Poemas Góticos
Ao léu
Ando perdido em sentimentos descompassados,
Na linha tênue que separa a alegria da loucura.
Em meio ao caos de sentimentos vazios,
Surge uma alegria sombria, assustadora,
Solitária e vazia, que vaga ao meu redor
Fazendo-me ver oásis em deserto salinos,
Mudando de rota a minha caravana,
Sem questionar as minhas vontades,
Trazendo a tona uma realidade cruel
Que me amedronta a alma,
Jogando-me em ruas desconhecidas
Ao frio do inverno que tende a me seguir,
Ao relento, com sede, fome e medo,
Eu me agarro em coisas supérfluas
Para evitar que seja consumido,
Sem perceber que superficialidades
Só aumentam o meu desgaste,
E acabo culpando o mundo
Por algo que só depende em mim.
@CarvalhoEscrito
...O FIM
Há pedaços da minha vida no asfalto
Carnes dilaceradas
Fragmentos de pele
Mostras de tendões e nervos.
Tudo lá
Exposto
Um belo circo de horrores...
Fora atropelada pela nostalgia
Pelo reprisar dos dias
Pela agonia da mesmice
Pela ausência de amor
...Ou quem sabe,
pelo excesso dele.
Jogado ao relento.
Indigno
Reles indigente...
Sim, há pedaços de mim no asfalto!
Há curiosos que transitam por ali
Há nos rostos de alguns, traços de pesar
Em outros, repulsa
Indiferença...
( E qual é a diferença?)
Já não fora sempre assim?
Por isso jaz ali...
Os destroços de mim
Dos meus sonhos
Das minhas esperanças
Dos meus planos para ser...
Esposa
Amiga
Mãe
Amante...
Ser...
Feliz!
Mas não há nada
Não pode mais existir
À não ser os pedaços da minha vida
no asfalto.
... E uma chuva fina desce sobre ela
Alguém toma uma cerveja no bar da esquina.
Um brinde
à vida que eu poderia ter tido.
Amor Melancólico
Tão somente amamos a nós mesmos,queremos amar a outra pessoa, assim é o amor e a maldição da paixão.
Não basta amarmos alguém com todas as nossas forças, a vida não corrobora com esse detalhe, temos de sofrer a cada instante.
Se deixamos de estar apaixonados por alguém, e realmente se prova o amor, aí sim temos o verdadeiro sofrer.
Amor Amigo
Quando amamos a alguém próximo, sofremos de proximidade, não um sofrimento qualquer, uma angustia e um nó na garganta, faltam palavras para tal descrição, amar uma pessoa já se torna uma missão difícil, pois o ato de amar a si próprio já não é uma tarefa simples.
Amar alguém que temos uma profunda amizade, uma pessoa que seguidamente encontramos, torna-se um via de duas rotas, ou perfeito, quando é reciproco tamanho sentimento, ou tortuoso, quando se ama sem ser correspondido, tal cura é impossível.
porto
há uma saudade em mim no cerrado
ancorada nos barrancos ressequidos
são arrancos no peito em ronquidos
num espectral sentimento entalado...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
SONETO DA AUSÊNCIA
O cerrado já não mais é meu confidente
o pôr do sol não mais ouve o meu plangor
os cascalhos do segredo fazem amargor
e a saudade já não mais está condizente
Não mais estou melancólico no rancor
nem tão pouco sou aquele imprudente
e ao vento nada mais contei contente
deixo o tempo no tempo ao seu dispor
Até da recordação eu tenho medo, dor
o entardecer tornou-se inconcludente
e o olhar se perdeu nas ondas de calor
O poetar fez da madrugada noite ingente
carente nas buscas do tão sonhado amor
e hoje o meu eu no cerrado está ausente
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
06/06/2016
Cerrado goiano
Escorre no cerrado
Arrastam-se as manhãs
nos sulcados do cerrado
como verdadeiros titãs
Horizonte empoeirado
deitado no árido divã
lânguido e ressecado
Escorrem pelo ramalho
melancolia
.
.
negalho
.
.
dia
.
.
cascalho
.
.
poesia.
.
.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
Surdina
No cerrado, lá no alto um sino canta
Da capelinha, num badalar soturno
Canta um sino e a melancolia pranta
Finda o turno!
Canta, pranta o sino no campanário
Como se assim se quisesse
Benesse, no chuvoso dia solitário
Resplandece...
Na messe! Canta e pranta silente
Na torre da igrejinha sem estresse
E o dia adormece, docemente
18 horas: - tal uma prece!
O coração abafado e vazio
Num acalanto o sino canta
Nebuloso dia... Que frio!
Triste melodia, triste mantra...
Sina!
Bate o sino... surdina!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
25/01/2020, 19’47” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
"Se soubesse que viria
E a farpa apertaria
Do meu peito expelia
Na madrugada não faria
Outra vez sua alegria
Se eu tentasse e não culpasse
Não diria essas palavras, cantaria
Mas se soubesse
Que a tal ponto
Esse encontro colidia
Na estribeira de suas dores
Com as minhas
Jamais te acordaria
Na madrugada, dormiria
Não te faria sofrer
Nem ao vento sopraria
Meu amor, minha alegria
Meu pesar e melancolia"
Desfecho vago |
Presenciaram os primórdios
Enalteceram vossos ódios
Compactuaram com a veemência
Efetuaram tamanha conivência;
Perante os esforços inalterados
Pedaços foram desordenados
E caminhos certos tornam-se indeterminados.
