Poemas e Poesias
ADORMECIDA
Mora em mim uma artista
Adormecida que pretendia
Acordar a sua arte e assim
Ser conhecida e quem sabe
Até reconhecida nesta vida.
Mora em mim a melodia da
Poesia que não escrevinhei,
Um quadro que jamais pintei,
Uma dança que nunca ousei,
Um teatro que não representei.
Mora adormecida em mim esta
Medrosa em verso e prosa, que,
Temerosa de errar, borrar a tela,
Torcer o pé, de esquecer o texto,
Entorpeceu tão fugidia e arredia.
Mora em mim esta artista ainda
Adormecida que, pelo seu sono
Profundo não havia encontrado
Na magia do sonho da poesia o
Sentido da sua vida neste mundo.
Já que dormindo, adormecia este
Medo de escrever poesia que lhe
Torturaria na mente, diariamente,
Que no sono rondaria seu sonho
E lhe assombraria diuturnamente.
Lúcida negava, fugia e dormir fingia,
Enquanto o poetar até então dormido,
Ludicamente, pronto se quis descrito,
Escrito e amanhecido pro medo ficar
Desaparecido e pra sempre vencido!
Guria da Gaúcha Poesia
Lavando a Alma,
Página 09,
1989
Ela imagina, cultiva, cativa, enraíza, irriga e até
fertiliza enquanto ele o sentimento racionaliza e
o pensamento analisa pra ver se lhe oportuniza,
se namora na boa ou vai só ficando à toa na sua
Vida como um amigo, como semente de namorido!
Guria da Gaúcha Poesia
À Flor da Pele
Só será mesmo amor, se
Este amor não lembrar dor,
Se jamais o amar amargar,
Se for capaz de dar paz, se
Amar demais e a mais for a
Vontade de verdade do par!
Guria da Gaúcha Poesia
Um Simples Menino, Primeiramente
Aquele simples menino,
Que olhava para o horizonte
E sonhava com o mundo;
Que tinha na sua mão
O poder da criação,
E desperdiçou tudo;
Que tinha finalmente
Conquistado o que
Sempre havia sonhado,
Mas foi tudo uma ilusão.
Viajou para a terra
Da humilhação; e lá
Ficou, preso à aflição
Da vida.
LCF
Parece mentira ou ironia, mas na verdade, de fato,
Neste ato, pensando bem, dele são sinto saudade,
Talvez sinta ainda da mentira que acreditei um dia,
Da fantasia, projeção e até da ilusão do meu coração,
Ilusão que agora some e me consome, por saber que
Ele nunca foi, não é e que jamais será o meu homem!
Guria da Gaúcha Poesia
Na verdade, foi só ilusão da minha mente
Ou projeção do meu coração carente, já
Que, na verdade, dele não sentia saudade
E sim de quem eu imaginei que ele fosse,
Um homem bem menos acre e mais doce!
Parecia mentira ou até ironia, mas na verdade, de
Fato, neste ato, pensando bem, dele mesmo eu não
Tenho saudade e talvez sinta, ainda, da mentira que
Acreditei um dia, daquela fantasia, da projeção e até
Da ilusão do meu coração, ilusão que vejo que some
E me consome, pois só agora descobri que ele nunca
Foi, não é e que jamais poderá vir a ser meu homem!
Guria da Gaúcha Poesia
No sótão da lua...
existe um poema que jamais foi lido.
Existe um canto, um hino, muito bem ocultado,
muito bem escondido, plasmado
na tinta indelével de um pergaminho.
Fino, tão fino!
Fala de brancas tardes, de infinitas estrelas.
Fala de nós meninos, de nós crianças,
de cordas d'amarras e de longas tranças.
Fala igualmente de ignotas rotas
e de uma epístola sagrada.
Fala de um rumo, de um áureo prumo,
de um pirata, de um corsário,
de um marinheiro… de um Mundo inteiro.
No sótão da lua, existe traçado, um beco
e, tal como o da rua, é quelho, solitário, ermo.
Esconsado, sombrio, covil sem fumo, furna
de marés e de rurais chaminés …
Magoada viela, igual aguarela.
E sobre o esconso, passam dispersos,
rimas, poemas, prosas, líricos versos.
