Poesia
O silêncio...
(Nilo Ribeiro)
O silêncio tem o seu valor,
se cala para não magoar,
se cala por amor,
se cala por amar
o silêncio pode ser lamento,
nele pode haver beleza,
nele tem sentimento,
também pode haver tristeza
o silêncio tem perfume,
o silêncio tem ideologia,
às vezes não fica imune,
às vezes vira poesia
silenciar a voz,
silenciar o coração,
o silêncio pode ser algoz,
ou talvez a solução
silenciar não é calar,
silenciar é atitude,
é uma maneira de comportar,
é também uma virtude
o silêncio na poesia
é uma singularidade,
mas ela mantém a magia,
ela versa a verdade...
"MILAGRE
Segunda-feira...
Na cara amassada deste dia,
de repente,
a ponta da asa
de um anjo:
Um milagre, quem diria!"
ÁRIDO, MUITO ÁRIDO, SECO
Árido, seco, muito árido
O vento do cerrado leve passa
Contigo leva o sonho parido
E vai-se entre tortos galhos, arruaça
Assoprando na melancolia alarido...
E eu sentado no banco da praça
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Quem eu sou?
Não sou nada
Apenas mais um número
No meio de tanta gente
Apesar de ser grande
Sou pequeno
perante o mundo
Corro contra o vento
Navego em alto mar
Grito e não tem
ninguém para escutar
Quando penso
que não sou nada
Percebo que posso ser muito
E colorir o mundo
Nesta minha jornada
Gosto de ficar
no meu canto
Sem a preocupação para
provar o meu encanto
Faço o que tenho vontade
Sem ninguém
ficar observando
Às vezes
tenho essa necessidade
De ficar só
Eu e minha companhia
No silêncio da minh'alma
É onde encontro a sabedoria
Permita-me dizer quem eu sou?
Sou uma alma
Que acredita no amor
Não quero acreditar na maldade
Que assombra a humanidade
Deixando um rastro
de tristeza e dor
Permita-me dizer quem eu sou?
Sou um ser comum
Que acredita no amor
Incomum?
É ver a miséria e a pobreza
Muita fome
E também muita riqueza
Para alguns falta o pão
Para outros, falta alma e coração
Permita-me dizer quem eu sou?
Sou um sonhador
Que acredita no amor.
Entre incertezas
Decepções e medos
Fiz uma limpeza.
E no meio de tudo isso
Encontrei a paz,
que é essencial.
Em breve, voltarei.
E será para MELHOR!
Desculpe o transtorno.
Estou em reforma.
"SENTIMENTOS TALVEZ"
Vago,
Por entre as trevas.
Embriagado de esperanças mórbidas,
Querendo ao todo seu amor lunar!
Sua imagem no antigo quadro?
Éramos jovens quando nos descobrimos.
Você e sua vaidade feminina.
Eu e meu relaxo masculino.
Nós!
Duas almas idênticas e ao mesmo tempo
totalmente diferentes.
Bebo, não pra te esquecer
Mas sim pensar em você:
Com outros olhos,
Com outro medo,
Com outra dor!
Amor perfeito...
Não tem jeito.
Cada um ama,
do seu jeito.
E a arte de amar...
É aceitar,
cada um,
do seu jeito.
PRA VIDA INTEIRA
Meu pai... Nunca escreveu,
uma carta para minha mãe
analfabeto, não sabia escrever
também não era intérprete,
mas cantava linda canções de amor
todas direcionada p'ra mamãe.
Cantava meio fora de tom é claro
o forte dele não era cantar
mas cantava pelo amor cantava
pelo amar...
para minha mãe, ele sabia cantar.
Ele amava-a com fervor no coração
amava com amor e paixão,
eu me lembro, eu me lembro...
Meu pai interpretava, vários cantor,
entre eles, ele interpretava:
Vicente Celestino
Nelson Gonçalves,
Orlando Silva e outros.
Meu pai tinha pela minha mãe
aquele amor, bobo, abestalhado
aquele amor de uma vida inteira
aquele amor que, morrendo
morre... Amando, amando.
Antonio Montes
PARADOXO I
E pela primeira vez usou da sinceridade.
Confesso que foi exatamente a sinceridade que sempre esperei de você, nada a mais, nada menos. Nenhuma surpresa.
Se bem, que lá no fundo, parte de mim ainda tinha esperança de salvar sua alma de si mesmo, inclusive dos icebergs que constituem sua forma de receber e fabricar amor. Talvez seja o motivo de viver sempre resfriado, o frio pode trazer esses tipos de males.
