Poemas e Poesias
ALUCINAÇÃO (soneto)
Perdoa-me, ó amor, por sonhar-te
Meu coração anda nu por te querer
Minh'alma te tens na razão pra valer
Pois, tu és no meu soneto dor e arte
Os meus olhos alucinam sem te ver
Nada vejo e, estás em qualquer parte
Nos meus desejos tornas-te encarte
De uma repetida narrativa, sem ser
A saudade faz loucuras que reparte
A alucinação de um mesmo sofrer
Pois tudo passa, e nada é descarte
E nestes rastros, sois o meu render
Frágil e também tão forte, dessarte!
Que me tem vivo neste túrbido viver...
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Fevereiro de 2017
Cerrado goiano
Insensatez
Você é minha consciência
Tão transparente como água
Aos tons da seda amarga
Desta inconsciência
Rubras sentenças que apaga
Feito uma praga
De veraneio ignorância
Despejando toda a ânsia
Monstro dentro da adaga
Perfurando a palavra
De perjúrio nesta saga
Parando o mundo Agora
Poente melodia sábia
Do que mais ria
Vinho
A cada beijo fica mais transparente
Mesmo fria sinto seu doce sabor
Sendo seca me das mais vigor
De todas és a mais atraente
Minha melhor amiga
Minha melhor amante
Venha deixar-me fumegante
Sem rodeios ou intriga
Contigo tenho mais chance
De ser o que sempre quis
Boêmio e sempre aprendiz
Viverei este eterno romance
Só tu entende este semblante
Que em minha vida és constante
Segunda Garrafa
Você altera meus sentidos
Bani meu discernimento
Aflora o velho ressentimento
Com sentimentos feridos
No doce sabor você me trai
Ao mesmo tempo que atrai
Através do que já sabia
Vide a bela agonia
De estar mais um dia
onde posso ver
e posso ser
Apenas na segunda rodada
é que se vê a magoa
de forma incessante
Brilho Eterno
Em um dourado luar
Da qual já não tenho ciência
Cheios da inocência
De pejos à beira mar
Fez então em um olhar
Todo o brilho que este pode lhe dar
Inundando de luz
Aquilo que seduz
Será que és um anjo
E essa são suas auréolas
Ou és o rearranjo
De certas pétalas
Que não ouso falar
Para tais olhos prontos para amar
Margarida
Bem me quer uma hora
Mal me quer em despedida
Bem me quer em sua vida
Mal me quer agora
Bem me quer Pandora
Mal me quer arrependida
Bem me quer a contrapartida
Mal me quer a que implora
Bem me quer senhora
Mal me quer na aurora
Bem me quer na ida
Mal me quer de saída
Bem me quer sonhadora
Mal me quer outrora
Segunda Via
Quero viver no sonhar
Pois lá você é minha
Onde toda fantasia obtinha
Sem medo de acabar
Realidade imaginada aclarar
Regada a doce molinha
Das lágrimas infinitas nessa linha
Dominado pelo desejo de amar
No véu e imaculado de um olhar
Enclausurado pela sede que tinha
Da venusta companhia
Que venho abonar
E nesse reino que quero morar
É onde a realidade vira poesia
Anjo Negro
Eu filho da crença e esperança
Dono de luz e paz
Acalanto mordaz
Escondido nessa temperança
Eu que sou de fala mansa
E discípulo de um solarengo
Mudo palavras de realengo
Do senhor da Hamsá
Recôndito nessa ânsia
Em suma instância
Envolto ao impossível
Como tudo que é invisível
Anjo resoluto e voraz
Da luz que não possuo mais
Você
Sinto falta de nossas conversas
Falta dos teus verdes olhos
Esperando meus conselhos
Com pedidos à expensas
De uma nova trama
Sem se importar com a minha má fama
Se ao menos pudesse velos
Quais são seus pesadelos
Se ao menos soubesse
O motivo disso tudo
O que vive lá no fundo
Se pudesse tocar tudo o que disse
E assim extraísse
Toda a dor do seu mundo...
Introdução ao réquiem
Venham todos e prestem atenção
Vou falar sobre uma maldição
Alguns a chamam de vida
E outros de causa perdida
Sim é sobre os amores
E tudo o que ele traz
Nobre capataz
Que floresce todas as cores
Sentido do viver
Em fim sem sentido
Devora tudo que é detido
Pelo sentimento sem querer
Constante errante
Constantemente irritante
Irreversível atroz
Comumente a nós
Primeiro Réquiem
Só a loucura faz sentido
Só ela serve de abrigo
Deixe a sanidade em seu jazigo
E o bom senso perdido
Olhe meu amigo
Um mundo distorcido
Seja bem vindo
E venha comigo
De valores invertido
Há de ficar enrubescido
Com o que digo
Palavras em castigo
Fique de orgulho ferido
E ache o próximo artigo
Réquiem 2
Para falar da morte
Tem que se falar da vida
E o que nela é contida
Tendo o amor de estandarte
Alegrias e dores também fazem parte
Em suma vontades sem sentido
Faz da razão um bandido
Tornando a vida uma arte
Sem certo ou errado
Onde nada é proibido
Para um coração inspirado
Na pratica um pecado
Por conta da libido
Então o amor é desferido
Réquiem 9
Só por hoje, morro satisfeito
Pois fiz tudo o que queria
E vivi o maximo que podia
Mesmo que tenha sido imperfeito
Sou grato pelo que teve feito
Colocando barreiras que impedia
Futuras desventuras em meu dia
Grato pelo sorriso sem jeito
E as palavras que tenha dito
Sempre em tom amigo
Inclusive as sem sentido
Meu atroz mais antigo
Sem nunca ter entendido
O porque te sigo
O VERDADEIRO AMOR
Quem sempre vive em dúvidas entre dois ou mais amores, não ama nenhum deles (se amasse não viveria em dúvidas).