E neles, todos os sons, todos os tons,
dos nossos passos, dos nossos abraços.
Do nosso cheiro. Da nossa história.
Dos nossos pés … calcorreados, doridos
de tão magoados.
Na greda e no sal, na lava e na cal.
No gelo e no sol.
Híbridos. Acasalados, colados,
de braços abertos!
No sótão da lua, inteiros, convictos,
de tão completos, percorrem-se lentos,
famintos, sedentos, de lés-a-lés.
Em troféus de fados, atravessam nuvens,
amam-se em glória, rezam-se afetos.
Nascemos criança, depois colecionamos idades,
Encantos e desencantos por todos cantos, que ao
Longo do tempo vamos enterrando até que venha
A maturidade, a maior e melhor idade, e com ela a
Cativa necessidade de saber e de manter vívida a
Temperança e ativa a esperança da nossa criança!
Guria da Gaúcha Poesia
Sou só um verso liberto, sem nexo,
diverso, reverso, convexo, inverso e
desconexo neste complexo universo!
Guria da Gaúcha Poesia
MAREJANDO...
Ilhada em mim, me abordo à bordo
Do mar do meu pensamento, aporto,
Me reporto, transporto e lacrimejando,
Me transbordo, conforto e aborto meus
Naufragados momentos no oceano dos
Meus afogados sentimentos no tempo!
Guria da Poesia Gaúcha
Não se preocupe em
arrumar desculpas,
sei que não se lembra.
Vai dizer que tudo deu errado.
Que precisou, que ouve uma
urgência.
Mas são sempre as mesmas desculpas
e dessas eu já estou cheia.
Então diga a verdade!
Diga que não se lembra.
SIM
Meu bem, sou bem assim, sim:
Tim- tim por tim- tim, de verdade,
Para lá de verdadeira, espevitada,
Serelepe, moleca, traquina, faceira,
Festeira, fagueira, brejeira, matraqueira,
Escrivinhadeira, indecente de tão inocente,
Amorosa, ambiciosa, tinhosa, comprometida,
Aguerrida, vaidosa, feiticeira, gaúcha sim, filé
De primeira, enfim, do começo ao fim brasileira,
Sempre plena e serena, tão intensa quanto inteira!
Guria da Poesia Gaúcha
Por mais que nós saibamos que na vida
A sorte é incerta e a morte é certa, parece
Que não estamos preparados o suficiente
Quando aparece, literalmente de frente, na
Nossa frente, se encarrega, carrega doente e
Desaparece pra sempre com a gente da gente!
Guria da Gaúcha Poesia
Quando te deres conta de que nos pequenos
E mais singelos gestos estão os maiores elos,
Terás conseguido ampliar, de fato, a tua visão
Significativa e qualitativa de vida no universo!
Guria da Gaúcha Poesia
Sabe, guri eu não vou te mentir até porque
Não adianta e nem te omitir até porque a
Alma humana jamais se engana quando se
Reconhece na outra tão anja quanto profana!
Guria da Gaúcha Poesia
Sabe, guri eu não vou te mentir e nem te
Omitir até porque não adianta, pois sei que
A alma humana jamais se engana quando se
Reconhece na outra tão anja quanto profana!
Guria da Gaúcha Poesia
ALMA INDIGENTE
Carente, doente e decadente pela alma a cada
Dia mais indigente, foi como me senti quando
Andei bem abaixo da linha da pobreza afetiva
E eu não te percebi alinhavar um só ponto pra
Tentar amenizar, minimizar, aliviar, remendar,
Remediar a minha dor, ao contrário alfinetaste
Mil intrigas, criaste briga, costuraste armações,
Manipulaste milhões de emoções e corações,
Enfim, participaste sim pro meu fim, pois efetiva
Querias acabar com a minha vida afetiva, afinal
Impertinente na vida que não te pertence, bem
Intransigente te metias noite-dia, já que querias
Ver-me morrer temente e doente como indigente,
Independente de contingente e continente, talvez
Somente pelo desamor desta gente meio demente,
Mas inteira tão indiferente à sina desta minha vívida
Fadiga pela desesperança assassina que não cansa
E alcança minha vida a cada dia menos bem-vinda e
Bem mais falida, maltrapilha, maldita, mendiga e suicida!
Guria da Gaúcha Poesia