Poemas Ótimos para serem Recitados
Tenho Ainda...
Tenho ainda metade de uma taça
da nossa última conversa: o vinho
que vai tecendo e modelando o ninho
de um sonhar lá num tempo que não passa...
Sim: tesouro que o tempo nem a traça
hão de comer: guardado num cantinho
em alma-coração, lá no escaninho
de uma lembrança de alegria e graça.
Tenho ainda metade de uma taça
daquela madrugada em plena praça
em que tu musicavas um jardim...
Tenho ainda metade de uma taça
dos momentos de um sonho que, se passa, —
há de passar sem conhecer um fim.
LA
É impossível ao homem ser sozinho,
tal sentimento é enfermidade
de quem não sabe diluir-se
e transpassar
a permitir integração.
A vida é um grande brinquedo
que foi dado a nós crianças.
O brincar desse brinquedo
são as nossas esperanças.
LA
Uma tarde ela me flechou
com aquele olhar
e sorriso de Mona Lisa...
Não deu outra —
amassamos a grama
do seu jardinzinho.
LA
Madrugadinha Nina me ligava...
eu voava e caía entre ela...
e a gente rachava lenha
até domingo ficar rindo,
ficar rindo como Buda...
LA
Você percebe que ficou velho
quando a moça bonita ao lado,
no consultório, no metrô...
se levanta... e com um sorriso,
um sorriso de matar —
lhe oferece o lugar.
LA
Sexta à noite ela me disse
que não mais me admirava... não mais me amava...
Daí a uma hora veio —
foi um frege danado...
Perguntei-lhe por que me havia dito aquilo,
disse que era pra incendiar os afazeres...
LA
Quando bebo algum líquido
já me lembro de Baumann...
e aproveitando a lembrança,
bebo mais meio copo.
LA
Felicidade é estar onde você queria estar, viver o que você queria viver e ter ao seu lado quem você escolheu estar.
Felicidade é uma escolha, nós decidimos e isso não depende do quanto e nem do que você tem, pois está dentro de você e nada que vem de fora pode mudar isso, mas somente acrescentar, porque a felicidade é e sempre será uma responsabilidade única e exclusivamente sua.
Então aproveitei o dia e faça essa escolha e vera que sua vida nunca mais será a mesma.
Você
Você é musa, é nume, enlevo,
é sentimento aberto em flor,
é pensamento em que me elevo.
Você é mar em que navego,
você é sorriso interior,
você é porto a que me chego.
Você é regato em luz e graça —
que flui, reflui mas que não passa.
LA
Débora
Quando garoto lambuzei
meu corpo e alma no teu mel —
me lambuzei qual nenhum rei.
Eras bem mais experiente
e me levavas ao teu céu
com uma carícia de nubente.
Foi tanto mel, mas tanto mel,
que ao me picares nem doeu.
LA
Uma Ternura...
Uma ternura ainda menina
a lhe brotar do corpo esguio —
leveza em haste de bonina.
Passou-lhe o tempo, ela ficou —
qual as atuais águas do rio —
do rio que passa-e-não–passou.
Há nela um brilho: uma beleza
maior que o tempo e a natureza.
LA
Quero Imitar...
Quero imitar em áureo verso
suas sandálias a cantar,
cantarolar em tom diverso —
saltos que falam, falam alto
pelas calçadas par a par —
saltos em dueto salto a salto.
Faça-as cantar, menina, estale-as,
faça cantar suas sandálias.
LA
Eu Te Faria...
Eu te faria um belo poema
se já não fosses a poesia
que me acompanha em vário tema.
Para te achares nos meus versos,
vai pela trilha da alegria
e te verás em tons diversos.
Ah! Toma, escuta esta canção,
nela ouvirás um coração.
LA
Foram Vindimas...
Foram vindimas e vindimas
quando eu andava em tua vinha
em outros sóis, em outros climas.
Depois nascemos numa ilha...
e o nosso barco ia e vinha
até quebrar a sua quilha.
Hoje, aqui estamos, minha nega,
e o nosso amor nos basta, e chega.
LA
O que Deixei...
O que deixei lá para trás
já não me serve de lembrar,
no caminhar não cabe mais.
O que deixei era bobeira,
precisei dela me livrar —
velho telhado dá goteira.
Todo passado tem arestas,
mas o hoje tem as suas festas.
LA
Rascunho
Eu não terminarei de escrever,
deixo algumas linhas soltas
como me pedem para ser.
Nestes espaços tenho palavras ditas,
jamais seriam tão bonitas,
engolidas pelo que não dirão.
Caso eu deixe acabar,
talvez você possa me pensar
como sombra sem tensão.
Mas quando embriago a paixão,
vidrado e atado
te vivo do chão.
Nove
A vida é o tudo-nada
somado ao nada-tudo
de um saber escalonado
— sempre inalcançável —
em patamares de consciência
em plurigamas
de multiversos infinitos —
sempre inalcançáveis
em que a vida é sempre mais que a vida.
LA