Poemas do Século XIX

Cerca de 1374 poemas do Século XIX

Para mim, cada hora de luz e de escuridão é um milagre. Cada centímetro de espaço é um milagre.

Unidas… Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rodas da vida,
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!

Castro Alves
ALVES, C., Espumas Flutuantes, 1870

Nota: Trecho de "A Duas Flores"

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Deixa-te disso criança
Deixa-te de orgulho que o orgulho cega
Não vês que esta vida é um oceano
Por onde o acaso navega.

...

Esta poesia não é de Gonçalves Dias, é de Castro Alves.

Boa Noite

Boa noite, Maria! Eu vou,me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde. .
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite! ... E tu dizes - Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
— Mar de amor onde vagam meus desejos!

Julieta do céu! Ouve... a calhandra
já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti? ... pois foi mentira...
Quem cantou foi teu hálito, divina!

Se a estrela-d'alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."

É noite ainda! Brilha na cambraia
— Desmanchado o roupão, a espádua nua
O globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua. . .

É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores.
Fechemos sobre nós estas cortinas...
— São as asas do arcanjo dos amores.

A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!

Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora. . .
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!...

Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
— Boa noite! — formosa Consuelo.

Castro Alves
ALVES, C., Espumas Flutuantes, 1870

São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas,
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas.... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntas as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do Amor

Castro Alves
ALVES, C., Espumas Flutuantes, 1870

Nota: Trecho de "A Duas Flores"

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Coração

O coração é o colibri dourado
Das veigas puras do jardim do céu.
Um – tem o mel da granadilha agreste,
Bebe os perfumes, que a bonina deu.

O outro – voa em mais virentes balças,
Pousa de um riso na rubente flor.
Vive do mel – a que se chama “crenças”,
Vive do aroma – que se diz “amor”.

Castro Alves
ALVES, C., Espumas Flutuantes, 1870

O Navio Negreiro

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.

'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...

Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!

Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia.

Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.

Certas criaturas têm a mania de dar bons conselhos precisando tanto deles para si... É o que chamo de cúmulo da generosidade.

Oscar Wilde
O Retrato de Dorian Gray (1890).

Por um Ai

Se me queres ver rendido,
De joelhos, a teus pés,
Por um olhar que me deites,
Por um só ai que me dês;

Se queres ver o meu peito
rugindo como um vulcão,
Estourar, arder em chamas,
Ferver de amor e paixão;

Se me queres ver sujeito,
curvado e preso à tua lei,
Mais humilde que um escravo,
Mais orgulhoso que um rei;

Meus olhos sobre os teus olhos,
Meu coração a teus pés;
Por um olhar que me deites,
Por um só ai que me dês;

Ouça, feliz, dos teus lábios
Esta só palavra - amor! -
Estrela cortando os ares,
Abelha sobre uma flor.

Então verás dos meus olhos,
Que o pesar me não cegou,
Ebentaram de alegria
Prantos, que a dor estancou;

Então verás o meu peito
Como outra vez se incendia:
Era a folha verde e fresca,
Onde o sol se refletia!

Murcha e triste pende agora;
Caiu, jaz solta, está só:
Exposta ao fogo, arde em chamas,
- Deixai-a, desfaz-se em pó!

Hei de sentir outra vida,
Outra vez meu coração
Escutarei palpitando
De amor, de fogo e paixão.

Lascado tronco sem graça,
Tal fui, tal me vês agora!
Mas venha o orvalho celeste,
Venha o bafejo da aurora;

Venha um raio de alegria
Dar-lhe às raízes calor;
Revive de novo, e brota
Folhas, galhos e verdor.

Do cimo erguido e copado
Outra vez se dependuram
Mil flores - ali mil aves
Nos seus gorjeios se apuram.

Não quero palavras falsas,
Não quero um olhar que minsta,
Nenhum suspiro fingido,
Nem voz que o peito não sinta.

Basta-me um gesto, um aceno,
Uma só prova, - e verás
Minha alma presa em teus lábios,
Como de amor se desfaz!

Ver-me-ás rendido e sujeito,
Cativo e preso à tua lei,
Mais humilde que um escravo,
Mais orgulhoso que um rei!

Vinte anos! Derramei-os gota à gota,
Num abismo de dor e esquecimento;
De fogosas visões nutri meu peito.
Vinte anos!... Não vivi um só momento.

A "esperança" é aquela ave que se aferra à alma, canta uma música sem letra e não para nunca.

Emily Dickinson
The Poems of Emily Dickinson (1999).

⁠A Morte é um Diálogo entre
O Espírito e o Pó.
“Dissolva” diz a Morte — O Espírito “Senhora
Tenho uma Ideia melhor” —

A Morte duvida — Impreca desde a Cova —
O Espírito se vira
Só deixando — como prova —
Um Casaco de Argila.

Inserida por Gaybow

A Morte é um Diálogo entre
A Alma e o Pó.
Diz a Morte ‘Some” — A Alma “Só
Me cabe ser Crente” —

A Morte — sob a Terra — clama.
Vai-se a Alma
Deixando o seu — prova cabal —
Manto de Lama.

