Poemas e Poesias
A saudade está impressa
Nas lembranças do mar
A vida com a sua pressa
As levou do meu sonhar
As trouxe cá pro cerrado
Estribou no galho torto
O fado pelo fado versado
Fazendo aqui de meu porto
Luciano Spagnol
Coração de renda
Nos sonhos me perdi
Aqui no cerrado goiano
Como pás de moenda
Britei sertão e oceano
Da sorte tive oferenda
Do destino está opção
Se a solidão abriu fenda
O amor coseu emoção
Num coração de renda
Abraço
Dos gestos o mais lido é o abraço
Envolvem a alma em laço
Tem amarração e proteção
Embrulha o corpo de carinho
Nos braços tecem o ninho
Do bem querer, do bem receber
De coração a coração, afeto no viver!
Luciano Spagnol
Dualidade
Oh fado, oh cerrado!
Chorei nostalgias calado
Tortuosa em ti a emoção
Trouxeste comitiva e solidão
Terei lembrança toda vez
Ao ver secura, ver nudez
Dos campos e sua rudez
Ah! Como conter o desejo
E o displicente lampejo
Do ávido adeus, sem pejo
Apenas sonhado despejo!
Oh fado, oh cerrado!
Encantado e desencantado
Magia de mato encurvado
Em ti sou dualidade, atado
Quando eu me for, enfim
Num novo início ou no fim
Terei e não terei saudades, sim...
Oh fado, oh cerrado!
Luciano Spagnol
Tristura
Eu estava a chorar
E na tristura e lágrimas
Pus a alma a pensar
Das angústias e lástimas
E nesta sumarenta dor
Escorrendo em desestimas
O que me alentou foi o amor
Luciano Spagnol
Manifesto
Então soletre-me atentamente
Cada letra o som do meu olhar
Leia-me e guarde mentalmente
Estes versos que querem amar
Por eles os faço solenemente
Luciano Spagnol
Fugaz
Quero o ar do imaginário
Me perdendo na melodia
Quero todo o vocabulário
Das rimas sem melancolia
Que tudo não seja breve
A hora só traga hegemonia
Que a noite e o silêncio seja leve
Quero todo o tempo na poesia
Onde minha alma fique alqueve
Pra cantar-te beijar-te amar-te, ao meu coração alforria.
Tudo é fugaz, a vida mais fugaz ainda... Breve!
Luciano Spagnol
Refundir
Respiro os sonhos, acordado
As dores são suspiros
Inflados no peito, chorado
Que na alma criam giros
Da vida aos quais se é laçado
Criando loucuras e estupidez
Quando vale a pena é ser amado
Mergulhar nesta sensatez...
Se o fato está desgovernado
Refunde como se fosse a primeira vez
Resgatando o bem e a harmonia
Sem nenhuma escassez
Na emoção criando sabedoria
E no amor solidez...
Luciano Spagnol
beijo
beijo inocente
beijo roubado
adolecente
enamorado
beijoca, beijinho
fraternidade
fração do carinho
beijo de amizade
amigo,
doce abrigo
beijo,beijos,beijo
de despedida
lágrimas e cortejo
alma partida
beijo traíra
enganador
beijo cuíra
estertor
beijo
beijemos
gracejo
apaixonemos
desejo
bom mesmo é beijar!
um beijo, mil beijos
afeto, carinho
ensejo
de amor
beijos!
Luciano Spagnol
Páscoa...
Renascer... Germinar o coração
Na esperança a renovação
No amor a reflexão...
Que possamos olhar os aflitos
O que tem dor em seus gritos
Que pede socorro, o miserável
O faminto, o de pouca fé inaliável
Esquecidos da fidelidade de Deus
Nos embustes de nosso viver
(O Pai!) Não nos deixe esquecer
Do Teu sacrifício
Em nossa omissão
Preterição...
