Poesia
Toca-me amor, toca-me
como nunca me tocara antes.
Não com teu beijo de amante
Não com tuas carne firme de desejo
Toca no fundo de minha alma
com o amor mais belo e mais sagrado,
dos meus sonhos velados,
dos meus anseios de menina
e com minha solidez de mulher.
Toca-me meu bem,
toca-me como eu quero
e como tu quer.
BALADA DO TEMPO (soneto)
... e o tempo passa, indiferente
apático, indo embora sem saber
poente na saudade, o alvorecer
mais um, outro, apressadamente
... dono dos gestos e do prazer
tristemente, tal uma flor dolente
que traga o frescor vorazmente
no ato da ação do envelhecer
e o tempo passa, inteiramente
sem que escolhamos perceber
e na lembrança, assim, assente
passa o tempo, e é para valer
sem que nada dele ausente...
Presente! Pois vale a pena viver!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
ÉS OCEANO EM MIM
Amo-te como quem ama o mar que amo
Deixo as ondas beijarem meus pés
Sinto no rosto a carícia da maresia...
Canto uma música,
recito um poema
Contemplo o céu azul de tudo
a enlaçar as águas profundas
numa conjunção perfeita no horizonte eterno.
Faço-me barco solto ao sabor do vento
Amo-te como amo o mar que amo
E volto para casa...
... Assim como não o posso te-lo junto à mim,
sem no entanto esquece-lo.
Tão paradoxal
Sem no entanto ser conflito.
Amo-te como amo o mar que amo.
És oceano em mim.
CHEIRO DE CERRADO
Quando a alvorada chegou, eu fui a janela
Sentei-me. O horizonte abriu, a vida arfava
Eu, ao vento, atraído, a essa hora admirava
E estaquei, vendo-a esplendorosa e bela
Era o cerrado, era a diversidade em fava
Céu róseo um mimo! A arder como vela
De pureza singela tal qual uma donzela
Que hipnotizava a alma, eu, observava
Então me perdi no perfume que exalava
O olhar velava com pasmo e com tutela
Aí, hauri toda a essência que fulgurava
E agora, fugaz, lembrando ainda dela
Sinto o cheiro, que na memória trava
Da alvorada do cerrado vista da janela
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
Gosto de uns
desgostos de outros
meu paladar é eclético
Gosto de alguns
desgosto de outros
meu tempero é poético
Ela me chama
O meu peito explode como uma supernova
Dissipando o encanto alegre entre as minhas virilhas
O músculo tenro balança medíocre como um sino
A morte dança e geme desnuda à cada badalada
Me excita
Preciso fomentar o peito com padecimento
Calado no açoite ferir-me à clausura
Conciso e consciente
Morrer.
"" A cidade geme
pressão e calafrios ao amanhecer
pássaros cantam e voam alvoroçados.
a cidade é criança.
brinca de esconde esconde em cada esquina
é moça bonita que encanta
às vezes é o caos
mas se levanta
tem o mágico, a menina
que são capazes de torná-la feminina
quando sem medida
a abraçarem com amor...
TENTARAM CONTER OS POETAS...
Tentaram conter os poetas,
quando quiseram
engaiolar os pássaros
e domesticar as feras,
que nasceram para ser livres...
Tentaram conter os poetas,
quando tencionaram
avassalar os ímpetos das marés
e os ventos da montanha,
que não podem ser agrilhoados...
Tentaram conter os poetas...
Tanto fizeram...
Mas tudo foi em vão!...
A Poesia não se prende
às amarras da razão!
22/11/2014
© Pedro Abreu Simões
in MAR REVERSO (Ecos da Terra, do Mar e da Vida), Lisboa: CALÇADA DAS LETRAS, 2015. ISBN 978-989835262-0
PERDÃO (soneto)
Cá estou, meu Senhor, a pedir perdão
Tal o humano: muito errei no caminho
Se de tuas leis desviei, dá-me alinho
Tentei ser, do afim irmão, mais irmão
Se de meu olhar ausentou o carinho
Perdão! Aqui me tens em confissão
Me ensina rezar com Vosso coração
Na omissão, fui um ser mesquinho
Não matei, nem roubei, fui em vão?
Perdão! Me tira deste mal cantinho
Se declinei, pouca era minha razão
Compaixão por me achar sozinho
Se no amor não pude ser paixão
Perdão pela tua coroa de espinho!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
ATÉ AMANHECER
Toca aquela música de novo
E não retoca a maquiagem
Chega na bondade
E leve este amor pra viagem
Me toca e nota meu corpo
Se desfazendo em prazer
Se olha e perceba em você
Tudo que eu consigo ver
Me enxerga e me acerta
Me ama até amanhecer
"Você parece um poema escrito em papel perfumado,
Que alguém, em noite estrelada, escreve para um ser amado.
Seus olhos são os versos;
Seu sorriso são as palavras;
Seus gestos são a métrica da poesia;
Seus cabelos, descrevem os movimentos das letras compondo os versos;
Seu corpo, é o pensamento de quem escreve, ganhando vida sobre a face laminada de uma folha em branco.
