Poemas Góticos
Performar
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Quando me perguntarem se hoje algo me tocou... direi para indagarem a quem hoje acordou:
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"Raiam diversas luzes sob o céu venerável...
Mas todas elas tocam o chão vulnerável?
Se sim ou se não, de qualquer forma, é imensurável...
E as sombras formadas que tocam o chão,
de que formas se formam?
Mudam de forma, conforme a visão.
E na translucidez, transpassam a forma.
Quanto às luzes, sem forma, transformam.
E, à sua maneira, todas elas (luzes) performam."
Na Ardência do Tempo
Vejo-me desobrigado.
Apenas me amolda o sentir.
E tudo que aspiro, tentou-me.
Se em mim existe, me valeu sorver.
Se por dentro ressoa, convivo.
Dessa margem se nutriu meu persistir.
Rebrotei de mim sempre que me despi.
Deixei partir, o que não ousou vicejar.
O resto fui eu que em urdidura guardei.
Invadi-me de começos. Posterguei todo fim.
Depois na ardência do tempo, almejei vir a ser.
Foi a sombra que me ensinou a tecitura da luz.
Carlos Daniel Dojja
In Poemas para Versar
Não eras para minha vida...
Não eras para os meus sonhos...
Não eras para os meus cantos...
Não foste digno de meus prantos...
Não eras o lume de meu coração...
Não eras o brilho de meu olhar...
Foste apenas decepção...
De todos os encantos...
Não quisestes fazer parte...
E hoje, sem nenhum alarde...
Vi que não fostes nada...
E nada fizestes para ser meu tudo...
Passaste em vão...
Não fostes feito para meus abraços...
Para nossos corpos entrelaçados...
Não comungamos em ardor...
Carinhos não me destes...
Não era para ser amor...
Tu nem mesmo fostes um vento...
Que em algum momento...
Beijou-me e mostrou-me a direção...
Tu foste apenas...
Para aqueles que te queriam um pouco...
Enquanto eu te quis tanto...
Hoje és sombra...
Sombra de nada...
Vulto sombrio...
Que vaga entre tantos tais como tu de alma deserta...
Meu último conforto...
Agora...
Apenas o frio...
Sandro Paschoal Nogueira
Em horas presentes de infortúnios e tédios...
Eu choro e espero...
Diante ao vendaval que ruge...
Luto...
Não me entrego...
Tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas...
Junto a toda a gente que eu conheço e que fala comigo...
Em vão tentei quebrar o círculo mágico...
Inútil escapar...
Procurei esconder-me...
Em esperanças...
Em audácias...
Pensei em não mais lutar...
Poetas, que somos nós?
E bater, é bater com alma na bigorna...
Mas vou pelos passeios...
Entre a sombra e a luz...
Meu sonho conduz...
Tirando da alma os bocados precisos...
Nem mais...
Nem menos...
Só o que sinto...
Sandro Paschoal Nogueira
E do fogo veio uma fagulha
Não tenho espada então luto com unhas
Sinto o mar nos pés e quebra a onda
Olho pra cima pra luz
Não pra minha sombra
Universo Introspectivo
Dentro de mim, há mais do que o olhar alcança,
Sou um Mar profundo de pensamentos, em tempestades de emoção,
Navego por esses mares, como estrelas guias,
Que brilham como a luz da introspecção.
Ah, essas noites longas, em que me debruço sobre mim,
Onde o silêncio fala mais alto do que qualquer grito,
Descubro nas sombras que me cercam,
Ecos do meu eu antigo, sussurros de um destino esquecido.
Nessas horas, o mundo externo adormece,
Torna-se mero espectador de um drama íntimo,
Onde eu sou o ator e a plateia, mas sem diretor e a crítica,
Em um teatro onde cada pensamento é um ato e cada suspiro, uma cena.
E nesse palco, luz e sombra dançam,
Entrelaçam-se em um abraço de revelação,
A cada movimento, um mistério recôndito surge,
Numa coreografia de descobertas e transformações.
Em mim, o universo se expande,
Sou uma galáxia de possibilidades em um sistema solar de sonhos,
Cujo os pensamentos, tal qual um cometa errante,
Perdem-se em sentimentos em sua própria órbita.
E assim, nessa dança universal,
Encontro a verdadeira essência da existência,
Não no mundo lá fora, mas no universo aqui dentro,
Na revelação interior, onde cada estrela é um pedaço do meu ser.
Nas sombras da alma do poeta, a depressão dança,
Um fardo pesado, uma dor que avança.
Em versos sombrios, ele expressa sua tristeza,
Em cada palavra, a angústia e a incerteza.
“Enquanto escondermos de nós mesmos e dos outros o nosso lado feio,
impuro e incompreendido, iremos projetá-lo – inconscientemente – sobre
outros. Iremos acusá-los de várias coisas que nos incomodam e, na
verdade estamos apenas lidando com uma parte nossa que não
assumimos em nós! ”
§
Em seus olhos
a imagem do céu
sorrindo
transbordando paz
Confiei no tempo
nas palavras houve pausas
formas, reconciliação
Luz interior
em certas manhãs
o silêncio em sombras
nos faz brilhar.