Pois não existe artifício
Que não o único caminho
A única verdade, o único amor
A Trindade, nosso paterno protetor
Que venha ao nosso encontro
Pra tornarmos mais solidários
Menos egoístas, menos solitários
Nesta nossa vida penitente
De sobressaltos presente
Ofertando carinho, afago
Sorriso fiel e largo, e assim trazer:
Vós conosco em verdade
Em luz no nosso viver
Não importando o quão é difícil
Se muito, agradecendo o pouco
Se pouco, partilhando o muito
Para gozarmos juntos à felicidade
Perpetuando a alma na eternidade
Oh Senhor! Nosso louvor!
Derrame em nós a dádiva que perdoa
Inundando com Sua afeição que povoa
O nosso espírito....
Feliz Páscoa!
Luciano Spagnol
Na noite solitário já chorei
Naquela música emocionei
Na solidão eu já fui peão
Da dor eu fui escravidão
Tentei no vasto e no pouco
Odiei um momento ou outro
Já fui magoado e magoei
Amei, fui amado, e não amei...
"Somos tudo num só e nada num todo
O bem e mau que inquieta e acalma
Sacudindo o agitado silêncio da alma."
Às vezes o afeto está em apenas uma palavra, e o afago nela estará...
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
e de repente o cerrado amanheceu
o sol está lá fora para o seu apogeu
a cidade acorda para mais um dia
os pássaros já estão em euforia
e a vida novamente num mais um
BOM DIA!
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
VISÃO
No cerrado vi um peão a toda brida
Pelos cascalhados da árida estrada
Do meu sonho não entendia nada
Se eu estava na morte ou na vida
Entre folhas ressequidas, adormecida
Uma caliandra, sendo colhida por fada
Em cachos, no beiral da lua prateada
Numa tal tenra pálida beleza já vencida
E nesta ilusão a ele fiz uma chamada
Vós estás de chegada ou de partida?
O tal peão, O Tempo, de sua cruzada
Respondeu: não tenho alguma parada
Levo comigo o podão de toda a vida
A caliandra colhida, é tua infância perdida.
Viva SÃO JOÃO!
Vamos todos festejar
o glorioso SÃO JOÃO..
Em volta da fogueira, louvar,
este Santo da multidão...
Na mesa a nos convidar,
pipoca, milho, paçoca, quentão...
Viva! Viva! SÃO JOÃO!
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
SONETO DA SEGUNDA FEIRA
Por seres o primeiro dia útil da semana
O dia da tal preguiça a tu entitulada
Por seres tão lenta a manhã raiada
És indesejada, ao despertar tirana
Por seres ao mau agrado condenada
Num trato pequeno, de simples fulana
Por seres mais que um início traquitana
És evitada, e tão pouco mais celebrada
Como a coirmã, sexta, tão aplaudida
Querida, e esperada. És desanimada
Como um fim de festa, ali, chicana
Por não ter outra ou qualquer saída
És encarada como anódina estrada
E nesta pendenga és outra semana...
Luciano Spagnol
Junho de 2016
Cerrado goiano
DIA DOS AVÓS
Vovô e vovó, seu dia
Hoje o dia é de amor dobrado
É colo de infinita sabedoria
Nos nossos dengos parceria
Vovô e vovó, aqui destacado
Eles, pelo amor tudo renuncia
Ao inteiro dispor do neto amado
Queridos de um afeto açucarado
Em nossas vidas, acolhedora alegria
Como pode ter tanto amor guardado
Neste duplo coração, uno, de magia
Que levamos na lembrança amainado
Vovós, na proteção duplicada, folia
No seu reino o netinho faz reinado
Deste amor geminado com garantia
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
CONFISSÃO
Perdoa, pelos tantos erros perpetrado
Pela omissão que em mim acaso calei
A confissão que na falta não confessei
Num tal medo do ser réu no ser culpado
Perdão, se dos enganos eu pouco falei
Quando o silêncio tinha de ser quebrado
E a confidência na confiança ter selado
Mas, na insegurança a coragem hesitei
Na utopia do outro que era equivocado
Levei a ilusão de que ser manhoso é rei
E que num novo dia novo renascia o fado
Se, cedo ou tarde, confesso que errei
Às tantas palavras, se foram desagrado
Perdoa, a nímia mácula que eu causei
Luciano Spagnol
Julho, final, 2016
Cerrado goiano