Poemas e Poesias

Cerca de 57981 poemas poesias Poemas e Poesias

Amor de irmãos é amor diferente
Não é amor que se contente
Como os outros amores por aí
É terra do mesmo vaso
É amizade sem acaso
É tanto se chora como se ri
É um amor que também é guerra
É acerta hoje e amanhã erra
E tudo vai no esquecimento
São as memórias da mesma casa
E as palavras em tábua rasa
Que só se sentem no momento

E nos irmãos os segredos
As alegrias e os medos
Que se guardam no olhar
E há também as gargalhadas
E as verdades atrapalhadas
Que não se podem contar
É mais forte que todo o resto
É de todos o mais honesto
E talvez o mais bonito
É para sempre a união
E o amor por um irmão
Incondicional e infinito

Briguento e melhor amigo,
protegido e protetor.
Juntamos as alegrias,
dividimos cada dor
desde os tempos de criança,
guardamos cada lembrança
no fundo do coração.
Na vida tem muito ex,
mas eu garanto o vocês,
que não existe ex-irmão.

⁠Descobri o meu país

Subi a montanha
e no seu topo os anjos me cercaram
e me engrinaldaram a fronte
com as flores do céu.
Asas zumbiam
em harmonias fragílimas
e vozes de arcanjos louvavam a paz.
Derramaram sobre meu corpo
sete bálsamos purificadores
e fizeram-me beber
ambrosia e mel.
Banharam-me no rio da música
e eu saí ingênua
como o canto de uma criança.
E depois surgiram novos anjos
e não havia noite
e não havia dia.
E a ambrosia e o néctar
deslizavam com fartura celestial.
E novas canções se entoaram
sempre em louvor a Deus.
E não havia noite
e não havia dia.
E aos poucos cresceu dentro de mim
o desespero
e eu busquei em vão os olhos celestiais.
Eles nada diziam
e cantavam a paz.
E aos poucos uma nostalgia
me enlanguesceu
e eu era o arco distendido
sem a flecha
e eu buscava o ar
sem respirar.
Um anjo me interrogou: mais néctar?
Eu gritei: quero cheiro da terra!
E o anjo me perdoou
E eu cansei de ser perdoada,
eu queria sofrer.
E não havia noite e não havia...
Quebrei minhas asas,
desci a montanha
e vivi na Terra!

Homens amavam
e cansavam do amor.
Homens bebiam sangue
e descobriam
que não desejavam brigar
Entoavam-se cânticos místicos
onde só havia a insatisfação.
E depois homens morriam
e todos sabiam que era o fim.
Nem a terra,
nem o céu!

Fechei-me num quarto,
inventei outro Deus,
outro céu, outra terra
e outros homens.

Clarice Lispector
Dom Casmurro, 25 out. 1941. In: Moser, Benjamin. A Newly Discovered Poem By Clarice Lispector. Revista de Literatura Brasileira, n. 36, p. 37-46, ano 20, 2007.

Nota: Esse é um dos dois únicos poemas que foram publicados em vida por Clarice Lispector. O outro poema publicado em vida pela autora é A mágoa.

...Mais

⁠Um coração para duas alma
sentimento compartilhado.
Falo que a amo, sinto que sou amado.
Já não tenho ideias para escrever.
Mas esse poema é pra você.

Posso escrever mil rimas sobre seu sorriso.
Nenhum irá dizer o quanto vale seu brilho.
Posso escrever mil letras falando sobre nossa paixão.
Nenhuma irá conseguir dizer o que realmente tenho no coração.

Imagino nós dois, em beira de mar.
Somos livres para viver, livres a amar.
Sinto seu amor no teu abraço.
Vamos fortalecer nosso laço.

Quero novamente sentir seu calor.
No seu beijo quero sentir o amor.
Nossa relação não tem falhas.
Realmente é como se fosse… Um coração para duas almas.

Sob o comando do céu azul,

No azul do mar repousado,

A riqueza em letras de Libra,

Pode ser completamente perdida.



Nas mãos feminina está o destino,

Do nosso povo sofrido,

A aurora pode se esgotar...,

Por causa deste outubro talvez perdido.



Não sabemos como será,

Talvez já era o amanhã;

A balança será findada

Pelo toque da martelada.



Temos uma força rendida,

As vozes estão silenciadas,

Trilhas desviadas...,

As almas roucas, e outras sem vida.



Neste outubro talvez perdido,

Cor de chumbo,

Gigante distraído,

O país está comprometido.



Descansa a lira das veredas,

Repousa a harpa das Geraes,

Ergue, enfrenta e reage,

Por um Brasil de paz.

A beleza da natureza

Você é linda,
e eu vim a esse mundo apenas para admirar
a beleza da natureza,
com especialidade a feminina (e existe outra?)
Você é como uma flor e oferece,
mesmo sem se dar conta disso,
cores, texturas, sabores, odores,
enfim, só por existir, já torna esse universo
um lugar muito agradável de se dar um passeio.
É isso, a vida sem mulheres como você
não teria a menor graça.
Um shopping center, sem borboletas,
seria apenas um ponto de venda,
vendendo sorvete sem sabores,
vinhos feitos de água,
perfumes feitos de álcool
ou água engarrafada.
Sopra pela janela o teu melhor sopro,
e eu vou sentir balançar
as folhas das árvores aqui do lado.
Mas não faz isso como muita força,
porque alguma outra mulher pode soprar do oceano,
e quando duas correntes se encontram
pode causar alguma catástrofe em qualquer canto.