Você é uma poesia."
ASAS QUEBRADAS
Passarinho das asas quebradas,
não vive no ar, isso...
Porque não pode voar.
Diante da solidão...
Perambula pelo chão,
e arrasta a vida, há chorar.
Passarinho, passarinho...
Um dia, a suas asas irão colar
e você... Treinando vai decolar.
Me leve contigo, me ensine...
Eu quero voar por esses perigos,
e esquecer, o meu castigo.
Eu quero pousar meus sonhos
sobre as flores e o sol do amanhã
e lá... Viver feliz e amar.
Antonio Montes
Cabanos
Através da madrugada
Fez-se heróica jornada
Em cada comunidade
Pela comum liberdade.
Através desta vastidão
Onde tudo é imensidão
Ergueu-se cada oprimido
Em cada canto esquecido
Na Amazônia lutou
Povo que um dia ousou
Calar sem medo o algoz
Todos em uma só voz!
NA PELE DO CERRADO (soneto)
Pulsa mais do que se pode ouvir
Vário mais do que deve imaginar
Mas, não se pode nele se banhar
Sem nele o teu chão os pés sentir
Aqui, pois, o céu é do azul do mar
Teu horizonte na vastidão a reluzir
Num encarnado que nós faz ouvir
Tons no vento no buriti a ressonar
O contraste é somente pra iludir
Hibernando e, encantado o olhar
No árido inverno dos ipês a florir
Num espetáculo que vai embalar
Do marrom ao virente a se colorir
Pele do cerrado, agridoce poetar
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
AMOR...
Acho incrível e até estranho,
o fato do meu amor não depender de você...
Meu amor não é afetado por sua indiferença
Por sua ausência
Sua presença
Seu sim
Seu não.
Meu amor é maior que eu
É maior que você
É maior que nós
É plenitude
É vastidão
Subsiste além, mesmo, de nós
Por isso é amor
e é AMOR por tudo isso!
Mamãe, mamãe, ajude-me a chegar em casa.
Eu estou na floresta, eu estou lá fora sozinho.
Eu encontrei um lobisomem, um nojento e velho vira-lata
Ele me mostrou seus dentes e foi direto ao meu intestino.
Mamãe, mamãe, ajude-me a chegar em casa.
Eu estou na floresta, eu estou lá fora sozinho.
Eu fui parado por um vampiro, um velho destroço apodrecendo.
Ele me mostrou seus dentes, e foi direto ao meu pescoço.
Mamãe, mamãe, coloque-me na cama
Eu não vou chegar em casa, eu já estou meio-morto
Eu encontrei um inválido, e caí pela arte dele.
Ele me mostrou seu sorriso e foi direto ao meu coração.
Aquece
E vem você...
Na minha porta à essa hora
dizendo que tá frio lá fora
Querendo café
cafuné
Tu entra manso, brando
e já fica brasa
Sem graça
Chega e me alastra
só com o calor das mãos
Mas quando vejo
Ah, já me perco
Tu já me encosta, me enrosca
e diz " tira a roupa e vem pro edredom"
Me esquentar, é teu dom
Me mostra tua chama
Me mostra na cama
Não é só uma brasa relenta,
eu tô atenta
Quanto mais atrito, mais calor,
Fervor, amor, a chama
Me chama
Me ganha..
E hoje, faz frio só lá fora
DRAMA (soneto)
Quando é que o afeto meu terá encontrado
a sorte duma companhia pra se apresentar?
Quando é que na narração poderei conjugar
Assim, despertarei de então estar deslocado
Se sei ou não sei, só sei que eu sei atuar
E se eu estarei ou terei ou se está iletrado
É impossível de inspirar, o ato está calado
Pois, o silêncio discursa sem representar
O aplauso alheio pulsa, mas de que lado?
Na cena a ilusão é expulsa e, põe a chorar
Impossível imaginar atuar sem ser amado
E este drama sem teatro, e ator sem teu lar
De comédia trágica, no peito, então atuado
É amor e fado, no palco, querendo ser par!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
Stop
Pare
Queria que parasse o sonho
O sonho de futuro
Um sonho de nação
Um querer que pode ser acabar em vão
Stop coração.
Parem as máquinas
Parem as prensas
Parem as penas
Ali fora tem uma lua imensa
Lua cheia do Nordesde
Lua cheia do Sertão
Aqui não falta, não falta coração.
Demonstrar o que se sente não é muito difícil
Não precisa de muita coisa, às vezes só um sorriso
Coisas simples refletem sua grandeza
não se preocupe se algum dia vier a tristeza
Nosso corpo é bastante forte, ele aguenta o tranco mas não vá contando com a sorte
É preciso demonstrar um sentimento,
pelo menos alguma vez , se não..
isso acaba te destruindo por dentro
Experimente dar bom dia
à alguém que você não conhecia
Experimente dar um abraço
na pessoa ao seu lado
Se conseguir realizar isto feliz, aí sim..
entendeu o meu recado!