Poemas Fáceis de Decorar
Em desespero noturno
busquei a minha alma
que um dia perdi
sem perceber
numa noite fria
quando ouvia Wagner
as notas valquirianas
embriagavam-me
depois de duas taças de Merlot
soube que esta é a sua cota diária
então, quando a poesia não mais me queria
soube que a musa de apolo me olhava
pelas frestas dos buracos de Einstein
de outra dimensão, surgiu o fio de ariadne
assim a poesia se fez verbo em mim
eu, que outrora mudo não sabia
que no amor platônico de amigo
a mante de fato existia.
ESCULTURA DO ACASO
Somos escultura do acaso,
forjada pelo vento
feita à imagem de Deus
de barro, em fogo, em combustão.
Se Deus não existisse
nós o criaríamos
para garantir um pouco de razão
para termos paz e esperança.
Somos escultura do acaso,
forjada pelo vento
em fuga, em desespero
feita de medo e ilusão.
Somos escultura do acaso,
feita à mão, de sonho,
de angústia e de contradição.
Somos escultura do acaso,
forjada pelo vento
feita à mão do desejo
de vida, de eternidade.
"Se tiver música,
vinho e poesia,
com você,
até inferno eu iria.
Uma vez lá,
juntos construiríamos
o nosso próprio paraíso...
UMA BRISA
Parece-me, que no fim de tudo,
o que de fato buscamos é aumentar o prazer
sempre mais prazer.
Queremos o prato feito, perfeito
com mais gordura, mais azeite e vinho.
Queremos o ponto final na obra-prima
o fim do capítulo, resolver o conflito
do nosso mal fadado enrendo.
Queremos o epílogo, um posfácio honroso
como uma lápide escrita em ouro.
Contudo, ao contemplar tudo isso
o que temos é apenas um prefácio
da obra que almejamos escrever.
Queremos o fim da temporada
a plateia animada, em êxtase
com o fim da comédia
ou da tragédia que engendramos.
Ensaiamos tantos atos,
e nunca conseguimos chegar ao fim do espetáculo
à última cena, ao aplauso derradeiro.
Somos só estreia, iniciantes,
aprendizes desse viver comum
sem honra ou gloria imortal.
As cortinas se abrem
e nós nos apresentamos
como digníssimos palhaços
doutores, advogados,
escritores, poetas, artistas,
pintores, cantores, alfaiates,
políticos, prostitutas,
pai ou mãe de família abnegados,
alcoólatras inveterados.
Mas em um belo dia, num fatídico dia
as cortinas se fecham, antes que a temporada se acabe
então nos encontramos com o nosso verdadeiro eu,
é quando tudo termina, e a existência se finda
e a nossa personagem se despe do natural disfarce
assim, o homem não conclui seu último ato
não põe o ponto final na obra-prima,
não resolve o conflito, não escreve o posfácio.
Em vez de eternidade, fatalidade,
estrela cadente,
uma brisa,
sutil e distraída.
Evan do Carmo 30/12/2018
Não adianta se esconder, se acovardar, fugir de viver, cedo ou tarde seremos pegos pela natureza. A mesma que nos fez, resolve desfazer; e quanto ao homem, seus sonhos e desejos, são meras utopias.
Ainda assim, vem o maldito poeta fazer troça da nossa situação calamitosa, decadente, dessa nossa vã filosofia.
A de que o mundo é belo, a de que o amor é todo-singelo, a de que esperança existe, e, que embora triste a vida vale sempre a pena, tendo nós alma grande ou pequena...
A IGNORÂNCIA É A MÃE DA MEDIOCRIDADE
A mediocridade não é do homem. É, portanto, da causa que escolhe. Eu escolhi uma causa, que mesmo depois de décadas ainda a compreendo como tendo sido a melhor causa possível para um escritor abraçar. Se alcancei o meu objetivo? Respondo que não, pois a causa contra qual tenho combatido é a ignorância, em todas as suas nuances. Mas fiz o que podia, com os elementos com que pude contar até aqui. Está tudo escrito, formulado nos meus livros. No futuro, talvez, na verdade não posso afirmar, pode ser que as minhas teses de alguma forma, mesmo que simples, talvez em pequena escala sejam postas à prova, então é que saberemos se a luta que abracei valeu de fato a pena.
