Poemas e Poesias

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Hoje quero com a violência da dádiva interdita.
Sem lírios e sem lagos
e sem o gesto vago
desprendido da mão que um sonho agita.
Existe a seiva. Existe o instinto. E existo eu
suspensa de mundos cintilantes pelas veias
metade fêmea metade mar como as sereias.

Hoje apetece que o cigarro saiba
a ter fumado uma cidade toda.
Ser o anel onde o teu dedo caiba
e faltarmos os dois à nossa boda.

Hoje apetece um interior de esponja
E como estátua a que moldar o vento.
Deitar as sortes e, se sair monja,
Navegar ao acaso o meu convento.

Hoje apetece o mundo pelo modo
Como vai despenhar-se um trapezista.
Abrir mais uma flor no nosso lodo:
Pedir-lhe um salto e retirar-lhe a pista.

O Testamento dos Namorados

Escolhamos as coisas mais inúteis
o verde água o rumor das frutas
e partamos como quem sai
ao domingo naturalmente.

Deixemos entretanto o sinal
de ter existido carnalmente:
da tua força um castiçal
da minha fragilidade um pente.

Esse hieróglifo essa lousa
deixemos para que uma criança
a encontre como quem ousa
um novo passo de dança.

Como a chuva não cessasse de cair em caudais,
Tiras de tinta começaram a aparecer na fotografia
O tecto da chuva rompera o abrigo da sua alma
E o verde circulava a deriva rompendo as plantas.
Elvira deixara cair seus olhos de objectiva nas
Folhas verdes. Verificava que era sobre elas e como
Elas que sempre olhara a natureza. Ver o real
Em folhas era amá-lo ininterruptamente. Essa
Contiguidade acabara por compor uma rede
Que tinha tanto de próximo como de diferente,
E a chuva não era chuva, transparecia. Eis, pensou.
Por que chove na fotografia, por que chove
Em correntes sobre as folhas?

Troco-me por ti
Na brasa da fogueira mal ardida
renovo o fogo que perdi,
acendo, ascendo, ao lume, ao leme, à vida.

E só trocado, parece, por não ser
na verdade conjugo o velho verbo
e sou, remido esquartejado,
o retrato perfeito em que exacerbo
os passos recolhidos pelo tempo andado.

Devagar te amo, e devagar assomo
os dedos à altura dos olhos, do cabelo
dos anéis de outro turno, que é só meu
por querê-lo, meu amor, como a ti mesma quero
nos tempos de passado e sem futuro.
Devagar avanço um dealbar de dias
que vida seriam - mesmo que morto, à noite,
eu voltasse amargurado mas presente,
calado e quedo, e devagar amando.

Não tenho para ti quotidiano
mais que a polpa seca ou vento grosso,
ter existido e existir ainda,
querer a mais a mola que tu sejas,
saber que te conheço e vai chegar
a mão rasa de lona para amar.

Não tenho braço livre mais que olhar
para ele, e o que faz que tu não queiras.
Tenho um tremido leito em vala aberta,
olhos maduros, cartas e certezas.

Neste comboio longo, surdo e quente,
vou lá ao fundo, marco o Ocupado.
Penso em ti, meu amor, em qualquer lado.
Batem-me à porta e digo que está gente.

Não quero essa mudez de condolências
a mim, a ti, ou só à terra
que tu e eu pisamos — e comemos.
Pergunto simplesmente se tu eras,
quem eras, e onde foste
depois que se fizeram quatro horas.

Disforia

Quando olho no espelho, não encontro bailarina, o sorriso de menina, desta alma feminina...
Refletir me entristece!
O que vejo é masculino.
Quero encontrar no externo.
O que vive no interno.
No inverno ou no verão cantará meu coracão.
Emoção, satisfação , chuva de interrogação.
O espelho só reflete o brilho do meu coração.
Agora preste atenção!
Não se prenda na ilusão!
Que o externo é verdadeiro separado do interno...
Quando olho para o espelho eu não vejo o interno.
Não me prendo no externo.
E fica a interrogacão??
Se o que vejo e um reflexo...
Onde está meu universo?

Há a mulher que me ama e eu não amo.
Há as mulheres que me acamam e eu acamo.
Há a mulher que eu amo e não me ama nem acama.

Nos teus olhos
altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensangüentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não
podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não
podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não
podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não
mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não
tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

A HISTÓRIA DA MORAL

Você tem-me cavalgado
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.

Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo.

O poeta é sim um bom fingidor,
Porém reconhece seu amor.
Diferencia o luxo com simplicidade,
Para viver em tranquilidade.
Esquece o tempo do tempo,
E vive sem perceber o passar do tempo.

São desejos profundos com a perda da razão.
Esse efeito artístico se chama ilusão.
É enganando os sentidos que se distancia a realidade.

Se ouvires o canto do vento
a soprar em teus ouvidos
saibas que foi Deus que o compôs
para que ouças os sustenidos

São palavras de pleno amor
numa canção de carinho
ouvindo-a serás abraçado
não ficarás mais sozinho

Deus está a te acompanhar
através dessa amplidão
ordena a natureza para musicar
mesmo que não ouças a canção

Despedida

Me desculpa vir aqui assim
Perdoa eu entrar desse jeito
A porta estava aberta meu caro,
Então entrei com todo respeito

Reparei em toda bagunça
Reparei em sua confusão
Inevitável não reparar em tudo,
Desculpa,não foi minha intenção.

Tentei ajudar,meu amigo,
Tentei encontrar uma solução
Você precisava de ajuda
Mas tudo que fiz foi em vão.

A bagunça continua ali
A confusão está intocável
Fui embora sem me despedir
Aos choros de quem me viu partir.

Te amar foi muito fácil...
Difícil foi te esquecer...
Foi por teu sorriso grácil
que me deixei envolver...

Por feitiço, ao teu olhar
me ví assim, cativada...
Nele eu me deixei estar
e não pensei mais em nada...

Agora não sei voltar...
Eu perdi a direção...
Tento a tua imagem apagar...
Mas ai de mim, perdição.

Obrigada por me ensinar,
que o amor ,pode muito bem machucar,
e que palavras e atitudes podem ser como uma facada em meu peito,
que só se deve amar a quem você conhece direito,
pra não te entristecer,
só te fazer sofrer..

Gosto de letras simples e ingênuas
formando versos que mandem flores
para que a vida de todos seja um jardim
repleto de paz, amor e muitas cores

Eu nunca te senti
eu nunca olhei nos teus olhos
eu nunca chorei no teu ombro
eu nunca sorrir nos teus braços
mas eu sempre te amei
o meu amor por ti chegou a um ponto
que virou paixão
eu não soube lidar
eu não consegui suportar
a minha alma chora
o meu coração grita
e eu continuo aqui
a chorar.