Poesia

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Sinédoque

toda vez que vejo um filme eu me apaixono

pela atriz eu penso
mas é pela personagem
eu penso mas é
pelo diretor mas é
pelo filme pelo cinema
pela arte eu penso
mas é pelo mundo

no mundo existe ela
com quem a atriz se parece
não, a personagem
(não, nenhuma das duas
que só me encantam por ela)

ela por quem penso
me apaixonar agora
e por quem canto há dias
a mesma música sem voz.

Inserida por pensador

Titanic

não existe ponta de iceberg
sem iceberg

e no entanto
meu maior receio

é ser uma ponta de iceberg
sem iceberg

Inserida por pensador

na próxima encarnação
eu quero nascer formiga
trabalho duro no verão
que sonho não enche barriga

no inverno descansar e então
cigarras cantem por comida
migalhas dou por sua canção
minha vingança de formiga

Inserida por pensador

se eu não for
eu mesmo
é o mesmo que eu
ter morrido

se o que me salva
me anula
então não é a mim que salva

não sou eu
é o eu-
comprimido

que no instante em que surge
eu sumo
meu sumo se esvai
e eu morro

se me salvaria antes
um segundo
num segundo eu tomo
e me toma

e já não sou eu quem fala
é o outro
eu que não sou
eu mudo

eu que não falo
não sinto
eu que não existo
socorro

se o que me salva
me mata
não é a mim que salva

é de mim
o mundo

Inserida por pensador

molhar as plantas

tudo tem barulho de mar
enceradeira isopor carro
em movimento aerosol
espirro pistola moeda

telha bombardeio cigarro
queimando pia degradê
cãimbra inseto monge
sua vizinha o futuro

tem barulho de mar
na camiseta no quadro
chinelo aeroporto gaiola
panela caverna birita

beijo tem biblioteca
também um curió bola
de chiclete sobretudo
um dinossauro alado

tem mar de todo tipo
de barulho e dentro
de cada mar um ralo
entupido de cabelos.

Inserida por pensador

estou sempre indo ao seu encontro
chego de costas pra você achar que estou indo embora
saio de frente pra você achar que estou chegando
estou sempre perdido indo ao seu encontro
é assim a minha vida e o meu calendário
eu estou sempre indo ao seu encontro
não preciso ir mais longe pra saber
que estou sempre indo ao seu encontro.

Inserida por pensador

jane quero uma surpresa
estou triste mereço
você me esperando
em Copacabana
dura e descalça
rindo da minha cara
dizendo pensou
que eu não viria.

Inserida por pensador

barragem

deve ser perigoso
esse gosto recorrente
de incêndio na boca

mas não há saliva pra apagar
e não há saliva que apague
por isso falo pouco

não sei o que de fato queima
fecho a boca e o fogo sai
pelo nariz

respiro mal, meu ar é qualquer fumaça
queria um gosto bom, queria pernas
pra sair correndo.

Inserida por pensador

quarta-feira, 10 de julho de 2019
Bate papo entre amigos


A morte e a vida andam de mãos dadas,
Cada uma em sua estrada.
De repente em um cruzamento,
Nada existe, é como vento...
Uma lufada e vira nada,
Portanto meu amigo...
Vem fique comigo,
Vamos dividir vida,
Carinho e amizade...
Nada mais bonito,
Que um dia colorido...
Bate papo, chimarrão,
Aperto de mãos...
Quem sabe aquele abraço,
Hoje seja a salvação.
às julho 10, 2019 Nenhum comentário:
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terça-feira, 9 de julho de 2019
Quando a canção tocar
Quando a canção tocar

Quando a tarde termina e a noite calma se aproxima,
Minha voz vai te buscar em suave melodia, um canto triste de saudade de quem o amor roubou seu coração um dia,
Deixo minha alma vagar e assim atravesso o infinito como em um conto bonito entramos em sintonia,
Bailamos e então matamos nossa saudade mesmo que seja em minhas fantasias, mas me diga, não é de fantasias que é feita a poesia? De belas e doces fantasias criadas dentro de um ser apaixonado, repleto de emoção...
A lua já vai alta e a melodia já está a terminar, tu me olhas como a pedir, vem, fica comigo, amanhã, quem sabe amanhã, outra canção nos fará encontrar,
Agora tenho que voltar, o rouxinol já começa a cantar..