Evan do Carmo
SILÊNCIO
Sempre que encontro-me sozinho,
diante de uma xícara de café
ou de uma taça de vinho.
Basta um minuto de reflexão
sobre as lutas humanas
para que metade de tudo
perca sua importância.
O que nos falta é o silêncio
para analisar o primeiro verso
onde todo o resto está implícito.
A vida, como um poema
é simples, sua linguagem
é natureza da qual somos parte.
Há contradição em querer explicar
aquilo que não se explica
a poesia e a vida
ambas só precisam ser sentidas!
Evan do Carmo
Amar
Eu te amo, acredite, amo-te
Que amor maior não cabe no meu peito
Do que esse amor, nos versos da poesia
Maior amor também não caberia.
E por te amar demais, e pelo encanto
Do amor que amar me faz, trago esse pranto
Porque eu te amo tanto todo dia
Neste pranto de amor e de alegria.
Amo-te como um simples trovador
Que dedica seu amor num canto rouco
Esperando da amada o fim da dor
E te amo assim, quase doente, como um louco
Perdido na grandeza desse amor
Na convicta impressão
de que todo este amor ainda é pouco.
Pra você Iranete Do Carmo
COISAS QUE UM AMIGO É...
Um amigo não é indelicado,
intrometido, mas quando
percebe o perigo, chama a tua atenção
e mostra o buraco em tua frente..
Um amigo nota a tua ausência
no banquete e no velório,
quando sente a tua falta
procura o mais rápido possível
saber a razão.
Um amigo não te liga para pedir favor
antes pergunta:
como está?
Posso te ajudar em alguma coisa?
Um amigo não concorda simplesmente
com todos os teus pontos de vista
discordando com respeito
não magoa o outro amigo.
Um amigo não é como um pai,
um amigo é pai e mãe,
irmão e companheiro em qualquer luta.
Um bom amigo se faz presente
em todas as horas, se alegra contigo,
festeja e chora.
Primeiro Bom Dia de Giovanna. 05/12/2015
Sou poeta, não acredito em anjos
nem em outras coisas da mesma seara
todavia, fui logrado pela divindade,
hoje, especialmente hoje,
por se tratar de um dia especial
em que acordei com vontade de dançar.
Contudo, sabemos nós, os filósofos céticos
das virtudes dos homens, e do amor das mulheres
que não há expressão maior de felicidade
do que a dança voluntária. Então, logo hoje,
eu ouvi a voz de um anjo, de um que já estava conosco
há algum tempo, mas que só sorria
e faziam suas traquinagens,
mesmo sem falar nos encantava a cada dia.
Pois bem, este belo e incomparável anjo
de cabelos ruivos e olhos negros, inebriantes,
resolveu hoje me dar uma prova de que a felicidade,
as virtudes dos homens, e até o amor das mulheres
são possíveis.
Ah, como são reais a partir de hoje para mim:
Giovanna falou pela primeira vez,
recebi sua gravação dizendo,
com voz meiga e perturbadora,
para mim que tanto a desejei,
ela disse sem nenhum embaraço:
" Bom dia Vovô"....
Além da eternidade
existe a poesia do não existir.
O que há de eterno no mundo
são as contradições
O tempo ignora passivamente
os movimentos do teu corpo
enquanto o teu olhar especulativo
procura as causas e os efeitos
de alma viver exaustivamente
num experimentar contemplativo
MUSA NOTURNA
Mulher, estrela nua
Silhueta crua de um pintor veraz
Brilha na noite purpura
De alma tenaz.
Vem ao meu encontro
Com passos firmes
Com um olhar vítreo
Focado em mim.
Fugir não posso
Nunca antes ela veio assim
Tão resolvida a me absorver
A me sugar para o seu mundo.
Acabo cedendo, caindo das nuvens
Onde habitei por anos frios
Ela me segura com suas mãos quentes
Estanca de repente os meus calafrios
EVAN DO CARMO
Para ti, enquanto fores
Sempre será eterna a minha decisão
fiz uma escolha consciente
de nunca te esquecer,
de nunca te trair ou te enganar.