Rapaz acredita em ti e nas tuas capacidades,
vai a luta,
porque tens um mundo pela tua frente de oportunidades.

Lá vou eu pela a rua abaixo a pensar,
e digo qual destes temas será bom para rimar.
Os anos vão passando e eu amando esta cultura,
nesta estrada longa sem apoio e sem ajuda.

Que se foda a vossa falsidade,
enganam-se uns aos outros
nunca dizem a verdade.

Fica lá com o ouro
eu quero é rimar,
meu maior tesouro
é poder concretizar.
Sou um ser humano
que te pode surpreender,
checa esta rima
para um dia poderes vencer.

Vamos lá mano
começar a improvisar
mostrar a este povo
que também sabes rimar.

Lágrimas

Gotinhas húmidas e transparentes
queimam o meu rosto cansado!
Mas não são lume!
São lágrimas fortes e quentes,
são um grito silenciado
num silencioso queixume.

São um livro fechado
tão quase depois de o abrir,
são o poema inacabado
que a meio quis partir.

E nessa lágrima transparente,
nesse silencioso queixume,
morreu o sorriso inocente
numa gotinha quente
que queima sem ser lume!

Fernanda Rocha Mesquita

VAGA-LUME

A lombra homeopática
Em meus olhos vislumbrava
A escuridão envolta
A meu corpo que reluzia

Eu não sabia
Se era um infeliz sonhando
Com a felicidade
Ou se alegre pirilampo
Imerso nas quimeras humanas

Engolindo a seco

A angústia atrevida, sempre chega de mansinho.
Entra na minha casa, invade a minha vida,
isso sem ao menos, perguntar se deveria.

Entra na cozinha, senta, e ainda
pede um chá.
E quando resolve se espalhar no meu sofá, pede pipoca, e ainda quer guaraná.

Assiste minha vida, com o controle nas mãos.
Enquanto ela sorri, eu perco meu chão.
Vira meu mundo de pernas para o ar e ainda me diz calmamente, você que aguente com seus próprios caos.

Eu grito, some!
Ela obedece, mas leva meu coração.
Oh, até quando será essa triste batalha?
Quando penso que acabou, ela me surpreende com novas etapas.

Ninguém vê, ninguém sente, ainda assim, são capazes de julgar.

Eu sei que ainda há chão, mas agora estou pulando num pé só, dou um passo por vez, que é para não perder a louca vontade de recomeçar.

Meu Deus, guie meus passos ou me dê asas, só assim eu voo, para longe de mim mesma.
Porque eu descobri, que sou eu o tempo todo!
Eu ... Eu mesma, com os comigos de mim.
Autora #Andrea_Domingues ©

Todos os direitos autorais reservados 24/05/2020 às 18:50 horas

Manter créditos de autoria original _Andrea Domingues

Museu

Há pratos, mas falta apetite.
Há alianças, mas o amor recíproco se foi
há pelo menos trezentos anos.

Há um leque — onde os rubores?
Há espadas — onde a ira?
E o alaúde nem ressoa na hora sombria.

Por falta de eternidade
juntaram dez mil velharias.
Um bedel bolorento tira um doce cochilo,
o bigode pendido sobre a vitrine.

Metais, argila, pluma de pássaro
triunfam silenciosos no tempo.
Só dá risadinhas a presilha da jovem risonha do Egito.

A coroa sobreviveu à cabeça.
A mão perdeu para a luva.
A bota direita derrotou a perna.

Quanto a mim, vou vivendo, acreditem.
Minha competição com o vestido continua.
E que teimosia a dele!
E como ele adoraria sobreviver!

A pálida luz da manhã de Inverno,

A pálida luz da manhã de Inverno,
O cais e a razão
Não dão mais esperança, nem uma esperança sequer,
Ao meu coração.
O que tem que ser
Será, quer eu queira que seja ou que não.
No rumor do cais, no bulício do rio
Na rua a acordar
Não há mais sossego, nem um vazio sequer,
Para o meu esperar.
O que tem que não ser
Algures será, se o pensei; tudo mais é sonhar.

Fernando Pessoa
Livro Poesias Inéditas (1919-1930)

As Meninas

Arabela
abria a janela.

Carolina
erguia a cortina.

E Maria
olhava e sorria:
"Bom dia!"

Arabela
foi sempre a mais bela.

Carolina,
a mais sábia menina.

E Maria
apenas sorria:
"Bom dia!"

Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;

uma que se chamava Arabela,

uma que se chamou Carolina.

Mas a profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,

que dizia com voz de amizade:
"Bom dia!"

Na chácara do Chico Bolacha
o que se procura
nunca se acha!

Quando chove muito,
O Chico brinca de barco,
porque a chácara vira charco.

Quando não chove nada,
Chico trabalha com a enxada
e logo se machuca
e fica de mão inchada.

Por isso, com o Chico Bolacha,
o que se procura
nunca se acha.

Dizem que a chácara do Chico
só tem mesmo chuchu
e um cachorrinho coxo
que se chama Caxambu.

Outras coisas, ninguém procura,
porque não acha.
Coitado do Chico Bolacha!

Eu tenho a natureza, a arte e a poesia, e se isso não for o suficiente, o que é?

Todos os dias devíamos ouvir um pouco de música, ler uma boa poesia, ver um quadro bonito e, se possível, dizer algumas palavras sensatas.