Emily Dickinson
Campos, Augusto. O anticrítico. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
Inserida por Gaybow

O Gondoleiro do Amor

Barcalora

Dama Negra

Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;

Sobre o barco dos amores,
Da vida boiando à flor,
Douram teus olhos a fronte
Do Gondoleiro do amor.

Tua voz é cavatina
Dos palácios de Sorrento,
Quando a praia beija a vaga,
Quando a vaga beija o vento.

E como em noites de Itália
Ama um canto o pescador,
Bebe a harmonia em teus cantos
O Gondoleiro do amor.

Teu sorriso é uma aurora
Que o horizonte enrubesceu,
— Rosa aberta com o biquinho
Das aves rubras do céu;

Nas tempestades da vida
Das rajadas no furor,
Foi-se a noite, tem auroras
O Gondoleiro do amor.

Teu seio é vaga dourada
Ao tíbio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua;

Como é doce, em pensamento,
Do teu colo no langor
Vogar, naufragar, perder-se
O Gondoleiro do amor!?

Teu amor na treva é — um astro,
No silêncio uma canção,
É brisa — nas calmarias,
É abrigo — no tufão;

Por isso eu te amo, querida,
Quer no prazer, quer na dor... Rosa!
Canto! Sombra! Estrela!
Do Gondoleiro do amor.

Castro Alves
ALVES, C. Espumas Flutuantes. São Paulo: Atelie Editorial, 1998.

Eu ainda acredito em Luís de Camões, Álvares de Azevedo/SP – (Poeta por excelência), William Shakespeare e em mim é claro, que também sou poeta e ainda acredito no AMOR.

Manuel Antônio Álvares de Azevedo.
São Paulo - SP, 1831 - 1852.
Obras Principais: Obras I (Lira dos Vinte Anos), 1853;
Obras II (Pedro Ivo, Macário, A Noite na Taverna, etc), 1855



Nascido a 12 de setembro de 1831 em São Paulo, onde seu pai estudava, transferiu-se cedo para o Rio de Janeiro. Sensível e adoentado, estuda, sempre com brilho, nos Colégios Stoll e Dom Pedro II, onde é aluno de Gonçalves de Magalhães, introdutor do Romantismo no Brasil. Aos 16 anos, ávido leitor de poesia, muda-se para São Paulo para cursar a Faculdade de Direito. Torna-se amigo íntimo de Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães, também poetas e célebres boêmios, prováveis membros da Sociedade Epicuréia. Sua participação nessa sociedade secreta, que promovia orgias famosas, tanto pela devassidão escandalosa, quanto por seus aspectos mórbidos e satânicos, é negada por seus biógrafos mais respeitáveis. Mas a lenda em muito contribuiu para que se difundisse a sua imagem de "Byron brasileiro". Sofrendo de tuberculose, conclui o quarto ano de seu curso de Direito e vai passar as férias no Rio de Janeiro. No entanto, ao passear a cavalo pelas ruas do Rio, sofre uma queda, que traz à tona um tumor na fossa ilíaca. Sofrendo dores terríveis, é operado - sem anestesia, atestam seus familiares - e, após 46 dias de padecimento, vem a falecer no Domingo de Páscoa, 25 de abril de 1852.

Tic- tac

recebi uma ligação
Era Alvares de Azevêdo
E disse ele em razão:
Toma rumo senão
Eu adormeço.

E ficou em minha mente
O seu ultimo dizer,
Que tudo se resolveria
Natoralmente ao seu falecer.

Em ultimo assim deixou,
Que era forte o seu amor
Mas que já se me incomodava
A indiferença me traria dor.

Que não era assim feliz
Por ver a hora passar
Por ver o tempo se evadir
E eu não sair do lugar

Em ultimo assim deixou
Que era forte o seu amor
Mas que já se me incomodava
A indiferença tornaria dor.

Inserida por LauraSivini

O Machado era de Assis, a Rosa do Guimarães, a Bandeira do Manuel. Mas feliz mesmo era o Jorge, que era Amado.

O dono de um pequeno comércio,amigo do grande poeta Olavo Bilac,abordou-o na rua:Sr.Bilac,estou precisando vender o meu sítio,que o sr. tão bem conhece.Poderá redigir o anúncio para o jornal ?Olavo Bilac apanhou o papel e escreveu:"Vende-se encantadora propriedade,onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo,cortada por cristalinas águas de um ribeirão.A casa banhada pelo sol nascente,oferece a sombra tranquila das tardes na varanda." Meses depois encontra o poeta com o homem e pergunta-lhe se havia vendido o sítio."Nem pensei mais nisso" disse o homem."Quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha."

A escola de Olavo Bilac

Geneviéve estudava em uma escola
Que ficava numa velha cidade do interior,
Todo dia andava até ficar cansada,
E seus pés doíam como no dia anterior.
A escola tinha nome de poeta,
Também tinha pátio, também tinha professor,
Geneviéve só não gostava da inspetora,
e muito menos do diretor.
Todo dia tinha aula
E toda aula uma história,
E toda história tinha doutor, bandido
E até o poeta com o nome da escola.
De tardezinha Geneviéve voltava para casa,
No rosto, um sorriso que nunca se fechava,
Já esperando um novo dia,
Uma nova história,
A via láctea...