Poemas de Lamento
livre sem ser presa.
*
Já apontei o céu com o apontador. Disfarces para a dor é sonhar acordado sem ter um leito, um lugar de paz. Arruinar o casebre e jogar água gelada na febre, o sintoma é o mesmo de anteontem. Hoje estou enclausurado ao infinito que me cospe, e, agora, alimentando essa ave de rapina, julga-me e atropelos tu dá com seus falatórios. "O pó é a página seguinte, ali, escreve-se e se deixará só.".
*
Ricardo Vitti
Tropeços
Erramos muito em nossas vidas
As vezes por vaidades ou preconceitos
Mas não dá para ficar acumulando
Em nosso coração tantas decepções
Que morrem somente em lamentos
Sim,
Você teve a possibilidade de ser o único,
O único à chegar onde ninguém chegou,
O único à tocar onde ninguém tocou,
Era isso que eu queria,
Exclusividade,
Te dei meu tudo,
Fiquei sem chão,
E você me perdeu,
Deu à outro a oportunidade,
De ter exclusividade,
Eu era Oásis,
Você Miragem,
Findou.
Antes certo que não se quisera passo, mas o silêncio...
Gente suja...
De pés feios...
Falando alto...
Embriagados com putas velhas...
Roupas surradas...
Cheirando a fumaça...
A noite decreta o cancro...
Qualquer música degredada em pranto...
Gargalhadas torpes...
Viciados da rotina...
Quem diria...
Um pensamento que não se esconde...
Nem mesmo disfarçados pelas bebidas pagas...
Das pedras que colho...
Só gente cambaleando...
Sujos...
Feios...
Excrementos de seres humanos...
Um só destroço...
Corpos fedidos e suados...
Rugas fundas...
Dentes tortos e amarelados...
Esquecendo para sempre as loucuras do vinho atrevido...
Falam cuspindo...
No Português errado...
Buscando distração...
Quem sou eu de fato...
Entre os porcos...
Um diamante jogado...
Meu Deus...
Meu Deus...
Tratar a todos com respeito...
No túmulo não há diferença...
Mas será que de fato..
O céu pertença a essa gente tal como rato?
Recolho-me em sonho e mágoa...
Óh tristeza descendo em meu olhar...
Sonho moribundo...
Gente feia...
Não há como se misturar...
Diz-se que a solidão torna a vida um deserto...
Mas antes só que mal acompanhado...
Posso ter respeito...
Mas amor é negado...
Sei que embora essa luz nem para todos tenha o mesmo brilho...
Tudo o que existe em nós de grande e puro...
Nem sempre esconde o lamento...
Dobrada é minha ventura...
Em poder escolher com quem convivo e me deito...
Sandro Paschoal Nogueira
“” Passará por ti
Num malmequer por perto
Lembrarás de mim
Quando o sol chiar solitário no deserto
Quando tuas noites, fores solidão.
Em su cama pedirdes minha mão
Haverá um sonho pra te lembrar
Que fostes o melhor que pude encontrar
Então chorarás
Lágrimas de pura saudade
Molharás seus lábios no desejo
Que tudo fosse realidade
Amanhecerá o dia
E pela janela verás o vôo solitário da esperança
No gesto que virá da lembrança
Que o coração teima em não deixar apagar...””
A Noite
A noite em que vago
Lento, leve, pesado
Trago peso nulo nas costas
Peso, mais pesado que o mundo
O peso está na mochila
Mochila que não existe
A mochila é suja, surrada
O peso é morto, é triste
Às vezes, escapa o peso
Pela minha face desaba a mágoa
Às vezes, exponho a mochila na rua, em casa
Um grito de lamento e agonia
Ando eu em ruas, bairros escuros
Meu peito cansa, pede ajuda, em apuros
As mãos não obedecem sempre,
No meu rosto se jogam e voltam
Machucam, recupero
Desaparece, mas sempre arde
A lua se vai, o sol levanta
A noite permanece e nunca acaba
Chove, alaga, lama
Afundados meus pés permanecem
Quando chegar o momento
de encontrar um novo amor,
manda embora aquela dor,
dá adeus ao sofrimento,
joga fora o lamento.
Quando a vida der a volta,
aproveita e te solta
daquela velha prisão,
abre mais teu coração
para essa reviravolta.
A POESIA QUE CHORA
A poesia que chora, desinspirada
Na solidão, que padecer me vejo
Na realização, e tão despovoada:
Sofre, implora, por um puro bafejo
Não basta ter a rima apropriada
Nem só desejo de lampejo: desejo
Assim, tê-la, no versar que agrada
Não, no amor findo, oco e sem beijo
No exílio e no vazio que me consome
Não basta saber que no tempo passa
Que tudo passa, quando só quero estar
A poesia que chora, ficou sem nome
Separada do sagrado e tão sem graça
Quando a trova teria de ser de amar...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
25/01/2020, 05’53” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
LIBERTINA (soneto)
Recordo, ao ler-te, as épocas sombrias
Ó escura poesia, de outrora, tão torta
À inspiração, lasciva, e da alegria morta
E em tuas trovas, as vis sensações frias...
