Poemas do Século XIX

Cerca de 1376 poemas do Século XIX

Capitu falou novamente da nossa separação, como de um fato certo e definitivo, por mais que eu, receoso disso mesmo, buscasse agora razões para animá-la.

Machado de Assis
Dom Casmurro

De um ato do nosso governo só a China poderá tirar lição. Não é desprezo pelo que é nosso, não é desdém pelo meu país. O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco. A sátira de Swift nas suas engenhosas viagens cabe-nos perfeitamente. No que respeita à política nada temos a invejar ao reino de Liliput.

Machado de Assis
Diário do Rio de Janeiro, 29 dez. 1861.

A felicidade estava nas minhas mãos, presa, vibrando no ar as grandes asas de condor, ao passo que o caiporismo, semelhante a uma coruja, batia as suas na direção da noite e do silêncio...

Machado de Assis
ASSIS, M. Obra Completa, Vol. II. Rio de Janeiro:Nova Aguilar, 1994

A natureza tem suas leis imperiosas; e o homem, ser complexo, vive não só do que ama, mas também (força é dizê-lo) do que come.

Machado de Assis
A mão e a luva (1874).

A imaginação multiplicava os zeros; com um grão de areia construiria um mundo.

Machado de Assis
A Mão e a Luva (1874).

Os cabelos, cor de prata fosca, emolduravam lhe o rosto sereno, algum tanto arrugado, não por desgostos, que os não tivera, mas pelos anos. Os olhos luziam de muita vida, e eram a parte mais juvenil do rosto.

Machado de Assis
A Mão e a Luva (1874).

Obsequiava sem zelo, mas com eficácia, e tinha a particularidade de esquecer o benefício, antes que o beneficiado o esquecesse.

Machado de Assis
Iaiá Garcia

Se achares três mil-réis, leva-os à polícia; se achares três contos, leva-os a um banco.

Machado de Assis
Notas semanais, 7 jul. 1878.

Os sapateiros não fariam mais sapatos, se acreditassem que todos iam nascer com pernas de pau.

Machado de Assis
Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 24 mar. 1885.

Então considerei que as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar.

Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Typografia. Nacional, 1881

Venha, venha o voto feminino; eu o desejo, não somente porque é ideia de publicistas notáveis, mas porque é um elemento estético nas eleições, onde não há estética.

Machado de Assis
ASSIS, M., "Histórias de 15 Dias", 1 de abril de 1877

O arvoredo dos morros fronteiros estava coberto de flores-da-quaresma, com suas pétalas roxas e tristemente belas.

⁠É próprio das famílias numerosas brigarem, fazerem as pazes e tornarem a brigar; parece até que é a melhor prova de estar dentro da humanidade.

Machado de Assis
Páginas recolhidas. São Paulo: FTD, 2012.

Nota: Trecho da crônica O velho senado, publicado na "Revista brasileira", em junho de 1898.

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⁠Há umas plantas que nascem e crescem depressa;outras são tardias e pecas. O nosso amor era daquelas; brotou com tal ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, era a mais vasta, folhuda e exuberante criatura dos bosques.

Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Typografia. Nacional, 1881

⁠Não havendo nada que perdure, é natural que a memória se esvaeça, porque ela não é uma planta aérea, precisa de chão.

Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Typografia. Nacional, 1881

⁠Em verdade vos digo que toda a sabedoria humana não vale um par de botas curtas.

Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Typografia. Nacional, 1881

⁠Quando uma criatura ama, (...) todos os meios de poupar-lhe as comoções são nulos.

Machado de Assis
Não é mel para boca de asno (1868).

Eu podia comparar a ambição às flores que primeiro abotoam e depois desabrocham.

Machado de Assis
Balas de estalo. Rio de Janeiro: Vermelho Marinho, 2019.

Digo aos moços que a verdadeira ciência não é a que se incrusta para ornato, mas a que se assimila para nutrição.

Machado de Assis
A nova geração. Rio de Janeiro, RJ: Revista Brasileira: Jornal de literatura, teatros e indústria, 1879.
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Jesus Cristo não distribui os governos deste mundo. O povo é que os entrega a quem merece.

Machado de Assis
Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: H. Garnier, Livreiro-Editor, 1904.