§
Entre sombras e luz, cresci a dançar,
Na melodia do tempo, oscilando entre dor e paz,
Levando comigo o eco de uma infância difícil de narrar.
Agora entendo, com o olhar de quem sabe,
Que os espinhos e as flores coexistem na vida,
E em cada cicatriz, há uma alma que brilha,
Fortalecida pela jornada que nada é capaz de apagar.
Escuro de Si
Encontrei um corpo no escuro,não fedia.
Apenas sorria,como se fosse um espelho meu.
Piscina suja,matei eles dentro de mim.
Sujei minha alma de tristeza,apenas plantações que queimam.
Vejo-lhes na sombra
vejo meus amigos.
Vejo meus eus,apenas chorando.
Apenas vejo-me…
Sentando na esquina da praça,procurando algum jeito de partir.
Sabendo que meus eus morrerão,
Sem chance de nada.
Velhos costumes novos objetivos,eles me renderam e eu os perdi.
A dor escraviza,ando no escuro buscando a luz da cozinha.
Não sinto mais medo,sinto que me observam.
Algo me envolve,me abraça…
Aquela falta que eu procurava,aquele medo que eu não podia falar.
Aquela frase não dita.
Aquela ausência perdida.
Você nunca está sózinho
Quando sentir que está sózinho,
Lembre que está acompanhado,
Que DEUS sempre está contigo,
E a tua sombra junto a seu lado.
Marsciano
Hoje sou outono,
quarenta e oito vezes.
Há em mim o peso das folhas,
mas também a promessa das raízes
que nunca deixaram de se agarrar à terra.
Não conto os anos,
conto os abraços,
as vozes dos amigos que resistem
como rochedos ao vento.
A família,
são os rios onde mergulho o coração,
sempre frescos, sempre certos,
a correr pela alma
como um alívio antigo.
Olho o horizonte e há luz,
mesmo que o inverno venha,
há calor guardado nas mãos,
como sementes que esperam a hora certa.
Sigo em frente, confiante,
porque cada estação traz consigo
a promessa de um recomeço.
Agradeço a todos que se lembram de mim
neste dia simples,
e aos que partiram,
carrego-os comigo,
como sombras que dançam ao sol,
um eco de memórias que nunca se apaga.
A Deusa (In)Justiça
Ela não vê,
mas espreita,
no seu decote repousa o vil metal
e a túnica, branca como a mentira,
negra como o silêncio que pesa na balança.
O tempo, nos tribunais,
gasta-se em voltas lentas,
como quem espera o mar secar.
O réu, cheio de poder e ouro,
ri-se no escuro,
onde os seus passos não fazem eco.
Os outros, pobres diabos,
arrastam-se pelas pedras da espera,
respirando poeira e esperança gasta.
Aqui, ninguém paga a fatura,
resta esperar pela justiça divina.
Enquanto isso, os dias morrem nas esquinas,
os relógios marcam horas que ninguém conta,
e o pó cobre a última palavra,
esquecida nos corredores frios.
Nas sombras, a balança inclina-se de novo,
pressionada por mãos invisíveis,
e tudo se repete,
enquanto o riso do réu ecoa além das paredes.
TUA VOZ
A tua voz acostumei-me,
Quando ela em meu peito era anuncio.
Feito presságio da noite desperta,
Por sobre o tempo reverberado.
Não aprendi pouco em teu olhar.
Fitei a luz e murmurei a sombra,
Para fazer-me, num só instante,
Andante aprendiz em tua estada.
O mormaço.
Em dias de frio eu pego um casaco,
Dias de saudade pego seu abraço
Que é quente igual mormaço,
Daqueles que queimam até na sombra e dia nublado.
FISGA SOLAR
Que atração radiante o sol
É uma dádiva que fisga
Mais que um peixe olhar pro anzol
Vai clareando alguma cisma
Ceva os sonhos de um mortal
Que mal sabe o que precisa
Meio-dia tudo igual
Quando a sombra está concisa
Reconforta um ideal
Que "é levado" mais acima!
Sou a penúria da escassez
Que murmura
Sou o sentir da falta de sentimentos
Sou a paisagem da beleza
Enfeitada
Eu sou a sombra do próprio
Tormento!
MIL PLATÕES
Transpôs gerações a perspectiva
Monóculo de única "verdade"
Nas correntes da acomodação
Ninguém a duvidar das projeções
Eram as sombras ali sempre vivas
Incrédulos de outras realidades
Atrofiavam as chaves da razão
Até um desgarrar das ilusões
Embora encandeado pela luz
Venceu barreiras, provou liberdade
No inefável ampliou a visão
Carecia partir tais emoções
Julgarão insano o que ele conduz?
Pra ignorância o sol ainda arde
Conhecer por si é a libertação
Socraticamente em mil Platões!
minha sobra me consome e eu a consumo, eu e minha sobra estamos desaparecendo em um mundo de mascaras que se escondem suas maldades
-william