Poemas de Paul Valéry
A tática arruina a estratégia; a batalha que se ganhara harmoniosamente no papel perde-se em pequenas coisas no terreno.
Sendo a moda a imitação de quem pretende dar nas vistas àqueles que não o desejam, resulta daqui que ela muda automaticamente. Mas os comerciantes acertam esse relógio.
A fortuna aumenta a vida, na medida em que aumenta a possibilidade, que é a própria vida sentida. A vida é a conservação do possível.
Os pequenos fatos inexplicados contêm sempre algo com que deitar abaixo todas as explicações dos grandes fatos.
Muitas vezes as objeções nascem do simples fato de que aqueles que as fazem não são os mesmos que tiveram a ideia que estão a atacar.
Tenho contra mim as pessoas dotadas de opiniões – quer dizer, as pessoas que se confundem com as opiniões que lhes ocorrem; as pessoas dotadas de convicções e fés.
Mas eu me distingo das minhas, e isso é quase o que me define. Sou aquele que não é / não sou / o que lhe ocorre.
Sou como uma pessoa honesta, visto nunca ter sido assassinado, roubado, violado, a não ser em imaginação. Não seria honesto sem estes crimes.
É um grande erro especularmos acerca da tolice dos tolos e um erro ainda maior fiarmo-nos na inteligência dos inteligentes. Eles afastam-se uma vez por dia da sua natureza.
Todos os homens sabem uma quantidade prodigiosa de coisas que ignoram saber. Sabermos tudo quanto sabemos? Essa simples investigação esgota a filosofia.
Enquanto para o verdadeiro filósofo aquilo que é constitui o limite a atingir e o objectivo a alcançar na meta das excursões e das operações do espírito, para o artista o âmbito é o do possível e ele transforma-se no agente do que vier a ser.
Do que adianta você ter essa alma colada aos ossos dessa carne errada?
Sem o risco a vida não vale a pena. Se você não quiser arriscar, não comece. Isso quer dizer: e se você arriscar e perder namorada, esposa, filhos, emprego, a cabeça e até a alma? Mas é sempre melhor isso, do que olhar para todas essas outras pessoas que nunca acertam, porque nunca se propõem ao risco.
Sei que há um prazer violento que se chama gozar. Adivinhei-o noutros tempos, num momento de embriaguez...é quando a alma se conhece a si própria.
A Filosofia não consistiria afinal em fingir ignorar o que se sabe e saber o que se ignora? Ela duvida da existência, mas fala seriamente do ‘Universo’. (‘O Homem e a Concha’)