Desfecho vago ||
Seus dogmas tornam-se cinzas
Como toda esperança extinta;
Desmoronando sob um papel elegido branco
Negando à subordinada usar o manto
Por ser a tinta que promove sua insatisfação
Seu pranto.
Eu vivo
Por que?
Não sei
Tanta discórdia existente
Tendo um porém sobretudo.
Não há
Apenas não há nada mais sublime
Tornar seu legado digno
Sua história um filme
A trajetória merecida
Apesar de tudo
Lembranças presentes de sua vida
A salvação
O amparo
Ser o calor no dia mais frio
Custar a ser o ato mais raro.
Sendo esse o valor
O apreço
A inspiração
Até para um novo começo.
Enfeitei minha alma de margaridas...
E descobri o meu próprio jardim...
De meus sonhos...
Construí minha realidade...
Descobri que o horizonte não tem fim...
Sou aquele que chora de melancolia...
Que não aguenta se segurar por dentro...
Que descobriu em fração de horas...
Que viver é só um momento...
Sou presença de amor profundo...
Revirando caminho que traço...
Olhar arisco em olho terno...
Destino bordado no tempo...
Criança de alma pura...
Que a Deus conta em murmúrios...
Suas felicidades ...
Suas amarguras...
Sou simples assim...
Tais quais as margaridas do meu jardim...
Sandro Paschoal Nogueira
EM TARDE CHUVOSA (soneto)
Março. Em frente ao cerrado. Chove demais
Sobre meu sentimento calado, aborrecimento
Gotejado do fado.... Rodopiando nos temporais
Enxurrando desconforto, angústia e sofrimento
Verão. E meu coração sentado na beira do cais
Da solidão. Do mar agitado e cheio de lamento
Por que, ó dor, no meu peito assim empurrais
Essa tempestade e tão lotada de detrimento?
A água canta, lá fora, e cá dentro o olho chora
Implora. Para essa tempestade então ir embora
Que chegaste com o arrebol e na tarde ainda cai
E eu olha pela janela deserta, e vejo o céu triste
E, ao vir do vento, a melancolia na alma insiste
Sem que das nuvens carregadas a ventura apeai
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04/03/2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
TÉDIO (soneto)
Sobre minh’alma, no cerrado ao relento
Cai tal folhas ao vento, dum dia outonal
Um silêncio mortal, dum vil argumento
Tão brutal, o aborrecimento, tão fatal!
Oh solidão! Tu que poeta no momento
Abandono, no mundo, a mim desigual
Me dando ao pensamento o lamento
Num letargo sentimento descomunal.
Só, sem sonho, sem um simples olhar
Deixar de sonhar, como então fazê-lo?
Se é um aniquilamento assim estar...
Deixar o enfado num desejo em tê-lo
O que não vejo! Porém, estou a ficar.
Ah! Dá-me a aura da ventura em zelo.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto, 23 de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
SONETO "X"
Como o talho do punhal numa emoção
A perfídia escorre do peito num sofrer
Num fio navalhado dentro do coração
Que no sentimento se põe a morrer
Mora em mim o teu "x", tão mutilação
Que o amor não mais pode entender
Vida e morte em uma una conjunção
Que o meu ser se cansou de ceder
Viver a presença e não a solidão, sorte
Pois o suporte não se acha pelo chão
E tão pouco para paixão é um aporte
Então, domine o teu querer, tua ilusão
Viva a vida, tão breve, com total porte
E tenhas equilíbrio no sôfrego coração
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, outubro
Cerrado goiano
Devaneios
Este amoroso tormento que no meu coração está;
Eu sei que sinto, mas não descubro a causa pela qual o sinto;
E então...
... sinto uma grande agonia, por sentir um devaneio;
... que começa com pequenos desejos e termina em muita melancolia...
Amadurecer pode ser perceber
que podemos ser melhores
Se encontrarmos o caminho do meio...
A sabedoria da melancólia e
A inocência da comédia.
O psicológico de um louco é sempre algo questionável
Por muitos, até mesmo desconsideravel
O louco não ama, não sofre, não sente
É só mais um em meio a tanta gente
É deixado de lado, descartável, tratado como trapo
Sem ter a chance de ser amado
Sofre quieto, em silêncio, suas dores e lamentos
Internalizando em si apenas frases e momentos
Pro louco o tempo é tortura
Não existe ternura, nem cura
O passado agride, o presente conforta
E o futuro corrói
A única certeza é a de que a solidão virá cada vez mais feroz
Do Azul
Do azul que ainda busca seu rosto, sou o primeiro a beber.
Vejo e bebo de teu rastro:
Deslizas pelos meus dedos, pérolas, e cresces!
Cresces como todos os esquecidos
Deslizas: o granizo negro da melancolia
Cai num lenço, todo branco pelo aceno de despedida.
(tradução de Claudia Cavalcanti)
Apelo
Ó minha amada
me perdoa
pelo o vão
que deixei ao te
deixar.
nem dá para imaginar
o quão doloroso foi
este temporal atemporal.
Ó minha amada
me perdoa
as cicatrizes que te deixei
os beijos que não lhe dei
os abraços que neguei
o amor que relutei
em não lhe dar. perdoa-me.
milhões de vezes, perdoa-me.
perdoa-me meu amor
todas as vezes que corri de ti
centenas de vezes que te neguei
mas quem iria saber que o destino
enfim queria nos unir, hoje, [simplesmente hoje
o hoje que passa e não hesita em
desferir tapas em nossa face
arruinada meus Deus do céu
pelo o tempo atroz e infeliz
que passa porque passa.