Simetria e rimas, nas fantasias vadias
Enroupadas, pária de Suburra à porta
E a impudicícia em tuas linhas, absorta
Acabrunhando o decoro nas ousadias
Ó nuvioso e tristonho cântico em ruína
Na esquina pesada, tendo a fonte impura
Do lampejo, na qual se traje de Messalina
Tu, prosa descarada, sem amável ternura
Sem o amor, traindo a mão na sua rotina
Libertina, que ao poético só traz amargura
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14/03/2020, 04’59” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
“prego”
Talvez que um dia no verso meu chorado
sob a luz da saudade, num versar falando
tu ouças nas rimas o meu ser apaixonado
em um grito de padecimento te saudando
Está lágrima que fez o papel ficar borrado
não se atenha. É meu prosar lacrimejando
quando vaza do coração pra ser escutado
e que na dor da solidão vai transbordando
Não é simples sofrer, ou, que nada valeu
é aperto no peito e, que ainda não passou
e cá no soneto, um suspirar cruciante meu
O grito, se ouviste, por favor, é sentimento
que vai corroendo a súplica, assim, te dou
um canto: com choro, gemido e sofrimento.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
28 junho 2024, 15’04” – Araguari, MG
HORAS TANTAS
Horas tantas, aterrado e um tanto aflito
Confidenciei para a lua o meu detrimento
Do acaso, que com as desditas foi escrito
E se a fito, ainda o sinto no pensamento
Atroa, n'alma um pávido e nuvioso grito
Titilando dores em um amofino violento
Arremessando os anseios para o infinito
Tal o choro do cerrado aflado pelo vento
Clemente lua, que o meu azar sentiste!
No firmamento confessei o meu pranto
Enfardado pelas nuvens transparentes
E no meu peito, uma solidão tão triste
Onde o poetar a soluçar em um canto
Escorre silenciosas lágrimas ardentes
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
30 de julho de 2019
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
VELHAS LAMURIAS
Secura. Que tristura lá fora! Tristura!
Embrusca-se o cerrado, os olhares
Craqueleja. Árida a aquosa candura
Nos seus velhos e eternos pesares...
Sinto o que a terra sente, desventura
A mágoa que diviso, nos reles azares
O inverno. Frio e queimado, mistura
Fulgurando o cinza, anuviando os ares
Ah! Porque ordenaste este tal fado
Fazendo de minha alma tua criada
Ouvinte, ouviste os prantos, cerrado!
Meus e teus, na sequidão embaralhada
Tem pena de mim, deste pesar mirrado
E as velhas lamurias por mim poetada!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
04/09/2019
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
SONETO COM CHARME
Moço, se no tempo, velho eu não fosse
Onde a dor da saudade a apoderar-me
As recordações a virarem um tal carme
E a lentidão em mim se tornarem posse
Ah! Aquelas vontades já me são adarme
O que outrora me era tão suave e doce
Num gosto acre o meu olhar tornou-se
O espelho, um revérbero, a desolar-me
O meu espírito a tudo acha tão precoce
Já o corpo, cansado, soa em um alarme
Na indagação a juventude que o endosse
Da utopia ao caos dum tão triste arme
Envelhecer, como se não fosse atroce
Então, vetusto, tenhas arrojo e charme!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2016, 18 de novembro
Cerrado goiano
Saudades de vivenciar aquele momento,
De ver aquela pessoa querida,
De sentir aquele aprazível sentimento
que faz diferença pra vida,
Uma ambígua sensação
entre o Lamento e a Gratidão
por algo que nos deu
uma tamanha satisfação.
Ela é muito admirada,
Sabe chamar atenção,
Por muitos, é invejada,
Sua falta traz decepção
Tem o seu valor,
mas com a pessoa errada
pode causar alguma dor
se for subestimada,
Então, melhor tratar a Beleza
com o devido respeito
e sem superestimá-la
pra que não se torne
uma ameaça
causando vários lamentos.
Chuva que invade a madrugada
e dispersa meus pensamentos
deixando minha mente agitada
com dádivas e lamentos.
Normalmente, a expressão "amor de verão" remete a algo temporário,
impulsionado pelo o calor da emoção,
todavia, quiçá, possa referir-se também
a um amor verdadeiro, acalorado,
repleto de uma euforia
que aquece o corpo e alma,
que não se encontra facilmente,
somente numa estação exata,
então, a partir do momento
que é encontrando,
deve ser tratado com o devido esmero,
senão, desprezado, irá embora
sem ao menos um beijo de despedida
e restará apenas o lamento
por ter ignorado o agora,
por ter sido tão desatento
até que um dia se repita
este raro evento.
O tempo é precioso
e há vários momentos incríveis aguardando pra serem desfrutados, mas é preciso ficarmos atentos,
cientes de que nunca estaremos
cem por cento preparados
pra que assim, possamos evitar
o lamento por não termos aproveitado.