Inserida por JussaraRochaSouza

Hoje é o aniversário da execução
de García Lorca e se alguma coisa
mudou desde então, foi pra pior

eu estou na Central do Brasil
esperando que alguém me ligue
com uma notícia boa

não tenho vontade de voltar para casa
não tenho vontade de ir trabalhar

não tenho vontade de quase nada
e espero me apaixonar nos próximos minutos

há qualquer coisa de perverso em tudo isso

penso em Antônio Conselheiro
e em seu cadáver profanado

a santidade do mundo
é sempre mais perigosa
que qualquer diabo

uma vez o eremita me sorriu
em uma carta de tarô e desde então
tenho colecionado abandonos

ocorre-me que talvez estejamos
vivendo o apocalipse

Inserida por pensador

você não acreditaria que eu sigo
mentindo e que agora as mentiras
são quase bonitas

apenas porque morremos:
a beleza.

apenas porque morremos
o sol voltará amanhã
exigindo que ao menos
um
de nós
tente de novo

você não acreditaria nas coisas
que tenho tentado provar –
a libido, o corpo, o frio
(sobretudo o frio)

você não acreditaria que
apenas porque morremos
as coisas ainda brilham

que apenas porque morremos
ainda somos necessários

Inserida por pensador

Havia crescido
e era definitivo:
já tão banal o forte gosto
da aguardente
de velhos tempos coisa alguma
nem o corpo
também a pele manifesta seu devir
extingue-se, camaleoa
de máscara em máscara
o bruto corpo da árvore castigada
ao cair das folhas.
Cresci
perdi castelos e pudores
perdi sorrisos, sim
perdi favores
deixei aos sóbrios a vitória
sobre o tempo
ganhei silêncios & temores
ganhei revolta
quando mais queria calma
ganhei suor e não o pão
ganhei o Ar
a plenitude do hemisfério
a anarquia nos trópicos
ganhei perdi
ganhei & perdi
uma metralhadora de espantos
em eterno ir e vir

Inserida por pensador

Sonhei com uma cidade submersa
que desconhecia luz e era habitada
por estranhas criaturas fluorescentes
que sentiam fome e amor,
mas sobretudo fome, e adornavam
as almas com cantos de guerra e
silêncios rompidos à chibata
mas havia alma e isso bastava
porque na superfície nós não tínhamos
nem isso, e o sonho desdobrava-se
num turbilhão de imagens em
que eu via o amor ser inventado
e escurecer e as trevas eram tudo
e eu dormia e desesperadamente
sabia que ninguém viria coroar
minha agonia porque acordávamos
todos os dias e quem quer que
quisesse viver teria de saber
que aqui não se sonha, não,
não se sonha sem custo
e o meu custo, tão doce e terrível,
era a loucura daquela cidade
que já desaparecia outra vez
e a insuportável luz volvia
com a realidade e tudo
o que se podia fazer era secar
os olhos e observar o sol dormir
atrás do mundo

Inserida por pensador

Eros manda avisar
que não habita parlamento

Que o amor não é
uma social-democracia

Que onde dois são dois
a discórdia faz ninho

Que o livre-arbítrio
é a desculpa da apatia

Que o tirano e o escravo
são gêmeos siameses

Inserida por pensador

Melancolinear

Tenho os dentes
amarelados
e sempre que posso
mantenho-os todos
na boca fechada
sorrindo sem eles
estilo contido
e me envaideço
de minha proeza
porque não sorrir
nunca matou

ninguém

Inserida por pensador

a matemática das ruas
e suas esquinas perpendiculares e calçadas paralelas
com imperfeições imperceptíveis
e quadras em retângulos
que terminam em praças circulares
por onde passam carros a sessenta por hora
e pessoas atarefadas
e onde se sentam pessoas
que jogam o tempo e os silêncios
aos pombos indiferentes

Inserida por pensador

Eu não tenho a alma de um corrimão.
Eu sou mais do elo, da liga e do laço.
Respeito para mim é coisa fina,
assim como o abraço.

Inserida por pensador

Se eu chego antes,
te pego com respeitos demais;
Se eu chego atrasada,
te pego casado e pai;
Então eu chego agora,
pra ver se é boa hora.

Inserida por pensador

luz

vamos agora
que esta luz está boa
este dia de nuvens
melhor que o sol
estourado
este dia azul
mais que amarelo

vamos que é agora
esta foto
para a posteridade
mais que nós mesmos
podemos saber

se nem estivermos
mais juntos
nela, estaremos

nenhuma fotografia
se mede
em segundos

Inserida por pensador

Coração sobre cama

Se de repente acordo
é madrugada
surpreende o coração
descansa sobre os lençóis
exausto
não tenho sede nem sono
e nem mais coração.
Se acordei e é madrugada
era pra ver você
que não está nesta cama.

Enquanto canto bem baixinho
os batimentos desaceleram
lentamente, quase imperceptível
até a voz sumir entre os lençóis.

Esperaremos a manhã
o coração e eu
e os jornais o carteiro as babás
colocarão as coisas no lugar:
o coração no peito
você à distância
os lençóis na lavanderia.

Inserida por pensador