A sensação que mais uma vez conclui como fato, quanto mais “do bem” as pessoas demonstram que são, mais parecem demonstrar a necessidade de aparentar algo que realmente não são, como uma espécie de capa de proteção para os seus próprios monstros. Porém, elas se esquecem que quando os monstros saem para brincar, elas já não sabem mais quem são.
Talvez eu sempre analise tudo de maneira tão pessoal, afinal, “análise” nada mais é que opinião, mas fatos são fatos, eles não abrem um leque de conclusões, só simplesmente são fatos. Os fatos não se preocupam com sua opinião ou emoção, são só quem são, apáticos e sem proteção.
De qualquer forma, às vezes quando dizem para pensar melhor, talvez seja mais sadio não pensar em nada. Não digo só por uma questão ética, mas por simplesmente dar menos trabalho a nossa mente a qual processa milhões de informações por dia. Ela não se cala, ela não se aquieta, somente faz o que deve fazer, então não a pressione.
Nunca fui boa em contar histórias, sempre demorei mais que as outras pessoas e me recuso a resumir, pois todas as partes são importantes para uma conclusão. As vezes também perco o foco e uma história acaba dando na outra, que puxa outra e me lembra aquela vez de uma certa história que parece muito com aquela outra. É que talvez seja difícil falar de coisas que já se foram ou se passam, assim como o tempo e a sensação que estava na primeira linha do primeiro parágrafo.
Vontade de sossego
De aconchego
De gentilezas e ternuras.
Ela era assim.
Sempre exilada de si mesma.
Nem sei teu nome.
Não sei de onde veio
Nem para onde vai depois de nós.
Mas fica aqui...
Tenho um corpo quente
Tenho uma boca faminta
Tenho uma ternura infinita.
Dividimos a cama
Partilhamos nossas chamas
Saciamos nossa fome...
Nem precisamos ter nome
Nossa carência nos basta
E nosso desejo sacia nossa sede.
... E do restante, nada importa
Hoje.
Eu vou cuidar de você.
Cuidarei dos teu sorriso e dos teu juízo.
E se os perderes,
o riso eu os ressuscito.
E o juízo?
Ah, meu bem...
Estes perdes em mim!
Eu sou assim...
(Nilo Ribeiro)
De tão comum,
chego a ser complicado,
às vezes sou um,
outras, multifacetado
viver é divino,
viver é tentar,
viver é destino,
viver é amar
eu sou assim,
vivo poeta,
se a porta se fecha para mim,
encontro uma janela aberta
não vivo em poesia,
ela que me conduz,
dá ânimo para meu dia,
preenche minha alma de luz
eu sou assim,
assim me apresentei,
a ideia foi ruim,
a distância aceitei
viver é belo,
viver é primor,
sou sim sincero,
sou sim amor...
"" Deixei todas as minhas misérias
hoje, pouco sei de suas existências
não as quero como conveniências
nem como uma vida inteira de amor...
TUA
Gosto de mim assim.
Submissa sob teu querer.
Meus movimentos limitados
sob tua força.
Anulando meus pedidos,
atiçando meu libido,
me corrompendo,
bebendo do meu mel
gota
a
gota...
Enquanto me reteso.
Minhas pernas trêmulas
pressionadas pelas tuas,
se escancaram,
portas
para o teu,
o meu,
o nosso
paraíso!
Nesse momento sou tua serva.
Totalmente à sua mercê.
Fêmea domada.
Possuída.
Entranhas ensopadas
pelo teu licor...
Satisfeita.
Mãos vazias
As mãos vazias
Caminham em silêncio!
Não o silêncio mórbido dá solidão
Ou pela dor de quem perdeu alguém.
Caminham em silêncio pela paz
De quem sabe que venceu mais um dia.
Mãos sujas e carrancudas
Que, alegremente, se banham em águas frias
Para retornar ao lar.
E em silêncios se aquecerem nos bolsos
Do velho jeans azul desbotado.
E quando chegam ao lar
Se entrelaçam em outras mãos
Mais graciosas e aquecidas
E o silêncio se perpetua naquele abraço
De dedos, unhas, mãos e almas.
AMOR PERFEITO
Vai majestade,
Amor. Busca o sentimento
O tempo é velocidade
E o querer argumento.
Como quiseres
o prazer,
Mas que seja pra teres
pra valer.
E,
Se cansares
Não venhas com lembranças subverter.
Se acaso não se acertar
Volte!
Vário é o lugar
Da saudade se solte
Pois tu amor, foi feito pra amar...
E a dor, chore!
Tudo passa, passará...
Não é preciso que implore
O que está escrito, estará
Amado perfeito... Folclore.
Viva e verá!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, abril, 25
Cerrado goiano