Poemas para a Pessoa Amada
A vida, para mim, é uma sonolência que não chega ao cérebro. Esse conservo eu livre para que nele possa ser triste.
(Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa)
“Diziam os argonautas que navegar é preciso, mas que viver não é preciso. Argonautas, nós, da sensibilidade doentia, digamos que sentir é preciso, mas que não é preciso viver”.
(do livro em PDF: Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares)
Há tantos deuses!
“Há tantos deuses!
São como os livros — não se pode ler tudo, nunca se sabe nada.
Feliz quem conhece só um deus, e o guarda em segredo.
Tenho todos os dias crenças diferentes”...
( Álvaro de Campos [Heterônimo de Fernando Pessoa], (escrito em 9.3.1930), In Poesia, Assírio e Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002. (trecho))
O conflito que nos queima a alma, deu-o Antero mais que outro poeta, porque tinha a igual altura do sentimento e da inteligência. É o conflito entre a necessidade emotiva da crença e a impossibilidade intelectual de crer.
Barão de Teive
(do livro em PDF: Fernando Pessoa AFORISMOS E AFINS)
Desceu sobre nós a mais profunda e a mais mortal das secas dos séculos — a do conhecimento íntimo da vacuidade de todos os esforços e da vaidade de todos os propósitos. Barão de Teive
(do livro em PDF: Aforismo e afins)
Realidade
"A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios..."
Eu não aprendi a ser fria
Sério, aprendi mesmo não
Mesmo em meio a atitudes hostis
E ferida pela indiferença
Não aprendi a arte da frieza
Livre estou, livre estou
Mas meu coração é fogo
E meu signo é de água salgada
No líquido que brota dos olhos
Nas ondas que pulo no mar
Não apreenderei a ser fria
Pois vale a pena se aventurar
Por novas histórias de vida
Em vidas que não irei mudar
Só contemplar, pois há tanta força
Tanta beleza, que afogo as tristezas
Que esqueço as mentiras
E torno a acreditar
Mas como tudo tem limites
Nem venha com novos palpites
Tenho fé nas palavras
Que vem de outras bocas
Que falam mais e melhor que você.
Poetizar:
Ato de transborda-se;
Ato de transforma-se;
Em versos diversos
E de versos em versos
Mostrar-se sem obrigação
A mais pura libertação
Para mim você não é rei
Nem réu
Meu julgamento acabou
Para mim você é lembrança
E como ando desmemoriada
Querido, lamento
Mas não és mais nada.
A vida só melhora quando
Cremos que pode melhorar
Caso contrário
Afogamos o sentir
Escondemos o amar
Corro, corro, corro
Com a perna já doída
Paro arrependida
Não posso voar
Meu corpo me limita
E a alma aqui fica
Querendo ir ao ar
Ter um lar pra chegar
Bênção que limita
Um espelho que me imita
E não tenho por onde andar
Ainda tem o Estado
Que não ver o meu estado
Quer em tudo me cobrar
E não tenta fazer essa venda
Que limita-me a renda
Não tenho como comprar
Então amigo
Você sendo secreto
Ou sendo explícito
Pensa comigo
Também vais me limitar?
Dá licença que eu vou passar
Que essa tranquilidade que eu tenho na minha alma
E a essa paz que eu trago no meu silencio
Que essa diversão que eu trago em minha mente
E essa alegria que eu trago no meu ser
Que esse ritmo bagunçado de ser ver
E essa vontade de dançar lentamente com você
Te vejo em meus braços
Dessa imaginação tão boa eu trago a pureza
de uma vida simples que eu quero levar pra todo sempre com você.
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
"O campo é onde não estamos. Ali, só ali, há sombras verdadeiras e verdadeiro arvoredo". Bernardo Soares
(Em Aforismos e afins - de Fernando Pessoa)
We torture our brother men with hate, spite, evil, and then say “the world is bad”.
Torturamos os nossos irmãos homens com o ódio, o rancor, a maldade e depois dizemos «o mundo é mau».
(Aforismos e afins)
Can anything be filthier, dirtier than a pig?
If you speak of external things, no.
Pode alguma coisa ser mais imunda, mais suja do que um porco? Se estivermos a falar de coisas externas, não.
(Aforismos e afins)
Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.
DOBRE
Peguei no meu coração
E pu-lo na minha mão
Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.
Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;
Com a alma só comovida
Do sonho e pouco da vida.
Fernando Pessoa, 1913
Quadras
Morto hei de estar ao teu lado
sem o sentir nem saber
mesmo assim isso me basta
para ver um bem em morrer
Quando passo o dia inteiro
sem ver o meu amorzinho
corre um frio de janeiro
no junho do meu carinho
Teus olhos tristes parados
coisa nenhuma a fitar
ah meu amor,meu amor
se eu fora nenhum lugar
Adivinhei o que pensas
só por saber que não era
qualquer das coisas imensas
que a minha alma de ti espera
Vai alta a nuvem que passa
vai alto meu pensamento
que é escravo da tua alma]
como a lua o é do vento
Ambos á beira do poço
achamos que é muito fundo
deita-se a pedra e o que ouço
teu olhar que é meu mundo
todas as coisas que dizem
afinal não são verdades
mas se nos fazem felizes
isso é felicidade