Poemas e Poesias
FOLHAS DE PAPEL
Os meus olhos de menina
Enxergavam arco-íris através de cacos de vidro
Viam gafanhotos vestidos à rigor
Eles estavam sempre prontos pra festa
Em meus sonhos de menina os personagens dos livros ganhavam vida
Era possível sentar para um chá
Dividir uma toalha de piquenique
Em minhas mãos de menina as folhas de papel se transformavam
Em gaivotas que ganhavam os céus
Viravam barquinhos que navegavam em poças d’água deixadas pela chuva
Em minhas mãos de mulher
Basta pena e papel
Pra guardar a vida em poemas.
JÁ NEM SEI
Não sei se sou eu que grito
Ou roubei a voz de alguém
Se a dor que sinto é minha
Ou sofro por outra pessoa
Já nem sei se sou dona dos versos
Ou eles são donos de mim
Como é duro ser poeta
Que se afoga nos próprios versos
Ora chora
Em outra ri
Se esvai em grãos de areia
Renasce da folha morta.
À PROCURA
Paz
Encontrei em um ninho feito em uma árvore à beira da avenida
Carinho
Encontrei em um cafuné no sofá num dia frio de inverno
Paixão
Encontrei nas roupas espalhadas pelo chão da sala
Amor
Esse eu procurei e não achei
Foi então que o vi nascer
Crescer devagarinho
Ser cuidado noite e dia
Antes eu não entendia
Só o amor é assim
Ele não vem de repente
Cresce feito semente
Se bem cuidado
Não há quem arranque a raiz.
ENTRE PEDRAS
Já não sou flor de jardim
Aprendi a crescer entre pedras
Hoje nasço em frestas de muro
Cresço em rachaduras de asfalto
Sem o regar do jardineiro
Sobrevivo das gotas de orvalho
Já não sou flor de jardim
Cresço até em terreno baldio
Se arrancarem minha raiz
Brotarei novamente
Minhas sementes dei para os passarinhos.
Ser mãe
Chegamos ao mundo
Bem pequenininhos
E em nenhum segundo
Ficamos sozinhos
Afinal des do ventre
A ternura e afeição
São marcas registradas
De tamanha perfeição
Quem te abraça é ela
Em seu primeiro choro
E quando ta perdido
Ela te da socorro
Mae é obra divina
Foi Deus quem criou
Pois nada se compara
Em grandeza e amor
Mae é sinônimo de tudo
De bom nesse mundo
Pois ela nao te esquece
Por nenhum segundo.
Ilusório
seria muito bom
se nao fosse ilusorio
poder chegar a lua
assim num piscar de olhos
e ali esquecer a vida
mesmo que por um momento
Olhar a escuriao infinita
e aproveitar meus pensamentos
e então contemplar de longe
toda imensidão do mundo
enchergar tantas maravilhas
mesmo q por um segundo
aproveitar que ja estou la encima
e pedir pra falar com Deus
pra ver se ele me livra
de todos os problemas meus
e depois voltar pra casa
como se nada tivesse acontecido
pra perto dos meus visinhos,
familiares e meus amigos.
confesso que seria ótimo
mesmo sendo ilusorio
esquecer todos os problemas
assim num piscar de olhos
Abri os olhos e vi, Mas do que poderia acreditar.... Vi o ato da procura e percebi que já não poderia me afastar.
Aprendi da forma mais dolorida em que a vida fez me enxergar, e nem pude acreditar.
Sei do que sei, buscar? é aprender, por um motivo um alvo, uma razão...razão: faculdade do espirito em que o homem reflete, compara, conhece, julga, raciocina e conclui..
Pássaros ao entardecer
(Victor Bhering Drummond)
Sim, os pássaros voaram ao entardecer.
E sabiam que eu estaria exatamente ali
Com a câmera a postos à espera de seu revoar.
Buscava só uma casinha amarela, quase bucólica
Uma paisagem pra lá de conto de fadas
Um entardecer que revigorasse meus sonhos quando estou acordado.
Mas eles sabiam que eu precisava além de uma paisagem.
Que seria mais poético e encantador se junto com meus sonhos
Esse bando passasse e levasse junto meus desejos,
Para que além do cenário e do arco-íris, eles se tornassem realidade. (📷 @fabiolieblartndesign | Este cenário existe. É uma estradinha linda em Santa Catarina, ao pé da Serra Dona Francisca, chamada Estrada do Quiriri)
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ao som do bandolim
rodopiando rodopiando
te alcanço em mim
no batuque do pandeiro
trikiti trikiti trikiti
te imagino por inteiro
no embalo da sanfona
arrasta-pé a noite toda
você meu rei , eu sua dona
no compasso do violão
sentados no banquinho
junto ao meu teu coração
Salmos
Compilei no meu peito
Todas aquelas palavras
Que funcionam melhor
Ao pé do ouvido
E as transformei em orações
Tão sagradas
Que os deuses ainda
Hão de escutar
Quando eu as disser
Em voz baixa
Dentro da tua boca
Tocando-te o céu
Enquanto
De olhos fechados
Contemplaremos
O nascimento
De alguma Estrela
Quem vai quebrar o silêncio
Quando nosso peito calado pela distância
Sentir que há tempos já não tem voz?
