Poemas inteligentes

⁠Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

Inserida por Setima7Lua

⁠É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Inserida por Setima7Lua

⁠Mais do que outras artes, são a Literatura e a música propícias às subtilesas de um psicólogo. As figuras de romance são - como todos sabem - tão reais como qualquer de nós. Certos aspectos de som tem uma alma alada e rápida, mas suscetíveis de psicologia e Sociologia porque - bom é que os ignorantes o saibam - as sociedades existem dentro das cores, dos sons, das frases, e há regimes e revoluções, reinados, políticas e - há-os em absoluto e sem metafísica - no conjunto instrumental de sinfonias, no todo organizado das novelas, nos metros quadrados de um quadro complexo, onde gozam, sofrem e misturam as atitudes coloridas de guerreiros, de amorosos ou de simbólicos.
Quando se quebra uma chávena da minha coleção japonesa, eu sonho que mais do que um descuido das mãos de uma criada tenha sido a causa, ou tenham estado os anseios das figuras que habitam as curvas daquela de louça; a resolução tenebrosa de suicídio que as tomou não se causa espanto: serviram-se da criada, como um de nós de um revólver. Saber Isto é estar além da ciência moderna, e com que precisão eu sei disso.

Diário de Bernardo Soares - pag. 341

Fernando Pessoa - Livro do desassossego

Inserida por ana_nenduziak

⁠Esta minha estatuazinha de gesso, quando nova
— O gesso muito branco, as linhas muito puras —
Mal sugeria imagem de vida
(Embora a figura chorasse).
Há muitos anos tenho-a comigo.
O tempo envelheceu-a, carcomeu-a, manchou-a de pátina amarelo-suja.
Os meus olhos, de tanto a olharem,
Impregnaram-na da minha humanidade irônica de tísico.
Um dia mão estúpida
Inadvertidamente a derrubou e partiu.
Então ajoelhei com raiva, recolhi aqueles tristes fragmentos, recompus a figurinha que chorava.
E o tempo sobre as feridas escureceu ainda mais o sujo mordente da pátina...
Hoje este gessozinho comercial
É tocante e vive, e me fez agora refletir
Que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.

Inserida por iagonc

⁠Naquele tempo eu não sabia
Que viver pressupunha um fim
E que sempre haveria
Uma sombra olhando pra mim

Inserida por joaomayamarcelo

Se te sinto aqui no peito, tomara que nosso ar, também seja pelo tao, às curas dos rarefeitos.

Claudeth Camões

Inserida por ClaudethCamoes

O homem. Como o homem é simpático. Ainda bem. O homem é a nossa fonte de inspiração? É. O homem é o nosso desafio? É. O homem é o nosso inimigo? É. O homem é o nosso rival estimulante? É. O homem é o nosso igual ao mesmo tempo inteiramente diferente? É. O homem é bonito? É. O homem é engraçado? É. O homem é um menino? É. O homem também é um pai? É. Nós brigamos com o homem? Brigamos. Nós não podemos passar sem o homem com quem brigamos? Não. Nós somos interessantes porque o homem gosta de mulher interessante? Somos. O homem é a pessoa com quem temos o diálogo mais importante? É. O homem é um chato? Também. Nós gostamos de ser chateadas pelo homem? Gostamos.

Poderia continuar com esta lista interminável até meu diretor mandar parar. Mas acho que ninguém mais me mandaria parar. Pois penso que toquei num ponto nevrálgico. E, sendo um ponto nevrálgico, como o homem nos dói. E como a mulher dói no homem.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Amor imorredouro.

...Mais
Inserida por cileia

Lugares áridos...
Olhas a dintância e o relento, vê!
Súbita consciência em fazer-te azul...
Clareando pensamentos dos dias de teu sol.

Inserida por ClaudethCamoes

O milagre é a preguiça de Deus, ou, antes, a preguiça que Lhe atribuímos, inventando o milagre. Bernardo Soares

(extraído do livro em PDF: Aforismo e Afins)

Inserida por portalraizes

Tendo visto com que lucidez e coerência lógica certos loucos justificam, a si próprios e aos outros, as suas ideias delirantes, perdi para sempre a segura certeza da lucidez da minha lucidez. Bernardo Soares

(extraído do livro em PDF: Aforismo e Afins)

Inserida por portalraizes

“Pobres das flores dos canteiros dos jardins regulares.
Parecem ter medo da polícia...
Mas tão boas que florescem do mesmo modo”...

