Poemas que Falam de Verdade
PAIÓIS SOCIAIS
Relações de cristal, de melindres e manhas;
de verdades veladas, envoltas em véus;
laços tenros e tensos, fitas de crepom
que desbotam; que rasgam sem grandes razões...
Gente "fina" demais, uns gravetos de afetos
quebradiços e secos; de fácil fogueira;
um verniz, entretanto, forjando a fachada
de pessoas "aí pro que der e vier"...
A palavra sincera estilhaça o cristal;
a franqueza é uma força que rasga o papel;
retalhar esses véus é pra qualquer navalha...
Confrarias doentes, irmandades pardas,
mas cobertas de fardas, fardões e glamur;
de penachos, pendões e narinas pro céu...
DEPOIS DO DEPOIS
Cada um tem verdades próprias e as defende com vigor. No entanto, as minhas verdades podem não ser verdades aos teus olhos; aos teus conceitos. À tua maneira de observar a vida; o entorno.
Somos todos iguais, nessa total diferença que harmoniza o mundo. São exatamente as nossas desigualdades que nos tornam completos. Um corpo se faz de membros e órgãos, cada um tem funções definidas, mas todos se apresentam no mesmo invólucro... São o corpo, tanto quanto somos o mundo. Se já tivéssemos entendido este lugar-comum, que tantos dirão do que digo, a humanidade já seria bem melhor.
As disfunções deste corpo insistem, porque muitos não entendem que formamos um quebra-cabeça cujas peças resistem ao encaixe. Pessoas arrogantes, mas que se julgam sábias, enfaixam seus prismas, ditam seus padrões e querem que todos as obedeçam incondicionalmente, para que o planeta seja o que apenas elas querem. São os ditos poderosos, mas que não poderiam nada contra o todo, se o todo - que somos nós - reagisse contra o domínio; a supremacia de alguns.
Precisamos enxergar que as nossas vidas desaguam na mesma existência. Nossos passos nos levam ao mesmo desconhecido e ninguém - exatamente ninguém - sabe o que mora depois do depois. Além das nossas razões, existem aquelas que nos rodeiam. De pessoas que seguem ao nosso lado e também enxergam por esses olhos de ler a realidade; o significado provável de cada momento vivenciado.
Um recado aos arrogantes: Pode ser que no tal desconhecido esteja exatamente a promissória que lhes cobrará o preço extorsivo das razões e dos direitos alheios que os senhores usurpam.
Até lá!
RETENTATIVA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
De repente o pente fino
das verdades do destino
me pegou; nem deu aviso...
Os meus olhos vertem soro,
solidão aplica o choro
que desfaz qualquer sorriso...
Tudo está chegando ao sim
do seu não; do nosso fim;
da constatação do nada...
Mas ainda nos proponho
acordar o velho sonho;
retomar a mesma estrada...
Pela força deste humor,
tento estar de bom amor
e retento ser feliz...
Não pretendo virar longe,
pois não quero ficar monge
da mulher que sempre quis...
O QUE NÃO VIVO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Levo sonhos dobrados, verdades contidas,
uma fila de vidas que nunca tomei,
tenho sombras que tenho que desafiar
e voar para longe do porto seguro...
Guardo minhas verdades na funda poesia
de apostar na passagem morosa dos anos,
crer no dia de tudo e recolher as asas
como velha desculpa de quem teme o vento...
Há um céu em redor do meu vasto silêncio;
tenho tanto a saber e mantenho este andor,
para não se quebrar o que há muito caiu...
Minha dor é sentir que o que dói já nem dói,
porque já me acomodo entre nada fazer
e viver desta sobra do que não vivi...
VERDADES MENTIDAS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Eram tantas as vindas,
tantos aindas,
depois nunca mais...
Foram muitos te amo,
juro por deus,
de repente adeus;
verdades mentidas...
Neste canto esquecido,
sou todo partido
por partidas...
RESOLVIDO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Inventei as verdades que a quimera quis,
tive todos os sonhos que as verdades deram,
fui feliz do meu jeito sem jeito e sentido
para quem ser feliz é ter sempre a comprar...
Amei muito, sofri, fui amado, não fui,
mas amei essa honra de poder sentir,
desmentir a mim mesmo pra mentir de novo,
recobrar esperanças tantas vezes mortas...
Tive tempo de ser tanto ser em um só,
sem jamais abrir mão de quem fui realmente,
alma e pó, flor, semente, refruto contínuo...
Vi luares, manhãs, madruguei vendo estrelas,
trabalhei pra viver e preservar meu ócio,
fui um sócio da vida e parti resolvido...
VERDADES OPOSTAS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
De repente não sei despir meus olhos
dos teus olhos, teu riso, tua estampa,
tudo acampa no bosque da saudade
que brotou em meus campos afetivos...
Tua voz acompanha meu silêncio
e me faz esquecer os sons externos,
meus eternos motivos de sonhar
se renderam à tua novidade...
Não há pressa em saber se já te amo,
pode ser um sussurro de carência
ou daquelas paixões de meninice...
Mas a minha verdade não é tua;
minha lua não cabe no teu mar;
o que sinto é só meu, de mais ninguém...
REVISÃO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Levo a vida que trago para dentro
a morrer de verdades que não são;
coração que se fecha pra se abrir
onde o chão quase falta sob os pés...
É assim que defendo a minha cara
de quem sei que preciso mesmo ser,
pra fazer o sentido que não faz
o que faz o sentido que me assusta...
Quero ser sem forçar identidade,
pois preciso poupar meu sentimento
da saudade de alguém que jamais fui...