O verdadeiro amor te abduz de todos os outros ditos possíveis amores; ele te torna visionário para a felicidade e, sendo assim, te cega e te mortifica para os encantos de qualquer outra pessoa; ele despreza tudo o que não seja o objeto do seu desejo.
O verdadeiro amor é fiel não por uma mera questão de caráter, ética ou moral, mas porque é da sua própria natureza sê-lo.
Dizem que a gente só ama de verdade uma ou duas vezes na vida. Dizem que o verdadeiro amor é eterno.
Penso diferente:
O verdadeiro amor acontece sempre, e em vários momentos durante a nossa vida: é quando você, ainda que por pouco tempo, quando está com alguém sensacional, muito além de especial, simplesmente não lembra ou não quer mais saber de ninguém.
SONETO DO ENCONTRO
De repente ali, eu e tu, numa colisão
O coração disparado tal doce jornada
Os olhos então calados, a mão suada
E o peito sussurrando toda a emoção
Aí uma voz fez saber da tua chegada
E neste silêncio seco, uma explosão
De um olá! Então me vi num turbilhão
Pouco se fez o tempo, na veloz toada
Busquei descerrar minh'alma fechada
Para devorar-te numa franca devoção
Tal qual a paixão no cerne encarnada
E então neste soneto a minha canção
Pra celebrar a quimera aqui cantada
De amor, que é possível, que é razão...
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Fevereiro de 2017
Cerrado goiano
SONETO DA PAIXÃO
Há que bom seria, poder tocar-te
Enrolar as minhas mãos no carinho
Entrelaçar o meu olhar no teu linho
Das carícias, assim, então amar-te
Há se eu pudesse trilhar o caminho
Dos sonhos que te fazem à parte
Dos ardentes desejos, ó doce arte
Bebida no afago, em taça de vinho
Onde andas tu ó cálida paixão baluarte
Venha e da solidão arranque o espinho
No vitral do sentimento és estandarte
Te quero no peito, coração, no verde ninho
Te espero no tempo que a demora reparte
Qualquer hora, não seja tarde, aqui sozinho!
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Fevereiro de 2017
Cerrado goiano
Foi preciso adentrar o túnel negro pelo qual acessava-se o poço
para eu cair na real e compreender que o poço não tem fundo - é apenas
o vazio abismal e sombrio em sua negritude tenebrosa e mortal. Foi então
que eu me voltei para meus dons naturais - dádivas de Deus -, e percebi
que neles residia meu resgate e minha salvação. Neles estavam a luz da
vida, e não podiam mais ser ignorados. Ou eu recorria a eles em busca
de abrigo e socorro naquele momento crucial, ou indubitável, inequívoca
e iminentemente sucumbiria ao caos absoluto numa sarjeta qualquer da vida.
Era enfim o tudo ou o nada. A sorte estava lançada para mim. Não tinha mais
como ignorar a covardia e o medo mórbidos que sempre haviam comandado
meus passos numa negativa constante e cega, resumidos num prazer doentio
e compassivo com a indolência que conduz à pobreza, ao desprezo dos
homens e à condenação dos deuses.
É eu sei
Tudo o que eu disse foi mentira
Sei que não tens motivos pra acreditar em mim
Não novamente
Eu jamais pensei
Que chegaria a esse ponto
Mas, eu apenas disse
O que você deveria e precisa ouvir
Mesmo que fossem mentiras
Agora...
Tenho que estar longe
De você e de todos
Ela inspira
Veem calada
Veem séria
Veem jogada
Conhecem com miséria.
Acham que sabem
Que sabem do que veem.
Eles veem com os olhos
Do que o coração está cheio.
Moça de poucos fins e muitos meios
Vivendo, sorrindo
Com esperança de recomeços.
Mesmo amada
Fecha-se a cara
O dia cinza
Sem pensar em nada.
Alma escondida, evita ferida.
Sabe o que sente
Sabe o que quer
Contra a mente
A dele
A própria.
Terá vida
De sutil glória.
Pele bronze
Sorriso branco,
Tenho certeza que nunca a verei em prantos.
Pois é forte.
Só veem o que há nela
Quem vê além.
Não além da morte
Além da sombra que a disfarça.
Vejo além:
No fundo dos olhos
No sincero do sorriso,
A verdade divina
Que lá resguarda.
[Eduarda
Amada.