Poemas Irônicos Mario Quintana

Cerca de 507 poemas Irônicos Mario Quintana

A ignorância rasa e simples é coisa honesta e conserva desanuviado o entendimento.

⁠A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa.

Não pretendo que a poesia seja um antídoto para a tecnocracia atual. Mas sim um alívio. Como quem se livra de vez em quando de um sapato apertado e passeia descalço sobre a relva, ficando assim mais próximo da natureza, mais por dentro da vida. Porque as máquinas um dia viram sucata. A poesia, nunca.

Mario Quintana
De uma entrevista para o boletim do IBNA. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
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A tarde é uma tartaruga com o casco pardacento de poeira, a arrastar-se interminavelmente. Os ponteiros estão esperando por ela. Eu só queria saber quem foi que disse que a vida é curta...

Mario Quintana
Verão. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

Mas se a vida é tão curta como dizes
por que é que me estás lendo até agora?

Mario Quintana
A vida. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

As religiões cresceram entre os humildes porque aqueles que estavam por cima já se julgavam no paraíso.

Mario Quintana
Paraísos. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

Velhice é quando um dia as moças começam a nos tratar com respeito e os rapazes sem respeito nenhum.

Mario Quintana
A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

Há dois sinais de envelhecimento. O primeiro é desprezar os jovens. O outro é quando a gente começa a adulá-los.

Mario Quintana
Cautela!. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

Deve ser o fio de vida que vai unindo, pedaço a pedaço, essa colcha de retalhos que é a história do mundo.

Mario Quintana
A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

Só o poeta é que tem de lidar com a ingrata linguagem alheia...
A impura linguagem dos homens!

Mario Quintana
Apontamentos de história sobrenatural. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

Nota: Trecho do poema Bem-aventurados.

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O mais espantoso nos velhos é a sua falta de pressa, como se eles dispusessem de todo o tempo que teriam os moços se não tivessem tanta pressa.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

O que eles chamam de nossos defeitos é o que nós temos de diferente deles. Cultivemo-los pois, com o maior carinho – esses nossos benditos defeitos.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
Inserida por cynthiamontenegro

Eles ergueram a Torre de Babel para escalar o Céu. Mas Deus não estava lá! Estava ali mesmo, entre eles, ajudando a construir a torre.

Mario Quintana
A construção. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
Inserida por jorge_henrique_elias

O homem é um bicho que arreganha os dentes sem necessidade, isto é, quando nos sorri.

Mario Quintana
História natural. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
Inserida por pensador

Se alguém acha que estás escrevendo muito bem, desconfia… O crime perfeito não deixa vestígios.

Mario Quintana
Do estilo. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
Inserida por pensador

Todo poema é uma aproximação. A sua incompletude é que o aproxima da inquietação do leitor. Este não quer que lhe provem coisa alguma. Está farto de soluções.

Mario Quintana
A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
Inserida por pensador

Tenho uma enorme pena dos homens famosos, que por isso mesmo perderam sua vida íntima e são como esses animais do Zoológico, que fazem tudo à vista do público.

Mario Quintana
Degradação. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
Inserida por pensador

Vivemos conjugando o tempo passado (saudade, para os românticos) e o tempo futuro (esperança, para os idealistas). Uma gangorra, como vês, cheia de altos e baixos – uma gangorra emocional. Isto acaba fundindo a cuca de poetas e sábios e maluquecendo de vez o Homo sapiens. Mais felizes os animais, que, na sua gramática imediata, apenas lhes sobra um tempo: o presente do indicativo. E que nem dá tempo para suspiros...

Mario Quintana
Gramática da felicidade. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
Inserida por pensador

Não tentes tirar uma ideia da cabeça de outrem porque, examinando bem, verás que em geral não se trata de ideias, mas de convicções. São inextirpáveis. E a causa única de todas as guerras – políticas ou religiosas, paroquianas ou internacionais.

Mario Quintana
Diagnóstico errado. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
Inserida por pensador

⁠Para mim o poeta não é essa espécie saltitante que chamam de Relações Públicas. O poeta é Relações íntimas. Dele com o leitor.

Mario Quintana
Steen, Edla van. Viver e escrever. v. 1. Porto Alegre: L&PM, 2008.
Inserida por pensador