Poemas do Padre Fabio de Melo
O caráter cristão não é um privilégio dos que se dizem crentes. Muitos ateus possuem virtudes evangélicas que eu ainda não consegui alcançar.
viver sem se preocupar muito com o que os outros acham de nós, pois quem vive "achando" sobre os outros é porque ainda não conheceu a essência daquela pessoa. O mesmo também ocorre com o que nós achamos das pessoas, quantas vezes rotulamos as pessoas de antipáticas, mas quando na verdade a pessoa é tímida, não teve a oportunidade de mostrar-se por inteiro. Ou ainda quando se inventam histórias das pessoas, como se elas fossem deste ou daquele jeito.
“Chegará o momento em que você quererá agradecer ao traidor. Depois que a dor pungente perder a força, a lucidez lhe confidenciará ao coração: foi a partir do ferimento que você ultrapassou fronteiras, aprendeu que perder faz parte da vida, conquistou uma maturidade que até então nenhuma alegria havia lhe dado”, escreveu o padre, ressaltando que a forma como agimos conosco importa mais do que a forma como os outros nos tratam.
Dobrar os joelhos, sim. Mas dobrar também a arrogância. A simplicidade é o caminho que nos leva à Deus.
A prática religiosa é válida quando repercute no nosso caráter.
A fé é vã se não nos torna mais justos, honestos, promotores da verdade.
Acho que a felicidade é uma espécie de susto; quando você vê, já aconteceu. Ela é justamente uma construção pequena de todos os dias. É como se estivéssemos fazendo uma casa que, a cada dia, precisamos fazer mais um pouquinho. A felicidade não é o resultado da ‘casa final’, mas a alegria de saber que você a está construindo. É isso que nos faz felizes. Muitas vezes, nós não nos sentimos felizes porque compreendemos que a felicidade é um destino final, mas não o é; é o processo que nos realiza.
Há dores que parecem reunir todos os motivos humanos num só lugar. A dor de perder um filho é assim.
No silêncio do coração, há um lugar que não sabe fazer nada. É lá que nos descobrimos em nosso primeiro significado. É ele também o nosso lado mais sedutor. É ele que faz com que as pessoas se apaixonem por nós. É justamente por isso que ele tem que ser bem descoberto, de maneira que, quando façamos o que quer que seja, tudo o que fizermos tenha as marcas do que somos. É simples. Medicina muita gente faz, mas é no exercício da profissão que cada pessoa se mostra em sua intimidade mais profunda. Aí mora a diferença. Muitos Fazem a mesma faculdade, mas se encontram de maneira diferente com o conhecimento que recebem. Realizo tudo a partir de minha particularidade. Sou único, ainda que imitado por muitos.
Com o tempo a gente aprende. Só faz sentido sofrer pelo que ainda pode ser mudado.
A sexta-feira é santa, clama pelo respeito, pela recusa dos excessos, pela oportunidade de quarar os sofrimentos do mundo.
"O acúmulo dos anos o convenceu de que, depois de muito andar, há sempre uma graça reservada aos retornos. Não pensou muito. Seguiu o movimento do desejo. A primeira foi encontrada. Uma estrada interior. Só é possível retornar ao lugar de partida depois de tê-lo reencontrado nos albergues de si mesmo. A saudade é o bilhete que antecede a estrada. Depois que o desejo de retorno está aceso, o destino de voltar requer iniciativa menor. Um transporte que nos faça sair, e já estamos nos preparativos da chegada. E assim se deu com ele."
As vezes penso que as respostas virão. As vezes, não. Olha ao longe e o que vejo é o espelho do tempo, convicções implorando por adoção. O mundo mais raso me desagrada. E preciso buscar os recantos onde ainda existe profundidade que favoreça o mergulho. Eu não me adapto às estruturas da superfície. Seria o mesmo que ser mortal além da conta. Mas sou mortal. Não quero ser, mas sou.
Existem acontecimentos que não combinam com as palavras. Foram feitos para o silêncio, porque não podem ser tocados na sua inteireza. Qualquer descrição seria uma forma de empobrecimento.
"Até que a morte nos separe." Antigamente era mais fácil dizer isso. Havia mais disposição para ver o tempo passar, menos pressa, porque as distâncias eram maiores. Quanto menor a distância, maior é a pressa e a ansiedade de chegar.
A experiência normativa do processo: depois da tristeza, a alegria. Não a manifestação eufórica, irreal, mas a serena alegria, aquela que, antes de ser externada, nós construímos no silêncio do coração.
Hoje chorei. Como havia muito tempo não chorava. Não havia razões claras. Apenas chorei. Talvez por razões passadas, histórias ancoradas no porto do meu ser, ali onde a dor não se ossificou, não se fez concreta, não mostrou a face, mas pairou soberana e silenciosa.
Talvez por razão nenhuma. Nem sempre a dor tem razão. Dói por doer, por não ser outra coisa, por ser dor apenas.
Organizar o luto talvez seja isso: recolher o que da vida restou. E como é belo recolher o amor e suas respectivas saudades. É uma forma de afirmar que a vida não foi em vão. Não foi uma experiência que passou pelos vãos dos dedos, mas registrou-se nas cordas do coração.
Meu caro, há uma diferença fundamental entre a Filosofia e a Jardinagem que vale a pena ressaltar. A Filosofia é o lugar da complexidade. A Jardinagem é o lugar da simplicidade. São territórios muito distintos. A Filosofia é o campo das perguntas e respostas. O jardim é o campo onde a vida prevalece misteriosa, mas ao mesmo tempo totalmente revelada. Por mais instigante que seja o contexto da complexidade filosófica, vez em quando a gente se cansa dele. O jardim é o lugar da contemplação, e a contemplação não é outra coisa senão o descanso do pensamento.