Poemas Sylvia Plath

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Talvez quando nos encontramos querendo tudo, é porque estamos perigosamente perto de não querer nada.

Um pontinho no meu corpo ouvia o chamado e voava em sua direção. Senti meus pulmões inflarem, invadidos pelos elementos da paisagem: ar, montanhas, árvores, pessoas. Pensei comigo: “ser feliz é isso”.

Não teria feito a menor diferença se ela tivesse me dado uma passagem para a Europa ou um cruzeiro ao redor do mundo, porque onde quer que eu estivesse – fosse o convés de um navio, um café parisiense ou Bangcoc –, estaria sempre sob a mesma redoma de vidro, sendo lentamente cozida em meu próprio ar viciado.

Como precisamos de uma outra alma para nos agarrar, um outro corpo para nos manter aquecidos. Para descansar e confiar; para dar sua alma com fé. Eu preciso disso, eu preciso de alguém onde me derramar.

Respirei fundo e escutei o velho e orgulhoso som do meu coração. Eu sou, eu sou, eu sou.

Devo conseguir que você devolva a minha alma; Estou matando a minha carne sem ela.

Não posso ser todas as pessoas que quero e viver todas as vidas que quero. Não posso desenvolver em mim todas as aptidões que quero. E por que eu quero? Quero viver e sentir as nuances, os tons e as variações das experiências físicas e mentais possíveis de minha existência.

Sylvia Plath
Os diários de Sylvia Plath: 1950-1962. São Paulo: Biblioteca Azul, 2017.

É um daqueles dias que você tenta descrever, mas nunca consegue. Tem algo de cheiro de roupa lavada; de grama secando depois da chuva; tem algo do brilho quadriculado da luz do sol no pasto; do gosto fresco das folhas de hortelã na língua...

Sylvia Plath
Johnny Panic e a Bíblia de Sonhos e outros textos em prosa. São Paulo: Biblioteca Azul, 2020.

Nota: Trecho do conto Um dia de junho.

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⁠O silêncio me deprimia. Não era o silêncio do silêncio. Era o meu próprio silêncio.

Sylvia Plath
A redoma de vidro. São Paulo: Biblioteca azul, 2014.

Escorre pelo muro
E eu
Sou a flecha,

Orvalho que avança,
Suicida, e de uma vez se lança
Contra o olho

Vermelho, fornalha da manhã.

Sylvia Plath
Poemas. São Paulo: Iluminuras, 2007.

Nota: Trecho do poema "Ariel".

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⁠Espelho

Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo no mesmo momento
Do jeito que é, sem manchas de amor ou desprezo.
Não sou cruel, apenas verdadeiro —
O olho de um pequeno deus, com quatro cantos.
O tempo todo medito do outro lado da parede.
Cor-de-rosa, malhada. Há tanto tempo olho para ele
Que acho que faz parte do meu coração. Mas ele falha.
Escuridão e faces nos separam mais e mais.
Sou um lago, agora. Uma mulher se debruça sobre mim,
Buscando em minhas margens sua imagem verdadeira.
Então olha aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e a reflito fielmente.
Me retribui com lágrimas e acenos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã seu rosto repõe a escuridão.
Ela afogou uma menina em mim, e em mim uma velha
Emerge em sua direção, dia a dia, como um peixe terrível.

Sylvia Plath
Poems Chosen by Carol Ann Duffy (2012).
Inserida por marcosarmuzel

Tenho escolha: fugir da vida e me desgraçar para sempre, pois não posso ser perfeita de cara, sem dor e fracasso, ou enfrentar a vida em meus próprios termos e "fazer o melhor possível".

Sylvia Plath
Os diários de Sylvia Plath: 1950 – 1962. São Paulo: Globo, 2004.

Chega de me encolher, gemer, resmungar: a gente se acostuma com a dor. Isso machuca. Não ser perfeita machuca. Ter de me preocupar com trabalho para comer e ter uma casa dói. Grande coisa. Estava mais do que na hora. Este é o mês que encerra um quarto de século para mim, vivido sob a mesma sombra do medo: medo de que não chegarei à perfeição idealizada: sempre lutei, lutei e venci, sem perfeição, com a aceitação de mim mesma como alguém que tem o direito de viver em meus próprios termos humanos e falhos.

Sylvia Plath
Os diários de Sylvia Plath: 1950 – 1962. São Paulo: Biblioteca Azul, 2017.

Minha vida, sinto, não será vivida até que haja livros e histórias que a revivam perpetuamente no tempo.

Sylvia Plath
Os diários de Sylvia Plath: 1950 – 1962. São Paulo: Biblioteca Azul, 2017.

Quanto ao livre-arbítrio, resta ao ser humano uma fresta tão estreita dele para se movimentar, esmagado que é desde o nascimento pelo ambiente, hereditariedade, época, local e convenção social.

Sylvia Plath
Os diários de Sylvia Plath: 1950 – 1962. São Paulo: Biblioteca Azul, 2017.

Odeio dar dinheiro para as pessoas fazerem o que eu poderia estar fazendo com facilidade. Me deixa nervosa.⁠

Sylvia Plath
A redoma de vidro. São Paulo: Biblioteca Azul, 2019.

É uma grande responsabilidade ser você mesmo. É muito mais fácil ser outra pessoa ou não ser ninguém.

⁠Vá lá fora e faça algo, não é o seu quarto que te aprisiona, é você mesmo.

Me sentia muito calma e muito vazia, do jeito que o olho de um tornado deve se sentir, movendo-se pacatamente em meio ao turbilhão que o rodeia.

Sylvia Plath
A redoma de vidro. São Paulo: Biblioteca azul, 2014.

⁠Acho que meus poemas surgem imediatamente das experiências sensoriais e emocionais que vivencio, mas devo dizer que não consigo me identificar com esses gritos do coração que são inspirados apenas por uma agulha, uma faca, ou qualquer outra coisa semelhante.

Inserida por Dromedariono