As verdades que minto pra viver
são mentiras que tenho pra provar
e rever as certezas do talvez...
NÃO NOS DEIXEMOS
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Temos nossas verdades tão só nossas,
que se regem alheias às alheias;
os castelos, areias, ventanias,
as vontades que sempre vão e vêm...
Nada vai arrancar os nossos eus,
construir outros mundos para nós,
dar a voz que nos falta nos conflitos,
empurrar outro Deus em nossa fé...
Não deixemos a vida nos levar
pelas asas impostas ao redor;
pelo ar que os pulmões não reconhecem...
Se nos falta quem somos nada resta,
somos festa pros nossos predadores
e ninguém restitui a identidade...
SABEDORES E SÁBIOS
Demétrio Sena - Magé
Sei que minhas verdades podem ser quebráveis,
Pode ser que as certezas tenham pontos fracos,
perderei muitos cacos do que sempre soube,
quando a vida cair sobre minha soberba...
O que sei do que leio não me salvará;
nada sei nos entulhos das coisas que sei,
pois a lei do saber favorece os humildes;
distribui alvará pros que menos ostentam...
É preciso aprender com quem vive do pouco;
pouco ter, pouco ler e pouco impressionar
e seguir apesar do quanto pesa o mundo...
Sabedores e sábios têm que dar as mãos,
a cultura não vive sem agricultura
nem há sins onde os nãos nunca tenham reinado...
DÍVIDA DA DÁDIVA DA VIDA
Demétrio Sena - Magé
Há verdades ferinas, que temos que ouvir;
tem cenários sombrios que temos que ver;
muitas fases passadas estão no porvir,
para quem as despreza durante o viver...
Aprendemos à força o que há por saber,
quando já desejamos mais nada sentir,
e caímos de nós, de tanto não caber
o que tudo nos faz contornar e mentir...
A idade conduz à prestação de contas;
nosso tempo não fecha sem juntar as pontas
pra cobrar por excessos e faltas na saga...
É por isso que as pausas, as reflexões
muitas vezes atuam como prestações
ou ideias de como se amortiza e paga...
...
Respeite autorias. É lei
Queremos falar nossas verdades, mas não aceitamos ouvir as verdades dos outros.
Queremos que aceitem nossos defeitos, mas não aceitamos os defeitos dos outros.
Queremos que engulam nossos "sapos", mas não engolimos os "sapos" dos outros.
Na roda da fala, a fofoca se entrelaça,
desloca verdades, provoca desgraças, sufoca a alma, num mar de desdém, um veneno dissimulado, que envenena além.
Palavras que correm, sem freio ou razão, espalham-se feito fogo, sem direção, machucam corações, destroem laços, erguem muralhas, em rostos sem abraços.
No eco da fofoca, a confiança se quebra, onde amizades naufragam, a alma se debulha. É uma teia tecida, de traição e engano, que envenena a mente e enche o coração de dano.
Então, que sejamos guardiões da verdade, que nossas palavras sejam luz, não maldade, para que no jardim da vida floresça a união. E a fofoca seja apenas uma sombra, sem função.
NOSSAS VERDADES:
É assim, sempre assim
Seja carnaval ou natal
Nossa vida um imutável
Baile de fantasias em que
Fantasiamos nossos fantasmas
Nossas paixões sem primazia
Sempre assim...
Seja carnaval seja à homilia!
Os sonhos que penso tenho
Perdem-se em fantasias
E enquanto vestimos-as ...
Calçamos meias alegrias.
E o rosto que veste a máscara
É o fosso que verte a massa
Numa odisseia de hipocrisia.
Estou no escuro do meu quarto
Não temo minhas palavras
São verdades mantidas
Sentido mais puro invertido
Simples prepóstero
Elas são escritas
Mas eu não vejo o porquê.
"O genuíno idiota só consegue ter certezas coletivas.
As suas verdades são de caráter numérico, razão pela qual sente-se psicologicamente confortável apenas no rebanho a que adere.
O idiota sempre eleva a opinião da maioria ao plano das verdades intocáveis, daí ser pessoa incapaz de real diálogo e grandemente intolerante para com as objeções ou o convívio com os desiguais. Ele conduz qualquer discussão a uma infernal mistura de premissas e assuntos diversos, que reunidos compõem uma massa amorfa e avassaladora à qual é impossível responder detidamente.
O idiota é o homem-massa que idolatra a si mesmo ao querer pasteurizar tudo e todos à sua imagem e semelhança.
Qualquer certeza — por fundamentada que seja — proclamada por alguém de fora de seu grupo é tida pelo idiota como pretensão desmedida, a ser escarnecida de todas as formas.
O espírito de grupo do idiota é a prova material de sua incapacidade de elevar-se ao nível das certezas teoréticas, fruto de reflexões continuadas e paciente estudo. Seu ódio à excelência costuma esconder-se por trás das bandeiras "democráticas" com que tem a sensação vertiginosa do heroísmo e da superioridade moral e intelectual sobre os adversários.
Opinar contrariamente às evidências é prática comum do idiota, razão pela qual o melhor que uma pessoa de bom senso deve fazer é não prosseguir jamais na discussão com ele.
Seria idiotice imperdoável.
O idiota é a prova cabal do mistério que há entre o céu e a terra".
Meias-verdades e mentiras é um estilo decadente
de relacionamento para quem não se importa com
a cooperação e os interesses dos outros.
Diz a 'filosofia do espírito'
existirem profundas e impetuosas verdades
por serem reveladas e compreendidas
sobre nós... E por nós!
Assim como, dolosos absurdos e inverdades
por serem escancarados e varridos
de nossas mentes
e destino!