Se é amor, talvez nem eu saiba dizer
o amor não se explica, é um milagre
feito de mel, azeite e trigo
tu és a dona do meu atual viver
a casa para onde volto e encontro abrigo.
Festejamos todo dia a melhor porção da vida
com música suave, com o vinho-amigo.
Traçamos uma rota segura
com o mapa do amor
com a bússola da verdade
chegaremos ao destino,
onde espera-nos sorrindo
a flor da eternidade!
Evan do Carmo
SEM FALAR EM SAUDADE
Foi sem falar em saudade
que lembrei de você
dos seus olhos pequenos
a me enlouquecer
do seu corpo moreno
do seu beijo veneno
a me adormecer.
Foi sem querer que a tristeza
chegou com a canção
que eu fiz pra você
naquele verão
onde fiz dos teus olhos
minha única razão
de viver, de sorrir, de sonhar
de paixão.
Foi sem falar de saudade
que me veio a lembrança
que perdi a esperança
de voltar a te ver.
HÁ POESIA EM QUASE TUDO.
Há poesia em quase tudo,
só não há poesia no beijo
nem no corpo da mulher mal-amada
nem no choro da criança
faminta, abandonada.
Há poesia em quase tudo
só não há poesia na falta de carinho
da mãe pelo filho inesperado.
Há poesia em quase tudo
no encontro dos amantes
proibidos, no afago da língua
sobre a rosa, no breve adeus
do poeta desta vida.
Há poesia em quase tudo
menos na falta de amor
do homem pelo homem
e na falta de fé no amanhã.
Há poesia nos lírios dos campos
quando catam, no pôr do sol
amarelado, há poesia na chuva
de outono, mas falta poesia
na primavera do oriente.
Há poesia em quase tudo
menos na falta de amor
do homem pelo homem
e na falta de fé no amanhã.
VOZ DOCE DA POESIA.
Amputaram-me os pés,
amputaram-me as mãos
depois furaram-me os olhos
em seguida amputaram-me a língua
perguntaram-me se ainda sentia dor.
Eu não podia andar, era fato,
nem podia ver, nem apalpar
contudo, meu melhor sentido
ainda permanecia, não se alterara
ainda podia ouvir o som do vento,
e a voz doce da poesia.
SOMOS IRMÃOS NA DOR
É no escuro da noite
quando a dor se faz constante
e mais assustadora
que desejamos que um anjo bom esteja ao nosso lado,
para enxugar as nossas lágrimas e o suor da febre persistente.
É nesse instante que a nossa humanidade floresce.
Num mundo desigual, no amor e nas virtudes
quando todos estão no mesmo lugar comum
pobres e ricos, pretos e brancos
sofrendo no âmago da alma a mais cruel desilusão
que a nossa presunção egoísta desaparece.
Todos carecem de cuidado e afeto
somos iguais na dor
buscamos até de estranho um afago
o sorriso de empatia
somos irmãos, querendo ou não
na dor somos conscientes
de que contra a razão não há utopia.
Para os profissionais da saúde em 2020 durante a pandemia
O HOMEM DO RIO
Eu não quero ser Caetano,
não sou o gênio imitador
sou como sou
homem que entra no rio
e se transforma
em tantas formas de existir.
eu não quero ser Heráclito
pré-socrático ou Platão
eu sou a soma de todos eles.
Poetas são como são
puros e controversos
sem contradição.
Eu não quero ser Caetano
contudo sou Gil-berto sou João
sou Tom Zé, sou Tom Jobim
você nunca ouviu falar de mim?
UM SAMBA EM RÉ MENOR
Não é tristeza, é melancolia
um tipo fatal de abstinência
não é dor de corno nem sofrência
é a falta de beleza e poesia.
Ainda escuto, como punição
relembrando tudo que vivi
a música boa que tocava à beira mar
quando te conheci.
Sem a Bossa Nova, “Chega de Saudade”
num bar em Ipanema, que dia agradável
sem você e tudo isso
a vida não poderia ser suportável.
Ainda assim sangra a poesia
o vento sopra e traz esperança
não é desespero é falta de alegria
um tipo fatal de abstinência
não é tristeza, é melancolia...
UM SAMBA EM RÉ MENOR