Qual de nós dará o primeiro passo
Em uma corrida rumo ao abraço
Com braços atados por tantos nós?
Após a tempestade e alguma deriva
Será apenas o rancor quem flutua?
Ou será que a tua pele
Ainda navega tão viva
Procurando a minha carne
Qual a minha busca a tua?
Quem vai quebrar o silêncio
Quando nossa voz tingir-se de rouca
E o brilho dos olhos de escuridão?
Talvez os corpos falem sozinhos
E cada um quebre o próprio silêncio
Fazendo das tripas alguma canção.
É urgente olhar para o céu
Com a inocência de um animal
Negligenciar os saberes astronômicos
E medir as estrelas apenas
Com nossos olhos
Tão pequenas
Em nosso enfoque
É preciso
Pensar na lua sem compreendê-la
E reaprender aquela
Admiração natural
Deixar de lado o conhecimento
É urgente olhar para cima
Com nossos olhos de bicho
Para depois olharmo-nos
De frente
Dentro dos olhos
Com o sentimento puro
De imensidões de almas
Que se sabem em corpos
Tão pequenos
Feito as estrelas no céu
Poda:
Era uma roseira diferente:
Seus espinhos brotavam para dentro
Ninguém os via
Ninguém os tocava
Ninguém os sabia
E a roseira, na tentativa de gritar
Abria rosas indescritíveis
Em noites de lua, sonhava podas
Todas bem rente ao chão
Mas ninguém a podava
Abriram espaço em seu jardim
Para que todos a contemplassem
Conheceu a solidão
Seus espinhos cresciam
A dilaceravam por dentro
A cada nova estação
E ela gritava dezenas de rosas
Uma lágrima em cada botão
Quando afagavam seu caule liso
Ela se contorcia de dor
Sentia os espinhos cravando
Queixava-se abrindo outra flor
Um dia, os espinhos já grandes
Formaram nódulos pelo seu corpo
Uma espécie de tumor
Cansada, não abriu flores
Podaram-na rente ao chão
E ela conheceu um pouco
Daquilo que é não ter dor
Quis mostrar uma folha ao sol
Mas a coragem faltou
Recusou a água
Recusou o adubo
Rejeitou a terra
A mesma terra que a criou
Ali desapareceu
E todo o jardim se abriu em flor.
Mundo Melhor
Passamos prum mundo melhor
nas aulas do Lyceo Pytanga
dod'os alunos estudam muito
e ninguém aprende nada
País Órfão
Breve anseio
Pela igualdade e prosperidade
Nunca alcançaremos
Enquanto necessitarmos de regime paterno
Onde os filhos da pátria
Não aprendem a pensar.
PENAS E GUERRAS
O homem em busca de paz
Escolhe armas para lutar
O poeta em busca de mais
Recolhe as penas que os escreve poemas
Transforma em asas
Para voar.
Ainda é abril. Nenhuma folha tombou neste outono. Ainda. Já passamos longe daquele ano dois mil. E há tanto cansaço nos espíritos sensatos.
Devíamos ter avançado?
Mais uma vez teve arma química. E na rua, briga. Gente unida pelo egoísmo. Egoísmo coletivo. Dos meus companheiros contra os teus.
Não devíamos ter avançado?
Ainda é abril. Há sangue ofertado, escorrido aos pés dos ídolos. É abril. Nenhuma folha tombou, ainda. Os ídolos, agora, são todos feitos do metal mais vil. Todos!
Mas não devíamos ter avançado?
Ainda é abril. E não tombou nenhum espírito cansado. A sensatez lhes pesa nos ombros. Todos! Pesa, justamente ela, a lucidez que nos traz esperança. Ainda.
Sem clichês, por favor,
Sem frases prontas de amor
Nem conselhos exaustivos
Nem bajule a falsos mimos
Meus ouvidos, por favor,
Sem desculpas esfarrapadas
Sem jogadas ensaiadas
Sem engolir meu tempo curto
Com os mesmos vãos discursos
Rastros de sangue
(Victor Bhering Drummond)
Deixei meu rastro carmesim pelas ruas
Sem feridas, sem desespero, sem drama.
Deixei meu rastro vermelho pelos caminhos.
Calma, não se preocupe,
Não estou de cama.
É apenas meu coração transbordando amor e paixão.
Facilitei as pistas para você me encontrar
Caso se perca por aí, na multidão.
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