(trecho extraído do livro em PDF: Poemas de Alberto Caeiro)

Inserida por portalraizes

Quadras

Morto hei de estar ao teu lado
sem o sentir nem saber
mesmo assim isso me basta
para ver um bem em morrer

Quando passo o dia inteiro
sem ver o meu amorzinho
corre um frio de janeiro
no junho do meu carinho

Teus olhos tristes parados
coisa nenhuma a fitar
ah meu amor,meu amor
se eu fora nenhum lugar

Adivinhei o que pensas
só por saber que não era
qualquer das coisas imensas
que a minha alma de ti espera

Inserida por juanaigatu

Vai alta a nuvem que passa
vai alto meu pensamento
que é escravo da tua alma]
como a lua o é do vento

Ambos á beira do poço
achamos que é muito fundo
deita-se a pedra e o que ouço
teu olhar que é meu mundo

todas as coisas que dizem
afinal não são verdades
mas se nos fazem felizes
isso é felicidade

Inserida por juanaigatu

"Se era tão sedosa e perfumada
que tudo quanto houvera embriagasse,
É certo que era coisas de mulheres
e homens que a elas se entregassem".

Inserida por Claudia31

museu da inconfidência

São palavras no chão
e memória nos autos.
As casas inda restam,
os amores, mais não.

E restam poucas roupas,
sobrepeliz de pároco,
a vara de um juiz,
anjos, púrpuras, ecos.

Macia flor de olvido,
sem aroma governas
o tempo ingovernável.
Muros pranteiam. Só.

Toda história é remorso.

Carlos Drummond de Andrade
Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
Inserida por Doug83

⁠Nas salas da intelectualidade, minha alegria, também é o silêncio.

Claudeth Camões

Inserida por ClaudethCamoes

⁠A liberdade de um, é a consciência de outro, livre longe, em dos nos lás dos livros.

Claudeth Camões

Inserida por ClaudethCamoes

⁠Tal como os acusados têm direito a um julgamento justo, os cidadãos têm direito a um governo competente. Mas a democracia é, com frequência, o domínio do ignorante e do irracional, nunca atingindo os resultados esperados.
Numa democracia, todos devem submeter-se às decisões do governo. O fato de que o governo é eleito pela maioria, é irrelevante. Coerção é coerção, quer seja ela exercida pela maioria ou por um único governante.
Ao invés de procurarem respostas, as pessoas simplesmente assumiram que qualquer tipo de democracia está automaticamente credenciada como o melhor método de se conduzir "mudanças pacíficas" de governo.

Inserida por AsgardC

NASCER DE NOVO

Nascer: findou o sono das entranhas.
Surge o concreto,
a dor de formas repartidas.
Tão doce era viver
sem alma, no regaço
do cofre maternal, sombrio e cálido.
Agora,
na revelação frontal do dia,
a consciência do limite,
o nervo exposto dos problemas.
Sondamos, inquirimos
sem resposta:
Nada se ajusta, deste lado,
à placidez do outro?
É tudo guerra, dúvida
no exílio?
O incerto e suas lajes
criptográficas?
Viver é torturar-se, consumir-se
à míngua de qualquer razão de vida?

Eis que um segundo nascimento,
não adivinhado, sem anúncio,
resgata o sofrimento do primeiro,
e o tempo se redoura.
Amor, este é o seu nome.
Amor, a descoberta
de sentido no absurdo de existir.
O real veste nova realidade,
a linguagem encontra seu motivo
até mesmo nos lances de silêncio.
A explicação rompe das nuvens, das águas, das mais vagas circunstâncias:
Não sou eu, sou o Outro
que em mim procurava seu destino.
Em outro alguém estou nascendo.
A minha festa,
o meu nascer poreja a cada instante
em cada gesto meu que se reduz
a ser retrato,
espelho,
semelhança
de gesto alheio aberto em rosa.

Inserida por MarthaDuarte

Gratidão é uma porção mágica, que por hora te pega, e equilibra falsas nostalgias.

Claudeth Camões

Inserida por ClaudethCamoes