Poemas famosos de Silêncio
Ficar em silêncio não significa não falar, mas abrir os ouvidos para escutar tudo que está a nossa volta.
E Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao recém-namorado:
– Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?
Não se soma à alma aquilo que não é capaz de entrar dentro dela. E alma só se preenche com silêncio, algum poema, um conselho que, de bom, foi esquecido, beijo de mãe quando se dorme, uma reza sincera ao anjo da guarda, um amor que é eterno e raro de se achar.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio. Porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade. Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo. Porque metade de mim é o que eu penso, mas a outra metade é um vulcão. Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei. Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço. Porque metade de mim é amor e a outra metade também.
O ar e o silêncio me deram a preguiça necessária para eu deitar em outra cama e relaxar do meu amor enlouquecedor por você.
Que demônio benévolo é esse que me deixou assim envolto em mistério, em silêncio, em paz e perfumes?
Só o silêncio pode conter a sabedoria quando a vida está em risco. Nos primeiros 30 segundos de tensão cometemos os maiores erros de nossas vidas, ferimos quem mais amamos. Por isso, o silêncio é a oração dos sábios.
Secaram as sementes no silêncio da rocha e mineral. As palavras que não chegamos a gritar, as lágrimas retidas, as pragas que se engolem, a frase que se encurta, o amor que matamos, tudo isso transformado em minério magnético, em turmalina, em ágata, o sangue congelado em cinábrio, sangue calcinado tornado galena, oxidado, aluminizado, sulfatado, calcinado, o brilho mineral de meteoros mortos e sóis exaustos numa floresta de árvores secas e desejos mortos.
A INSENSATEZ DO VENTO
Um dia perguntei ao vento:
- Porque sopras tão forte, parece que queres devastar o mundo?
Há dias que a tua brisa é tão suave, pareces esmorecido.
E o vento respondeu:
- Assim como vossa vida eu também tenho meus dias de insensatez e loucura.
REFLEXÕES DE UM ADEUS
Agora, sentado,
ouvindo apenas o ruído do silêncio,
parado,
eu penso em nós.
Vem vindo do fundo, gritante,
alarmante,
a ansiedade do tempo passado
preenchendo do nada
o vazio de dois mundos.
Somos duas pontas de flexas,
disparadas do infinito,
que não se encontrarão.
Um grito de alarme
cresce na garganta
e espanta
no vôo, a felicidade
que em vão tenta o pouso
em minha alma angustiada.
Somos dois que
marcham ao longo,
sem cruzamentos,
nem encontros.
Tontos,
procuramos nos dar as mãos
através o nevoeiro do tempo.
Ilusão temerária de sermos um,
quando seremos, eternamente
dois.
Pois,
não percebes?
Teu mundo é formado
de outras cores.
Consulto o silêncio,
tal fora o relógio da vida,
e vejo nos ponteiros
que não se tocam
nossa própria tentativa
do ser uno.
Nessa ilusão míope não vemos
que passamos
um pelo outro,
sem nos tocarmos,
como os ponteiros
que marcam a vida,
perdida.
Amante
No silêncio frio da noite mansa,
mansamente, veio deitar ao meu lado,
aninhando-se a mim como a criança
que procura abrigo a seus temores.
Ao sentir seu calor, busquei tocá-la
aspirando seu perfume, mas calado
esperei de olhos fechados o hálito morno
de sua boca a me beijar o corpo.
Sua mão ávida deslizou em meu peito
a brincar distraída com meus pelos.
Logo, correu suave pelo meu ventre
palmilhando cada centímetro de pele.
Meus dedos correram em seus cabelos
e como um cego procurei seu entorno
tocando, subindo e descendo planícies
buscando nervosos morros e cavernas.
Loucamente, cavalgou minha cintura
e senti seus movimentos nervosos,
em quase delírio por tê-la tão perto.
Mas, no clímax do desejo abri meus olhos
a tempo de vê-la perder-se no vazio escuro.
Por quê?
De repente o vazio
Traz o som do nada,
E no silêncio que crio
Vem a ausência de tudo.
Parado, incrédulo, mudo
Não quero sentir a falta
Que cresce no corpo
E na alma, e maltrata
O coração vacilante
Com as incertezas
De amante,
De tristezas.
Por que ir adiante
Na ilusão fugaz
Do amor vivido?
O amargor que vem à boca
É a perda sentida,
E lívido
Busco compreender o partir
Sem adeus, sem porquê.
Às vezes, é bom sair de cena. Sentar na plateia. Ser o espectador de todos os que nos rodeiam. Foi o que eu fiz. Observei, com cuidado, os que mereciam minha empatia. Os que mereciam minha amizade. Meu respeito. Meu escândalo, quando necessário. E, com ainda mais cautela, observei os que só mereciam o meu silêncio.
E foram muitos.
Não é o desprezo,
nem o mau desejo.
Muito menos vingança.
Mas o silêncio.
Apenas.
Às vezes preciso me abrigar
no colo de Deus.
Minha alma precisa descansar.
Sinto-me tão pequena e, por vezes, perdida!
Sei que somente Ele pode
me fazer encontrar forças
para poder continuar.
Meu silêncio se faz presente,
pois já não sei mais o que falar...
Não sou triste, mas o que tenho vivido
são meros momentos de tristeza.
E sei que somente Deus é capaz de mudar.
Você não está mais sozinho...
Estarei aqui sempre que você precisar de uma mão para segurar e um ombro para apoiar. Te ofereço meu colo para você repousar e se for preciso, suas lágrimas eu vou enxugar.
E se é do silêncio que você precisa, prometo em silêncio ao seu lado ficar...
A vida é barulhenta. Dentro ou fora de nós, nada se aquieta. Queremos nos comunicar, exigimos respostas na velocidade de super-hiper-mega bytes, contabilizamos "notificações", desejamos ser cutucados de volta. Sem perceber, desaprendemos a silenciar. Desaprendemos a suportar a voz que cala e sofremos com a falta de respostas. Desaprendemos a ser ausência.
De vez em quando é necessário ser silêncio. Habituar-se à própria presença, inteirar-se de sua solidão.
Comunicar tudo sem dizer nada.
As três palavras mais estranhas
Quando pronuncio a palavra Futuro,
a primeira sílaba já pertence ao passado.
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.
Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.
Que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas outra metade é silêncio...
Nota: A autoria do texto tem vindo a ser erroneamente atribuída a Ferreira Gullar. Trecho do poema "Metade".
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