Será que sou quem acho que sou? Talvez sim, talvez não.
O que é essa coisa que sinto? O que é real?
Pássaros cantam e voam, o vento passa pela minha alma.
Quero algo que venha da minha alma, nada artificial.
Felicidade é a razão de eu ter visto em tudo o que ninguém vê.
Há uma porta, de um lado está a realidade, de outro a ilusão...
Será que a realidade faz parte da ilusão da qual sobrevive a população?
Um sorriso... um breve silêncio me faz pensar
sobre aquela certa possibilidade da realidade nos aprisionar...
SOUSA, Rodrigo. 2018
Cores (Parte 2)
Um oceano se forma na doce e adorável solidão.
Nada mais parece a mesma coisa...
O oceano retorna... Agora com diferentes cores.
O que é essa coisa que o mundo abomina?
Por que abomina se o tudo são nada menos que cores?
Algumas mais intensas, outras mais tristes e outras mais vibrantes...
Toda a energia que tiveste visto ao teu redor são só cores.
E seria o mundo uma monotonia sem fim?
Seria a loucura só mais uma cor intensa e sombria?
Olho o meu reflexo na água e se formam luzes em neon.
Rio um pouco, respiro fundo e me entristeço
Novamente o oceano...
GAROTA, SERÁ QUE VOCÊ NÃO SABE?!!
Você é a minha razão da minha loucura e amor
mesmo não devendo ser...
Nuvens se movem lentamente,
o feitiço da garota nunca acaba
e estou hipnotizado preso numa teia da qual não consigo sair.
As cores vem e vão lentamente.
Sou várias cores em uma só
e no fim tudo é monótono e colorido
SOUSA, Rodrigo. 2018
Cores (Parte 3)
A noite começa, lembranças aparecem.
A rua está cheia de pessoas e ao mesmo tempo vazia.
A loucura renasce no músico, as estrelas falam e eu assisto.
A beleza das estrelas falam comigo, mas a Afrodite não.
O poeta solitário se senta em sua cadeira, coloca um cachimbo na boca
e reflete um pouco...
O cachimbo é acendido, mil ideias vem à cabeça
e logo após pensa em um paraíso que deixou escorrer pelas mãos.
O que eu faria com esses bons sonhos insanos?
Talvez deve-se transformá-los em psicodelia amorosa.
Olhar profundo era o de Afrodite e logo me hipnotizou,
minha cabeça nunca mais foi a mesma.
Garota doce, que jardim lindo esse que você guarda na sua boca!
Jardim hipnótico me deixou louco como nunca no doce mel.
A minha imaginação voa quando reflito e as cores me invadem
e deixo-me em transe.
Uma canção tranquila é composta, já é de madrugada
e o tempo parece devagar...
Tudo se derrete com esse fogo intenso do meu amor.
Ela é a faísca para a minha psicodelia amorosa.
SOUSA, Rodrigo. 2018
Cores (Parte 4)
Lá vai a garota de olhos azuis,
hipnotizando com o oceano que há no olhar.
Um canto que hipnotiza homens sem esperança
e os leva para um abismo sem volta.
Mulher de voz doce e coração frio
que faz a monotonia morrer e dá cores para a vida.
As cores se tornam mais intensas
e o canto da sereia se torna um vício.
A loucura se mistura com o gosto amargo da tristeza
e a garota de olhos azuis se diverte com isso.
Consegue ter o mundo em suas mãos
enquanto manipula a mente dos loucos solitários.
A sua dança hipnótica penetra na mente e vicia.
A louca dançarina de olhos azuis esconde o passado
em sua voz que se misturam com as cores
e logo em semi-colcheias.
SOUSA, Rodrigo. 2018
Cores (Parte 5)
Diga-me a razão da hipnose que guardas em ti.
Um azul escuro no espaço sideral,
ratos gordos que correm por cantos escuros.
Chuva corrosiva que você fez chover em mim...
A minha loucura num impulso meu num olho meu.
Oh doce carpa, o que tiveste feito naquele aquário?
Um gato tentou te atacar ou foi só a doce menina?
Está numa situação tão dolorosa...
Talvez as gotas amargas, cinzas e corrosivas
da chuva do sorriso dela tenham feito isso.
A euforia em Júpiter, a força gravitacional...
A alegria do pulo volta intensa e dolorida.
Pescador sonhador, viu uma miragem?
Ou a sereia com olhos angelicais era real?
Não há realidade quando a ilusão domina a mente
enquanto cores intensas pulsam;
pulsam como uma taquicardia desesperada
e se agitam feito peixe fora d'água.
Cores viram sons e então uma orquestra.
Talvez uma música livre de vanguarda.
Enfim... cores não são só cores;
São sentimentos e pessoas.
SOUSA, Rodrigo. 2018